terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mais documentários musicais legais

Ando empolgado com documentários musicais e aproveitando o gancho do post passado seguem os últimos que gostei:


From The Sky Down

"Para aceitar uma nova versão de uma banda, você precisa primeiro rejeitar a anterior; e, entre as duas, você não é nada".

A citação acima (não completamente literal) define muito bem o quê exatamente torna esse filme interessante. Em 1990, o U2 ainda habitava aquela primeira encarnação super-séria, super-careta, super-vamos-salvar-o-mundo com muito pouco humor e senso de diversão. Percebendo que se tornou O INIMIGO (palavras deles próprios), ou seja, mais uma banda de rock chata, exagerada, gigante e que se leva a sério demais - perfeitamente o tipo de banda que o U2 foi formado para combater e numa versão que nunca me interessou particularmente - a banda entra em crise criativa. Sabem que tem que mudar, o problema é mudar para onde, mudar para se tornar o quê. Embarcam para Berlim inspirados pelos discos que o David Bowie gravou lá (ótima trilogia) quando passava por uma crise parecida e encontram - nada. Mas iniciam um processo esforçado e doloroso de descobrirem uma novo lado do seu trabalho e saem triunfantes com o melhor disco da carreira e um dos melhores discos da história do rock - o Achtung Baby. E não se restringe à música - muda tudo, visual, show, até declarações em entrevistas. É quando o Bono se torna uma espécie de paródia de rockstar que expõe todos os excessos do mundo do entretenimento no próprio ridículo, uma ironia que MUITA gente até hoje nunca entendeu. Esse filme documenta exatamente esse período turbulento e muito bacana de assistir. Chore vendo a primeira sequência de acordes que o Edge havia pensado para Mysterious Ways se transformar em One e se tornar o momento chave que salva a banda.

I am Trying to Break Your Heart

Sou fã desavergonhado de Wilco e esse documentário tem pontos em comuns com o acima - capta exatamente um momento chave de transformação que apesar de doloroso gerou um dos melhores discos da sua geração. Neste caso, é o Yankee Hotel Foxtrot, que deveria se chamar "Wilco chuta o balde do seu folkzinho" e sem dúvida é um dos 10 melhores discos da década de 2000. Para mim foi muito bacana ver o Wilco funcionando por dentro, e descobri-los como uma moçada meio tímida, até mais para baixo que para cima, mas geniais em relação à música. Toda hora que alguém pega um violão largado num canto de bobeira e improvisa qualquer coisa sai alguma coisa maravilhosa. Bônus para a história "porque as grandes gravadoras devem morrer" contida aqui, à medida que vemos um bando de executivos imbecis rejeitarem um disco brilhante por ser pouco comercial, basicamente pagar a banda pro gravá-lo e deixá-los ficar com o disco para depois ser vendido para outra gravadora que pertence ao mesmo grupo (!). Crássico!

1991: The Year Punk Broke

Este não pode ser chamado de documentário, aqui são poucas cenas de bastidores e rock and roll baby! Basicamente registra muitas cenas da turnê feita pelo Sonic Youth e Nirvana juntos em 1991, ou seja, basicamente Sonic Youth no auge total e o Nirvana ainda não destruído por dentro pela fama absurda e pelas tendências autodestrutivas. Ou seja, PQP!! Imagem tosca (acho que foi gravado em VHS) até a pouco tempo era meio difícil de achar e meio que lendário (aqueles filmes que são trocados por todo mundo e cada um tem uma cópia pior que o outro). De quebra vemos outras bandas que acompanharam tocando de forma absurda - Dinosaur Jr., Babes In Toyland, e Deus (também conhecido como Ramones). Como um camarada muito mais conectado à música dos anos 90 do que qualquer outra época, esse filme me fez pensar que 1991 foi o auge da história da música mundial e não venha defender o ano em que Mozart gravou sei lá o quê ou o ano do Sgt. Peppers. Vale a pena ver só para lembrar o quanto Kurt Cobain era maníaco - é desse filme a cena clássica em que ele se joga com força com guitarra e tudo dentro da bateria, que é basicamente um monte de ferro. Dói!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

DIG

Uma banda formada por pessoas mal ajustadas da cabeça, viciados em drogas pesadas, completamente confrontacionais (saem na porrada entre eles no palco na metade dos shows, na outra metade é com o público mesmo), que grava 3 discos por ano, tem um tocador de pandeiro (tem nome isso?) e escrevem música boa como se fosse fácil. Revisionistas dos anos 60 mas não ignorando que o Jesus And Mary Chain existiu depois, enfiando distorção na guitarra mas sem perder a melodia e com ótimas letras, eterna promessa mas nunca estourou. Porém, como um Velvet Underground moderno, influenciou um bom pedaço do indie atual e ninguém percebeu. Continuam obscuros tocando para 40 pessoas por noite e sempre que uma gravadora encara arrumam tanta merda que desanimam de trabalhar com eles. "Não estou à venda" - Anton Newcombe, guitarrista, vocalista e pincipal (ótimo) compositor declara o tempo tempo, normalmente poucos segundos antes de chutar alguém. Falta saber se ele se auto sabota por isso mesmo ou porque não quer carregar o peso de não levar uma vida completamente sem noção. Essa banda é o Brian Jonestown Massacre, e fora alguns poucos pedaços que de vez em quando vêm para a superfície (a música de abertura da série Boardwalk Empire, ou o fato do fundador do Black Rebel Motorcycle Club ter vindo desta banda) eles estão por aí fazendo música boa sem ninguém notar.

Eles começaram mais ou menos juntos com os amigos Dandy Warhols, uma banda que sempre adorei. Para mim os Dandy Warhols fazem uma espécie de Glam Rock (pense em T Rex e David Bowie e não em Motley Crue) irônico e divertidaço com letras bacanas e um som que é daçante e divertido sem perder o punch. E são compositores fodas, consigo te apontar para ótimas músicas deles para empolgar e músicas muito bonitas também. Um bocado mais obcecados com a fama a ponto de quebrarem o pau com o diretor do vídeo deles porque eles não ficaram bonitos o suficiente, também junkies mas com a cabeça no lugar o suficiente para não serem 100% auto destrutivos (ver a moçada acima) saíram da mesma obscuridade para se erguer violentamente na fama e deixarem os amigos-depois-rivais-depois-ninguém-sabe-o-quê bem para trás.

Conhece alguma dessas bandas? Se importa em conhecer? Gosta de música indie? Costuma assitir documentários? Nada disso importa meu amigo. Se você simplesmente gosta de cinema ou tem o mínimo interesse por música (qualquer tipo de música), assista o excelente Dig! de 2004. O diretor Ondi Timoner passou 7 anos com essas duas bandas - e foram os 7 anos iniciais, onde todo mundo apostava que as duas seriam enormes nos anos 90 e ninguém sabia no que ia dar e compilou um filme tão bem montado, contado e dirigido que extrapolou a promessa e ficou um programa bacana mesmo para quem não se importa nada com esse povo. Excelente oportunidade de acompanhar a indústria da música funcionando por dentro, com altíssimas doses de drama - sacaneadas de gravadora, bastidores de shows, viagens jambradas de turnês improvisadas, milhões de brigas e acima de tudo música foda. 5 estrelas.

Trailer abaixo:



E de quebra uma música dos Dandy Warhols que não sai da minha cabeça tem uma semana


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Quer ouvir um disco bom? + a síndrome do artista angustiado


No início da década de 2000 entre diversas direções (ou falta de) que a música tomou - e somando a tendência predominante de só olhar para trás que a década de 2010 ainda não conseguiu dar um jeito - tivemos uma volta forte do folk. Sempre que alguém pôde pegar num violão e cantar uma música simples o folk existiu, mas no formatinho que conhecemos se tornou forte na década de 60 e é o tipo de estilo que por possuir um modelo tão simples sempre terá coisa interessante para oferecer. Excluindo o chamado freak folk (ver os Devandra da vida) que eu detesto porque é tentativa de ressuscitar o que fez muito bem em ter morrido  (HIPPIES) eu no geral gosto do som e de muitos derivados.

O que tem me causado reflexão é o famoso mito do artista sofredor que gera boa arte. Tem toda a cara de lenda urbana mas estou chegando à conclusão que isso é verdade. Conheço uma série de bandas formadas por pessoas complicadas, depressivas, desesperadas, raivosas, angustiadas, que exorcizam tudo isso para fora em ótimos discos. O problema é que por natureza é um jogo auto destrutivo: ou você vai permanecer ferrado na cabeça o resto da vida e continuar produtivo de alguma maneira ou um dia você vai fazer paz consigo mesmo e ter que achar um novo caminho para a sua arte, que vai necessariamente mudar.

Bright Eyes é um projeto de indie-folk que está entre minhas bandas preferidas desde a adolescência e é dos sons mais desesperados que eu conheço, até recentemente - quem ouviu o People's Key deste ano se surpreendeu com um disco otimista, bonitinho, equilibrado, até mesmo pop. E não muito bom, aliás, tem seus momentos, mas muito distantes dos discos realmente memoráveis deles. Desde exemplos recentes (Battle For The Sun do Placebo) até mudanças lá atrás (acho que parcialmente é o que tornou o Lou Reed muito menos interessante com o passar dos anos), "se achar como pessoa" literalmente destruiu o Weezer e acho que foi o que fez o Trent Reznor aposentar o Nine Inch Nails. Ou seja, sofram artistas. Por favor.

(ou será que o problema é comigo e eu é que procuro música desesperada sempre?)

Toda essa introdução é para comentar que é o que vinha acontecendo com o Wilco. Para mim sem dúvida entre as melhores bandas da atualidade, o Wilco sempre teve a base forte no folk mas nunca teve medo de ir além e experimentar para caramba, a ponto de já ter sido chamado de "o Radiohead americano", não porque o som se parece mas porque é uma banda sem medo nenhum de mudar e arriscar, mas não perde a essência, e por isso o público anima a acompanhar. O Yankee Hotel virou um disco lendário. Tem uma história interessante envolvendo rejeição total da gravadora por ser muito anti comercial e levou a banda a ter que lutar por anos para lançá-lo ao mesmo tempo em que é maravilhoso. Tem até um filme sobre isso, chamado I Am Trying To Break Your Heart. A voz de Jeff Tweedy é das minhas vozes preferidas no rock e o típico momento Wilco para mim é uma barulheira caótica from hell rolando e a voz dele plácida e bonita cantando no meio como se nada estivesse acontecendo.

E é a banda que eu mais toco no violão, por um motivo ou outro.

O disco de 2011 (The Whole Love) foi um bom passo na direção de voltar com o Wilco que eu gosto. Muito mais rock que folk, não entrou (ainda) na lista dos meus preferidos do Wilco (o próprio Yankee, A Ghost Is Born, Being There) porém foi satisfatório o suficiente para me fazer voltar em um disco que eu não havia gostado (Sky Blue Sky) e redimi-lo. Passei a semana passada inteira escutando ele no repeat. Cheguei a colocar outra coisa e parar no meio da primeira música.

Escute Art Of Almost (para mim de cara uma das melhores músicas deles) e veja se eu não tenho razão: