sexta-feira, 30 de abril de 2010

2010 continua detonando

2010 até março já tinha espancado 2009 na música e em muitos outros fatores também. Concordam?
Já tivemos mais coisa boa de 3 das melhores bandas da atualidade:

Crystal Castles - Crystal Castles (2010) - é talvez a banda mais recente que entrou na minha lista de favoritos absolutos, fizeram um segundo disco com o mesmo nome que o primeiro, que por sua vez é somente o nome da banda (preguiça?). A fórmula de somar uma mina completamente punk (aliás que cantava de fato em bandas punks e dá uns shows selvageria) com um produtor interessado em eletrônica primitiva e em placas de som de 8 bits - música de videogame velho tipo o Nintendinho) não mudou, talvez tenham somente extremado os extremos: o vocal dela é cada vez mais manipulado e tem horas que chega a dar medo (o som deles frequentemente é bastante desumano, é um elogio); os momentos pop são mais pop, os momentos calmos mais bonitos, a gritaria mais gritada, os arranjos eletrônicos esquisitos mais alienígenas. Para quem não conhece, é muito mais escutável do que eu estou fazendo parecer - de fato um dos melhores discos do ano com certeza. - escutando no repeat -

LCD Soundsystem - This Is Happening - LCD Soundsystem é o que a meu ver é o que a música pop deveria ser. Concorre com Daft Punk no título de "banda mais infalível para colocar TODO MUNDO para dançar em qualquer festa de qualquer tipo de público". Num mundo perfeito, você ligaria o rádio do seu carro e escutaria essa banda enquanto dirigiria de dentro de uma ofurô bebendo um Jack Daniels (de banana). No nosso mundo corrompido e distorcido uma das bandas mais divertidas e acessíveis que eu conheço inclui uma música chamada "You Wanted a Hit" no disco que diz que "sempre tentamos fazer mas sempre sai errado" - e que é muito melhor que todo o universo de música que vira de fato top alguma coisa (aliás confira o naipe do nosso top 40). O LCD Soundsystem continua com a base totalmente eletrônica dançante, porém está um pouco mais orgânico (mais guitarras), continua passando a sensação de ser música "solta" e "leve" e "natural" - principalmente nos vocais que são bem irônicos e meio falados - cantados - estilo estou-improvisando-isso-agora mas no fundo é intensamente nem feito e trabalhado (mais músicas longas que demoram a se desenvolver também). Estão dizendo que este é O DISCO que vai estourar eles - não é. Vão continuar fazendo ótima música mas só para quem se importa. E talvez seja melhor assim.

Broken Social Scene - Forgiveness Rock Record - essa é um dos raríssimos exemplos de "super banda" que funciona, faz música boa de verdade e é maior que a soma de suas partes (reúne uma espécie de super seleção de músicos indies do Canadá e acho a música do Broken Social Scene muito melhor que qualquer um deles em outro contexto, que me perdoem meus muitos amigos fãs de Feist). Depois de um segundo disco absolutamente perfeito e já clássico (You Forgot It In People), nunca consegui empolgar muito com o último (chamado simplesmente de Broken Social Scene). Tenho impressão que a força de um é a fraqueza de outro: a banda tem tipo 19 pessoas que tocam tudo quanto é instrumento e quando sabem colocar foco na coisa sai discos variados, viajantes, com músicas completamente diferentes entre si mas com um sentimento coerente e força. Quando dá errado, me parece que é um monte de gente atirando cada um para um lado gerando uns arranjos super intrincados e cheio de detalhes (mas chatos).O disco novo remediou isso, é super focado e bem direcionado, tem pau quebrando e músicas simplesmente maravilhosas (minha mulher já pirou com The Sweetest Kill) e quando passar a fase de absorção dele eu respondo se ele é o que está me parecendo - melhor disco deles.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Grunge is Dead

Estou lendo um bom livro chamado Grunge is Dead, que é basicamente a aplicação do conceito tornado famoso pelo Mate-me Por Favor para a breve explosão do rock de seattle no início da década de 90. Para quem não conhece, o Mate-me Por Favor é um livro escrito 100% a partir de depoimentos dos participantes e pessoas chave que editados de uma maneira que faça sentido contam a história do punk pelo lado de dentro. A leitura muito me interessa porque tenho uma conexão emocional muito real com a música desta época e como eu suspeitava tem muito a cavar ali.
O que dá para compreender é que uma explosão daquela tem muito valor cultural por ter sido de fato orgânica. São de fato bandas de moleques da cidade que começaram a tocar nos clubes sujos para público local. Chamou atenção pela combinação rara de talento real + esgotamento do mercado de rock da época pelo metal farofa (já tinha dado o que tinha para dar e gerou um vácuo de ânsia pelo novo) + atuação da imprensa inglesa que criou o mito e decidiu que um monte de banda da mesma época do mesmo local são a mesma coisa + uma gravadora (sub pop) com uma intensa incompetência administrativa mas grande talento para vender como novo o que na verdade era mais uma manifestação de tendências que já existiam no underground do país. Aliás some Sonic Youtn + Pixies + Replacements + Butthole Surfers e veja se não sai o som grunge. Porém, ainda bem que venderam boas bandas que revitalizaram o rock sim, não eram meras cópias e que levaram as influências para cima junto.

O template de fato é o Soundgarden. Começou cedo, influenciou todo mundo, estourou menos porém mais cedo que o Nirvana e era a banda que as pessoas queriam ser quando queriam fugir do rock tradicional da época. Para ter noção do impacto, quando o baixista saiu Kurt Cobain - que disse para eles se considerarem sua maior influência - pensou em se candidatar, e isso depois do Bleach. Soundgarden foi o responsável pelo Alice in Chains largar a onda farofeira e virar o monstro dark que se tornou.

O Mudhoney (e em grau menor a banda mais antiga do Mark Arm com os caras que viriam a se tornar o Pearl Jam, Green River) injetou um bocado de caos criativo na cena. Para mim ele é uma espécie de Iggy Pop de Seattle - incluindo a heroína - só que com o vocal mais psicopata e um espírito muito mais experimental. Vá atrás das coisas velhas dele - Mr. Epp fazia música com objetos tipo o Neubauten e os Throw Ups tinham como regra somente não ensaiar nunca e inventar as músicas na hora do show. Escute Mudhoney muito alto - dá para ver nitidamente que foi dali que veio o som das bandas grunge mais punks. Note que seus vizinhos vão achar que você está quebrando sua casa.

Melvins é muito interessante porque não se parece com nada. Começou como uma banda de hardcore que queria ser a mais rápida e depois resolveu ser a mais lenta do mundo. As referências estão lá - Black Sabbath do início, doom metal, vocal meio doente estilo Mudhoney - mas são usadas de uma maneira única. Melvins não tem limites - é capaz de fazer uma música cuja guitarra só repete uma nota o tempo inteiro ou de largar o batera tocando 5 minutos a batida da música sozinho. É muito pesado e chega a ser estressante de um jeito legal. O som do Melvins reflete muito no metal moderno - as bandas que tocam ultra lento e sinistro tipo Sunn O))). Melvins é cheio de projetos malucos - o disco Chicken Switch possui uma música para cada disco inteiro do Melvins, mixado em 5 minutos por gente tão louca quanto eles (tipo os caras do Boredoms). Respect!

Tem muito mais coisa para explorar ainda - Malfunkshow, U-Men, Posies - vou postando as que eu gostar. Por hora deixo 4 dicas básicas não tão obscuras mas frequentemente esquecidas (e retomadas por mim com empolgação ultimamente):

Mudhoney - Superfuzz Bigmuff
Green River - Dry as a Bone
Melvins - Bullhead
Screaming Trees - Sweet Oblivion

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A outra mina legal também tem música nova

M.I.A. fazendo punk rock comanda o batatal... esperando o disco novo dela um bocado!

http://musick1.blogspot.com/2010/04/new-mia-track.html

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Da Série Playlist - o que anda queimando a bateria do meu ipod


jj - jj n° 3: a (não tão mais) enigmática banda lançou o segundo disco rapidinho (o jj n° 1 é um single) e fez o movimento sábio de não tentar fazer a mesma coisa tudo de novo. jj - minúsculo mesmo - é uma das bandas que como já mencionei encaixo na categoria "não consigo absolutamente explicar porque eu amo isso". Talvez seja a combinação de uma voz etérea muito bonita quase Enya em cima de instrumental muito leve que você nunca sabe se é extremamente acústica ou totalmente eletrônica cantando sobre ter uma overdose de heroína e outros temas normalmente gritados. Acho que sou atraído sempre por música que parece ser tão natural que nasceu sozinha, ainda mais porque sei que é o tipo de música mais difícil de fazer. Este disco tem um tom bem mais triste que o anterior o que o faz ser um pouco mais lento de absorver, mas conserva a descida fácil e as propriedades relaxantes-hipnotizantes e outros antes. Dá para ouvir até com a sua mãe.


Besnard Lakes - Are The Roaring Night: muito fácil definir os Besnard Lakes ao mesmo tempo em que é a coisa mais impossível do mundo. Indie rock moderno com um lado pop e outro bem experimental, backing vocals trabalhados devendo aos Beach Boys, voz masculina e feminina alternando nas músicas, falta de medo de falsete, falta de medo de colocar guitarra alta e de fazer música compridona e que demora a se desenvolver, até uma pitada de leve de Pink Floyd mas sem a parte chata. Parece uma das boas bandas que poderia ser da Elephant 6. E agora isso tudo que você leu não te passou uma boa idéia do que a banda é, porque você pode ter imaginado tudo isso na sua cabeça e pensado em algo como os Yo la Tengo ou o Of Montreal e essas bandas não se parecem em nada. Sabe quando você tenta explicar para alguém porque ele deveria ver uma determinada série de tv e não consegue colocar em palavras o que ela tem de especial, percebendo que na verdade não existe nada de realmente novo ali, apenas o velho porém extremamente bem feito e satisfatório? Faz o seguinte, em vez de ficar lendo aqui escuta a música "and this is what we call progress" que eu até aqui declaro a melhor de 2010 e depois a gente conversa.


Deftones - Diamond Eyes: sempre foram uma das minhas bandas preferidas e estão passando por um momento complicado - o baixista sofreu um acidente de carro a mais de um ano e está em coma desde então; haviam gravado um disco inteiro com ele que não querem lançar porque "não reflete o que a banda é agora" e gravaram outro, que é este Diamond Eyes. Não gosto da desgraça dos outros mas momentos difíceis sempre geram boas obras de arte e PQP, não precisavam humilhar! Disco diretaço na veia que lembra o Around The Fur, basicamente tudo que o Deftones é ampliado para 11 e com espírito "corta a baboseira", foi um ótimo movimento para uma banda que estava se tornando abstrata demais. Se você tem qualquer nível de interesse em metal (apesar de ser um rótulo discutível para eles) vá sem dó.



Outras recomendações recentes que exploro melhor nos próximos posts:



Zola Jesus - Spoils -> o gótico ainda existe, ainda é ridículo, e ainda é foda

Warpaint - Exquisite Corpse -> indie-pop épico com vocais bonitinhos de menininha distorcidos sem dó

Gorillaz - Plastic Beach -> pop + hip hop + eletrônico + lou reed + bom gosto

The Knife - Tomorrow, In a Year -> The Knife fazendo ópera baseada na vida de Darwin é para amar e odiar alternadamente

Hot Chip - One Life Stand -> eletrônico de pista para ouvir em casa com a namorada por menos sentido que isso faça

Fucked Up - Couple Tracks -> o que seria do filho do Sick Of It All com Pixies, ou seja, hardcore brutal com preocupação em ter guitarras e melodias interessantes e diferentes (apesar deste disco em particular meio que largar essas idéias para lá e vamos só sentar a porrada) - ah, e é também a melhor banda punk da atualidade ok?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Let England Shake

Pj Harvey tocando música do disco novo ainda não lançado... diz ela que pelo menos metade foi composto na harpa (!). Fatos:
1-a PJ Harvey é uma louca
2-a PJ Harvey é uma louca prolífica que lança muito disco (ótimo!)
3-a PJ Harvey é uma louca prolífica que lança muito disco e sabe tocar tudo quanto é instrumento
4-a PJ Harvey é uma louca prolífica que lança muito disco, sabe tocar tudo quanto é instrumento e normalmente usa todos eles para fazer música intensamente distorcida e doentiamente emocional (ou seja, a PJ Harvey comanda)

http://www.youtube.com/watch?v=64C6Ih4QlrE&feature=player_embedded

terça-feira, 20 de abril de 2010

Projeto 1001 Discos

Já mencionei aqui algumas vezes que eu tenho o 1001 Discos Para Se Ouvir Antes de Morrer, já todo detonado por ser muito manuseado. Eu de vez em quando sorteava um disco randômico para ouvir (random.org) e o escutava desprovido de preconceitos (ou pelo menos tento me enganar acreditando que estou realmente fazendo isso). Não vale conhecer a banda, ou mesmo as músicas, tem que pegar AQUELE DISCO e escutar INTEIRO. E sem reclamar. Seja o que for. Britney Spears, come on. Ainda bem que não tem fascinação nem Marina Lima no livro.

Recentemente resolvi transformar isso em um projeto de fato e marcar em uma planilha quais eu já ouvi inteiros, sem compromisso de tempo mas com compromisso de terminar. Estou no 338 e já estou bastante grato por fazer isso. Entre várias outras descobertas que eu poderia não ter feito caso eu não tivesse começado isso:
  • O primeiro disco do N.E.R.D. é tão infalível para fazer as pessoas dançarem quanto Daft Punk
  • O primeiro disco do Röyksopp é a perfeição do equilíbrio entre diversão e introspeção
  • T. Rex é algo muito longe do rockão burrão que eu achava que era e na verdade é bem a frente do seu tempo
  • Moby Grape é hippie mas é bacana (podem jogar pedra, manda ver)
  • Captain Beefheart é hippie e chato (ao contrário da minha expectativa porque gosto de Frank Zappa)
  • Paul Revere & the Raiders pode talvez ter criado o punk muito antes de Stooges
  • Música africana disputa com Kraftwerk o título de melhor música para trabalhar (escutem Baaba Maal ou Miriam Makeba)
  • King Crimsom só pareceria com Tool se Tool fosse MUITO CHATO
  • A minha mulher é fã de Lynyrd Skynyrd! :-)
  • Kate Bush não é meu som mas pô até que merece respeito
  • Fleetwood Mac provou ser pior do que o pouco que eu já conhecia
  • The Police não é nada mais que pop medíocre e incompreensível a quantidade de pessoas que ama isso
  • Grandmaster Flash é um puta gênio que atirou para todos os lados e acertou quase todos os tiros
  • Se eu pudesse fazer uma banda com 5 Leandros ela seria o Drive Like Jehu
E por aí mais... posto mais à medida em que eu fizer mais descobertas boas. Ou decepcionantes.

No dia em que eu escutar o último disco vou segurar a última música e dar uma festa no meu apartamento para ouví-la na presença de amigos! Me cobrem!

Turnê americana dos Pistols

Reportagem interessante enviada pelo Shibuco sobre a turnê americana dos Pistols:

http://theselvedgeyard.wordpress.com/2010/02/20/vicious-white-kids-the-sex-pistols-take-on-rock-n-roll-the-south/

Não tem NADA hoje que provoca reações iguais eles na época, acho isso muito admirável, puta coragem dos caras. Esse é o ponto interessante dos estilos extremos tipo black metal, incomoda as pessoas caretas DE VERDADE (hoje nem isso choca mais) não tem nada parecido e eu ia achar foda se tivesse, é o que o Rotten falou, " a gente não estava lá para destruir o modo de vida deles, era um meio refrescante de transceder a rotina e eles entenderam a piada que era para ser".

Pistols era uma espécie de caricatura muito bem pensada de uma banda de rock e muito pouca gente entendeu isso (até hoje).

Ah e lembra que a carreira deles durou, no total, UM ANO.