segunda-feira, 14 de junho de 2010

Redação sobre minhas férias para a professora

Um dos meus destinos de visita preferidos sempre foi e continua sendo São Paulo. Acabei de passar mais uma temporada lá e aos pouquinhos me pego fazendo algumas reflexões que representam um desenho que vai se tornando mais nítido a medida em que eu conheco a cidade um pouquinho melhor.

Antes de continuar, as precauções de praxe com esse tipo de texto antes que eu gere ofendidos e acusações de arrogância. Estou perfeitamente ciente que não existe generalização realmente válida para corpos de milhões de pessoas, entao se você é de lá/conhece gente de lá que não é assim, natural, porém irrelevante para o propósito do texto abaixo. Textos deste tipo - mais ainda sobre um assunto subjetivo desses - são por natureza opinativos (essa palavra existe sim), portanto não vou escrever as palavras "na minha opinião" antes de cada frase, simplesmente assuma que elas estão lá ok?

Eu sempre tive uma visão meio preto e branca do Rio como a cidade da superficialidade e São Paulo como o lugar onde algumas coisas menos rasas importa. Venho refinando essa visão e entendendo mais como isso não pode ser tão simples. Sempre tive um alinhamento mais forte com SP - inclusive o Rio é lindo mas eu moraria mesmo em São Paulo - porquê não consigo me livrar de uma sensação de que o Rio é dominado por uma espécie de ditadura da ninfomania. O seu valor como pessoa no Rio - homem ou mulher entre 12 e 55 anos - é calculado pela fórmula cientificamente comprovada valor = (o quanto voce é pegável + o quanto você é pegador). Esse reciocínio adolescente vale para os adolescentes de 45 anos também. Sério, o próximo passo do Rio será as pessoas se cumprimentarem cheirando a bunda igual os cachorros. Acho que ter qualquer medida de profundidade em qualquer tipo de relacionamento - nao só os de natureza sexual, seu relacionamento por exemplo com seus amigos ou seu trabalho - é um conceito alienígena lá. O Rio tende a valorizar e estourar o pior lado da cultura - as piores músicas por exemplo, ou cinema e literatura nível Zorra Total - não porque as pessoas sejam burras, mas porque é uma manifestação dessa onda de viva somente o momento sem aprofundar em nada e todo mundo tá muito preocupado em se tornar pegável/pegador o tempo todo para dar a mínima de qualquer maneira.

Perceba que não estou necessariamente julgando. É a onda da cidade - nao é a minha onda porém - muita gente acha isso a melhor coisa do mundo e respeito o Rio por se assumir assim o que é muito melhor que ficar se escondendo atrás de uma moralidade tacanha e mentirosa como os mineiros.

A minha ilusão em relação a São Paulo explico adiante. Eu achava que SP se ligava mais em cultura e em coisas que demandam mais de 2 neurônios para serem apreciadas. Fato. Porém meu erro foi achar que isso gerava mais pessoas com conteúdo interno que no Rio por exemplo. Não gera. A quantidade de pessoas superficiais em São Paulo é a mesma que em qualquer outro lugar - absoluta maioria - porém como a cidade tem outros valores as pessoas tem que fingir coisas diferentes. Por exemplo, São Paulo é muito mais suscetível à modinhas culturais passageiras que a maioria das outras cidades. Metade da população de São Paulo é emo e essas pessoas nao eram emo mês passado e no mês que vem a moda vai ser "crente" e eles estarão lá no show do Diante do Trono. Esteticamente, se jogam de cabeça - ao contrário de BH onde parece que a onda é "não ser" - quem quer assumir qualquer postura ou estilo em SP tem que fazer "all the way". Pelo menos na estética, porque você conversa com essas pessoas e elas não sabem de verdade o que estão tão entusiasticamente apoiando. Aqui eu consigo ver um dos pouquíssimos pontos positivos de BH: o mineiro tem uma espécie de cinismo saudável com algumas coisas. Extremamente comum sair em São Paulo e ver menininhas dançando pulando loucamente e com uma energia absolutamente forçada quando toca algo tipo Franz Ferdinand - mais energia para te mostrar que "eu gosto" ou "eu conheço" do que a proveniente de gostar e conhecer de fato. Em BH é preciso um pouco mais que isso para mover as pessoas.

Resumindo ->
1- apesar de tudo ainda fico do lado de SP.
2- O mundo é um poço de superficialidade sem escapatória que pode ser até divertida ou muito irritante dependendo do seu estado de espírito. 3- BH eh a cidade mais nula do mundo em relação à identidade.

Ah, e apesar de alguns sonhos partidos (DJ da FunHouse tocando Black Eyed Peas?) curti pra caramba a visita.