segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Você gosta de industrial?


MÚSICA INDUSTRIAL era por um certo tempo na década de 80  - bem durante a explosão do post punk - a "música do futuro" e causou um impacto considerável.
Teve uma trajetória mais ou menos padrão para estilos de música relacionados ao rock - começou bem puro, underground, ácido e descompromissado e muito aos poucos foi se modificando para algo mais comercialmente aceitável, terminando como algo que pouco tinha a ver com o seu começo.
Porém, é um caso raro de história que (na minha humilde opinião pessoal) não destruiu com o negócio e em alguns casos gerou uma criaturas híbridas muito interessantes que não seriam tão boas caso não dessem algum nível de abertura para o pop (caso clássico: Nine Inch Nails).

O estilo de música tem esse nome porque foi originado de uns malucos que naquele clima vamos-revolucionar-tudo-acabaram-as-regras que se seguiu à explosão do punk (quando até mesmo o próprio punk não tinha mais forma nem lei) decidiram descobrir até onde vai o extremo e declararam que iam fazer anti música: qualquer som ou ruído é válido como instrumento musical, e foram selecionados a dedo os mais agressivos.

Coisas quebrando, serras elétricas, grandes máquinas funcionando (ou falhando), fita K7 enrolando no deck, explosão, vidro espatifando, serrote serrando. Caos, barulho, ruído. É neste momento que te dou uma pausa para dizer "mas isso não é música" e decidir se quer parar de ler neste parágrafo.

Não parou? Então vamos lá. O que era feito no início era gravar tudo quanto é barulho de fontes diferentes (quase sempre agressivas) e organizar estes barulhos em padrões repetitivos através de sintetizadores, sequencers e outras ferramentas de música eletrônica. O resultado é escutar alguma  coisa semelhante a ouvir uma fábrica trabalhando ou uma construção em andamento em loop, o que gera uma espécie de efeito hipnótico e te coloca em um clima diferente e pesado, tenso. Não estou aqui para debater o que é ou não é música, mas minha humilde concepção pessoal qualquer produto de áudio desenhado para quando ouvido afetar o estado do ouvinte se chama música.

É música textural - é para a música alguma coisa semelhante a pinturas abstratas que não tem significado, são somente texturas jogadas em uma tela. E é pesado, razão pelo qual foi adotada pelo pessoal do metal e do punk. Ou seja, não é para todo mundo de forma alguma, mas para quem se interessar pode ser um verdadeiro portal para um universo diferente.

Note que esse efeito de "usina trabalhando" só existe primariamente nas primeiras obras das bandas mais radicais (Throbbing Gristle, Neubauten), e mesmo essas bandas mudaram muito e se tornaram cada vez mais "musicais" com o passar do tempo. Na verdade o fato de ser baseado em música eletrônica E ser considerada música pesada fez com que o estilo gerasse filhos que se aprofundavam cada vez mais em um dos lados - posteriormente você teve bandas que são basicamente uma forma de metal eletrônico (Ministry), que são até dançantes (Meat Beat Manifesto), e as anomalias que estão exatamente no meio entre metal pesadão e house de pista de dança (KMFDM), e tudo era chamado de industrial. Se tornou a música padrão para tocar em clubes góticos porque dá para dançar mas não deixa de ter um clima soturno.
Mesmo bandas que eram basicamente metal puro mas incorporavam samplers e repetição foram consideradas uma espécie de "industro-metal", caso do Fear Factory e do Nailbomb. Eu não sou purista e não tenho nada contra essa distorção, gosto da maioria dessas bandas.

Hoje é tido como um gênero meio morto, você nem ouve falar de novas bandas de música industrial que estão revolucionando o estilo. Você vê o impacto em todos os lugares - desde Chelsea Wolfe até Slipknot - porém acho que os conceitos foram mais banalizados que assasinados, a partir do momento que quase tudo virou uma espécie de música industrial por causa da predominância do eletrônico ele não existe mais.

Estou no espírito fiz uma playlist brutal para ouvir durante a semana. Um breve comentário sobre o quê eu coloquei nela para que interessar por dar uma explorada também:

Neubauten - já falei deles aqui. É semelhante a colocar os alunos de medicina abrindo cadáveres no primeiro período - ou aguenta ou desiste logo. Para mim é o grande ícone e tem diversas fases interessantes - começando com quase ruído puro mas chegou a fazer coisas até mesmo mesmo muito BONITAS posteriormente. Lê meu post, vai!

Throbbing Gristle - já falei de leve aqui, e não muito bem :-). É muito importante historicamente, porém é MUITO difícil de ouvir, até mais que o Neubauten, pesado demais, estressante demais, intelectual demais, em todos os sentidos. Vale conhecer e se souber selecionar algumas coisas vão - um disco inteiro, sei não.

Ministry - imperdível e fez alguns dos meus discos preferidos. Ministry dá vontade de chutar alguma coisa, de quebrar uma janela. Tem um poster do Ministry no meio da minha sala e a Lola adora. Falei legal deles aqui.

Nine Inch Nails - basicamente é a banda que viabilizou o industrial como estilo comercial, ou seja, pegou algo que era obscuro e dava medo nas pessoas, misturou com um pouco de pop e fez funcionar para todo mundo (isso é um elogio, demanda uma quantidade brutal de talento). É engraçado visualizar o início synth pop deles - começou como um Depeche Mode do mal -  e ver até onde isso deu. Reparem como em discos recentes como o Year Zero e o Ghosts voltaram a incorporar muito barulho puro. Até hoje está entre as 5 bandas que eu mais gosto. Falo deles sempre.

KMFDM - os reis do industrial alemão (famoso Kill MotherFucker Depeche Mode heheheh), é uma espécie de Ministry interessado em tocar nas pistas de dança e incorporar elementos como backing vocals femininas negonas e batidas retas misturadas com guitarras pesadaças ultra repetitivas. Não parece legal no papel mas é MUITO BACANA :-).
Destaque para as capas dos discos - não deixe de clicar aqui!

Skinny PupPY para o anônimo antipático) - como o próprio Trent Reznor admite, Skinny Puppy é o proto-Nine Inch Nails, alguma coisa que tem doses iguais de barulho, guitarra pesada e synth pop. Misture Sepultura, Daft Punk e Eurythmics peça para uns góticos tocarem isso que sai o Skinny Puppy (que é o que está tocando no meu ouvido neste exato momento e é sempre a primeiríssima coisa que vem na minha mente quando eu ouço falar em industrial). Se a voz do vocaliste OGRE não fosse tão estranha tinha feito sucesso antes e mais do quê o Nine Inch Nails. O disco Singles Collected é obrigação, se vire aí agora.

Coil - Uma espécie de "música ambiente industrial", Coil faz alguma coisa ainda mais textural e constante que as outras bandas citadas aqui, é a banda mais "quieta" e "calma" que eu citei aqui porém é capaz de gerar um clima absurdamente sinistro. Sério, eu já tentei e nunca consegui ouvir Coil dirigindo no carro, eu sempre fico com a sensação que vou bater (!). Esses caras fizeram a trilha sonora do primeiro Hellraiser - que foi rejeitada por ser muito sinistra. Deu para entender?

Nailbomb - projeto industrial do Max Cavalera, fez só um disco mas deixou um dos DVDs ao vivo mais legais que eu já vi na vida. Minha mãe entrou no meu quarto correndo perguntando se estava tudo bem comigo na primeira vez que eu vi.

Também recomendo: Front 242, Meat Beat Manifesto, Pop Will Eat Itself, os discos de remix do Fear Factory

Dá uma brincadinha aí embaixo:
Skinny Puppy - Testure
Nine Inch Nails - Happiness In Slavery
KMFDM - Juke Joint Jezebel
Ministry - Thieves
Neubauten - Kalte Sterne

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dica de tecnologia - Google Music

A dica hoje não será diretamente sobre O QUÊ ouvir, mas COMO ouvir. E de bônus uma pequena reflexão sobre o como afeta o quê você ouve.

A morte do Mr. Steve Jobs (um designer tão genial que fez o "design" perfeito inclusive da sua imagem pública, mas isso é assunto para outro post) me fez pensar em uma das suas grandes evoluções - ele literalmente mudou a indústria da música. O caminho é longo e tortuoso - fonógrafo, gramofone, vinil, K7, CD, iPod - cada formato carrega consigo uma experiência própria. A Lola (filhota) vai rachar o bico quando ouvir falar que eu ainda vivi o vinil quando ele não era uma opção cult, mas O jeito de ouvir música.

Não tenho mais vinis ou aparelho para ouvi-los, mas faz parte da minha lista de desejos ainda comprar uma vitrola. Sim, vitrola, peça única. Isso é muito discutido e tenho pouco a acrescentar - só vou registrar que acho a experiência de sentar com um disco de vinil, capa grandona, olhando a arte, de preferência daqueles que abrem e tem mais arte e as letras dentro, a fisicalidade de colocar um disco para rodar e agulha em cima, fantástica, quase um ritual sagrado. Aliás, você senta só para OUVIR MÚSICA? Eu sento.

O trabalho de gravar uma fita K7 - ter que esperar a música inteira tocar, pausar, trocar o CD ou vinil, gravar de novo - é muito mais carinhoso e intenso que arrastar músicas para uma playlist do iTunes (não disse melhor, mas é sim mais emocional). Gravei muitas fitas para minha mulher no início do namoro e se um dia eu achar elas e conseguir tocá-las tenho certeza que vou ter uma sensação muito foda.

No outro espectro, temos o ápice tecnológico da experiência musical, o tocador de mp3, onde reina o iPod, certo? Errado! A ponta tecnológica da arte de ouvir música é ainda mais etérea que colocar seus arquivos em um tocador, é utilizar de cloud computing, ou seja, colocá-los "na nuvem". Para isso, minha escolha natural foi o serviço do Google Music, porque tenho dois dispositivos que são 100% integrados com a minha conta do Google, um telefone e um tablet, ambos Android. Funciona basicamente assim:

  • como os demais serviços do Google, você acessa com a mesma conta, este fica em http://music.google.com
  • Ao entrar na primeira vez, você irá baixar um agente, que é basicamente um programinha que fica rodando no seu system tray sem você nem ver (ali onde fica seu relógio e outros ícones). Quando você o instala ele pergunta onde você mantém suas músicas - iTunes, Media Player, num conjunto determinado de pastas etc. 
  • A partir daí, sem incômodo ou intervenção nenhuma sua, e inclusive captando as mudanças na sua biblioteca de músicas, esse bichinho vai "subir suas músicas para a nuvem", que é um termo bonito para "copiar seus mp3 para os servidores do Google". O limite não é de espaço, de quantidade, são 20.000 músicas. Eu tenho mais que isso, já enchi tudo, mas por hora ainda não existe opção de aumentar este espaço.
Uma vez alimentada sua biblioteca online, de qualquer lugar onde você estiver conectado você acessa e escuta suas músicas e playlists. Funciona no browser e em dispositivos que tem o software do Google Music. Obviamente, o tocador de música nativo do Android já lê tudo de lá sem você ter trabalho algum, porém sei que existe o software para o iPhone e Windows Phone. O poder disso é que de um lugar centralizado você carrega tudo, muda sua biblioteca, sobe música nova, não precisa copiar nada para seus dispositivos (eles inclusive armazenam por um tempo localmente as músicas que você ouviu). 

Hoje eu levo o meu tablet para festas, ligo no som, conecto no wifi da pessoa e morreu, a maior parte do que eu tenho simplesmente está ali. Ou poderia ligar qualquer notebook e acessar o music.google.com. Não existe nenhum botão do tipo "sincronizar minhas músicas"; quando você navega no music player, simplesmente seus discos estão lá, você nem sequer consegue saber o que está online ou offline. Coisa linda de Deus!

A Amazon e a Apple tem serviços parecidos (o Cloud Player e o iCloud), aqui tem uma comparação bacana para você decidir o que quer usar. Ah, só um detalhe: quando você entrar no Google Music ele vai te informar que ainda não está disponível no Brasil. Por isso você vai entrar no http://hidemyass.com/ primeiro. :-)

Próximo serviço: google mind reader, onde você vai pensar em uma música e o som mais próximo vai executá-la. Já está em beta.

Obs nada a ver com o post: escrevendo isso ouvindo pela sétima vez no repeat o disco Father, Son, Holy Ghost do Girls. Absurdo! Aguarde um post futuro.

sábado, 1 de outubro de 2011

Quer ouvir um disco bom?

Se você já não ama Grizzly Bear, deveria.

Na falta de um disco novo desses fdp perfeccionista que demoram séculos para fazer qualquer coisa, se você acha a idéia de um Grizzly Bear eletrônico feito pelo baixista da banda (que também foi o produtor do disco do Twin Shadow) interessante deve escutar o disco do CANT.

Nenhuma grande novidade ou revolução, soa exatamente como você espera que soaria uma mistura dessas duas bandas. Mas misturar leite condensado com chocolate derretido também dá o que você esperava e nem por isso não é bacana certo mano? CRASSE!