segunda-feira, 30 de junho de 2008

Picaretice tem limite - ou não...

Lembram do "assasinato satanista" em Ouro Preto de uma garota cometido por depravados jogadores do JOGO DO MAL (RPG)?

Lembram o quanto impactou a imagem de uma coisa que ninguém sabe o que é direito e que muitas vezes usa uma temática sinistra (já que usa todas as temáticas, assim como todas as outras mídias)?

Quis saber o que deu desse caso, olha só (retirado de http://maedequem.blogspot.com/2005/11/rpg-inocentado.html):
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OURO PRETO
No dia 10 de outubro de 2001, Aline Silveira Soares viajou do Espírito Santo com sua prima e alguns colegas para Ouro Preto para participar da "Festa do Doze", que é uma espécie de Carnaval fora de hora entre as faculdades da região, com R$40,00 e a roupa do corpo para passar três dias.
Segundo o laudo, Aline consumiu drogas durante o dia anterior ao de sua morte. Esta informação foi confirmada por diversas testemunhas que também participavam da festa, em Ouro Preto (testemunhas que foram solenemente ignoradas pelo delegado Adauto Corrêa após as investigações tomarem o rumo circence). Aline não tinha dinheiro e acreditou que conseguiria fugir do traficante sem pagar pela droga que consumiu, mas no dia de sua morte (14 de Outubro de 2001), foi abordada pelo criminoso no caminho de volta para a república onde estava hospedada (o cemitério fica exatamente no meio do trajeto entre o local da festa e a república). Testemunhas (que também foram ignoradas no inquérito oficial) disseram ter visto Aline conversar com um conhecido traficante da cidade na porta do cemitério algumas horas antes de sua morte.

De acordo com especialistas em crimes relacionados a drogas, Aline provavelmente teria se oferecido para ter relações sexuais com o traficante para pagar a dívida, pois as roupas da garota foram encontradas "cuidadosamente dobradas e dispostas ao lado do local do crime, sem nenhum indício de violência ou de coerção". Aline tomou o cuidado de deixar suas sobre uma das lápides, dobradas com a jaqueta por baixo, para que não sujassem.

Ainda segundo o laudo oficial da perícia técnica, durante a primeira facada que Aline recebeu, o corpo estava na posição acocorada, popularmente conhecida como "de quatro". Segundo especialistas em crimes de estupro, o traficante provavelmente teria tentado obrigar Aline a realizar sexo anal, que possivelmente foi rejeitado pela garota, resultando no primeiro golpe com a faca. O traficante, tendo ferido Aline seriamente, não viu alternativa a não ser terminar de matá-la. Para disfarçar, o assassino colocou o corpo de Aline em posição deitada sobre a lápide (pelas fotos da perícia e rastros de sangue, pode-se atestar que o corpo foi movido APÓS a sua morte) para tentar atrapalhar as investigações.

Quando o corpo foi encontrado, os policiais começaram as investigações pelos locais em que Aline se hospedou e em uma das repúblicas foram encontrados alguns livros de RPG, que o delegado, evangélico confesso, classificou como "material satanista". A partir disto, um vereador oportunista chamado Bentinho Duarte (sem partido) viu nisso uma chance de se promover realizando terrorismo psicológico e, junto com o Promotor Fernando Martins (conhecido por ter tentado proibir a distribuições de jogos como Duke Nuken e Carmagedon), moveu ação contra as empresas Devir Livraria e Daemon editora tentando a proibição de 3 títulos (Vampiro: a Máscara, Gurps Illuminati e Demônios: a Divina Comédia).

Resumindo: um crime que não teve nada a ver com RPG, mas sim com DÍVIDA DE DROGAS resultou até agora na prisão de 4 garotos injustamente (que NÃO são jogadores de RPG, fato comprovado pela mãe da vítima em depoimento ao vivo na rede Bandeirantes de TV) e um completo show de aberrações e absurdos na mídia.
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Me impressiona como oportunistas óbvios como esses conseguem uma posição política de destaque na terceira maior capital do país. Realmente moramos na África. São os mesmos caras que tem a mão na proibição de vários jogos no Brasil e até na proibição de menores de fazer tatuagem mesmo com a aprovação dos pais. Esse Betinho Duarte já foi prefeito de Belo Horizonte na ausência do prefeito e do vice e numa dessa até subiu num prédio para arrancar um "outdoor imoral".

Não vou entrar no mérito se criança deveria jogar GTA - eu acho que criança tem que conversar com os pais e entender o que está fazendo, e criança vai jogar se quiser de qualquer jeito, melhor que seja dentro da minha casa e na minha vista onde eu posso contextualizar e explicar para ela. Se quiser colocar classificação etária nos jogos, beleza. Se quiser proibir a venda de alguns para menores, whatever.
Mas eu não sou criança. Sou adulto, e quero jogar Bully. Sou proibido. Isso tem um só nome - censura - e só é tolerada porque é em uma mídia que os velinhos que estão no governo ainda não entenderam que não é mais "coisa de criança". Se um evangélico tivesse proibido um filme de passar no Brasil, mesmo um doentio como Hostel (que você aluga em qualquer locadora) isso estaria sendo questionado em tudo quanto é lugar.

E argumentar que permitindo uma criança pode acabar pegando e jogando, então vamos também proibir cigarro, bebida, pornografia, filmes com qualquer temática ou imagens pesadas, etc, etc. Se dependesse de pessoas limitadas como essas (que, de novo, não acredito que conseguem chegar tão longe, mas conseguem) isso já tinha acontecido.
Pode achar que é bobo reclamar de não poder jogar um joguinho de videogame, mas aceitar esse tipo de coisa abre portas perigosas - o próximo passo pode ser um livro que não é interessante que você leia.

Outra - não quero entrar no mérito do que é "apropriado" para criança ou não, porque isso é outra discussão. Só quero acrescentar que cresci vendo todos os filmes de terror que eu consegui, jogando videogame (de preferência os mais sangrentos), jogando rpg (de preferência os mais sinistros), escutando metal/punk/eletrônico e outras "músicas do demônio", brincando de metralhadora e não sou adorador do demônio, não sou junky, não atropelo velinhas com meu carro e simplesmente nunca entrei em uma briga na minha vida.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Da Série Random Music - She knows just where the knife is



Provavelmente o motivo principal é eu estar ficando velho, mas cada ano que passa percebo que entre os discos que eu mais gostei estão cada vez mais novos lançamentos de bandas que eu já escutava e cada vez menos bandas realmente novas.
Vou comentar pela milésima vez aqui que eu sou muito contra o sentimento bobo de "no meu tempo que era bom", mas acho que os estilos de música que eu gosto não estão em uma fase particularmente criativa. Mas rola umas boas exceções, por exemplo a banda que salvou 2007 para mim foram os Horrors.

The Horrors são ingleses obcecados com rock sujão e velhão (tipo bandas bem garagem da década de 60/70), tem muito toque de punk mas é mais Birthday Party (a banda psicopata onde o Nick Cave começou), usam também um pouco de rockabilly (bem sujo), e como estamos em 2008 algumas coisas - apesar de não utilizarem eletrônico - soam sem dúvida modernas.
Acho que expliquei de um jeito complicado uma banda que tem um som simples. Imagina uns moleques novos que viciaram em colecionar vinis velhos e obscuros e arranhados de alguns artistas antigos que eram mei que bizarros e faziam "punk" numa época que punk ainda não existia. É mais ou menos esse o espírito - por isso que o disco abre com um cover de Screaming Lord Sutch, que é um doidão obscuro da década de 60 viciado em terror, se vestia como o Jack o Estripador e dava um show de rock com elementos sinistros bem antes do Alice Cooper.

Aliás, os Horros também são viciados em temática que tem a ver com filmes de terror baratos e se vestem como zumbis - mais ou menos como os Misfits só que mais psycho e menos brincalhão. Já citei o gênio Chris Cunningham neste blog - ele foi um dos fatores no sucesso da banda porque achou a música Sheena Is a Parasite no MySpace (com certeza uma brincadeira com Sheena is a Punk Rocker dos Ramones) e fez um clipe de baixo orçamento para ela muitíssimo mais bacana que a maioria dos clipes caríssimos que já foram feitos - ASSISTE ISSO POR FAVOR.

O show deles parece ser destruidor porque eles são meio que doentes mesmo. Imagina uns caras vestidos de criaturas de algum filme B antigo tocando rock sujo inspirado em coisas obscuras de dia numa praia no meio de um monte de surfista e o vocalista descendo do palco e tendo uma espécie de ataque epilético no meio deles enquanto o público olha parado sem entender nada. Tem isso no YouTube (a música é Count In Fives acho).
Esse é o tipo de banda que empolga as outras pessoas a fazerem outras bandas - fizeram muito com pouco, não estão nem aí para finesse e destroem 99% do que passa por "rock" hoje ou em qualquer época. E além do mais eles gostam de filmes de zumbi que prova que eles estão no caminho certo.

Comece por - só tem um disco até aqui (Strange House), ansiosamente aguardando o próximo para esse ano

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Vamos consumir!

DVD com todos os clipes.

Sou irracional quando se trata de Radiohead. Já comprei. Esperando chegar. Wooohoow.

Da Série Random Music - We came here to rock the microphone



Sabe quando você é criança e tem umas idéias geniais tipo "quando eu crescer vou ser desenhista e vou escrever a melhor história do mundo que é a que o He-Man e o Superhomem se juntam contra o Satan Goss e são ajudados pelos Thundercats"?
Um inglês chamado Ian Parton teve uma idéia parecida no plano musical, e decidiu fazer uma banda juntando "tudo que eu gosto". E o que ele gosta é Sonic Youth, música de séries de ação da década de 80 (tipo Esquadrão Classe A!), aqueles gritinhos de cheerleader, hip hop velhão e funk.
Tacou tudo isso junto (tocando quase todos os instrumentos e misturando com samplers de tudo quanto é coisa) e gravou (toscamente) um disco na cozinha da sua mãe.
Isso foi em 2004. No mesmo ano já estava abrindo para o Franz Ferdinand e em 2005 já estava sendo indicado para o Mercury Prize.

A banda do Ian se chaam The Go! Team e é um dos sons mais divertidos e inescrupulosos que eu conheço. De início você vai estranhar o tanto que é lo-fi e a produção é tosca, mas a mistura insana que gera música feliz, animada, dançante, energética e ao o tempo todo absurda vai te fazer empolgar.
Imagine a trilha sonora de perseguição de carro que toca em umas série tipo Magnum ou Miami Vice (com as cornetinhas e tudo) acompanhada de guitarras estranhas tipo as do Sonic Youth ou do Fugazi e uma cheerleader maluca gritando por cima umas coisas tipo "you got it - we got it everywhere - O!k!". Tudo meio tosco mas parece que quem está tocando isso está se divertindo tanto que mesmo se você for alguém que não bebe vai abrir uma cerveja e começar a virar.

Dizem que ao vivo é destruidor e bem diferente do disco - são seis pessoas e não tem os samplers, e as versões são todas retrabalhadas porque a banda tem espaço para improvisar, inclusive nas letras. A vocalista Ninja (heheheh é sério) diz que a missão dela é fazer "o cara altão que fica encostado no canto com cara de você não vai conseguir me fazer dançar pirar até o fim do show". E diz que sempre consegue.
Eu acredito.

Começo por qual - só tem dois discos por hora, escuta o Thunder Lightning Strike primeiro

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Da Série WTF?? - Jogo Divertido

Não fui eu que bolei, vi isso em outro site!

Você vai em http://en.wikipedia.org/wiki/Special:Random e o nome do artigo será o nome da sua banda.

Você vai em http://www.quotationspage.com/random.php3 e as 4 últimas palavras da última frase são o nome do seu single.

Você vai em http://www.flickr.com/explore/interesting/7days/
e a terceira foto é a foto da capa.

Não é que ficou legal mesmo? :-D olha o single da minha nova banda (deve ser punk, pelo nome):


Elric de Melnibone


Essa semana terminei de ler a adaptação para quadrinhos da saga de Elric de Melnibone, que foi escrita por Michael Moorcock a partir de 1961, e saí interessadíssimo em ler os livros.
Ele foi criado como anti-arquétipo do Conan. Enquanto o Conan é um mulão moreno e bárbaro tosco odiador de magia, Elric é um franzino albino imperador de um país em ruínas e ele mesmo um feiticeiro.
Um dos responsáveis pela popularização do gênero dark fantasy (como o próprio Conan, aliás gênero que eu acho muito bacana) Elric poderia ser mais uma história de fantasia genérica - que aliás estão muito em voga desde o sucesso do Senhor dos Anéis - se não fosse tão bem escrito e tivesse personagens tão fortes.

Como portador de um destino que não queria (eu sei que essa parte é clichê) o personagem é interessante porque vai para qualquer extremo para cumprir suas tarefas. Ele carrega uma espada que possui vontade própria e que suga a alma daqueles que mata, que alimentam a vitalidade do fraco Elric - que não consegue controlar ela completamente e muitas vezes durante a história acaba matando vários de seus amigos sem querer por isso.
A história tem uma inclinações filosóficas legais e uma mitologia bastante trabalhada. A maioria dos eventos vêm da guerra entre as entidades da lei e do caos que não exercem influência sutil sobre o mundo: exercem uma influência brutal, ao ponto das terras que são dominadas por governantes atrelados ao caos se distorcerem e provocarem mutações em qualquer um que chega perto. O próprio Elric tem um demônio patrono (Arioch) e apesar de inclinar para a lei é no fundo considerado uma criatura do caos. Outra coisa que eu gostei demais foi a coragem da história de ser bem deprê sem dó nenhuma. Rola momentos que chegam a ser tocantes como o encontro com o "gigante triste" (que é um Deus que foi rebaixado a mortal) e quando descobrimos o destino da esposa dele. Aliás, o final da história é bem deprê e um dos melhores finais que eu já vi.

Apesar de toda a onda, não teve nada que chegasse perto depois do Senhor dos Anéis (no gênero fantasia) no cinema. Elric seria ótimo candidato (apesar que periga não ser feito por ter um personagem principal muito dark e seguidor de demônios). Fica a recomendação de qualquer maneira.

Nota: quem conhece rpg talve não saiba que a White Wolf - o melhor estúdio na minha opinião - recebeu esse nome por ser o apelido do Elric.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Da Série Random Music - Rosa da Vitória

O que um franzino islandês, cego de um olho, fã de metal, assumidamente gay que grava dentro de uma piscina e canta em uma língua inventada por ele mesmo faz quando grava um disco?
Faz uma banda que é ouvida em todo mundo (já tocou inclusive no Brasil), vive sendo citada pelos seus fãs - já vi Radiohead, Tom Cruise e Brad Pit falar deles em entrevistas - e faz música que é épica, bonita, inspiradora e consegue ser uma espécie de música instrumental com vocais.

Sigur Rós (que significa algo como "Rosa da Vitória") começou no fim da década de 90 na Islândia tocando o que hoje se chama de Post Rock - instrumentação de rock usada de uma maneira não rock, frequentemente bem viajante e abstrata - e encaixa no rótulo, porém faz um "abstrato" sem ênfase na cabeça e com bastante foco no seu coraçãozinho ;-).
A maioria das músicas são em Islandês ou "hopelandic" - a língua inventada por eles que não significa nada - o que na prática significa que o vocal é usado como mais um instrumento, você viaja na sonoridade sem se preocupar com uma mensagem. Não significa que Sigur Rós não passa nada - a resposta emocional para a música deles é quase que automática e muito intensa, conheço música do Sigur Rós que sempre que toca faz todo mundo entrar num silêncio contemplativo na mesma hora.

Isso sem falar no lado épico: uma típica música do Sigur Rós é lenta, grandona e vai crescendo absurdamente até começar a, sei lá, incomodar Deus lá em cima. Faça uma experiência legal um dia e coloque um disco do Sigur Rós bem alto no seu quarto e escute deitado no escuro - te garanto que você vai acordar em outro plano de existência ou então te dou seu dinheiro de volta. Se vocês está pensando "é mais uma das bandas malucas experimentais que o Leandro gosta" - nem tanto, não é música convencional (você já viu alguém tocar baixo com arco de violino??) mas não é inacessível de jeito nenhum, é tão bonito que rompe esses tipos de barreiras.
Sigur Rós enche a sua cabeça de imagens - de certa forma é "música cinematográfica" no sentido que é aquilo que falam de música instrumental muito expressiva: é a trilha sonora de filmes que não existem.

Esse post foi em homenagem ao bonito Með suð í eyrum við spilum endalaust ("com zumbidos nos ouvidos nós tocamos sem fim"), disco novo deles que saiu hoje.

Comece por - () (disco que as músicas não tem nome, todas as letras são em hopelandic e tem um espaço no cd para o ouvinte escrever as letras que ele decidiu que o disco tinha que ter)
Depois vá para - Ágætis byrjun
Não comece por - Takk (mais excêntrico, deixa esse para depois)
Mais pop/menos épico - este novo (Með suð í eyrum við spilum endalaust), ainda estou absorvendo mas me parece que vou gostar muito

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Da série Random Music - Iapa Music

Desde quando japonês sabe alguma coisa de rock?
No mínimo desde 1986 quando começou os Boredoms!! :-D

Estou irremediavelmente viciado em bandas japas! Não simplesmente porque é japonês, ou por mera curiosidade, mas porque de fato tem coisa muito absurdamente foda para ser ignorada!
Um amigo meu que morou um ano em Tokyo fez uma boa observação: os japoneses estão mais influenciados que nunca pelo ocidente (não vou entrar no mérito se isso é bom ou ruim), e como culturamente é muito diferente eles acabam fazendo um monte de versão mal compreendida de coisas corriqueiras - programa de auditório maluco, pop exageradamente açucarado, sanduíche de macarrão etc.
Tipicamente quando pensamos em música popular japonesa pensamos em J Pop, aquelas garotinhas estilo Britney japas cheio de músicas felizinhas e que fazem um sucesso esmagador por lá (bem mais que Britney e Madonna).
Eu achava, antes de conhecer, o rock japonês devia ser uma porcaria, primeiro porque imaginei que seria mais uma interpretação meio boca de algo ocidental que eles não entendem direito, e segundo porque culturamente (pelo menos se acreditarmos no esteriótipo) o comportamento, valores e estilo de vida japa é a coisa mais distante do rock possível. Ainda bem que eu estava muito errado.


Tem alguns anos já que eu amo Boredoms. Na verdade sou eu que não entendo eles: ou os caras do Boredoms de fato não sacam muito o que é rock, e isso traz uma grande vantagem para eles (porque são livres de todas as convenções e clichês do gênero) ou eles entenderam muito mais que a gente e vão muito mais além.

Note que chamar Boredoms de rock é meio que licença poética - de vez em quando aparece uma guitarra distorcida mas tende a ser mais eletrônico e/ou usar muitíssima percussão (de todo tipo, inclusive os tambores japoneses malucos de lá). Eu costumava escrever ouvindo Boredoms, porque é uma fonte real de inspiração - eles me trasmitem uma sensação legal de falta de limites (!), de alguém que entrou no estúdio e tacou um grande dane-se para todas as regras e fez literalmente o que deu na telha, sem se segurar em nada, sem nenhuma expectativa e nenhuma ordem.
Se um cara mais ou menos faz isso vai terminar com uma obra confusa, caótica, sem sentido, arrogante e desinteressante. Como o diabo dos japas são GENIAIS (não tenho restrição nenhuma a aplicar essa palavra para eles) saiu uma das melhores bandas da história para mim. Eu me considero felizardo por ainda não conhecer todos os discos, porque cada vez que eu escuto um novo está me vindo uma sensação de excitação tão grande quanto eu estava descobrindo a discografia do Fugazi. Na verdade é tão bom que isso atrapalha eles: você não pega outro disco porque não quer parar de ouvir o que está ouvindo.


O artigo da wikipedia deles diz que são famosos no Japão por darem shows selvagens e sujeira sem preocupação coma segurança da platéia; nunca esperava ouvir isso de japoneses. Olha essa foto:





Como são amiguinhos do Sonic Youth e eram amados pelo Nirvana até tiveram alguma exposição na década de 90 e alguma popularidade no ocidente. Se você gosta de electro talvez conheça eles porque o Fischerspooner gravou uma música deles.
Me parece que agora eles se chamam V∞redoms. Tem também um projeto paralelo famoso chamado OOIOO, costumam descrever essa banda como um Boredoms menos louco...
Nota: o som é MUITO viagem e anti convencional, em alguns momentos até meio que anti-música. Eu AMO a banda mesmo mas sei que não é todo mundo que gosta disso. Eu avisei.
Começo por qual - pelo Super Æ ou pelo Vision Creation Newsun

Outras bandas iapas que merecem uma menção:

Guitar Wolf: basicamente são os Ramones do Japão (um trio formado pelo Guitar Wolf, Bass Wolf - que morreu - e o Drum Wolf). Punk tosco tocado tão alto que até ouvindo o cd você sente que os amplificadores estavam distorcendo porque não estavam aguentando o volume. O show que eu fui deles na Obra está no TOP shows mais selvagens e legais que eu já fui na vida. Os próprios caras do Guitar Wolf falaram com o Guto para escutarmos Laughing Nose (é bem parecido com eles), baixei e gostei.


Boris: rockão muito melhor que a grande maioria dos "rockão" que eu conheço, com alguma coisa de noise. É como se fosse o Sonic Youth tocando covers de Queens Of The Stone Age, só que é japa e é bem mais legal que eu estou fazendo soar. Na verdade a melhor banda do Japão depois dos Boredoms. Recomendo demais o disco Pink.

Melt Banana: um monte de música curtinha (entre 10 segundos e tipo 2 minutos). MUITO rápido e pesado, lembra até grindcore, só que com vocal de personagem de desenho animado revoltado e guitarras esquisitas. Não parece "uma banda de grindcore do japão", parece o que aconteceria se um monte de louco fizesse uma banda de punk rock no hospício. Lindo.

DJ Krush: música eletrônica misturada com música japonesa tradicional (pelo menos no disco Jaku, recomendo demais), um dos discos mais viagem que eu já ouvi (e bonito! Sim!)


Maximum The Hormone: uma espécie de new metal misturado com hardcore e até com uns lances de death metal (!), todo mundo descobriu por causa do anime Death Note. O disco deles é legal. Japonês fazendo música pesadona comanda!


Dragon Ash: hip-hop japa, misturado com um pouco de metal, é famosaço por lá. Não muito original mas interessante por ser iapa e portanto diferente do que estamos acustumados.


Pillows: outra banda que todo mundo descobriu por causa de anime (no caso o anime mais rock de todos, Furi Kuri) faz um punk pop divertido e descompromissado até.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Frase do dia

I have an American Dream,
but it involves black masks and gasoline
one day I'll turn these thoughts into screams

:-)

(de uma letra do Rise Against)

As gravadoras subiram no telhado - parte 2/2

Continuando o post anterior: na prática nosso modelo de indústria cultural conduz a um contexto bem fraco do ponto de vista artístico. O que temos é um contexto que só dá abertura real para repetições de coisas que já deram certo (olha uma indústria como a de games ou a do cinema), favorece somente o que é fácil e imediato, e consequentemente poda criatividade e de forma geral enfraquece a cultura.
Outra coisa que é extremamente destrutiva na minha opinião é como a lei do copyright funciona. Sinceramente? Eu acho que copyright tem que existir só para evitar que eu pegue o cd dos Strokes, troque a capa e venda como se fosse um cd da minha banda ou se a música está explicitamente sendo usada para vender outra produto (por exemplo, num comercial de jeans). Fora isso, todas as outras aplicações de copyright para mim é frescura ou pior, GANÂNCIA.

Fala sério: porque se importar se uma banda gravou um cover de uma música sua no cd deles? Isso NÃO vai prejudicar as vendas da sua versão, muito provavelmente vai até ajudar. Porque ficar chorando se um cantor de hip hop sampleou um trecho de 5 segundos da sua música para usar na dele? Da mesma forma, isso NÃO vai prejudicar a sua versão. Maior grau de liberdade entre os artistas e suas obras enriquece e é legal para todo mundo.

Vários exemplos: o (ótimo) segundo cd dos Beastie Boys (Paul's Boutique) é frequentemente tido como exemplo de disco que NÃO poderia ser feito hoje. Tem tanto sampler de tanta coisa diferente que seria proibitivo em relação ao custo de licenciamento. Mesmo exemplo: (ótimo) primeiro disco do Go! Team teve que ser praticamente refeito quando eles deixaram de ser independentes. Uma banda massa como o Girl Talk é no fundo ilegal (só trabalha com samplers e mistura de músicas), eles não se importam mas vão acabar tomando ferro e acabando.

Acho isso DEPRÊ. Bons discos que NÃO PODEM existir para atender a essa lei de copyright ridícula e gananciosa.
Quer saber uma coisa milenar que se não existisse e se fosse proposta a sua criação hoje NUNCA ia ser aceito? Biblioteca. "O quê? As pessoas vão poder ler livros sem pagar para o autor? Que idéia é essa??"

É pensando em bibliotecas que eu baseio minha filosofia em relação a indústria cultural. Bibliotecas não prejudicam as editoras e são boas para a sociedade porque você não é obrigado a ter dinheiro para adquirir conhecimento. E quanto mais gente tiver mais conhecimento, melhor para a sociedade. Quanto mais gente tiver mais cultura com mais facilidade, melhor para a sociedade.
Por isso eu acho que gravadoras tem que morrer (e vão).
Um modelo ideal de indústria musical seria cada um grava o que quiser (sem pressão de gravadora para seguir uma direção comercial específica), cada um escuta o que quiser, com facilidade e sim, SEM PAGAR NADA.

Vai ferrar o artista? Não, porque ele já é ferrado pela gravadora. Quem faz grana com cds é gravadora, o percentual que vai para o artista é mínimo do mínimo. Talvez o modelo do In Rainbows seja o ideal - pague quanto quiser pelo download (inclusive não pague se for o caso) - mas você está dando dinheiro DIRETO para banda, sem intermediários. Eu acredito que o número de pessoas que não vão comprar o cd é compensado pelo número de pessoas adicional que nunca iriam ouvir sua banda e agora vão - isso vai te ajudar a longo prazo, quanto maior sua base de fãs maior a chance de fazer dinheiro de diversas maneiras.

Isso provoca pânico porque é mudança, é novo, e o instinto básico de todo mundo é não querer mudar. Se o download de músicas afetou mesmo a venda de cds é discutível (tem vários estudos contraditórios), mas tanto melhor se tiver afetado. Esse modelo "ideal" que eu descrevi acima não está distante - eu diria que já andou 70% do que tinha que andar e vai concluir quando as grandes gravadoras fecharem ou passarem a operar de maneira totalmente diferente de hoje (e mexerem na porcaria da lei do copyright).

E digo mais: faça tudo que puder para acelerar isso. No mínimo, não compre mais cds (pelo menos só compre os independentes).
Isso é motivo para comemorar.
O efeito prático: daqui a alguns anos teremos um ambiente cultural muito mais forte, rico e interessante para todo mundo. Estou sendo otimista mesmo! Tomara que EU não caia do telhado.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

As gravadoras subiram no telhado - parte 1/2

Tem anos - décadas - que as grandes gravadoras são uma espécie de satanás dos músicos, assim como os grandes estúdios são o satanás dos cineastas.
Hoje está nascendo outra relação com música que é extremamente desfavorável a elas e, ao meu ver, favorável aos artistas. Por isso digo "wooohooow" e apoio 100% qualquer ação que leve isso adiante e faça as gravadoras caírem do telhado logo.
Eu acho que dentro de 10 anos, pelo menos da forma que conhecemos, elas vão para o saco. E outras mídias vão seguir. E todo mundo vai sair ganhando.

O fato é, indústrias como essas operam em uma "área cinza" que é complicada por natureza - a interseção entre estar trabalhando com expressão, sentimentos, honestidade, ARTE, e a necessidade de fazer dinheiro. Como diz o Al Jourgesen, gravadoras são administradas por contadores de feijão, e não por pessoas que tem qualquer contexto artístico.

Isso significa que as gravadoras não se importam com a música que estão lançando. No fundo, gravadoras não tem NADA contra "arte" ou contra qualquer coisa que seja culturalmente/humanisticamente relevante: se vender, tá ótimo.

Acontece que, historicamente, tomaram o rumo mais óbvio e fácil de partir para o maior denominador comum. Não estou defendendo música "inteligente" ou "sofisticada" igual a maioria das pessoas cai quando argumenta sobre isso - mas estou defendendo música relevante, ou seja, por mais besta que seja (muitas vezes uma música só tem que divertir e só) que não seja a trilionésima repetição da mesma coisa, que tenha algum grau de criatividade e honestidade.
A relação entre criatividade e a facilidade de absorver a música costuma ser desfavorável porque o novo causa estranheza - então quanto mais manjado e "absorvível" a música mais pessoas vão gostar, pelo menos a curto prazo.
Some isso com o fato da maioria das gravadoras serem conservadoras e morrerem de medo de correr riscos e resultado: ligue o rádio e dê uma passeada pelas estações. Só isso. Entendeu?

Em defesa das gravadoras, se elas não querem falir precisam de fato ser conservadoras, porque o público é conservador. 99% das pessoas são zumbis culturais - não tem real interesse de se aprofundar em nada (aqui não estou falando só de música) a não ser o que tem impacto direto na sua vida - na maioria dos casos nem isso.
Ou seja, uma cidadão típico que trabalha com computação PODE se interessar por se aprofundar em Java (ou nem isso), mas está mais que satisfeito em ver só filmes que vai absorver com facilidade e esquecer meia hora depois, em não ler nada ou ler um livro por ano (também de fácil absorção e de preferência o mesmo que todo mundo está lendo), de ouvir só música igual e superficial que ele por acaso viu tocando no Faustão.

Para não cair na obviedade, registro aqui que, no fundo, na verdade não me importo com isso. Cada um tem a relação que quiser com cultura - e as pessoas que demandam algo mais profundo vão sentir falta em algum momento e acabar procurando sozinhas, independente do monopólio de poucas empresas na indústria cultural.
A gravadora vai colocar um disco do Capital Inicial que é uma merda mas vai vender para esses 99% ou vai apoiar um artista com mais conteúdo que vai agradar aos outros 1%?

Na verdade a gravadora poderia arriscar com os 1% se tivesse qualquer outro interesse além do foco em $ - para mim é a falha fundamental do capitalismo, o fato do dinheiro ser o ÚNICO e SOLITÁRIO estímulo para QUALQUER coisa acontecer - mas isso é outra discussão mais profunda ;-)
E às vezes arriscar funciona - prova é o fato de uma banda como o Radiohead que tem muitas tendências experimentais provocou colapso no sistema de telefonia da Austrália quando começou a vender ingressos para shows lá.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Fender University

Recebi um email da Fender me convidando para a Fender University, que é no fundo um programa de 4 dias e 4 noites que você passa na fábrica da Fender aprendendo a fabricar guitarra, conhecendo tudo por lá, tocando com o pessoal, assistindo workshops de guitarra e mais um monte de coisa que iriam me fazer PIRAR a cabeça.

São $ 6.500,00 dólares (+ 500 se quiser levar sua esposa) bem barato se você mora lá e recebe em dólar, se considerar que nesse pacote tem hotel violento, comida, todos os tours-aulas-festas-shows-workshops, e de quebra você ganha uma Fender American Standard que pelo que eu entendi você vai escolher (que é o modelo da minha Tele) - pode ser até um baixo.

Típica coisa legal que nunca vai ter nada nem próximo aqui. Cansei de morar na África!

A Arte de Ofender

Vamos lá, tem tempo que eu queria escrever sobre isso.
Como eu sou alguém que às vezes sem querer e às vezes sem querer querendo sou ofensivo, especialmente ao discutir cultura - música cinema literatura etc - (porque é um assunto que eu gosto de discutir e tenho opiniões bem definidas, note que "bem definidas" não as torna automaticamente "corretas") eu de vez em quando tenho que lidar com alguém que "ficou puto" porque eu disse na cara dele que o seu precioso J. Quest ou sua preciosa Pitty e uma pilha de cocô são sinônimos para mim.
Por isso, eu tendo a filosofar sobre o assunto "a raríssisima capacidade humana de debater e de lidar com opiniões discordantes".
Primeiro, queria registrar o que eu entendo como "debater" (isso vale para qualquer campo da vida, profissional/pessoal/amorosa etc) como um simples passo a passo aplicável de forma fácil por qualquer um (woooohooow):

1-Eu exponho meu ponto de vista
2-Você expõe seu ponto de vista
3-Eu escuto seu ponto de vista
4-Eu tento compreender seu ponto de vista
5-Se ele não bate com o meu, eu tento entender porque você não pensa igual a mim
6-Eu reviso meu ponto de vista se eu achar que o seu é válido, ou tento explicar melhor o meu se eu achar que o meu é mais válido

É assim que funciona (deveria funcionar) ou eu entendi alguma coisa errada???

Na prática, em todos os lugares e campos e momentos da vida eu vejo:

1-Eu exponho meu ponto de vista
2-Você expõe seu ponto de vista
3-Eu ignoro o seu ponto de vista e continuo insistindo no meu

OU

1-Eu exponho meu ponto de vista
2-Você expõe seu ponto de vista
3-Eu fico procurando falhas no seu ponto de vista para conseguir derrubar ele e "ganhar"

OU até

1-Eu exponho meu ponto de vista
2-Você expõe seu ponto de vista
3-Eu grito/bato/agrido ou apelo de alguma outra maneira até seu ponto de vista bater com o meu à força

Se pensar "é mesmo que absurdo" se lembre de quando alguém falou mal de um filme que você gosta e sua reação foi pensar "esse cara tem que morrer".
Entendo que a nossa carga emocional interfere e atrapalha as coisas a correrem de maneira tão racional assim, mas vamos pelo menos tentar pô, 99,9% das pessoas nem tenta.

Aplicando este conceito a (por exemplo) esse blog: esta é MINHA opinião. Ela não é perfeita, nem sequer imutável; mas no momento em que eu escrevi, ela era esta. Você tem 100% o direito a ter a sua, que pode eventualmente ser até o contrário da minha. Tá bão?
Aplicando este conceito no seu trabalho: às vezes a idéia do cara é realmente melhor que a sua. Acontece.
Aplicando este conceito na mesa de bar: se você está apoiando uma coisa e ele outra coisa, veja como oportunidade de refletir se essa outra coisa aí não é melhor que a sua coisa. Não é competição. Você vai ganhar, estourando, um troféu joinha se provar que seu candidato/time de futebol/religião/banda/filme/livro/prática sexual é melhor que a dele.

Obs 1: Não estou afirmando, com esse post, que eu consigo aplicar isso sempre - não sou o Mr. Debatedor Perfeito.
Obs 2: Se qualquer pessoa achar que eu escrevi isso direcionado especificamente a alguém, pensou errado. Já tinha tempo que eu queria escrever isso porque já tem anos que eu sou mal interpretado por não ter medo de expor uma opinião potencialmente polêmica.
Obs 3: Todo mundo sabe que Ramones é exceção a essa regra. Se você falar mal de Ramones você deve morrer num gangbang de jumentos (sugestão do UDR).
Obs 4: Não sei se me sinto bem ou mal de ter escrito um texto tão óbvio, mas se eu não tomasse ferro com essas coisas não ia sentir a necessidade.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Da série random music - Brains For Lunch


Você está mais ou menos em 1979. Você entra na casa de shows, e está todo mundo em pé na frente olhando um palco vazio, exceto por quatro caixões no chão.
Em algum ponto da noite, os caixões se abrem, levantam-se quatro zumbis, pegam seus instrumentos e começam a tocar punk rock sobre a vida de zumbis deles:

brains, brains, brains for lunch
brains for breakfast brains for brunch
brains at every single meal
why cant we have some guts?

Isso é tocado por três zumbis e um vocalista que, pela voz grave e bacana e pela postura só pode ser o Elvis do inferno (só que bombado! hehehe). Como estamos na era do início do hardcore, a audiência se espanca, a audiência espanca a banda, a banda espanca a audiência e nem uma música é interrompida por isso.
Esse vocalista bizarro dizia só ouvir Elvis e Black Sabbath, e era viciado na Marilyn Monroe (em homenagem ao último filme dela batizou a banda, The Misfits). Tinha tocado em um monte de banda proto-gótica e depois começou o Misfits tocando umas coisas meio atmosféricas do mal (escute a primeira música, Cough/Cool) até surgir os Ramones e aí ferrou tudo, jogaram o teclado fora e viraram uma das melhores bandas punks da história.

No fundo o punk dos Misfits é bem bubblegum - guitarras Ramones, refrões para serem gritados juntos por todo mundo e obsessão absoluta e absurda por tudo que é relacionado a filmes de horror B, desde o visual (cabelos pretos compridos esticados na frente da cara até o queixo, que eles chamaram de Devilock e que até hoje você vê os fãs e algumas bandas usando), as letras, as capas e o que mais for possível. Apesar de ser claramente zoeira - as músicas tinham títulos como Mommy Can I Go Out And Kill Tonight, I Turned Into a Martian, Devil's Whorehouse, Astro Zombies - às vezes ficavam bem sérios também - escute She ou We Are 138 - o que te deixava confuso em relação a se eles estavam zoando quando você achava que era sério ou se eles estavam falando sério quando você achava que era zoeira. Muito bom!
Embora muito pouco reconhecidamente hoje em dia, acabaram sendo responsável por muita coisa - existe um estilo inteiro que nasceu do que os Misfits e os Cramps faziam (Psychobilly) e qualquer banda que se baseia em filmes de horror (os White Zombies da vida) devem algo a eles. O Danzig depois foi para um lado mais metal e tem uma carreira solo até bem respeitada até hoje.

De vez em quando você vê uma homenagem perdida aos Misfits - no clipe de Danny California os Red Hot CHili Peppers tocam vestidos como eles, e o Danzig aparece num episódio do Aqua Teen quando começa a sair sangue da parede da casa e eles resolvem "vender ela para o Danzig" uhauahauaha. E o pior é que ele compra.
Nota: eles voltaram em 1995 com outro vocalista. Ignore os discos dessa formação - apesar de eu ter ido no show porque eu não tive coragem de perder, e até me diverti bastante - foi o único show que eu fui na vida que passou um cara antes implorando para a platéia não subir no palco para não ser espancado pela banda, apesar que um cara que passou correndo conseguiu subir e pular rapidinho :-)

Comece por - numa boa, arrume a Misfits Boxset. São só 4 discos e tem tudo que você precisa - inclusive ao vivo - e tenho certeza que se você gostar de uma música dos Misfits vai querer ouvir todas.
Se quiser um cd só vá pelo Collection I (a coletânea amarela, o II também é legal), ou o crássico Walk Among Us.
Não escute nada do American Psycho para frente.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Diário de um viajante

Ontem passei mais um divertido domingo à noite sentado em um ônibus viajando os 450 km entre Belo Horizonte e Volta Redonda.

Quando eu comecei a ouvir o ruído pensei que era uma porta rangendo - a porta do banheiro, será?
Depois reparei que não era bem isso - tinha meio que um gemido misturado neste barulho - pronto, alguém está vomitando ou está para vomitar.
Mas o barulho/gemido continuou e eu reparei que também não era isso. Fiquei tentando interpretá-lo e a única coisa que meu cérebro conseguiu conceber que conseguiria emitir um barulho daquele era que entrou um porco zumbi dentro do ônibus.
Sério, se eu tivesse alguma coisa para gravar, mandava para o guiness para bater o record de "ronco mais satanista". Não dormi quase nada ontem, em parte porque estava alto e em parte porque eu fui rachando o bico.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Da série "Random Music" - Two guys for every girl


Na metade da década de 50 um camarada chamado Elvis fez a heresia de misturar coisa de negro e coisa de branco e dançar sugerindo sexo e teve seus discos quebrados em público como resultado.Na década de 60 as pessoas EM MASSA iam em shows do Stones cantando sobre o demônio e sobre drogas e outros temas que eram tão proibidos na época que mortes por overdose, por exemplo, eram divulgadas no jornal como "parada cardíaga" e outros eufemismos.No fim da década de 70 e início de 80, você podia sair e ver o Iggy Pop rolando em cima de garrafas quebradas no palco, ver o Nick Cave tocando com o Birthday Party totalmente alucinado com "HELL" escrito em vermelho na barriga, ver os Siousxie And The Banshees tocando vestidos como nazistas ou ver os Misfits tocando e entrando em brigas com a platéia sem interromper o show.Sem defender nenhum destes comportamentos (ainda vou escrever um post mais aprofundado sobre isso, é legal refletir no impacto que a música costuma ter nos costumes da sociedade) nem entrar em uma onda de nostalgia (já escrevi neste blog sobre como eu acho besta acreditar que "música boa era a do meu tempo"), olhando para a música atual de uma forma geral a noção de "confrontar", "bater de frente" com o que a sociedade tem como aceitável e forçar as pessoas a questionar os valores atuais está meio que morta.Quase todo show de rock que se vai hoje, mesmo de bandas conhecidas por defender posições anti conservadoras é bem "padrão", seguro como ir em uma ópera ou num concerto de jazz.


Claro que sempre vão existir exemplos - o black metal é hoje o que o punk foi na década de 70, música que taca foda-se para tudo, ofende todo mundo e que você provavelmente vai ser mal interpretado se o seu chefe te pegar ouvindo.Porém o punk trazia uma mensagem relevante e o black metal choca por chocar - "vamos adorar o cramunhão", que preguiça né gente - valorizo a coragem e a postura anti-religião organizada mas é mais teatro que realidade. Temos uns exemplos de malucos isolados (o vocalista do Modest Mouse costuma pedir uma faca para a platéia no meio do show, e quando alguém entrega ele se corta com ela), mas quando eu penso em alguém que está confrontando os valores de verdade, chamando atenção e fazendo refletir sobre algo relevante de fato, atualmente só vem na minha cabeça a Peaches.
Peaches é uma garota canadense que já foi professora de primário (!) e é a cantora mais punk da atualidade, apesar de não fazer punk rock. É tida praticamente como a criadora do Electroclash (electro já é o gênero mais punk da música eletrônica, e o "clash" é quando é misturado com rock).Num olhar superficial, a Peaches é uma cantora podrona que faz música eletrônica agressiva (mas bem dançante) e é uma espécie de ninfomaníaca bizarra - TODAS as músicas da Peaches são sobre sexo, 100% - e ela fica nitidamente mais pornográfica a cada disco (hoje já está chegando num nível absurdo). Superficialmente Peaches não é muito diferente da Tati Quebra Barraco.Durante o show você vê um monte de gente entregando a câmera para ela, ela enfia a câmera dentro da calcinha, bate uma foto e devolve.


Mas olhe com mais profundidade e você começa a reparar em coisas mais interessantes - me parece que tem um plano por trás disso. A primeira coisa interessante é como uma figura feminina hiper-sexualizada não tem um público masculino tarado babando por ela.Pelo contrário, normalmente os homens sentem uma certa repulsa por ela. Por que? A Peaches normalmente usa em sua imagem as mesmas sexualizações que os homens projetam nas mulheres, só que invertido. Exemplos: quantas músicas de rap e de metal já foram feitas sobre a vontade de ver duas mulheres transando? A Peaches fez a única música que eu conheço sobre querer ver dois CARAS transando.Ela chamou o disco dela de Fatherfucker (a palavra motherfucker é tão comum que nem pensamos nela, "fatherfucker" é quase a mesma coisa mas soa pesado). Ela diz que em vez de pedir para as mulheres balançar os peitos deviam pedir para os caras balançarem os pintos (!).Ela acabou se tornando uma espécie de ícone de mulher tarada hiper sexualizada que assusta os homens em vez de atraí-los, usando as mesmas ferramentas que eles. E isso nos faz (nós homens) refletir sobre como às vezes as mulheres devem se sentir quando são usadas dessa maneira. ;-) Teve a manha Peaches.Além disso ela costuma projetar uma imagem confusa misturando os sexos (aparece barbada na capa do disco por exemplo) ou imagens bizarras-repulsivas mesmo (tipo alguns clipes em que ela aparece totalmente freak - dê uma passeada nos clipes dela do YouTube). Ela é influente - já remixou Daft Punk, basement Jaxx, Queens of The Stone Age, B-52 e até os brasileiros do Bonde do Rolê), foi ela que ensionou a M.I.A. a trabalhar com o sintetizador e foi colega de quarto da Feist (diz ela que já deu uma catucada na Pink, o que a Pink confirma).


E no fim das contas realmente é bem divertido de dançar.


Comece por - The Teaches of Peaches
Disco mais Peaches - Impeach My Bush, porque é o mais pornô :-0

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Malleus Maleficarum

Em 1484, um dominicano chamado Heinrich Kramer tentou perseguir as "bruxas" de sua comunidade (Trent, na Itália), e foi impedido pelos clérigos locais. Pedindo apoio ao papa (papa é sempre a coisa mais do mal que anda na Terra, guarde isso) conseguiu do Inocêncio VIII a Summis desiderantes affectibus, a bula papal que basicamente diz que bruxa existe e que a igreja tem que matar todas. Mesmo assim, não estava conseguindo obter apoio do clérigo local, então resolveu como a maioria das pessoas resolvem a maioria das coisas: picaretando. Escreveu e publicou em 1487 (a prensa só existia tinha 30 anos, olha só) um livro from hell - o Malleus Maleficarum, também conhecido como o Martelo das Bruxas.

Esse livro foi largamente responsável por vários conceitos que perduraram muitos anos - que as bruxas são predominantemente mulheres (que são seres mais fracos que os homens e descontroladamente sexuais), que são criadas por satã para ajudá-lo, que roubam o pinto dos homens (!), matam criança, fazem canibalismo, transam com demônios e mais uma porção de coisa bacana. O livro era tão absurdo que a própria igreja condenou ele em 1490 - em só 3 anos foi para o Index Librorum Prohibitorum - mas como o picareta anexou a bula papal no início ele deu a impressão que o livro foi aprovado pelo papa (além de colocar no início que ele foi aprovado pela faculdade de teologia de Cologne, faculdade que classificou o texto como anti ético e ilegal).

Apesar de proibido, até 1669 (!!) foi uma espécie de "manual do inquisitor", já que ele ensinava a identificar, combater, e a julgar (torturar) uma bruxa. Ou seja, uma picaretagem que perdurou por 182 anos e ajudou a matar entre 40.000 e 100.000 "bruxas".Você pode ler o livro inteiro online aqui. Vá lá aprender que as bruxas matam crianças no útero para oferecer ao cramunhão e que elas fazem até experiência genética com o sêmem que elas colecionam.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Born To Die In Berlin

Descobri hoje que existe um museu dos Ramones em Berlin.
É realmente a cidade mais legal do mundo. Pena que eu não sabia disso quando estive lá - desculpa para voltar :-D

terça-feira, 10 de junho de 2008

Random Music

Já comentei aqui neste post que tem alguns meses que eu tenho feito um experimento maluco baseado neste livro e neste site (heheheh estou mega html hoje). Basicamente a idéia é gerar um número aleatório entre 22 e 948 (as páginas do livre que contém críticas), abrir o livro e baixar o disco que tiver ali. Qualquer um. Tina Turner. Britney Spears. Pode mandar.

O experimento é baseado em poucas regras simples:
1 - Não reclama e baixa aquilo ali mesmo! Não vale roubar.
2 - A única desculpa para não baixar é já ter o disco, aí se gera um outro número.
3 - Se tiver mais de um disco na mesma página, neste caso pode escolher.
4 - TENTA SINCERAMENTE ouvir sem preconceito.

Qual é a graça? É simples: você se habitua com muita música e
acaba pegando vícios. Ouvir mesmos artistas ou coisas relacionadas ou coisas parecidas com eles. Se você me falar que essa banda nova parece com um "Sonic Youth eletrônico", vou querer ouvir porque gosto de Sonic Youth e de música eletrônica. Mas no fundo você pode ter descoberto algo legal mas alargou pouco os horizontes. Então a idéia é me forçar a baixar coisas que eu nunca baixaria.

Ainda não acabei (provavelmente só vou parar quando acabar o livro), mas foi a melhor coisa relacionada a música que eu fiz recentemente. Baixei coisa ruim? Com certeza... Baixei coisa interessante mas que não me afetou o suficiente para continuar ouvindo? Sem dúvida (Lucinda Williams, Triffids, Scritti Politti, Gil Scott Heron, Kate Bush, muitos outros). Descobri disco foda que eu não teria baixado normalmente? Rapaiz!!!!!!!

Divido algumas com você:

Killing Joke (laugh? I nearly bough one) - já conhecia de nome, achava que era uma banda meio metal medíocre da década de 80. Não era. Pirei com Killing Joke. Música pesada e tensa, influenciada por muita coisa diferente (punk/metal/eletrônico/pop/dub tudo ao mesmo tempo), criativo à beça, experimental e diferente de tudo. Já comentei que eu gosto de bandas que manipulam os vocais de uma maneira criativa e eles manipulam todos os instrumentos de um jeito não convencional. Nem é tão pesado, mas é super tenso o tempo todo, climático, bem feito, até quando fica mais pop.
Fala uma música pra eu baixar tio - escute Turn To Red e depois me agradeça :-D

Magazine (real life) - banda formada por um cara que ficou puto e saiu dos Buzzcocks (uma das melhores bandas da primeira época do punk) e fez uma das primeiras bandas consideradas post-punk, utilizando o espírito da banda anterior mas abrindo bastante, incluindo sintetizadores e outros experimentos, e de forma geral ficando menos abrasivo. Esse disco Real Life e o primeiro do PIL são meio que considerados os primeiros do Post-punk, estilo que dominou boa parte da música alternativa da década de 80 e até hoje acho um dos mais legais da história do rock.
Fala uma música pra eu baixar tio - pega Shot By Both Sides, o Radiohead costumava tocar ela, quem é você pra discutir com o Radiohead?

Barry Adamson
(Oedipus Schmoedipus)- tocou baixo no Magazine e no Bad Seeds (banda do Nick Cave) e depois fez um disco solo de "jazz cinematográfico". Deixaram um recado na secretária eletrônica dele: "escutei seu disco por 8 horas seguidas".Era o David Lynch, que depois usou músicas dele na trilha da Estrada Perdida (que eu já elogiei nesse blog).
Fala uma música pra eu baixar tio - baixa The Sweetest Embrace, música linda cantada pelo Nick Cave.

Ute Lemper (punishing kiss) - cantora famosaça na Alemanha, a onda dela é fazer uam espécie de releitura moderna da música antiga de cabaré, então tem aquele clima de "noite enfumaçada num lugar sujeira". Quem escreve música para ela é uns sujeitos tipo o Tom Waits e o Nick Cave. Não precisa falar mais nada.
Fala uma música pra eu baixar tio - Tango Ballad, a mais cabaré de todas

Siousxie And The Banshees (Juju) - eu já amava Siouxsie antes (uma das melhores bandas de post punk e uma das duas que conseguiu misturar bem punk com gótico) mas não conhecia o disco Juju. É, se bobear, o melhor deles. Imagina uma de banda punk véio com uma onda bem sinistra e um som totalmente original - o baixo e a batera são um Joy Division acelerado, a guitarra parece algum instrumento de carpintaria cortando madeira e o vocal dela - bem, só parece com o vocal da Siousxie. Ainda vou postar sobre eles.
Fala uma música pra eu baixar tio - Spellbound pega bem o espírito do disco

Van Morrison (Astral Weeks) - outro cara que eu já gostava mas não conhecia o disco, Astral Weeks era declaradamente o disco preferido do lendário crítico Lester Bangs (depois leia alguma coisa dele e veja como a crítica de rock deve ser - quem viu "Quase Famosos", o crítico velho que orienta o garoto é ele). Astral Weeks foi gravado numa época que esse camarada do folk irlandês estava meio que em guerra com o mundo e arrumou uns músicos de jazz para misturar com o folk dele. É difícil explicar para quem não ouviu, mas o único adjetivo que eu consigo colocar nesse disco é "espiritual". Sério. Parece que as músicas foram todas improvisadas na hora, mas em vez de ficar caótico, parece uma experiência religiosa em que as pessoas que estão fazendo essa música estão entrando em transcendência. Só consigo explicar ele assim. Escute.
Fala uma música pra eu baixar tio - não dá. Esse disco só faz sentido se for ouvido todo de uma vez.

Teve outros legais mas não quero me alongar mais... a saga continua! Qual será que vai sair pra mim baixar amanhã?


Da série momentos absurdos da música

Eu sei que o áudio tá horrível mas pqp é os Flaming Lips tocando música do Black Sabbath com a Peaches !!!!

http://www.youtube.com/watch?v=s0O0apxdQAg

Mais surreal só o Dee Dee King mesmo...

Os B-Sides do Radiohead

Como bom fã doente e obcecado por Radiohead, tomo café em uma caneca com uma caricatura da banda desenhada no estilo South Park, durmo com um cobertor que estampa a capa do Kid A, tenho um abajur no formato do ursinho mutação genética deles e tento ficar com um olho torto para ficar igual ao Thom Yorke (mentirada hein).E naturalmente escuto bastante tanto os b-sides da banda quanto as músicas de discos normais.Sendo um pessoal bastante prolífico - na prática significa que escrevem 50 músicas e selecionam umas 12 para entrar em cada disco - e também um pessoal bastante preocupado com o "espírito" e o "fluxo" dos discos - na prática signfica que "qualidade" não é o único critério para a música entrar no disco, ela tem que se "encaixar" com o resto - é uma banda que gera muitos b-sides e quase todos eles são ótimos.Quase todos os singles do Radiohead tem vários b-sides (uns 3 por single), normalmente eles favorecem músicas não lançadas e a banda também tem o hábito legal de colecionar os b-sides em eps (Extended Plays, que é o disco que em duração é maior que o single mas menor que o LP) para facilitar para quem quer ter essas músicas mas não quer comprar todos os singles. Normalmente estes eps são "semi raros" - frequentemente são lançamentos limitados a uma região (por exemplo, ep exclusivo para o Japão).Abaixo comento os b-sides mais legais do Radiohead, mas é claro que se me perguntar mesmo eu classifico todos como obrigatórios. Fã é um bicho chato demais.

Da época do Pablo Honey:
O Pablo Honey é universalmente (e por mim também) tido como, ã, o disco "menos espetacular" do Radiohead - ou seja, empalidece perto dos outros mas é muito melhor que a maioria dos discos da maioria das outras bandas. :-) Os b-sides dessa época são bem aquele espírito garagem-pixies-meio adolescente do disco, frequentemente mais "soltos", até um bocado mais "punk".Foram colecionados nos eps "Manic Hedgehog", "Drill" e "Itch".Meus preferidos:


Killer Cars: primeira música sobre um tema que voltaria algumas vezes nas músicas da banda, a fobia/pânico do Thom Yorke com meios de transporte em geral.É também a única música comovente que eu conheço sobre medo de morrer em acidente de carro.

Inside My Head: bem punk e maníaca para os padrões da banda, escrita sobre a sensação de culpa de deixarem de ser independentes e ter que sujeitar às vontades de uma grande gravadora.

Da época do The Bends:
Estão entre os melhores b-sides, e quem estava acompanhando os b-sides nesta época enxergou com clareza a transição entre "ótima banda pop" para "banda pop experimental maluca e destruidora" que eles se tornaram no próximo disco.Foram colecionados no ep My Iron Lung.Meus preferidos:


Talk Show Host: com um estilo jazz/eletrônico que não tem nada a ver com o estilo deles na época, é o melhor b-side (junto com Trans Atlantic Drawl) e é talvez a música mais paranóica que eu conheço. Te joga para dentro da mente do narrador.

Punchdrunk Lovesick Singalong: talvez a única música romântica de fato do Radiohead até o lançamento de House Of Cards.


Da época do OK Computer:
Os b-sides do Ok Computer sempre me parecerem as músicas que eles fizeram para "relaxar" nesta época - mantém o espírito básico mas são bem menos tensos e mais simples que as músicas que saíram no disco.Foram colecionados nos eps No Surprises/Runnig From Demons e Airbag/How Am I Driving. Meus preferidos:



A Reminder: só voz e piano, foi escrita pelo Thom Yorke quando eles começaram a estourar de verdade mesmo para "ser tocada para mim caso algum dia a fama comece a subir na minha cabeça". Tocante.
Palo Alto: Música bem feliz e otimista para o normal deles. Escrita quando fizeram uma visita ao pólo de tecnologia de Palo Alto e "todo mundo tratou a gente muito bem!". Repare no refrão.

Da época do KID A/Amnesiac:

O Kid A não teve nenhum single - a intenção da banda é que ele só funcionaria se ouvido em conjunto e não isolando suas músicas.Os do Amnesiac foram, em geral, ainda mais eletrônicos e experimentais que as músicas que saíram no disco. Estão entre as músicas mais viajadas do Radiohead (e alguns estão entre minhas músicas preferidas).Não foram colecionados em eps mas na época lançaram um ep ao vivo (chamado I Might Be Wrong) que só tinha músicas do Kid A/Amnesiac em ótimas versões bem mais porrada que as originais.

Trans Atlantic Drawl: bem eletrônica e a música mais agressiva do Radihead. É o melhor b-side junto com Talk Show Host. Todo mundo que escuta essa música solta um "mas isso é Radiohead???".
Kinetic: outro experimento eletrônico bem dark e pertubador.

Da época do Hail To The Thief:
Esta época hoje é vista meio como uma época em que a banda "se perdeu", não porque tenha ficado ruim ou nada parecido (adoro o disco), mas porque eles estavam brigando muito internamente e não sabiam muito que rumo tomar, e acabaram tomando todos os rumos ao mesmo tempo.Por isso nos b-sides tem de tudo (desde blues até b-side que parece música eletrônica do Kid A).Foram colecionados no ep COM LAG que só saiu no Japão.

I Am a Wicked Child: Radiohead tocando blues. Pela primeira e única vez. Tem até gaita. Imperdível né.

Where Bluebirds Fly: era a música que eles deixavam tocando no palco antes de entrar na turnê do Hail To The Thief. Dá para sentir a expectativa da galera que foi no show.


Da época do In Rainbows:
Sendo o disco que voltou a tornar eles uma banda "acessível" (tô vendo todo mundo escutar o In Rainbows, até quem não gostava de Radiohead), os b-sides são um pouco mais pop e tranquilos (pelo menos o tanto de "pop" que a banda consegue ser hoje).Dos singles que saíram até agora, todos os lados b vieram do disco 2 do In Rainbows (que vem incluso com a edição de luxo do disco).
Down Is The New Up: uma espécie de soul distorcido, não entendi porque não entrou no In Rainbows. Tão excelente quanto qualquer música do disco.

Bangers + Mash: gosto mais da versão ao vivo (a que foi gravada no estúdio é muito contida perto da outra), mas permanece uma das músicas mais punks do Radiohead. Adoro a letra.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Mais do que eu pedi!

Essa é para quem - como eu - está viciado no Third do Portishead (vai ser fácil o disco do ano).
O Radiohead fez um cover de The Rip que para mim é a melhor música do disco. E de quebra ainda mandou uma música nova. Deus existe e gosta de nós.

http://www.pitchforkmedia.com/page/forkcast/51155-radiohead-super-collider-new-song-live-in-ireland-the-rip-portishead-cover

Qual é seu lado B?

Apesar de, no post sobre pessoas single X álbum eu haver sem dúvida me declarado uma pessoa álbum, tenho bastante simpatia pelo formato single. Para quem não conhece (no Brasil são os "compactos") são aqueles disquinhos - antigamente em vinil e depois em cd - que trazem, a princípio, somente uma música.No Brasil chegou a ser popular, sim, durante uma época, acredito que no fim dos anos 60 e início dos 70. Quando eu fuçava nos discos velhos da minha mãe eu sempre achava um ou outro espalhado por lá.


Porque diabos eu compraria um disco de só uma música? Se você se fez essa pergunta, é porque ainda não captou o espírito do negócio: comprar um single é igual comprar um chiclete. Você está passando na frente de uma loja de discos, fuça os singles vê uma música que ouviu de passagem e gostou, tira um trocado do bolso e leva para casa.Hoje é um formato praticamente inexistente no Brasil, então isso não foi algo que eu vivi, mas nos países onde o single ainda é forte (na Inglaterra até hoje sempre foi algo muito mais importante que o álbum) imagino que deve ser um ritual gostoso. Imagina aquela tarde de folga que você tira para ficar por aí sem nada para fazer, você liga para sua namorada e sai para fazer um lanche, ver um cinema, sai andando tomando um sorvete e passa na frente de uma loja de discos, entra descompromissadamente, compra o single de uma música que você tem gostado e o single da música que estava tocando na loja na hora porque ela te chamou atenção. E gastando só um trocadinho.


Aliás, essa foi a principal razão pela qual single não pega no Brasil: para ela lógica funcionar ele tinha que custar no máximo 5 reais. E nas ocasiões em que eu já vi single para vender sempre tinha um preço menor mas aproximado do disco, o que é insultar a inteligência dos outros E suicídio comercial ao mesmo tempo.


Agora, o que me faz simpatizar mais com o single são os lados B. Surgiram da época em que o single era em vinil (mas foram mantidos depois por tradição), vinil tem dois lados, e como ele trazia a música que vocês estava comprando no lado A, o que colocar no lado B? Essa necessidade normalmente fazia a banda partir para uma de 3 opções:
a - colocar outra música do álbum, normalmente uma com menos apelo comercial para virar um single sozinha (e historicamente isso gerou casos em que o lado b ficou mais famoso que o lado a);
b - colocar outras versões da música do lado a (extendida, remixada, ao vivo etc), ou mesmo outras versões de outras músicas do álbum (frequentemente ao vivo ou remixes);
c - colocar uma música que foi gravada mas por algum motivo não entrou no álbum, tornando o single atraente mesmo para quem tem o álbum.


As opções b e c me agradam demais. Como a pessoa está comprando a música do lado a e a do lado b é efetivamente um bônus, quase sempre nele entram músicas em que a banda está mais "relaxada" - covers inesperados, coisas mais experimentais, ou de alguma maneira músicas que normalmente não entrariam num disco normal - então os "lados b" de uma banda são uma ótima maneira de conhecer um outro lado deles, quase sempre um lado menos comercial em alguns casos até mais interessane. E para os fãs é um tesouro, depois que a banda já tem certo tempo de estrada você junta os b-sides dela em um disco e tem basicamente um disco novo para ouvir (que é quase sempre um disco ótimo).Os b-sides do Yo La Tengo, por exemplo, foram colecionados no disco Genius + Love e eu escuto ele mais que os discos normais da banda. Os b-sides do Nick Cave saíram numa caixa de 3 cds (são muitos!!!) que virou um disco tão ótimo quanto os discos normais dele. Os b-sides dos Smashing Pumpkins viraram um cd chamado Pisces Iscariot que eu tb recomendo,e por aí vai. Como norma geral, se você gosta muito de uma banda, tente baixar os b-sides deles e se surpreenda com um monte de lados legais que você não sabia que existiam.


Nota: os b-sides do Radiohead (que também são muitos) vão ganhar um post só para eles. Coloco amanhã.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Música da minha rua - Parte 4/4

Raimundos - recentemente na casa de um amigo me lembrei o tanto que o primeiro disco dos Raimundo é foda. Dos melhores discos nacionais da história, criativo, engraçado, divertidaço. O segundo também é bom, depois esquece.


Pin Ups - tenta ser o Sonic Youth brasileiro, não consegue mas valeu a intenção. A banda é legal e barulhenta e experimental. Queria conhecer um pouco mais.


Wry - também bem indie/pop, o vocal pode ser meio irritante às vezes, mas fazem um som guitarreiro interessante. Acho que mudaram pra Londres. Vai dar certo.


UDR - Funk carioca satanista feito em Belo Horizonte. Quem não conhece todas as letras do UDR de cor tem algum problema e precisa de ajuda. Ou pelo menos a letra do clássico Bonde Da Orgia de Traveco. MPB devia ser assim.


Hang The Superstars - junto com Autoramas a banda nacional que eu mais escuto na atualidade. Completamente inescrupuloso. Rock de garagem toscaço, sujaço (mas não pesadaço) e divertidérrimo de um magrelo insano gritando no microfone junto com duas backing vocals esquisitas. Não perca o show de jeito nenhum.


Eminence - metalzão from hell de BH, tenho gostado bastante das músicas novas. Me lembra Slipknot + Meshugga - tão bem feito quanto o primeiro e (não tão) quebrado quanto o segundo. Estão saindo em turnê para e Europa, sorte para eles.


Racionais - Racionais é foda. Na verdade, Racionais é meio que medíocre musicalmente falando, é até um pouco monótono, e os MCs tendem a ser meio "sou um pobre revoltado" clichê, mas quando o Mano Brow entra ele eleva tudo e você ignora todas as outras falhas. Filho da puta inteligente. Mano Brow é o melhor poeta do Brasil. E ele escreve "preparado pra morrer nós é".


Autoramas - se tiver um show do Autoramas na sua cidade, vá. E é bem capaz porque eles tocam sem parar. É a que eu mais escuto hoje - esse rock/punk/indie/garagem com umas letras ressentidas é legal demais. O Gabriel tem a manha total desde a época do Little Quail.


Chico Science/Nação Zumbi - nem tem o que dizer né - apesar de meio que sofrerem de superexposição (QUALQUER evento um pouco mais alternativo do Brasil tem um show da Nação Zumbi) isso que é música BRASILEIRA que me soa sinceramente BRASILEIRA e não forçada como eu comentei na parte 1.

PexBaa - música louca que parece que foi feita dentro de um hospício. É o que aconteceria se você mandasse um monte de loucos tocarem jazz. Recomendo demais.

Ah sim, Cansei de Ser Sexy é uma merda. Aquilo ali tem a ver com moda, com as fotos que elas tiram, com publicidade, com o fato de serem "menininhas brasileiras mudernetes", mas não tem nada a ver com música.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Música da minha rua - Parte 3/4

Só para finalizar minha onda de falar de música nacional listo as bandas brasileiras que eu gosto.
Nota: decidi pular qualquer banda com a qual eu tenha alguma ligação pessoal com os integrantes para não parecer que eu estou forçando a barra para eles. O contrário até que tudo bem - tem bandas aí que eu não gosto de determinados fulanos mas - sem nomes ;-)
Gosto de Sepultura mas não conto eles mais como banda nacional.

Titãs - Titãs velho comanda o batatal demais. Titãs acabou no Titanomaquia (eu até gosto do Domingo mas que caiu, caiu). Antes era uma banda excêntrica de mil caras gritando no palco letras bacanaças, sem medo nenhum de serem agressivos quando precisavam e lançando um disco foda atrás do outro. Hoje são zumbis tentando agradar a MTV. Pega as letras antigas do Arnaldo Antunes e tente não dar pala. Ele é outra decepção minha: começou uma carreira solo foda mais esquisita e agressiva que Titãs e depois decidiu que queria dinheiro. Nando Reis nem se fala. Tá virando o Lulu Santos.

Pato Fu - Criativo pra cacete, desde o primeiro disco. Às vezes passa do limite no pop mas não perco o respeito por eles. O John (guitarrista) é foda em todos os sentidos (eu não valorizo guitarrista técnico e rápido e exibicionista, para mim isso é punheteiro - eu respeito uns caras que tem estilo e criatividade como ele).

Hurtmold - Começou como uma espécie de Fugazi em português (mas sempre foi predominantemente instrumental) e depois ficou quase que 100% isntrumental. Os instrumentais do início lembravam Fugazi e os atuais tem me lembrado Tortoise, total post rock. Acho uma banda ótima e tento não perder show se eu puder.

Mordeorabo - Acho que é meio um Hurtmold de Belo Horizonte, mas é mais Fugazi e menos Tortoise. O show é 100% instrumental e 0% chato. Estão meio que no começo mas boto fé.

Ratos de Porão - Sempre gostei de Ratos e acho que é uma banda que melhorou com o tempo. Apesar de muitíssimo mais pesados são como os Ramones do Brasil - não dá para fugir da referência deles quando você é interessado em punk. Esses papos de João Gordo traidor bla-bla-bla é a maior baboseira irrelevante que eu já ouvi na vida. O que importa é que a banda seguiu só melhorando cada ano que passa.Estão lançando cd atualmente pela lendária Alternative Tentacles (gravadora dos Dead Kennedys). Se o Jello Biafra aprovou eu aprovo.

Mukeka Di Rato - Hardcore de homi, bem na linha dos Ratos. A maioria das pessoas vai achar pesado demais. Deram um dos melhores shows que eu já fui em BH quando era adolescente (e um dos dois shows da minha vida que eu cheguei em casa todo sangrando mas feliz).

DFC - Hardcore de Brasília. Melhor banda de hardcore do Brasil. Letras divertidas e inteligentes, o som tem umas influências de Biohazard e é bem tocado demais. Ponto final.

Inocentes - Bem no inicinho era um punk toscaço bem legal, depois virou uma de banda New Wave oitentão péssima que eu nunca entendi.

Retrigger - Eletrônico de BH feito por um cara. Insano, frenético e criativo. Vai longe.

Chelpa Ferro - É meio que o Neubauten brasileiro. Deram um show em uma Bienal que consistia da banda quebrando um carro inteiro. Qualquer banda que transforma a fase bônus do Street Fighter velhão em um show merece meu respeito.

Grenade - Indie bem feito demais só com música cativante que fica na cabeça. Tipo, banda de cara que gostava de punk mas quis ir para um lado mais pop e divertido.

Pelvs - Indie também super bem feito e divertido, vai de Pixies a Sonic Youth, mas tem estilo próprio. O disco deles Penísula ficou em rotação direta na minha casa por muito tempo. Também dão um show legal.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Música da minha rua - Parte 2/4

Vou dizer de uma vez só de maneira simples e direta: não gosto de MPB. De nada que é MPB. Nada. É um estilo que eu respeito com sinceridade - não desgosto por achar que é picareta ou coisa parecida, é como qualquer outro estilo, 90% picareta com coisas excelentes no meio (isso também vale para os estilos que eu gosto).Mas as "coisas excelentes" da MPB não me despertam interesse. Não tenho a menor idéia do porquê. Não me pergunte. "O barquinho vai a tardinha cai" é muito deitado na rede de tarde olhando o por do sol para se relacionar com a minha vida ou para conseguir prender a atenção da minha cabeça inquieta.Tem muita MPB bem feita de verdade, mas a sonoridade não me atrai. O violão da bossa nova é super técnico e inovador, mas não consigo me livrar da sensação de que as pessoas estão movendo os dedos no braço da violão de maneira aleatória até achar o acorde mais esquisito possível e de sonoridade mais FEIA que conseguir (sério!).Tem, com certeza, muita letra bem escrita, mas muitas vão para um território de "brasilidade" que de certa forma acaba me incomodando por tentar ser "brasileiro" demais (veja o post anterior).

Note que eu sou perfeitamente ciente que estou falando com pouco conhecimento de causa. Não conheço muito por nunca ter tido interesse. O que mais se aproxima de MPB que eu gostei é:
- o Tom Zé, porque é louco de verdade e não fica caindo nessas babaquices;
- acho o segundo e o terceiro disco dos Los Hermanos dois dos melhores discos nacionais recentes (sério!!! essa vai ser polêmica - concordo que eles são antipáticos e merecem morrer porque falaram mal de Ramones), apesar de achar o primeiro e o quarto horríveis - o quarto já ficou mais MPB que minha tolerância aguentou;
- o Chico Buarque, apesar achar chato ficar escutando muito, de fato é um escritor foda e a música Construção é a única música de MPB pra valer que eu gosto de verdade. É o que tem maior chance de me fazer gostar num futuro hipotético;
- Cordel do Fogo Encantado é legal, mas aquilo é MPB? Respeito a intensidade do show deles.

E acabou. O resto pode ir para um novo "país da MPB" para depois poderem jogar uns mísseis nucleares lá. (:-D não se ofenda amigo é claro que foi brincadeira)

terça-feira, 3 de junho de 2008

Música da minha rua - Parte 1/4

Já comentei nesse blog que eu acho uma concepção totalmente ridícula achar que existe alguma espécie de obrigação moral em escutar música brasileira ou ler literatura brasileira ou assistir a cinema nacional porque eu sou brasileiro.Antes de tudo, isso equivale a dizer que o mineiro tem que ouvir música mineira, o Belohorizontino tem que escutar música de BH, o cara que mora no São Lucas só pode escutar música do bairro e se mudar de rua vai ter que trocar suas bandas preferidas.Além disso, acho patriotismo um sentimento idiota e alimentado pelas pessoas erradas pelas razões erradas. Algo como faça uma cerca em torno de você e odeie quem está fora dela. Não vejo motivo nenhum para achar brasileiro superior a argentino (só para ficar num exemplo fácil) a não ser assumir umas birras sem sentido por causa de rivalidade no futebol (coisa com que eu nem me importo na verdade, por mim podiam proibir os esportes que minha vida não mudava nada). Não me importo com a nacionalidade de ninguém, acho que todo mundo é cidadão do mundo e acho que você tem que ler, escutar, assistir e vestir o que gosta ou o que captura seu interesse.

Da mesma maneira, é tão infantil quanto se recusar a ouvir/ler/assistir algo porque é brasileiro. Simplesmente não é critério. Conheço pessoas que "detestam cinema nacional" ou "música nacional" como se isso fosse algum indicador automático de qualidade ou falta de. O cinema brasileiro é como qualquer cinema do mundo: a grande maioria é porcaria e tem algumas coisas ótimas no meio. Música, idem. Literatura, escultura, pintura - idem. Isso vale para qualquer nacionalidade.Só por favor me deixa de fora de regionalismo forçado ou regionalismo por regionalismo: você vai em uns eventos tipo que teve em Belo Horizonte da Vivo (fui só para ver o Ragna) e tem que ficar aguentando um milhão de músicos "culturais" que fazem música relevante que só é cultural em teoria. Cultural para mim é o que se vive, e ninguém vive aquilo, só nos livros de história do colégio, e ainda assim é uma história manipulada e aproximada. Ninguém se veste daquele jeito, se interessa por aqueles temas e escuta aquelas músicas, a não ser alguns alunos de faculdade empolgados que acham que estão fazendo alguma coisa relevante por ser "regional". Sinceramente: que saco. Isso é igual colocar um gaúcho de bombachas tomando chimarrão no palco fingindo que ele vive daquele jeito e que usa aquelas coisas em qualquer contexto que não seja para gringo ver.

Definindo o jogo com uma frase

Você só jogou Wii se jogou Mario Galaxy OU é 100% concebível comprar um Wii para jogar só Mario Galaxy.

Eu vou jogar essa porcaria para sempre. Jogo maluco psicodélico feito por pessoas drogadas. Adorei.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Música para trabalhar

Você pode trabalhar ouvindo música? Refraseando: você é uma das felizes pessoas super sortudas que possuem a possibilidade de cumprir sua sofrida e repetitiva labuta diária, onde você sangra e sua e sofre para garantir a sua sobrevivência e dos seus entes queridos, com o alívio divino que provê da música que você gosta?

Quando eu inicio um novo projeto uma das primeiras perguntas que eu faço é se a empresa tem alguma restrição quanto ao uso de fone. Ultimamente tenho tido sorte e trabalho boa parte do tempo (exceto, obviamente, quando estou em reunião, aliás, por mim eu colocaria música na reunião também) com o ipod na orelha. No mesmo espírito do post sobre música para momentos difíceis, também identifiquei alguns padrões meus na hora de ouvir música no trabalho.

Em teoria, a boa música para trabalhar não chama atenção demais para si e provê um ambiente sonoro que é interessante mas fica no background. Isso é verdade em muitos casos, mas eu particularmente prefiro até mesmo o contrário dependendo do contexto.
Essa definição "clássica" me faz pensar em música repetitiva e/ou etérea e/ou abstrata de alguma maneira, então eu caio nos candidatos óbvios: música instrumental ou que usa os vocais como se fosse um instrumento, especialmente jazz, eletrônico e post-rock.
Post rock, no geral, funciona bem demais. As bandas de post rock são as bandas que começaram a partir da metade da década de 80 a usar a instrumentação clássica de rock - guitarra, baixo, bateria, muitas vezes com distorção - para NÃO fazer rock. A maioria é ultra viajante, largamente instrumental e experimental, tem elementos de jazz e faz uso de eletrônico - a equação perfeita de música para trabalhar. Se partir para o puramente eletrônico é legal escolher coisa mais abstrata e viajante também - estilos como o IDM que eu já mencionei no blog costumam funcionar legal quando (não são as vertentes mais agressivas) e obviamente eletrônico ambiente e lounge.

Dentro do jazz você tem um mundo inteiro - de Dixieland até fusion com música indiana - eu recomendo partir para o cool jazz - quando é ruim é total música de elevador, quando é bom é total "música para se ouvir dentro do útero".

Isso vale para um dia típico de trabalho típico, onde você está fazendo algo familiar em algum nível e que portanto não exige esforço intelectual demais. Acho que é óbvio para todo mundo que o nível de esforço intelectual tem uma relação inversamente proporcional com o nível de "abstratice" do que você vai ouvir - portanto preenchi uma tabela com o nível de esforço intelectual do trabalho, o estilo de música que combina e recomendando discos que eu já testei e para foram legais para mim neste contexto. Sei lá, se animar tente um deles e me fala se funcionou para você também.
As duas exceções:
1 - percebo que a maioria das pessoas tem dificuldade de ouvir música muito familiar durante o trabalho. Você acaba cantando junto em vez de trabalhar e as pessoas do escritório ficam olhando para você. Evite discos que você conhece demais.
2 - eu particularmente, quando estou sob pressão, opto por música pauleiraça. Quanto maior for a pressão, mais pesada a música. Fui fazer vestibular escutando coisa tipo metalzão from hell. Acho que algumas pessoas funcionam ao contrário disso. Ou a maioria delas. :-)

Nível Intelectual da TarefaTipo de MúsicaRecomendo
Ameba zumbi
Qualquer umAh sei lá vai ouvir Ramones para se divertir
Ameba mais espertinhaQualquer umOu Radiohead... Radiohead é legal
Pré-mongolNão tão pauleiraRadiohead - In Rainbows
Spoon - Ga Ga Ga Ga Ga
Ladytron - Witching Hour
Pixies - Death To The Pixies
Jesus And Mary Chain - 21 Singles
Weezer - Blue Album
Playboy/PatileneNão tão pauleiraBeach Boys - Pet Sounds
Roy Orbison - The Essential
Elvis Presley - TUDO
Luna - The Days Of Our Nights
Wilco - Yankee Hotel Foxtrot
MacacoInstrumentalJustice - Cross
Groove Armada - Vertigo
Mogwai - Tudo
Godspeed You Black Emperor - Lift Your Skinny Fists Like Antennas To heaven
Slint - Spiderland
Miles Davis - Live Evil
NormalInstrumentalAir - Talkie Walkie
Galaxie 500 - The Portable
Low - Trust
Kraftwerk -Minimum Maximum *
Panda Bear - Person Pitch **
Busy no MSNInstrumental abstratãoAphex Twin - Selected Ambient Works
Tortoise - TNT
Miles Davis - Birth Of The Cool ou Kind Of Blue
Chet Baker - TUDO
Desconectado do MSNInstrumental abstratãoBoredoms - TUDO
Clouddead - TUDO
Orneth Colleman - TUDO
Angelo Badalamenti - as trilhas dos filmes mais esqusiitos do Lynch
FudeuPau quebrandoTipo isso mesmo
NASA ou +Silêncio... No hay bandaNADA

* este é o segundo melhor disco para ouvir trabalhando da história da humanidade...
** e este é o primeiro!!