quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Da Série Random Music - Os Potros

Tente imaginar algo mais distante do rock que matemática. Sério. Eu tentei e tudo que eu imaginei aqui era pelo menos um pouquinho rock. Até axé. Até carrosel de parquinho de diversão. Menos matemática. E como a vocação do rock é justamente confrontar e juntar e fazer o que não devia, é lógico que já existe o estilo que é conhecido como Math Rock. E, ainda por cima, anda um bocado popular.

Normalmente acaba com o rótulo de math rock a banda que é focada em técnica, em usar tempos ímpares esquisitos, em colocar nas músicas um monte de melodia maluca diferente acontecendo ao mesmo tempo e se entrelaçando de maneiras não óbvias. É um som complicado, sempre bastante experimental e frequentemente difícil de ouvir, mas muitas vezes inovador e interessante também. Isso não é progressivo? Minha interpretação é que o rótulo math rock acaba caindo para bandas que usam sua técnica para fazer música maluca de uma maneira interessante e o progressivo é técnica por técnica de um jeito chato. :-)
Talvez a banda mais conhecida que flerte com math rock seja Tool, e como eles várias bandas levam para o lado pesado - Dillinger Escape Plan ou Krallice, por exemplo. Já outras exploram o experimentalismo ao máximo (Battles, que merece seu próprio post) ou que aplicam esse conceito em outros estilos, por exemplo o eletrônico (Autechre).

E em algum momento, alguém teve a idéia bacaníssima de aplicar as idéias do math rock em um contexto mais acessível, pop, divertido e até dançante. Ou seja, música maluca cheia de linhas diferentes e interessantes tocando ao mesmo tempo endoidando sua cabeça mas dispostas em um tempo mais balançado com vocais pop e um espírito indie. Esse som é feito com guitarras + um bocadinho de techno minimalista por uma banda de Oxford conhecida por dar um show mega selvagem (peguei um pedacinho dele no Planeta Terra e constatei que é verdade) e por ter um vocalista recluso que vive meio quie isolado do mundo, aposto que criando música legal dentro da cabeça doida dele. Essa banda é os Foals, e com um (ótimo) disco só tem feito um bocado de barulho.

De início pensei que era mais um Rapture - banda de disco punk que gerou um milhão de imitadores que fazem esse som indie dançante - mas tinha alguma coisa a mais, e um primeiro indicador foi que as texturas são todas limpíssimas. É cantado com voz limpa, as guitarras são todas limpinhas e definidas, bem como os sintetizadores, o que meio que vai de frente com a maioria desse tipo de banda. Depois reparei no quanto é trabalhadaço e difícil de tocar - o que não é esfregado na sua cara o tempo todo como no progressivo. E ainda assim é divertido e não cerebral. Foals chegou em uma fórmula única, que pode ser uma faca de dois gumes. Daqui para frente eles vão ou crescer e expandir essa fórmula e se tornar uma banda relevante para valer ou vão (também vejo acontecer muito) se tornar escravos desse som novo que descobriram.

E até eles se decidirem, continuo me divertindo muito com o seu antídoto.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

com certeza eu não vou voltar vivo

Acabo de ver o DVD do Radiohead tocando no Belfort Festival na França e mesmo pela tela quando começa os primeiros acordes de Karma Police você já arrepia... ou de Just... ou de Everything In its Right Place... ou de 2+2=5....ou de... ou de......

Da Série Random Music - Nada nunca me aconteceu

Imagine-se em um estado de espírito triste, beirando o deprê, sozinho em um quarto escuro e fechado sem querer sair, mas de certa forma confortável com isso. Imagine alguém passando por isso, uma espécie de isolamento triste sim mas de certa forma desejável e calmo e quieto e se perdendo dentro da própria cabeça. Imagine o dia passando e esta pessoa se perdendo cada vez mais em pensamentos abstratos e difíceis de explicar de forma coesa. Imagine se essa pessoa consegue colocar todas as sensações e viagens e tristezas e sentido de calma e leveza mas ao mesmo tempo confusão e ansiedade em um disco.
Isso é escutar Deerhunter para mim.
Deerhunter é de Atlanta e é uma daquelas bandas que foram complicadas desde o início - muitas mudanças na formação, morte do baixista e eu tenho certeza que esse vocalista (Bradford Cox, que também grava como Atlas Sound) é anoréxico, como você pode ver na foto - e o fato de usar muitos efeitos bizarros no vocal e cantar bem baixinho no mix, o que faz você ficar querendo voltar nas músicas para entender melhor o que ele está dizendo, solidifica a imagem de "cara estranho". Eles auto descrevem seu som como "ambient punk" e quando eu ouvi isso fez sentido, porque é bem leve e espalhado e cantado com vocais sussurrados, mas é intercalado por umas guitarras barulhentas e outros tipos de barulho texturais e abstratos - que vão ficando mais presentes à medida em que você avança no disco, como se você estivesse se perdendo dentro da sua viagem mesmo.
O que me parece que é uma sensação bem conhecida do Mr. Bradford que é nem sempre consegue produzir porque não é lá uma pessoa muito estável. No fundo é um som único mesmo, e é indie do melhorzão - com tudo que isso tem direito, inclusive expressividade e personalidade de sobra. De certa forma essa foi a banda que conseguiu transformar milagrosamente tristeza e ansiedade pesadas em um som leve, bonito e agradável e que não perde o sentido de onde veio. Na verdade é uma banda que você VAI gostar se for fã de Radiohead - e não se parece com Radiohead. Legal, hein?

Deerhunter anda merecidamente ganhando bastante crédito a partir de 2008, e aguarde pelo menos um semi estouro destes caras, no mínimo entre quem gosta de música alternativa. E não esqueça de dar boas vindas a uma das melhores bandas da atualidade.
Cemece por - Microcastle

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Da Série Random Music - Ânsias Maldosas

Uma das músicas mais famosas e bacanas do Smashing Pumpkins, Cherub Rock, é um comentário pessoal do Billy Corgan em relação a um fator que (ele acredita que) gera muito da esquisitice e gravações low fi e supervalorização do anti comercialismo que existe principalmente no indie rock: medo de fazer alguma coisa boa. Embora eu ache que talvez ele esteja simplificando o lance (em muitos casos eu gosto da estética lo-fi, acho anti-comercialismo uma atitude importante para preservar a obra e muito da graça do indie é justamente a esquisitice) entendo o que ele quer dizer quando vejo esses fatores ganharem mais foco que deveriam e acabarem atrapalhando mais que ajudando a música. E sim, acho que em alguns casos no fundo é um medo ou insegurança de tentar fazer algo bom de verdade e é fácil se esconder atrás do rótulo "eu sou mega experimental" (de novo, amo música experimental, mas quando é de fato um exercício de criatividade e não algo forçado.

Mas também existe dentro do indie rock uma corrente bem oposta disso, que quer fazer música simplesmente ÉPICA, bem gravada, produzidaça, cheia de firulas e tocar isso ao vivo com o palco cheio de gente tocando banjo e maracas, dar shows bombásticos, solos, ser resumidamente uma grande banda de rock como isso era entendido sei lá, na década de 70. A maioria dessas bandas inclusive se aproxima do que hoje os gringos chamam de "classic rock" (eu entendo como "classic rock" tudo que um fã de Led Zeppelin poderia achar legal) mas com - atenção - algo mais que faz a banda ser bacana para mim que não escuto Led. Esse algo mais costuma ser um espírito mais livre e inventivo, menos preocupação em ser "rock" e mais compromisso com simplesmente fazer boa música. No fundo, imagine se o Radiohead deixasse de ser louco e quisesse tocar algo mais próximo do Deep Purple ou do The Who; é meio que essa a idéia. E dá resultados bacanas. Inclusive falei muito aqui de uma banda que se enquadra nisso e que eu ando muito fã - The Hold Steady.

Outra banda que coloco neste balaio - inclusive na minha cabeça eles devem ser amigos de birita do pessoal do Hold Steady - é um pessoal que recebeu seu nome quando o vocalista fuçou no que restava do seu bar favorito que pegou fogo e achou uma jaqueta com as iniciais MMJ - daí começaram a tocar com o nome de My Morning Jacket. Chamaram atenção do pessoal que gosta de música alternativa como uma banda que faz um rock meio sulistão - ou seja, com influência de country - só que de uma maneira mais viajante e emocional socada de reverb e delay e chamou atenção de cara. A banda destesta ser chamada de rock sulista e fez discos cada vez mais ecléticos para fugir do rótulo, e são músicos com M maiúsculo para isso - a banda inclui desde saxofone até guitarra slide tocada deitada no colo (pedal steel), e é daquele tipo que "todo mundo toca pra carai". Em um mundo ideal, ao invés de disco do Queen toda casa teria pelo menos um disco do My Morning jacket: tem coisa para seu pai porque ele vai lembrar de rockão 70, tem coisa para você que vai lembrar de Radiohead, tem coisa para seu irmão metal porque é bem rock, para sua irmã pop porque é bem bonito, para sua mãe que prefere soul tem alguma coisa ali também.

Os show da banda são nada menos que lendários -às vezes chegam a 4 horas - e exemplificam bem do que eu estou falando: no festival Bonnaroo deste ano tocaram cover de Erika Badhu, Sly And The Family Stone, Motley Crue e Velvet Underground (além de James Brow e Funkadelic e ainda outras coisas). Se pudesse bater tudo isso no liquificador e colocar o ingrediente secreto - talento e personalidade - eu ia fabrica uns 10 My Morning Jackets por dia.

Mas o maior elogio que eu tenho para eles tem muito a ver com o que eu sempre falo de Radiohead: é música totalmente centralizada e focada em ter uma alta carga emocional. Esquece tudo que eu falei acima que isso faz a banda funcionar sozinha: todos os instrumentos (elogiando aqui muito a interpretação do vocal, mas não só ele) são tocados com uma puta paixão e intensidade e preocupação com passar sensações reais e relevantes e marcantes. Qualquer banda merecedora desse elogio, de qualquer estilo (e são poucas) é merecedora dos meus ouvidos.

Dever de casa para o fim de ano - fazer uma sessão de birita forte + Hold Steady + My Morning Jacket e mostrar para seu pai que foi feita música depois de 1974 que pode interessar a ele.

Comece por - Okonokos (disco duplo ao vivo destruidor)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Da Série Random Music - Joãozinho Trovão

Já ouviu falar do John Anthony Genzale Jr.? Garoto filho de italianos nascido no Queens, Joãzinho mexeu com música a vida inteira - desde sua primeira banda quando assumiu o título de Johnny Volume e sempre se dedicou com muito afinco à sair de noite, agitar e uma boa quantidade de drogas muito pesadas (heroína principalmente). E esse cara começou a ficar relevante quando se juntou a outros camaradas tão sujeira e sem noção quanto e formaram uma lenda chamada New York Dolls.

NY Dolls apareceu bem na época em que o rock progressivo e os pop setentótites estavam no auge absoluto (1971) e foi algo realmente único. Basicamente um bando de marginais que não eram gays mas só tocavam vestidos de mulher, a proposta musical foi o combustível e a ideologia que gerou o som do punk - aliás, enquanto o Velvet Underground é tipo como o avô tanto do punk quanto do indie, os NY Dolls e os Stooges são considerados os pais - que era: rock sujo, inescrupuloso, rasgado, simples e direto na veia, marginal e antes de tudo divertido. Apesar de desaprovar o termo "punk", estiveram largamente associados ao seu início e aliás foram a banda de onde os Sex Pistols tiraram tudo. Mas se você escutar hoje vai descer como uma espécie de Rolling Stones muito mais sujo e escancarado, com guitarras mais no talo e escandalosas e que não param de improvisar umas linhas muito rockão. Som energético e na veia, para ouvir em festas muito caóticas ou no carro no volume máximo quando você está dirigindo para algum lugar para se embebedar muito. Impossível eu recomendar mais (100% obrigatório para quem gosta de rock, independente do estilo). Pena que durou pouquíssimo - dois discos que viraram lenda mas não venderam droga nenhuma (NY Dolls e Too Much Too Soon) e a banda (como é sempre esperado deste tipo de banda) se auto destruiu. Ainda quero fazer um post só para eles.

Nessa altura Johnny - que se imortalizou com o nome de Johnny Thunders - já era um farrapo de gente. Conforme era descrito por pessoas próximas, era o junky dos junkies, com tudo que isso implica, desde as ligações com gente muito sujeira quanto a capacidade inesgotável de sugar pessoas. Mas o fdp era bom e andava com as pessoas certas - a música "Chinese Rocks" que você conhece dos Ramones foi feita por ele e pelo Dee Dee e chegou a ter uma outra boa banda, os Heartbreakers com outro cara lendário desta época (Richard Hell). E depois disso tudo, no meio à decadência física moral espiritual e mental, dentre seções de gravação que dizem à boca pequena (heheheh) que foram 100% caóticas e movidas por muitas drogas, nãop havia decadência musical - me grava um disco solo que eu tenho como um dos melhores discos da história do rock - cativante e divertido, forte mas leve ao mesmo tempo, músicas que tem duas camadas, uma superficial bem rock solto e despreocupado e energético e uma camada embaixo que não aparece de cara de uma certa tristeza e confusão que estavam presentes ali o tempo todo. Cheio de participações interessantes (Steve Jones e Paul Cook dos Sex Pistols, Chrissie Hynde dos Pretenders etc) So Alone não foi o último disco de Thunders, mas poderia ter sido o único - tem até um certo lado de "punk experimental".

Morreu em 1991 e até hoje a morte é meio inexplicada - ligada a drogas ou assasinato, até hoje se discute. Mas era certo que ia ter um fim podreira, tipo uma Amy Winehouse hoje.
O som do Johnny Thunders, apesar de simples, é difícil de explicar, e mais difícil ainda de captar o quanto é imperdível. Vai por mim. E escuta o "So Alone" hoje. E depois me agradece!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Festival Garimpo 2008

Fui no festival Garimpo no Lapa nesse sábado - iniciativa do caralho demais, só bandas independentes em um espaço legal com som bacana e público que infelizmente poderia ser maior. Os eventos de breganejo e de playba-housão-ruim continuam bombando no Chevet Hall o que leva aos produtores de show quererem fazer cada vez mais breganejo no Chevet Hall e cada vez menos eventos legais como esse. Força para a moçada e continuem todo ano.

Meus brevíssimos comentários sobre as bandas:

Transmissor - bem executado, bem intencionado, bonitinho, bem feitinho, indiezinho, na verdade muito "inho" na mesma frase, para mim um indie/mpb bem tocado mas sem novidade. Não me tiraria de casa para assistir.

Estrume'n'tal - surf rock do mais divertido e diretaço na veia, duas guitarras sem baixo, milésimo show deles que eu vou e por mim vou em mais mil. Perfeito para encher a cara e dançar fingindo que está surfando.

Do Amor - what tha fuck? Até me considero um cara cabeça aberta (sinceramente) mas misturar música baiana com Sonic Youth é tipo, NÃO man. Para ser sincero também é bem tocado mas prefiro ver uma viagem certa tocada toscamente do que uma viagem errada bem executada. Bom, alguém deve gostar disso. Ou não.

Dead Lover's Twisted Hearts - melhor show da noite, segundo que eu vejo. Estavam sem o vocalista e colocaram um anão selvagem para cantar (bem, inclusive) e agitar e pirar e quebrar os equipamentos e tretar com o segurança e ser o cara mais rock do lugar. O ANÃO COMANDOU!! Dead Lover's é bem legal, a onda indie-britpop-country-60 deles é até original (para não falar bem humorada e divertida) e a banda merece crescer. Se tivesse o cd deles na banca eu tinha comprado.

Não vi o resto...


Alguém me explica porque TODAS as bandas que tocaram só usavam guitarras Fender?

domingo, 14 de dezembro de 2008

Da Série Música do Cramunhão - when pink goes black

História clichê de quase todas as bandas de black metal (exceto que agora estamos em Chicago e não na europa) - moleques fãs de metal começam a se interessar por algo MAIS pesado, viciam nos noruegueses (Darkthrone, Burzum, Mayhen etc), pintam a cara, escrevem umas coisas ridículas sobre o cramunhão e vão tocar tocar música muito sinistra e muito pesada. Só mais uma em um milhão e na tradição do metal extremo optaram por ter um nome difícil - Nachtmystium (segundo eles é mistura de alemão e latim (!?!) e significa "trevas envolventes" ou algo assim). Lançam os discos por gravadora de blackão, fazem turnê com as bandas de blackão, chamam os discos de títulos como "Reign of the Malicious". Nada de especial e porque se importar?

Porque a partir de algum ponto eles começaram a se entender não como black metal mas como (nas palavras da banda) "we're a 'do-whatever-the-fuck-we-want' metal band" e a partir daí as coisas começam a ficar interessantes. (Dizem, porque eu não ouvi) o disco Instinct Decay começou a refletir a mudança de atitude e a grande chutação de balde (the great bucket kicking se você preferir) veio no disco Assassins.

Assassins é um disco de metal extremo (existe algo de black ali sim porém...) inspirado em PINK FLOYD. E já inicia no subtítulo (black meddle part 1) e no nome da primeira música - One of These Nights, homenagem (assumida pela banda) à música do Pink Floyd One Of These Days.
O que significa isso na prática?

Significa vocal gritadão, mas muita atmosfera para acompanhar. Significa músicas na velocidade da luz mas músicas (não menos pesadas porém) lentonas e viajantes. Significa bateria cortante e guitarra com muita distorção misturada com saxofone. Significa letras abstratas que não perdem tempo falando do capeta e viajam em uma temática mais misteriosa e ocultista. Basicamente, significa um dos melhores discos de metal recente, não é para uma pessoa que não tem tolerância à música bem pesada, mas é do seu interesse se tem a cabeça aberta para experimentações incomuns e à combinação muito foda de algo muito pesado e muito viajado ao mesmo tempo. Assassins recebeu esse título justamente porque mata a onda passada da banda e é um reinício - se me perguntarem, mil vezes mais promissor.

E é ótima audição para ser feita lendo Conan.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

TOP 2008!

Afinal agora consigo fechar minha lista de discos preferidos de 2008... e o que sair agora em Dezembro entrou atrasado e rodou!

Já tinha feito no meio do ano um resumo do que eu mais tinha gostado até lá. Na verdade fiquei uma semana inteira fazendo. Esses todos permanecem na lista, e são, sem nenhuma ordem em particular:

Portishead - Third (para mim ficou como o disco do ano fácil)

Demorou 11 anos para voltar, cumpriu a expectativa, criou um clima único e conseguiu se manter como uma das bandas mais interessantes (para não dizer emocionantes) do mundo.

Nick Cave - Dig Lazarus Dig

Disco mais solto e rockeiro da carreira do Nick Cave. Aliás, é um disco do Nick Cave. Ponto.

Cavalera Conspiracy - Inflikted

Pau quebrando sem dó e mantém sua atenção sequestrada.

Post em que eu falei deles - aqui

Alec Empire - The Golden Foretaste Of Heaven

Alec Empire fazendo um electro-glam-rock-agressivo-
irônico-vai-saber-mas-é-muito-bom.

British Sea Power - Do You Like Rock Music?

Indie rock com tudo no lugar exato, um bocad de beleza e um bocado de estranheza misturados (e não fica strogonoff com sorvete).

Clark - Turning Dragon

Uma espécie de Nine Inch Nails sem guitarras nem vocais, só que mais interessado em espalhar o caos.

Post em que eu falei deles - aqui

Vampire Weekend - Vampire Weekend

Quem diria que indie + música africana ia gerar um disco tão perfeito e viciante? Já estou ansioso pelo próximo.

Raveonettes - Lust Lust Lust

Sujão e barulhento, fofinho e marcante, indie direto na veia com muita microfonia + vocais bonitinhos. Melhor disco deles inclusive.

The Kills - Midnight Boom

Meio blasé mas de um jeito bem legal. Na verdade para mim meio o que deveria ser o punk rock hoje - sem ser punk (!?!?!)

Post em que eu falei deles - aqui

Hercules And Love Affair - Hercules And Love Affair

Disco, se a música disco tivesse começado em 2008.

Beach House - Devotion

Clima 60 e para baixo, mas bem tranquilo e delicado, faz parecer que você está sonhando acordado.

Crystal Castles - Crystal Castles (para mim a melhor banda nova do ano)

Música que os videogames antigos de 8 bits fariam se usassem drogas. Não tem outra maneira de explicar isso. Foda!

Post em que eu falei deles - aqui

Gnarls Barkley - The Odd Couple

Para mim, (finalmente) uma evolução de verdade no soul.

Nine Inch Nails - Ghosts
Nine Inch Nails - The Slip

Escutei NIN a vida inteira, então sou muito suspeito para falar. Um disco (quádruplo) de viajeira abstrata insturmental e um porrada e direto na veia.

Post em que eu falei deles - aqui

E o que saiu depois destes posts? Teve muita coisa bacana ainda...

Fleet Foxes - Fleet Foxes

Se não fosse o Crystal Castles seria a melhor banda nova do ano. Bem acústico e muitíssimo bem trabalhado (principalmente, bem cantado), com certeza as músicas mais bonitas feitas em 2008. Se eu morasse em uma fazenda só ia escutar isso.

Post em que eu falei deste disco: aqui

Q-Tip - The Renaissance

Hip hop + soul, ou seria soul + hip hop? Ainda existe vida no rap.

Post em que eu falei desse disco: aqui

Ladytron - Velocifero

Electro como eu acho que o electro tem que ser, o resto é resto.

Post em que eu falei desse disco: aqui

Cut Copy - In Ghost Colours

Como eu comentei no post, aula de pop perfeito e obrigação para fãs de New Order.

Post em que falei desse disco: aqui

Fucked Up: The Chemistry Of Common Life

Hardcore from hell também gera disco extremamente interessantes e inteligentes.

Post em que eu falei desse disco: aqui

TV On The Radio - Dear Science

Uma das poucas bandas fazendo um som original hoje, imagine um Prince menos o lado pop e com mais funk só que do futuro. Destruidor.

Post em que eu falei desse disco: aqui

The Walkmen - You And Me

A banda sempre foi foda, mas fez o melhor disco da carreira. Parece música velha cantada por bêbados deprimidos e soa muito melhor do que isso parece.

Post em que eu falei desse disco: aqui




Esse foi o 2008 para mim. No geral, bom ano para música, seria melhor que 2007 se 2007 não tivesse tido um disco do Radiohead.
Vamos ver o que 2009 traz. Me avise se esqueci de algum.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da série Random Music - Música Pequena

Em 1996 eu estava estudando no colégio Pitágoras e passando pelo pior ano da minha vida. Meu avô no UTI enfartado (se recuperou), muitos membros da minha família na minha casa por causa disso (climão), eu dormindo no quarto da empregada e sendo extremamente mal recebido (leia-se gente me esperando na saída todo dia) pelos agroboys do Pitágoras que não gostavam de gente nova. Se eu pudesse apertar delete em um ano da minha vida seria 1996, na verdade fiz quase isso (não mantenho nenhuma das poucas amizades que fiz neste ano e isso foi de certa forma consciente).

Nessa época eu ainda comprava cds. Comprar cd comanda, eu acho até hoje; só que não compro. Uma das mehores sensações do mundo era tirar aquele plático do cd novo, colocar no som alto e ser literalmente espancado por algo que não era para ser tão bom. Um dia fui até o centro de a pé (como eu sempre fazia), e voltei de ônibus (já com uma febre que viria a se tornar muito forte naquele dia) com o cd novo dos Stone Temple Pilots na mão. Esse disco não tinha o direito de ser tão bom e mesmo padecendo de febre na cama e escutando num aparelho de som pequeno (e ruim) percebi que ia entrar direto entre os melhores discos da decada de 90. E quanto mais o tempo passou mais eu confirmo isso.

Stone Temple Pilots foi formado por uns moleques que se conheceram em um show do Black Flag e queriam uma banda que tivesse os mesmos inicias de um adesivo que todo mundo tinha no skate (STP, de uma firma de óleo - Scientifically Treated Petroleum - porque todo mundo amava esse adesivo vai saber). Chegaram a se chamar Shirley Temple's Pussy (uahauhauaha) por isso e por pressão da gravadora mantiveram a sigla com Pilotos do Templo de Pedra. No início era sub produto sim - sub produto do grunge que estava estourando na época, cópia não muito grande coisa principamente de Pearl Jam. Chamava atenção por ser "a banda grunde que não era de Seattle" e emplacou sinistramente o disco Core que vendeu 8X platina e tocava igual louco na MTV e rádio rock. Nunca me interessei por essa época e se tivesse ficado nisso provavelmente nunca teria ido no centro naquele dia, mas os fdp tinham talento e depois de chamar atenção de uma maneira meio que forçada já no segundo disco socaram personalidade no negócio e começaram a se tornar algo interessante.

O Purple se afastou do grunge cópia e moveu um bocado para o lado do rock clássico pura e simplesmente e não teve medo nenhum de injetar (bom) pop no som da banda. O segredo do bom pop é esse - sem vergonha de ser pop e assumir que é pop, mas no caso deles feito por uns caras com a cabeça metade na década de 70 e metade tentando fazer um som que se tornaria o novo rock e como tinham boas ferramentas para isso (um ótimo vocalista tão interessado em rockão burrão quanto em viagens artísticas do David Bowie e um guitarrista excelente e original que para mim nunca foi suficentemente reconhecido) acabou com isso colocando coisa muito boa na FM para todo mundo ouvir - o que acontece muitíssimo raramente. Dessa época vem muita coisa que toca na rádio até hoje - Interstate Love Song, Vasoline, Big Empty - e mesmo sendo um disco bacana pelo Purple não dava para antecipar que eles iam chutar o balde e entrar no estúdio para fazer um disco rockeirão, bem mais simples e direto na veia que os anteriores, dando vazão a toda viagem que passar pela cabeça porém sem super produção nenhuma.

O Tiny Music - o disco que eu comprei no centro - me parece produto de uma banda fechada na garagem sozinha e interessada em ir direto no assunto, sem complicar em excesso mas ao mesmo tempo sem censurar nenhuma idéia. Esse foi O disco em que o Stone Temple Pilots, afinal, não se parecia com nada a não ser eles mesmos, ou seja, acharam o som, o que é sempre um momento mágico. Foi uma fórmula tão foda que eles próprios nunca conseguiram repetir, e até hoje é um dos poucos discos que eu conheço que (como o Transformer do Lou Reed por exemplo) soam atemporais, ou seja, se eu falar que é de 1974 você vai acreditar, se eu falar que saiu ontem você vai acreditar. Além disso, é daqueles discos raros (de novo, como o Transformer do Lou Reed ou o Astral Weeks do Van Morrison) que parece que saíram inteirinhos de improviso, sem esforço nenhum do criador, pela naturalidade e espontaniedade do que você escuta sem saber que é esse o tipo de disco que dá mais trabalho para fazer. É obra de arte que dá muitas leituras: se quiser pode ouvir como um disco de rock da porra sujo e barulhento, dá para ouvir como disco pop, dá para dançar e escutar sozinho no quarto, colocar em uma festa ou tocar no rádio, e ainda assim vai interessar quem detesta música comercial. Tudo ao mesmo tempo e de várias camadas como toda boa obra de arte.

Música simples porém muito variada, 100% direto ao ponto feito por uma banda talentosa passando por sua fase mais criativa. Raríssimo e para mim um dos destaques da década de 90.

A partir daí, só ladeira abaixo: o vocalista Scott Weiland virou a Amy Winehouse (notícia de prisão/overdose/porrada/batida de carro todo dia), banda sem poder fazer turnê por causa dele, gravando o disco IV (também muito bom, sendo que "IV" é tanto "4" quanto "Intra Venoso") na pressa antes do Scott ter que passar uma temporada na cadeia, separam, gravam coisas ignoradas sem o vocalista, voltam, gravam um disco meia boca (Shangri-la Dee Da) e acabam de uma forma triste, inclusive com ele sendo desperdiçado no Velvet-Revolver-Guns-And-Roses-2.0-ninguém-merece. Melancólico, mas não apaga a obra anterior e não morre a esperança de sair algo legal de agora que eles voltaram. O espírito deve estar lá em algum lugar. E de certa forma me ajudou a passar por 1996.

Fácil de gostar e ainda assim profundo, pop mas pesado, pesado mas bonito, bem feito e imperdível - Tiny Music
Pesadão - IV
Grunge pop na veia mas talvez o único exemplo de BOM grunge pop - Purple
Só escute quando você já for bem fã - os outros

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

WOOOOOOOOOOOOHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOW

EU

TENHO
INGRESSO
PARA

O SHOW DO

RADIOHEAD


Se eu fosse morrer sem ter visto um show do Radiohead quando chegasse no meu leito de morte eu ia levantar, arrancar os tubos, dar porrada em todo mundo e continuar vivendo porque PUTA QUE PARIU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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UPDATE

Ouvi falar que São Paulo JÁ esgotou, será????!?!?!?!?!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Programas Surreais

Este fim de semana voltei o relógio do tempo e resolvi fazer um programa 15 anos de idade: juntei pessoas para encher a cara em casa e fomos para uma festa gótica no Matriz. E o pior é que me diverti à beça.

As lições que ficaram do fim de semana:
- foi legal desde que você não se importe de ser o mais velho do lugar e saiba rachar o bico das fuguras bizarras presas em 1984 com sobretudo preto, maquiagem, lente branca, camisa baby look e crucifixo do tamanho do seu braço;
- som de festa gótica tende a ser muito bom: new order, the cure, uns anos 80 inescrupulosos e versão metal do Chris Isaack. Na verdade o som equivaleu a uma festa muito boa da Obra, sinceramente;
- banda de cover de Marilyn Manson (com visual e tudo) vai sempre dar um show divertido mesmo que não toque legal;
- sair de casa para ver um cover de Rammstein com visual dos caras, bem tocado e versões virtualmente idênticas (além de repertório bem escolhido) é um ótimo programa independente da sua idade;
- e quem fala mal do matriz é preconceito/prepotência, porque numa boa, o som do lugar está excepcional - tudo muito alto, bumbo na barriga, guitarra que você sente o peso, baixo gravão e presente, sem nada de distorção nas caixas e clareza total em todos os instrumentos. Profissional mesmo, muito melhor que o som do festival Planeta Terra.

Programa surreal, noite bizarra e na boa que foi um ótimo fim de semana.