quinta-feira, 31 de julho de 2008

Da Série Playlist - O quê NÃO anda queimando a bateria do meu Ipod porque ele foi pro saco (1/2)

The Hold Steady - Stay Positive
Lado Bão: um dos melhores discos de 2008 fácil, vai estar no top 5 com certeza e se não fosse o do Portishead perigava pegar o primeiro lugar na minha opinião. Rock estilo classicão (a banda foi formada por amigos que gostavam de The Band, a banda do Bob Dylan na década de 70 - piano, gaita, solo de guitarra, virada de bateria, ROCK) que milagrosamente faz esse estilo de maneira RELEVANTE e INTERESSANTE em 2008. Vocal bem estilo "bebi e fumei muito a vida toda e já vi de tudo acontecer" e letras excelentes do estilo "contador de histórias", a maioria histórias meio que marginais da vida. ESCUTA AGORA!!!
Lado Ruim: A única coisa que consigo achar ruim é que é o quarto disco deles e só conheci agora.
Gostei: entrou na minha lista de bandas preferidas. E isso cada vez acontece menos.

Air France - No Way Down
Lado Bão: é um eletrônico MUITO classudo e bem feito, mais para o lado lounge mas meio que "quente", me lembra em alguns momentos Massive Attack mas sem o lado sinistro, excelente para trabalhar inclusive. Música eletrônica de relaxar numa cadeira de praia bebendo um drink (nem lembro quando foi a última vez na vida que eu pude fazer isso).
Lado Ruim: é curto (EP).
Gostei: não ando numa fase muito eletrônica, então estar ouvindo qualquer eletrônico direto agora é bom indicador para eles.



Black Kids - Party Traumatic
Lado Bão: Parece um pouco com Hot Hot Heat, e eu gosto de Hot Hot Heat...
Lado Ruim: ...só que é um Hot Hot Heat piorado e com bem menos energia e carisma.
Gostei: Não. Mais uma banda para a pilha de rockinhos novos sem muita novidade. Don't believe the hype.






The Gossip - Standin In The Way Of Control
Lado Bão: a figura da Beth Ditto (uma gordinha de 100 kg punk e lésbica e boca suja) é menos tabloideira e mais interessante que eu imaginava, o vocal dela é FODA e o som da banda é um blues sujão com influência de punk e de rock moderno que eu achava mais ou menos mas depois de ouvir o disco direito me agradou mais que eu imaginava. O disco está me fazendo voltar a ele. Boas letras também.
Lado Ruim: no fundo não é tão inovador assim, se desenvolver um pouco mais a personalidade deles pode sair algo muito bom ainda. Tem promessa, vamos ver se cumpre.
Gostei: até que sim, mais que eu imaginava inclusive.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Super Grupos (3) - Cena Social Quebrada


Ser popular é legal. Quando dois músicos de Toronto (Kevin Drew e Brendan Canning) se juntaram para gravar um disco de post-rock bem viajeira e calminho, praticamente todo instrumental, escolheram vai saber porque um nome de banda totalmente punk (Broken Social Scene). Esse disco (Feel Good Lost) foi fonte de orgulho (porque era bom) e frustração (porque eles não conseguiam fazer show ao vivo com suas músicas que eles considerassem interessantes). Então começaram a chamar a moçada - e a moçada deles são membros de bandas fodásticas do Canadá - para colocar um vocal aqui, um instrumento a mais ali, para ir crescendo e preenchendo e viajando mais ainda a banda ao vivo. É tipo um "vamos fazer uma banda" de criança onde TODOS os seus amigos tem que entrar (se seus amigos não forem um banda de tosco e de fato souberem tocar).

Acharam tão legal que socaram todo mundo para gravar o segundo disco. Resultado: Broken Social Scene virou uma banda de 19 (!?!?!) negos; se tornou uma espécie de "super grupo indie" do Canadá; fez um disco mega destruidor (You Forgot It In People, com certeza um dos destaques dos anos 2000); e provou que super grupo não tem que ser necessariamente ruim. O som ficou classificado junto com outros "pop barrocos", que é aquele pop bem emocional e bem feito que normalmente inclui até a pia da cozinha (guitarra, baixo, batera, piano, violino, percussão, sua mãe cantando etc) e que hoje para mim é uma das correntes que mais está gerando bandas indies boas - Arcade Fire e Decemberists por exemplo. O show deles é sempre com a formação que deu para juntar na hora.

Para refletir essa pancada de influência, o som deles acabou bastante variado, e vai de baladonas de piano (lindas) até (quase) tocar no punk de fato - nada muito pesado mas bem feito e com intensidade, e, surpreendentemente coeso - na verdade do ponto de vista de composição (entenda "fazer música boa") é tranquilamente uma das bandas mais sólidas da atualidade. Sentimental sem ser emo, tranquilinho sem ser pop, intenso sem ser pesadão, e sempre usando sonoridade interessante e coisas bem tocadas - mas sem virtuosismo chato nenhum. E gostar de Broken Social Scene acaba te levando a ouvir outras coisas interessantes - desde as carreiras solo que quase todo mundo da banda tem (a da Feist é até mais conhecida que eles próprios) até as bandas paralelas (tipo Do make Say Think). Eu imagino You Forgot In People como um daqueles discos que tem potencial para "ligar" alguém que ainda conhece pouco de vez em música alternativa.

Gostei da idéia. Quem quiser fazer um super grupo de 19 membros me contata e desde que você toque qualquer coisa que não triângulo (instrumento mais picareta da história) ou flauta (flauta devia ser proibido).

Comece por - You Forgot It In People
E depois que eu enjoar - escute o disco Broken Social Scene
E o primeiro? - Legal mas não tem muito a ver

terça-feira, 29 de julho de 2008

Super Grupos (2) - Por que temos que viver em tanta dor todo dia


Entre as bandas que foram tão escutadas na minha adolescência que se entranharam no meu DNA de um jeito que não sai mais (tatuagem nos genes), se eu me basear no número de vezes em que eu ouvi, Alice In Chains tem uma grande chance de peitar Ramones, Nine Inch Nails, Radiohead e outros hits do meu som dessa época. Escutava diariamente e até hoje te desafio a me mostrar qualquer música deles que eu não sei a letra de cabeça. E é alta a possibilidade de eu também saber tocar ela na guitarra. Escuto pouco hoje (não que eu não goste mas a obra deles foi curta e já foi mais que absorvida tem muito tempo), mas um lembrete foi um dia em que, dirigindo na estrada e escutando o ipod no shuffle, começou uma música tão densa, climática e simplesmente magnética que eu cheguei a assustar até reconhecer que era uma música da carreira solo do guitarrista deles. O negócio era poderoso.

Em 1994 um projeto atraiu um grande interesse inicial e quando foi percebido que não era uma banda óbvia prontinha para rádio e igualzinho as anteriores ficou meio esquecido. Exceto por quem gosta de música boa. Mad Season foi formado pelo guitarrista do Pearl Jam (Mike Mc Cready) que, numa clínica de reabilitação conheceu o baixista John Baker e chamou o baterista dos Screaming Trees (Barret Martin) e o seu amigo Layne Staley, vocalista do Alice In Chains, para fechar. O que você tem que entender sobre Mad Season é o momento: provenientes de bandas que estavam no auge (tanto artístico quanto comercial), e ao mesmo tempo com a vida pessoal esmagada (drogas principalmente), todos os envolvidos - o baixista e o Layne Staley morreram pouco mais tarde, os dois de overdose - atravessavam um período difícil e confuso, onde havia o agravante que o mundo estava prestando atenção neles. Já vi os membros da banda dizerem que estavam numa viagem de fazer música espiritual, que tenha significado profundo para as pessoas, e de quererem experimentar o que não encaixava nas outras bandas.

Então a música do Mad Season é a reflexão de tudo isso: espiritual, lenta e contemplativa, bonita de um jeito muito triste, o disco é super melancólico e por vezes pesado. Não se parece em nada com Pearl Jam, Alice In Chains ou Screaming Tress. Tem música feita por improviso na hora, tem música que leva saxofone (de uma maneira NÃO BARANGA por milagre), tem música instrumental, tem música triste de fazer chorar. O clima do disco é bem resumido numa frase de River Of Deceit, que foi a única música que ficou um pouco conhecida: my pain is self chosen.

Pouco conhecido, pouco lembrado, só fez um disco (Above) pouco falado. Mas toda vez que eu sento com uma guitarra já reparei que sem perceber em algum momento sai uma música deles. Não posso lutar contra meu DNA.

Eu não sei de nada

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Super Grupos

Eu normalmente detesto super grupos. A idéia é toda errada e quase sempre gera um som altamente desinteressante. Esse conceito de "dream team" - vamos colocar o guitarrista dessa banda com o vocalista daquela com o baterista daquela outra, normalmente todos "destaques" em sua respectiva área - quase sempre geram, ao contrário da expectativa, música meia boca.

As razões são claras para mim. Eu enxergo duas abordagens nestes super grupos da vida. Uma é a abordagem "profissional", que significa uma banda formada de uma maneira super racional, pessoas conversando numa mesa de reunião e planejando cada passo, mais provavelmente cada um com seu empresário do lado, tomando um cafezinho e assinando dois quilos de papel antes de tocar uma nota juntos. Nada mais anti música. Nasce disso uma música calculada e fria que tem um propósito: promover as carreiras dos envolvidos chamando atenção. E você escuta claramente a disputa por espaço, a disputa por destaque, as regrinhas do tipo "todo mundo tem que aparecer igual". Tirando que normalmente essas pessoas vão guardar seu melhor material para sua respectiva banda.

Horroroso. Na MELHOR das hipóteses, de você der muita sorte, vai soar EXATAMENTE como você esperava, tipo um mashup das bandas envolvidas (o som de guitarra da banda X com o vocal da banda Y, inovação zero).

Exemplos:
Traveling Wilburys - juntou George Harrison, Jeff Lynne, Roy Orbison, Tom Petty and Bob Dylan. Só cara foda. Não consegui chegar na quarta música do disco.

Audioslave
- adoro Rage Against The Machine, adoro Soundgarden, e Audioslave foi horrível porque soava nem um centímetro diferente de um arranjo do Rage com vocais do Soundgarden, tirando o fato de que é um mashup das duas bandas congeladas no tempo, sem nenhuma evolução, sem nenhuma experimentação de coisas novas, só repetindo o que fizeram no passado. Decepcionante artistas que eu admiro se entregarem de corpo e alma ao objetivo de tocar na FM.

Velvet Revolver - gosto de Stone Temple Pilots, não gosto de Guns And Roses, tinha alguma experança que o Scott conseguiria extrair algo bom daqueles caras, e descobri que sou um ingênuo. FM let's go!

Lard - mais um exemplo de banda que soma exatamente como um mashup, no caso arranjos do Ministry com vocais dos Dead Kennedys. Como se tratam de duas das bandas que eu mais gosto até consigo ouvir Lard, mas que não chega aos pés das bandas que o originaram é fato.

A outra abordagem, bem mais rara, é tratar o seu "supergrupo" como mais uma banda, tentar entender que tipo de som pode nascer da combinação desses caras e não da combinação das suas bandas anteriores. Bem mais raro mas acontece.

Broken Social Scene - total supergrupo indie do Canadá, e totalmente excepcional. Ainda vou postar sobre eles.

Mad Season - vocalista do Alice In Chains + guitarrista do Pearl Jam + batera do Screaming Trees e faz um som totalmente único (sem contar que é diferente de todas essas bandas) e é maravilhoso. Posto sobre eles talvez amanhã mesmo.

The Good, The Bad And The Queen - vocalista do Blur + baixista do The Clash + guitarrista do The Verve, mais um experimento que banda, mas deu certo.

Se eu mandasse em alguma coisa ia criar algo absurdo tipo colocar o Thom Yorke tocando com o Max Cavalera num projeto de Post Harcore com os caras do Fugazi fazendo os arranjos junto com o Nick Cave no piano e o Aphex Twin programando as batidas. E ia ficar horrível. :-)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Da Série Random Music - I Wanna Die Just Like Jesus Christ

Meio da década de 80. Dois irmão viciados em heroína, marginais até o osso, brigam com todo mundo, brigam com as outras bandas, brigam entre si no palco (briga de porrada), brigam com a platéia. Sobem no palco, fazem shows de 10 minutos (de costas para o público) e vão embora. Metade desses shows terminam em quebra quebra. Já foram expulsos do prédio da gravadora por arrumarem confusão lá. Depois gravam um primeiro disco em que a microfonia (aquele barulhão agudo e irritante de interferência quando você coloca o captador da sua guitarra de cara com o amplificador) é o instrumento principal. E praticamente o único instrumento do show ao vivo.

Nada disso teria importância nenhuma se este disco (Psychocandy) não tivesse mudado a música da sua época, se estes shows de 10 minutos não tivessem virado lendários, e se esses dois doentes não fizessem música excepcional. Se você gosta de rock mderno escuta muito deles em muitas bandas sem perceber. Uma das bandas que sedimentou o estilo shoegazer (olhador de sapato ehheheeheh), que recebeu esse nome porque todas as bandas eram formadas por um pessoal descabelado meio com cara de gótico que só tocava olhando para baixo, o Jesus And Mary Chain parece brutal no papel, mas o mais interessante deles é que as músicas são uma torrente caótica de barulho até quando você consegue decifrar o que está por baixo - pop. Pop??!?!? POP!! E pop bonitinho!!!

No segundo disco (Darklands, que eu adoro) eles fizeram o contrário do Psychocandy: músicas sóbrias, bonitonas, letras lindas, um clima meio deprê (não "deprê vou me matar", mais tipo clima de ressaca - aliás um amigo meu classificava eles muito bem como a melhor banda para se ouvir de ressaca do mundo) e conseguiram ser tão bons quanto o primeiro. A partir daí "ganharam o direito" de fazer o que quiserem, já que provaram que fazem tudo bem, e gradualmente se transformaram em uma banda um pouco mais próxima de um rock tradicional, porém um excelente rock tradicional. E nunca perderam a veia provocativa: direto tinham singles banidos das lojas, o que trouxe um monte de comparações com os Sex Pistols. Até hoje de vez em quando se você estiver em um lugar que toca música boa você vai escutar algo legal tipo

"I wanna die just like Jesus Christ/I wanna die come see paradise/I wanna die just like JFK/I wanna die in a sunny day"

FODA!

Muita gente lembra do Jesus And Mary Chain como a banda que tinha na batera o camarada que formou o (também bom mas não tão foda quanto na minha opinião) Primal Scream. Eu lembro do Jesus And Mary Chains como uma das melhores bandas da história.

Terminaram em 99 e voltaram em 2007 e vai ter show no Brasil. Não deixa esse passar!!!

Comece por - Psychocandy se você gosta de barulhada, Darklands se você for uma pessoa mais normal
Ou então comece por - 21 Singles que é uma coletânea perfeita
E depois - depois todos meu amigo, se vira aí.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Da Série Random Music - Destroy Everything You Touch


Gosto bastante de música eletrônica, mas não sou um cara de procurar música eletrônica "utilitária", como por exemplo aquela criada somente para funcionar na pista em determinado momento - ou seja, não baixo dj sets, ainda prefiro música que foi feita para ser música. Acabo tendendo para coisa mais maluca - tipo o Aphex Twin que já citei aqui várias vezes - ou coisa mais pop tipo Hot Chip. Tem de vez em quando uns camaradas que conseguem um meio termo legal - The Field por exemplo. Mas o que você vai me pegar ouvindo direto mesmo é pop dos futuro.

Ladytron começou no finalzinho da década de 90 e são dois ingleses + duas inglesas, cada um com um sintetizador véio (ao vivo a banda são 4 sintetizadores mandando bala) que foi escolhido justamente por ser velho e ser capaz de gerar um som eletrônico vintage (detesto essa palavra) mas que é usado para fazer música inegavelmente moderna. O som tem um pezinho no pop, e embora sutil eu vejo claramente um toque meio gótico/deprê/sexy/frieza.

Uma das características mais marcantes do Ladytron são os vocais das meninas. Eu só consigo definir como a mistura entre um anjo e um robô - é delicado e meio que sensual, só que ao mesmo tempo frio e distante (tirando que fica mais alien porque é tratado com um monte de efeito no computador). Me passa sempre a sensação de alguém muito sensível tentando se defender para não ser ferrado pelo mundo - atitude fria mas que no fundo é vulnerabilidade. O som é bem electrão e portanto é dançante - então dá para ouvir Ladytron em uam festa ou sozinho num quarto escuro e funciona de maneiras completamente diferentes nos dois lugares.

Os dois últimos discos com certeza entram para mim em qualquer top de discos lançados de 2000 para cá. O negócio é classudo. Se a música moderna andar para esse lado eu estou feliz. Ou deprê sei lá se eu escutar muito isso. Selo de qualidade do Leandro na veia - se seu gosto bate com o meu vai sem dó.

Comece por - Witching Hour, porque comanda o batatal
Disco mais Ladytron - Witching Hour
Enjoei do Witching Hour - Velocifero
E depois - pode ouvir os antigos

terça-feira, 22 de julho de 2008

ACCELERATE

Se você gosta de REM, pegue imediatamente o disco novo (Accelerate) e pire.
Se você gosta de rock, pegue imediatamente o disco novo (Accelerate) e pire.
Se você gosta de pop, pegue imediatamente o disco novo (Accelerate) e pire.
Se você gosta de música, pegue imediatamente o disco novo (Accelerate) e pire.
Se você não gosta de REM, pegue imediatamente o disco novo (Accelerate) e mude de idéia.

Da Série Random Music - Alimente os animais

Imagine estar dançando por aí na noite e começa a tocar uma espécie de hip hop que está sampleando uma música do Metallica com o vocal da Sinead O'Connor por cima, emenda um pedaço de uma música do Prince enquanto o Chuck D manda um rap e a música se tansforma num hitzinho da Avril Lavigne só que com batida de techno e guitarras do Nirvana. Detalhe - isso não é feito de maneira brusca e sem sentido mas fluida e bem feita, ou seja, não parece um maluco colando pedaços de música aleatoriamente. As músicas fluem e FUNCIONAM desse jeito. Parece que nasceram assim.
Tenta imaginar:
  • a confusão de respostas emocionais que cada trecho desse provoca
  • a diversão de identificar a cada poucos segundos outro trecho de uma música que você conhece
  • o espírito de caotiqueira que está rolando
  • e o tanto que você está se divertindo
A cultura do mashup - samplear músicas totalmente diferentes e criar novas músicas que de alguma forma fazem isso funcionar - é extremamente recente, justamente porque só temos tecnologia para fazer isso de maneira decente agora. Aliás, tem essa tecnologia na casa de qualquer um. E acho que reflete bem nossa época, já que hoje quem gosta de música pop está em cima de uma pilha gigantesca de décadas de música bacana que é muito facilmente alcansável pela internet. Cada vez menos vejo gente que por exemplo "gosta de metal" e tem milhões de discos só disso - e cada vez mais vejo gente botando shuffle no ipod e tocando uma música do Gorgoroth seguida por um mpb seguida por weezer.

O mashup é isso - uma enorme confusão de muita informação processada junto tudo ao mesmo tempo agora que estamos vivendo a mal aprendendo a lidar com isso. E é (pelo menos por enquanto) necessariamente marginal - pelo menos enquanto a lei do copyright funcionar como funciona. O dj de mash up mais bem sucedido (e de fato o melhor para mim) é o mr. Greg Gillis, que toca com o nome de Girl Talk. Como para a lei ele é um criminoso - já que usa samplers de tudo quanto é coisa sem pedir permissão, inclusive de coisa muito famosa e encrenca - é um milagre que já tenha conseguido lançar dois (ótimos) discos e estar fazendo sucesso tocando em tudo quanto é festival por aí.

Ao contrário de muitos outros djs de mashup, ele é um fã assumido de música pop e trabalha quase sempre com música MUITO conhecida, e é realmente esquisofrênico - mistura dezenas de músicas em uma só fugindo da rota fácil de "vou colocar o vocal dessa no arranjo dessa outra e tá pronto". E não sei como ele faz funcionar, mas funciona. Tente dar uma festa na sua casa deixando rolar um disco dele e veja todo mundo rachando o bico e dançando até cair (bebida ajuda). E aproveite logo antes que a polícia do pensamento invada sua casa porque você está dando uma festa com música ilegal.

Qual disco - os dois discos são bacanas, mas pegue o Feed The Animals para curtir uns samplers de músicas mais recentes (mas não dispense o Night Ripper)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Da Série Random Music - Go on and treat me like a jerk

Em grande parte dos anos 90, muito influenciado pelo estouro do Rancid (banda de punks que moravam em prédio abandonado na rua e que acabou bombando, na MTV inclusive - aliás, gosto da banda), houve uma grande onda de bandas punks influenciadas por ska, que tocavam ska como se fosse no fundo um punk sem distorção na guitarra e com linhas de baixo complicadas. Essa onda veio e foi rapidinho e deixou até umas bandas bem legais - Vodoo Glow Skulls, Might Might Bosstones, Reel Big Fish etc. - e durante este período mesmo as bandas punks tradicionais sempre incluíam pelo menos um ska no repertório. Na verdade nada de estranho já que um dos pais do punk - The Clash - sempre foi pesadamente influenciado por ska e reggae. Punk e reggae são dois estilos que sempre meio que namoraram - "música jovem simples de protesto". Bad Brains em alguns momentos é mais reggae que punk e também foi uma das bandas mais seminais de todas.

Um efeito interessante foram as portas que foram abertas para as bandas de ska tradicionalzão, que em vez de funcionar como um "punk light" parecem ser mais um "reggae tocado rápido" (às vezes nem tão rápido assim). Specials e cia. foram redescobertos e bandas novas com esse som véio bacanas apareceram - das quais a melhor, para mim, é o Hepcat.

Gostar de Hepcat, na verdade, foi uma grande lição para mim, já que aproxima muito do reggae e eu nunca me imaginei ouvindo nada próximo disso. Foi um dos pontos que me ensinaram que estilo não tem relevância nenhuma - existe música boa e música ruim. O som deles não é sisudo nem viajante, na verdade é muito bem humorado, dançante, e (pelo menos soa) honesto. Tem vários vocalistas de estilos bem diferentes, sempre com aquela voz característica e sotacão de jamaicano e um monte de backing vocals bem feitos e metais divertidos entrando nas músicas. Ah e as letras são inescrupulosas. Te desafio a escutar Hepcat e não ficar com eles na cabeça. Por MUITOS dias.

Outro dia reencontrei o CD deles em casa (estava meio que esquecido) e passei a tarde vendo a Mirian rebolar. Teste na sua namorada :-D

Qual disco que eu arrumo - eu agarantio o Right On Time

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Da Série Playlist - Torrando a Bateria do Meu Ipod Agora!

Além do Julgamento, lógico! (ver post anterior)


MC Solaar - Qui sème le vent récolte le tempo

Tido como basicamente o responsável pela popularização do hip hop europeu (a pouca que existe pelo menos), esse francês que já morou no Egito fez um disco espancante em 1991 - que já mencionei que considero a melhor época do hip hop - com bases bem jazz e de muito bom gosto e cantando rap em francês. Além do som ser muito bom vale muito pela novidade de ver como isso fica, e o cara tem um vocal bacanão e sabe fluir muito bem com a linguagem (pena que eu não entendo porra nenhuma). O estilo é próximo daquele hip hop alternativo classudo do Pharcyde e do A Tribe Called Quest (que também ando ouvindo bastante). Dizem que esse cara bomba na África. Os africanos tem a manha.

Fala uma aí para eu conhecer
- pega Ragga Jam, que é improvisada com um maluco qualquer do reggae e é mais brincalhona e divertida que o resto do disco.


Rise Against - Revolutions Per Minute

Eu não gosto de hardcore melódico. Não escuto NOFX, Lagwagon, Pennywise, No Use For A Name, Strung Out nem as bilhões de bandas de skatista parecidas. Acho tudo igual e tudo um saco.
Mas uma vez por século aparece uma raríssima que faz o negócio tão bem e agrega personalidade que eu acabo me rendendo. Isso só aconteceu 4 vezes na minha vida: Bad Religion, Descendents, Face To Face e agora o Rise Against. Eles são da Fat Wreck (gravadora do NOFX que só lança esse som), portanto são meio que isso mesmo, mas bem mais raivosos, bons músicos e escrevem letras boas o suficiente para ter me ganhado. Daqui a uns 10 anos acontece de novo. Ou não. Escute isso se você gosta de punk, independente da corrente a que eles pertencem.

Fala uma aí para eu conhecer - Black Masks And Gasoline, principalmente por causa da letra.

A Tribe Called Quest - People's Instinctive Travels And The Paths Of Rhythm

Mais um representante do hip hop do início da década de 90 - viciei nisso percebeu né - esse é o primeiro disco de uns camaradas que surgiram do nada fazendo o tal "som classudo baseado em jazz" que eu atribuí ao MC Solaar, com umas letras bizarras e nada a ver com as letras padrão do hip hop e um som leve que pode servir de fundo para você ouvir fazendo outras coisas. Como eram ligados ao De La Soul que estourou antes (aliás outra banda foda) ficaram um tempo na sombra deles e demoraram para ser descobertos, mas ficaram melhores que os mestres na minha opinião. O disco que veio depois desse (The Low End Theory) é mais dark e ainda melhor.

Fala uma aí para eu conhecer - I Left My Wallet In El Segundo é bem o espírito do disco

Fleet Foxes - Fleet Foxes

Banda tão nova que eu mal consigo informação sobre eles, esse é o primeiro disco - sem contar um EP que rolou antes - saiu por agora e foi tão bombado que me provocou a reação típica de antipatia a excesso de hype que quase sempre provoca. Mas quando eu parei para ouvir mesmo tive que dar pala porque é uma moçada que fez um disco totalmente atemporal (podia ter saído em qualquer época do século 20 pra cá), bem folk calminho e bonitão com uns vocais lindos (umas harmonias meio Beach Boys) e músicas maravilhosas. Você tem que estar no clima para música muito calminha e bonita e meio melancólica, sem modernidades, mas se estiver vai pirar. Veja eles tocando Meadowlarks no YouTube para sacar o clima.


Fala uma aí para eu conhecer - sinceramente, qualquer uma. Não teve uma música que se destacou porque todas mantém o nível lá em cima.

Da Série Random Music - Os Homens Máquina

Hoje para quem está em BH tem um show de grátis no teatro Marília (20:00) com o melhor hip-hop daqui, ponto. Estou a semana inteira viciado no cd do Julgamento (acabou de sair). É bem incisivo, mas não é gansgsta, a mensagem básica e "fique espero" ou então (elaborando) "quando percebe que mentiram para você a vida inteira é que você descobre seu lugar no mundo". Os arranjos são bacanas demais e variados, ficam com um pé no hip hop do início da década de 90 (que para mim é o melhor de todos) e rola desde com violão flamenco até com metalzão no fundo. O show é hip hop clássico - começa com dois manos e um dj no palco e no fim tem uns 16 manos numa gloriosa confusão (isso quando não colocam baixo e bateria ao vivo). E é também foda para dançar.

Numa boa? Troca a novela hoje por música boa. Ou no mínimo dá uma sacada.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Reclamações de um véio chato

Mesmo quem não é muito ligado em música consegue perceber que o rock é cíclico, e alterna períodos quando é mais ou menos dominante e períodos em que cai, para voltar a ficar relevante de novo, e dormir novamente. O rock é uma espécie de Mum-Ra, só que não fica estático, sempre volta com uma cara nova, e é o que mantém o estilo interessante (se você olhar algo mais tradicional como, hmmm polka, toca-se as mesmas coisas que séculos atrás para sempre).

Dito isso, claramente estamos numa fase de "baixa" do rock. O estilo dominante hoje na música pop é o hip hop/R&B (infelizmente a variação ruim destes estilos que já produziram muita coisa boa), repare nos carros que passam na rua, nas boates, na MTV/Multishow etc. Aliás, já estou enxergando saturação neste domínio também - todo dia você vê MAIS UMA "mulherzinha do R&B" cantando sobre como ela bomba na boate com uma participação de um rapper e arranjos parecidos com todas as outras músicas que estão tocando - mas isso é outro assunto.

A última mudança progressiva no rock aconteceu na virada dos anos 00 entre as bandas que receberam várias classificações (New NY, New Rock, Neo New Wave etc.) mas que eu vejo todo mundo chamando de "rockinho novo". É aquele som que ficou relevante com Strokes, White Stripes, The Hives, Franz Ferdinand, Libertines, Artic Monkeys etc. Depois teve outra virada e o estilo de "rock" dominante hoje é o EMO - como nem eu nem ninguém considera essa aberração rock vamos somente ignorá-lo até que ele vá embora. Então, para todos os efeitos a última virada foi essa dos anos 00. E esse estilo também já deu tudo que tinha que dar - considero todas as bandas que eu citei boas (fazendo um esforcinho para o Franz Ferdinand, mas enfim), depois delas tudo é repetição e subproduto do subproduto.

O que isso muda para quem segue as correntes mais alternativas e não se importa com o quê está "na moda"? Aparentemente nada, porém tem um efeito chato sim: não consigo mais me divertir saindo para dançar. Você vai nos lugares que tocam música boa e os DJs estão perdidos: tem o bom senso de não tocar emo, mas ficaram presos neste sonzinho que não evoluiu mais, então tenho que dançar uma música boa (o single novo do Weezer) seguida de 17 "singles novos de mais uma bandinha subproduto de Strokes mas é novidade e tem que tocar". Aí toca uma mias velha (Pixies talvez) e vem 18 músicas novas de bandas de "rockinho novo" que ninguém ouviu falar e que soam todas iguais.

Alternativas: ir para Djs que tacam foda-se para isso e tocam o que é bom independente de novidades (Ramones, Pixies, The Clash, Fugazi, Liars, quem não se diverte numa noite assim?), que são cada vez mais raros, ir nas festas de eletrônico (nada contra mas de vez e quando preciso de uma dose de rock) ou esperar o rock virar de novo. :-(

Ah, e eu sei que esse post parece uma velho chato reclamando. Se alguém animar a comentar por favor me informe se isso é impressão só minha.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Da Série Random Music - Urso Panda Anti Stress


Em homenagem ao meu atual PROJETO CONAN, resolvi falar de um camarada que funciona em diversos níveis para mim: te coloca num estado de viagem total, fez o melhor disco da história da humanidade para se ouvir trabalhando e de certa maneira chega a me deixar feliz quando eu escuto.

Mais ou menos em 2000, uma moçada se mudou para NY e começou uma banda indie experimental bem no espírito alegrinho mas viajante num esquema meio Elephant 6, ou seja, meio que todos os meus amigos são da minha banda ao mesmo tempo. Mais uma "comunidade" de artistas do que uma banda, o Animal Collective (que tristemente ainda não conheço legal mas está na minha lista) ganhou um nome legal entre os independentes e o último disco (Strawberry Jam) chegou a ser laudeado demais. Da moçada que colabora com eles só duas pessoas foram sempre constantes - Avey Tare e Noah Lennox. Até que em 2004 o Mr. Noá começou a chamar atenção quando gravou um disco solo chamado Young Prayer, usando o nome Panda Bear. E numa boa, acho o Young Prayer chatérrimo.

Porém em 2007 o rapaz deu uma pirada e gravou um disco menos abstrato/chatinho/afetado demais e acabou me ganhando. O Person Pitch me parece um disco gravado pelos Beach Boys (já postei aqui que sou fã incondicional dos Beach Boys) se eles fossem mandados para 2050 e resolvessem fazer o som deles só que de forma eletrônica e meio - ã - perdida? As músicas do Panda Bear tem aquele espírito deles - bem jovem, feliz, esperançoso, harmônico, bonito mesmo - mas que esconde alguma coisa mais complicada, mais triste, mais perdida mesmo por baixo (ele fez uma música que é uma ode de amor aos anti depressivos dele). É bem eletrônico, porém faz uso de muitos samplers de instrumentos acústicos e cria um clima de robôs tocando música de acampamento. E as músicas são enormes e viajantes e te colocam num transe legal para trabalhar e fazer outras coisas.

Quando falaram para o camarada que ele estava sendo muito comparado com o Brian Wilsson, a resposta foi "Droga, então vou ter que fazer melhor já que eu estou fazendo um som parecido com o de outra pessoa". Isso aí Noah esse é o espírito. Mas de fato nem tente esse se você não gosta de Beach Boys (mas aí vamos combinar que você tem um problema) :-)

Comece por - Person Pitch, claro. Mas fique de olho no que o Panda Bear vai fazer no futuro.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Opa... peraí que eu vorto!

Tem alguém aí ainda?

Finalmente voltei para Belo Horizonte e de cara caí de pára quedas em um projeto estilo CONAN. Estou tentando me adaptar de volta e semana que vem retorno a postar...

Abraços!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Biografias Bacanas Sobre Músicos Parte 2/2

Bad Seed
De: Ian Johnston
Sobre: biografia do Nick Cave
E aí: já falei milhões de vezes aqui que o Nick Cave é um dos commanders of the potato field, e a vida do cara foi bizarra o suficiente para ser lida até pelos não fãs. Filho de pregador, basicamente um marginal juvenil na Austrália e junky desde sempre, esse é o cara que fazia os shows do Birthday Party terminarem em quebra quebra nos primeiros dez minutos, viveu sempre carregando a herença religiosa do pai enquanto levava uma vida comepletamente selvagem e acima de tudo é uma pessoa intensa (sem contar com intensamente talentoso).
Tirando que é um cara que já teve tantas transformações - evidentes para quem acompanha a obra - que acima de tudo o livro é uma história de crescimento e de evolução de uma visão que foi muito particular desde o início e só debaixo de muita porrada aprendeu a se encaixar um pouco melhor no mundo.
Só pelas fotos preto e branco que tem no meio do livro já vale.

Scar Tissue
De: Anthony Kiedis and Larry Sloman
Sobre: autobiografia do Anthony Kieds dos Red Hot Chili Peppers
E aí: foi um livro que me provocou muito menos identificação do que o do Kurt Cobain e o do Nick Cave; na verdade saí com uma impressão ruim de um cara não tão focado na obra e mais focado em ser um rock star e pegar as meninas etc. Na verdade talvez tenha sido ingenuidade minha esperar mais profundidade dele, mas saber dos bastidores de uma banda que começou entre uns skatistas da califórnia bem moleques e viciados em punk rock e se tornou um fenômeno absurdo é bacana demais.
De que outra maneira você ia saber que quem fala no início de Yertle The Turtle era o traficante do George Clinton para quem ele não tinha grana para pagar? Ah, esse é outro que é muito junky desde novinho (apesar da aparência de geração saúde) e o livro é bem focado na dependência de heroína -aliás todos os citados neste post são uns junkys safados - o que torna o livro bastante pesado, até deprê mesmo. Vide a história do John Frusciante (na verdade o único que tem alguma profundidade mesmo ali...)

No Fundo de Um Sonho
De: James Gavin
Sobre: biografia do Chet Baker
E aí: leitura bizarra porque obviamente o James Gavin (o autor) ODEIA o Chet Baker, então em alguns momentos parece que ele só está tentando convencer todo mundo que o jazzista que você tanto gosta é uma fraude e um picareta. Não esperava um baba ovo mas queria mais neutralidade, em alguns momentos isso me encheu. Porém ninguém pode negar que é pesquisadaça, profunda e detalhada, ainda mais porque ele está falando de uma das figuras mais misteriosas e marginais dos anos 50. No fundo você está quase que lendo a história do Jazz, que é mais atribulada que a do rock. Vale por isso.
Ah: esse é talvez o mais junky de todos (ani!!).

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Biografias Bacanas Sobre Músicos Parte 1/2

Como sou também um leitor obsessivo - emendo um livro no outro, sempre, acabo um e começo outro, nunca estou sem ler nada - ainda quero usar esse blog para comentar sobre literatura.
Mas por hora, para não fugir do assunto música, começo comentando algumas biografias de músicos que eu já li, algumas essenciais e outras nem tanto.

Mate-me Por Favor
De: Larry Legs McNeil e Gilliam McCain
Sobre: a história do surgimento do punk, contada pelas próprias pessoas que estavam lá
E aí: este livro é obrigatório, essencial, divertidíssimo mesmo para quem não curte o estilo - afinal foi um fenômeno artístico e social relevante até hoje - e por mim deveria ser leitura obrigatória na escola. Já li três vezes e estou pretendendo ler a quarta. É bom assim.
Nesse livro você entende de onde veio o punk, quem eram aquelas pessoas, porque fizeram isso, e no que o negócio deu. Focado nos avôs - Velvet Undergorund, MC5, Stooges, NY Dolls - e nos pais da criança - Ramones, Sex Pistols, The Clash, Patti Smith etc - o livro não é escrito como uma reportagem, mas é uma colagem de histórias contadas pelos próprios membros das bandas, jornalistas, fãs, empresários e todo mundo que estava lá e viveu o negócio. Não fica uma colcha de retalhos, fica parecendo que você juntou todos em uma sala e eles estão te contando de uma maneira muito vívida e particular como era estar lá. Mate-me Por Favor era uma camisa que o Richard Hell usava quando tocava em shows (até um dia em que um bando de fãs de verdade vieram perguntar para ele se ele estava falando sério e falar que se ele quisesse eles fariam isso para ele).

Simplesmente obrigatório para todo mundo. Faça o joguinho divertido de abrir em uma página aleatória e descobrir qual merda o Iggy Pop fez naquele dia.
Saiu no Brasil em pocket baratinho. Se estiver sem grana roube. Mas leia.

Reações Psicóticas
De: Lester Bangs
Sobre: coletânea de textos do crítico mais lendário que já existiu
E aí: Lester Bangs não era um crítico comum de rock. Adepto do jornalismo gonzo (em que o autor se mistura profundamente com aquilo que ele está falando - por exemplo, passa uma temporada se drogando para escrever sobre drogas) ele vivia o rock, porém sempre com estritas regras - a mais importante era nunca ficar amigo de nenhuma banda para não comprometer a integridade do seu texto. E o cara escrevia bem mesmo.
Com uma visão bem particular, peculiar e corajosa, o disco do qual ele estava falando sempre era um trampolim para uma viagem enorme dentro da cabeça dele - a crítica dele não tinha regras e ele não escrevia somente sobre uma obra em particular, neste livro tem por exemplo o texto que ele escreveu no dia da morte do Elvis ou zoando o tanto que uma banda ruim como Jethro Tull estava ficando famosa. É o único crítico que eu me lembro de voltar atrás em algo que ele disse (ele frequentemente detestava um disco mas depois de um tempo acabava mudando de idéia, ou vice versa, como acontece com qualquer ser humano) o que para mim é um grande indicador da sua sinceridade.

Mais Pesado que o Céu
De: Charles Cross
Sobre: biografia aprofundada do Kurt Cobain
E aí: gosto de Nirvana e Kurt Cobain era uma figura interessante. Achei a biografia bem pesquisada e sem medo de expor o camarada - enquanto obviamente admira o sujeito o autor expõe também seu lado não bacana (como a onda gananciosa que ele tinha em relação aos rendimentos das músicas e o pânico quando a MTV ameaçou não passar mais clipes do Nirvana). O que mais me ficou a impressão é que ele não era de forma alguma "beavis e butthead rock star woooohooow", mas era um cara sensível e criativo - escrevia e desenhava sem parar, várias idéias interessantes e muitas vezes doentias no seu caderno - e tinha um lado cínico que eu considero muito jóia. Essa biografia foi acusada de ser muito favorável à Courtney Love, mas não sei se pode-se dizer isso de um livro que admite que ela usou heroína grávida.
Mesmo se você não se interessa por Nirvana, vale pelo retrato da época do "lado de dentro" de como se forma e funciona na prática uma banda mais ou menos recente que estoura estrondosamente de um dia para o outro.

Elvis
De: Maurício Camargo Brito
Sobre: biografia do Elvis escrita por um fã maluco brasileiro
E aí: Elvis ocupou uma posição única na história da humanidade. Ninguém foi tão famoso assim, nem antes nem depois dele e talvez nunca venha a ser - pô declaravam feriado quando ele ia tocar em uma cidade, não consigo imaginar isso acontecendo com ninguém mais. Foi o primeiro rock star e uma das primeiras estrelas da televisão; foi um dos maiores responsáveis pela existência do conceito de "música jovem" e "música rebelde".
Para mim ficou claro que ele chegou num ponto que não tinha mais para onde ir, o que fazer, o que conquistar, e grande parte da humanidade babava o ovo dele. Então leia e assista o Elvis ficar gradualmente louco, como aconteceria com qualquer um. Nota: não é o melhor escrito dos livros citados aqui, imagino que existam biografias melhores do Elvis, mas esta foi a que eu li.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Da série Playlist - O que anda torrando a bateria do meu Ipod

Mais ouvidos dos últimos dias...

Cult Of Luna (Eternal Kingdom)
Mistura de metalzão com post rock, é bem pesado quando quer e de repente entra nuns momentos instrumentais beeeeem loooongos e contemplativos e viajantes e bacanaços. Fico com impressão que é muito pesado para a moçada do post rock e muito viagem para a moçada do metal, por isso não é tão conhecido. Os momentos viagem tornam os momentos pesados mais pesados e vice versa. Bem impactante e original.


The Evens (The Evens e Get Evens)
Enquanto o Fugazi não volta... o Ian MacKaye fez essa banda que é só ele na guitarra e vocais e a namorada dele (que tocava no The Warmers). Dá para ver o espírito do Fugazi ali (você preenche na sua cabeça os momentos que entraria uma guitarra estranha ou o vocal maníaco do Piscciotto) mas de uma maneira bem mais calminha e simples. No fundo é uma ótima banda indie com letras bem punks e que lembra Fugazi. Gosto dos dois discos mas... cadê o Fugazi??!?!?! :-( (Ando ouvindo toda a discografia do Fugazi de novo obssesivamente)


This Will Destroy You (Young Mountain EP)
Banda nova também de post rock, mas essa é bem levinha e tranquila e também viajandona. Não tende a explodir tanto quanto o Mogwai ou Godspeed You Black Emperor (o que é bom já que isso já virou clichê do post rock), tende a ficar evoluindo a música com muita paciência e tem o dom de fazer instrumentais lindaços (aliás é 100% instrumental). Perfeito para trabalhar e assim como o Sigur Rós enche a sua cabeça de imagens.


Dandy Warhols (Welcome to The Monkey House)
Amo esse disco desde que ele saiu. De vez em quando esqueço ele, depois lembro e volto a escutar diretaço. Dandy Warhols é um indie rock bem pop e divertido e inescrupuloso, dançante demais, felizinho mas meio maldoso. Total disco de festa mas que quando você escuta ele depois que todo mundo foi embora começa a aparecer uma profundidade ali que não é imediatamente aparente (aquela música bem animadinha no fundo está encobrindo um desespero que você só capta nas nuances).


Silver Jews (Tanglewood Numbers)
Indie rock mais para o folk (só que com bastante guitarra e distorção) com letras brutalmente honestas, sem frescura e excelentes (talvez as melhores da atualidade) e um vocalista junkie que já tentou suicídio e é o clássico poeta-bêbado-deprê-só-que-com-muita-coisa-para-dizer. O Stephen Malkmus do Pavement é um membro "mais ou menos oficial" da banda, só que ela é dominada mesmo pelo tal poeta bêbado (David Berman).Escute sozinho prestando atenção em tudo.