terça-feira, 20 de julho de 2010

Comentário bem rapidinho do que eu ando ouvindo direto...

...para compensar a longa falta de posts

2010 continua espancando!

Wavves – King Of The Beach
Já comentei sobre Wavves aqui quando estava ouvindo bastante o disco Wavvves. Na ocasião escrevi:
“Wavves é um doidinho americano com um cabelo esquisito que está tocando por aí - fica no palco ele tocando uma Fender Jaguar e um batera e mais nada. E é barulhento, avacalhado e tosco demais. O cd parece gravado no banheiro dele. Parece um Nirvana bem mais barulhento e com backing vocals fazendo uh-uh em falsete - sem saber cantar em falsete. Ou seja, legal demais. Pegue o segundo disco dele (chama Wavvves) e não me espanque se achar barulhento demais.”
O disco novo é exatamente isso + um bocado de pop. Um bocado grandão. E Wavves mostrou ser uma banda que melhora se fica mais pop (normalmente acontece o contrário). Era legal demais e ficou ainda mais (rimou). Um dos discos que mais fiquei com vontade de repetir esse ano.

Ariel Pink’s Haunted Graphitti – Before Today
O Ariel Pink está a um bom tempo por aí, é muito influente dentro do indie e normalmente é associado com músicas muito bonitinhas e extremamente lo-fi (o som que é mal gravado por querer). O mérito desse disco é soar como algo muito único e velho ao mesmo tempo. Parece alguma coisa que foi gravada para tocar na rádio nos anos 70, ou seja, de vez em quando fica muito Supertramp (não é um elogio) mas soa 2010 ao mesmo tempo, difícil de explicar, vale ouvir porque é realmente coisa nova e meio sem referência. E são muito boas músicas, que é o que importa.

Bitter:Sweet - Drama
Imagine um eletrônico fino com um bocado grande de pop (até um pouquinho 60), um pouco mais dançante e mais feliz, e mais, talvez, dramático. Banda interessante que descobri totalmente por acaso ouvindo last.fm, cai no clichê de “parece trilha sonora de filmes imaginários” mas seriam talvez filmes do 007 com o sexo e a birita ampliados a ponto de serem probidos para menores.

Caribou – Swin
Excepcional segundo disco desse produtor de música eletrônica que tem em mim um efeito parecido com o que os Chemical Brothers tinham na década de 90 – música empolgante, dá vontade de dançar, dá para ouvir sozinho no fone trabalhando e parece que o cara conseguiu destrinchar o eletrônico e aproveitar só o que presta. Muito recomendado e um dos melhores músicos da atualidade para mim. Disco que não precisa de esforço nenhum para gostar e pode colocar rolando em qualquer situação que agrada todo mundo presente.

Aliás, falando em produtores de música eletrônica, peguem o Further dos próprios Chemical Brothers (melhor disco deles desde o Surrender) e o mega viajado There Is Love In You do Four Tet.

Churrus – The Greatest Day
O camarada do Churrus sempre vai no show da minha banda e me aplicou no som deles, conheci e gostei muito. Indie na veia daquela variedade super melódica – imagine alguma coisa tipo Teenage Fanclub com o vocal do Jesus And mary Chain. Baixe do site da Midnight Summer –aliás melhor gravadora indie do Brasil.

Jenelle Monae - The Archandroid
Essa é a mina que está pirando a moçada do soul porque faz um som moderno e que não soa cansado nem repetido, a Mirian acha que é a mistura de tudo que está acontecendo ao mesmo tempo agora (e não gosta). Eu só acho um disco excelente e bem feitaço de soul com eletrônico pensado com a cabeça bem pop e dançante, e tem uma pancada de linha melódica que me lembra Michael Jackson. Estou recomendando para quem está sentindo falta do Michael - ok não comparem o cara é uma lenda - mas vai quebrar legal seu galho para dançar na sala. Ecute Locked Inside e vai entender o que estou falando.

Nachtmystium - Black Meddle 2: Addicts
Também já posteo sobre Nachtmystium aqui e apesar de isso ser um bocado polêmico entre a moçada da música pesada é simplesmente a banda que está fazendo coisas mais interessantes hoje dentro do metal (a ponto de serem uma banda de black metal que é frequentemente comparada com Pink Floyd) e está mostrando para onde esse estilo consegue ir. Escute para saber como seria Burzum para tocar na pista de dança.

Tem mais muita coisa... fica para o próximo post!!

sábado, 17 de julho de 2010

Me Trate Mal



Recentemente terminei a ótima leitura Treat me Like Dirt, mais um livro sobre música nos moldes do Mate-me Por Favor. Para quem não conhece, todo o texto do livro é baseado na edição de entrevistas feitas pelo autor pos pessoas que estavam lá e participaram daquilo, no caso, os músicos, jornalistas, promoters, fãs etc. Parece ter virado um padrão editorial para livros que tratam de música, nada contra, na verdade gosto muito do formato e funciona. Este livro trata especificamente da primeira geração do punk (76-81) de Toronto. Gosto muito da sensação de estar “abrindo uma nova porta” e me contextualizando com nova música que eu não conhecia antes, e como sempre achei novos favoritos e algumas coisas não tão legais.

A leitura vale até para quem não se interessa tanto por música, no fundo é uma história com muito drama, treta, facada, coisas engraçadas, e uma visão de como um momento cultural surge do nada, passa rápido mas muda uma cidade.

Diodes - Os Diodes são os Ramones de Toronto. É meio genérico falar isso de quase qualquer banda punk, mas os Diodes SÃO os Ramones, tem um som parecido e até o vocal em alguns momentos lembra o do Joey – na verdade se definiam como uma mistura de Ramones e The Clash, dá para perceber que eles tinham mais preocupação com harmonia (especialmente nos backing vocals) que acabava aproximando eles de fato. Derivativo? Sim, e isso é ponto negativo, mas derivativo muito bom e não completamente sem originalidade. Só escutei o primeiro disco (e viciei nele), se fosse um disco do meio da discografia dos Ramones hoje estaríamos listando ele como um dos mais legais. Sofreu bastante preconceito por ter suas raízes no mundo da arte (Faculdade de Arte de Toronto para ser exato) e não na rua, além de ter tido relativo sucesso comercial, mas sinceramente é talvez a primeira banda de punk verdadeiro da cidade, vou citar bandas mais velhas mas que possuem a raiz mais rock and roll do que punk na prática. Ah, e era a melhor banda. Na verdade a relação principalmente entre os Diodes e o The Ugly serve de reflexão de como o punk de forma geral (não só em Toronto) começou como um movimento de gente muito inteligente posando de adolescentes estúpidos e em determinado momento começou a atrair adolescentes estúpidos de verdade, que é quando perde a graça. Dizem que nos próximos discos ficaram mais pop/new wave, ainda não conferi. Mas se for escutar UM disco de punk de Toronto, fique com o The Diodes.

Teenage Head – é talvez a banda mais velha que tem ligação direta com o som punk de Toronto, é “punk” no sentido de fazer um rock and roll diretão na veia do que o que entendemos como punk de fato hoje, pense em Stooges e New York Dolls. Como passaram dois anos trancados na garagem antes de tentar fazer qualquer outra coisa tinha a fama de ser a banda que sabia tocar, e realmente é a que tem o som mais bem feito (sem punhetagem). Muito legal também e imagino que vai pirar demais quem tende a gostar de rockabilly. A coletânea deles é disco que dá para deixar rolando inteiro em festinha.

Viletones – do ponto de vista comercial era a que menos avançou (99% por causa de auto sabotagem – os caras literalmente mandavam as gravadores irem se fuder e jogavam cadeiras nos executivos) e é sem dúvida a banda mais legal de ler sobre, apesar de não ser a que mais me empolgou musicalmente. Esses eram os caras que queriam ser mais punks que os outros punks. Foram genios da publicidade – arrumaram umas jaquetas de couro escritas Viletones atrás antes de ter sequer uma música e saiam pela cidade arrumando brigas aleatórias, o nome espalhou (achavam que era uma gang) e no primeiro show já lotou de gente. O vocalista Steve Leckie é a figura mais bizarra do livro, morava na rua, se cortava no palco com caco de vidro, incitava a platéia a quebrar o lugar, mandava bater em hippies (e batiam), usava o nome de Nazi Dog, basicamente fazia qualquer coisa para mostrar que era mais punk que você – e de forma calculadíssima e até um pouco artificial. O som é aquele punk sujo básico sem muito o que acrescentar, não é o pior que já ouvir mas dá para viver sem. Mais legal ver os shows caóticos deles no YouTube. Não era burro, mas era manipulador e ao mesmo tempo em que era muito true – o cara morava na rua pô – era um bocado poser. E também foram os responsáveis por contaminar os show com muita violência e atrair gente sujeira de verdade, o que na verdade contribuiu para acabar com todo o negócio.

The Ugly - foi uma espécie de Viletones tardio com pessoas mais extremas e o som muito melhor, mas eu não consigo escutar uma banda sabendo que estou ouvindo um cara que invadia a casa de pessoas e estuprava quem estava lá dentro.

The Curse – primeira banda punk de mulheres de Toronto, umas mulheres bem sujonas e podronas, moravam com os caras do The Ugly. Eu tinha uma fita cacete de uma banda punk de mina de BH chamada Histerical Pussy que dava a impressão que a gravação era a primeira vez na vida que cada uma via seu respectivo instrumento. The Curse é tipo isso daí. Existe uma linha frequentemente cruzada no punk entre fazer um som simples e direto e simplesmente não saber tocar porra nenhuma. As pessoas que cruzam essa linha são as que não entenderam nada.

Forgotten Rebels – punk 77 do melhor e com letras chocantes (tipo afundem os barcos dos imigrantes) porém feitas para serem absurdas e sarcásticas. Nego já foi preso e interrogado tendo que responder se não pertencia a nenhum grupo revolucionário radical. Veio um pouco tarde mas perigou tomar o posto dos Diodes na minha opinião.

Ah, e detalhe: Fucked UP (de Toronto) é a única banda punk da atualidade que vale a pena.