segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Projeto Conan Again

Pequena pausa no blog enquanto o meu projeto Conan se aproxima do seu pico de stress :-(
Vorto semana que vem!!!

Aliás tem alguém aí??

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Guia Rise From Your Grave para a discografia do The Clash Parte 1/2

Eu cresci ouvindo punk acima de tudo, e naquela época sem internet tudo que é muito óbvio e básico hoje nem sempre era tão óbvio e básico naquela época. É claro que todo mundo já tinha ouvido falar de The Clash, e sabia da importância (para quem não sabe, visualize assim: punk é a santíssima trindade - Ramones, Sex Pistols e The Clash - todo o resto é subproduto desses 3 - entendido?). Só que na prática discos do Clash no Brasil não eram tão fáceis e eu não conhecia muita gente que tinha. Então todo mundo tinha vontade de conhecer mas pouca gente conhecia de fato. E quando finalmente eu sentei e escutei um disco inteiro deles - eu detestei.

O baterista da minha banda na época conseguiu o Sandinista! e queria vender (também detestou). Minha primeira reação foi ficar completamente confuso porque aquilo era chamado de punk - não tinha NADA de punk além do contéudo das letras. O Sandinista tem pop, rockabilly, música com coro de criança, gospel, música com influência árabe, hip hop, alguns rockinhos bem próximos do punk mesmo (que depois eu descobri que é a interpretação do The Clash do que é punk - músicas como Police On My Back, que eram minoria) mas não tem nada que se parece nem um pouco com Ramones.

Só quebrei minha birra com Clash - que durou anos - quando me passaram um piratão ao vivo mal gravado da época do segundo disco e insistiram muito para ouvir. Aí eu descobri porque chamavam eles de um dos pais do estilo. E depois conhecendo bem a banda eu descobri que tudo que o The Clash faz é punk - sendo punk musicalmente ou não. E que, basicamente, eles eram os líderes, não os seguidores. Por isso nunca se amarraram nem tiveram medo nenhum de experimentar e fazer qualquer coisa que achassem relevante. Não acertaram sempre - risco que quem tem coragem de experimentar sempre corre - mas foram honestos e vitais até (quase) o final.

Basicamente, se você gosta de rock, você vai gostar de The Clash. Os 3 primeiros discos deviam ser tocados na escola para ajudar a entender a história cultural do século 20. E se você tem um mínimo interesse em punk e não conhece The Clash - esconde isso dos outros senão a polícia da música te prende.

Grande feito para uns moleques pobres e marginais de Londres, viciados em rock e reggae e que foram varridos pela revolução do rock de 76-77 (mais especificamente impactados pelo primeiro disco dos Ramones e por um show dos Pistols onde, soprando meleca em um lenço, Johnny Rotten iniciou o show dizendo "tudo bem seus bêbados vamos tocar umas músicas e vocês vão gostar delas"). Deixou de ser uma banda de pub que tocava rockabilly (The 101'ers) para ser uma versão inglesa dos Ramones misturada com reggae para ser uma banda essencial que foi chamada por um tempo de "a única banda que importa" (já vi o David Lee Roth falando no palco que "bandas como The Clash não deviam se levar tão a śerio"). E depois disso a importância e relevância do Clash (sem falar na qualidade) estrapolou mesmo a dos Pistols. A partir do The Clash, rock não era mais entretenimento. Era alguma coisa de verdade. Por um tempo, o Clash foi a banda para quem todo mundo estava ouvindo, eram as pessoas que iam mostrar o caminho. E então ficou enorme. E então se autodestruiu quando descobriu que se tornou aquilo que eles surgiram para destruir - uma banda de rock gigante, milionária, viciada em drogas. Clichê. E um tempo depois ficamos sabendo que Joe Strummer chorou quando viu os militares americanos jogando uma bomba no Iraque onde estava escrito "Rock The Casbah". História triste a do Clash.

Anyway - desde o Bono comentando que eles "abriram o mundo para as pessoas" porque eram radicalmente políticos e não tinham medo de escrever sobre nada, qualidade que não se aplica para qualquer banda mesmo dessa época - até gente comentando que tinham medo de ir no show do Clash porque era muito selvagem, a história do Clash é completamente visceral (assistam o Westway To The World ou mais legal ainda o filme The Future Is Unwritten).

Até hoje você vê umas pichações enormes por Londres com o nome deles. E atualmente eu amo até mesmo o Sandinista.

No próximo post comento minha visão particular dos discos do Clash.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Da Série Random Music - Halloween

Vocês já viram o Sid e Nancy, ou o Filth And The Fury, ou qualquer outra reportagem/filme/documentário sobre os Sex Pistols? A famosa entrevista com os Pistols onde eles tiveram a audácia chocante de falar palavrões na tv e que entrou para a história porque chamou uma temenda atenção da imprensa - e como consequência foi o ponto exato em que o mundo descobriu que existia o punk - é sempre mostrada com a banda misturada com um monte de punk de rua e umas garotas com cara de marginais.

Uma dessas garotas (com a qual o entrevistador tentou flertar) era a Susan Janet Ballion. Essa menina cresceu em Londes com um pai que morreu de birita quando ela tinha 14 anos e uma mãe completamente ausente, de uma maneira solitária e esquisita, vivendo meio que sem amigos e viciada em Roxy Music, David Bowie, Velvet Underground e, mais tarde, nos Sex Pistols. Era conhecida por chocar a Londres da década de 70 - andava com roupas inspiradas em prostitutas e sadomasoquistas e frequentava só os bares gays da cidade. Já apanhou na rua por sair de sutiã com uma suástica no braço (não, ela não é nazista). E quando uma banda faltou a um show organizado pelo empresário dos Pistols, pediram para essa garota fazer algo de improviso para encher o tempo - ela colocou o Sid Vicious na bateria (na época ele ainda era John Simon Ritchie) e um guitarrista emprestado e ficaram 20 minutos improvisando em cima de poemas e orações que ela conhecia. A partir desse dia ela era a Siouxsie Sioux. E quando foram pedidos para repetir o show, a banda agora era Siouxsie and the Banshees.

Siouxsie and the Banshees é uma das bandas mais originais (para não dizer mais bacanas) que eu conheço. Nascida no meio do fogo do punk inglês com certeza eles devem muito para esse som, mas eram criativos e diferentes demais para serem mais uma banda punk - e nessa brincadeira se tornaram uma das primeiras bandas de post-punk. Apesar de terem passados diversos guitarristas pela banda - inclusive o Robert Smith do The Cure, que diz ter mudado sua visão de mundo e desistido de ser os novos Beatles depois que ele tocou com a Siouxsie - a banda sempre manteve um estilo coerente de guitarras super agudas e estridentes com um som mega esquisito, arranjos diretos que parecem estar errados de alguma maneira difícil de explicar (mas que gera um efeito bem desconcertante e tenso na música), baixo melódico tomando o lugar da guitarra e bateria percussiva. Isso foi a base de toda música que foi chamada de gótica depois - sim, influenciou Joy Division, Bauhaus, Echo e aquele pessoal todo - na época em que gótico era algo legal (uma espécie de punk dark bem confrontador e deprê) - e não era associado com palhaçadas de gente tirando onda de vampiro tipo Type O Negative.

Mas é lógico que o que chamava mais atenção era o vocal esquisito e melodramático da Siousxie. Até hoje não se parece com nenhuma outra vocalista, e é agressivo para caramba. Pode colocar na lista de vozes que vcoê vai achar muito estranha no início e depois que acustumar vai adorar. Tirando a presença de palco foda. Sério.

Começou goticaço, com o tempo o som mudou (e deu uma abrandada) mas de forma geral mantiveram-se fiéias à idéia de confrontar e de experimentar e serem originais e criativos (tirando umas escorregadas ocasionais tipo um cover muito pop farofa de The Passenger do Iggy Pop). Para mim é uma das vocalistas mulheres mais interessantes da histórias e uma das melhores bandas da década de 80 - e influencia um bocado até hoje (veja um pessoal tipo Garbage, Morrisey, LCD Soundsystem, Jane's Addiction e Scissor Sisters falando que só tocam hoje por causa dessa banda). Tente sacar também The Creatures - projeto paralelo ainda mais experimental da garota.

Comece por - Juju
Bem punk - Once Upon A Time
Bem estranho - The Scream
Também bom para começar - Seven Year Itch

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Da Série WTF? - In The News

Post rápido porque vi notícias legais demais hoje para deixar de comentar -

Primeiro: a Kim Deal (baixista do Sonic Youth) começou uma linha de moda.
Repito: a punk psicopata assustadora maluca que canta as músicas mais doentias e from hell do Sonic Youth - e dá cambalhotas com o baixo no palco - está fazendo ROUPA para as pessoas vestirem. A linha se chama Mirror/Dash e embora eu achei que ela ia fazer nas roupas alguma coisa tão maluca quanto ela faz na música rolou uma jaqueta até bonita. "Clothes for cool moms" diz ela.

Segundo: não sei se você acompanhou o projeto Nude do Radiohead - eles venderam os arquivos com as diferentes faixas de instrumentos da música Nude para os fãs remixarem como quiserem e criar novas versões. Essas versões eram enviadas de volta para a banda escolher a melhor. Receberam tipo duas mil (!!!). E agora vão fazer o mesmo com Reckoner - que embora não tenha sido escolhida para single se tornou de forma natural uma espécie de "mega hit não oficial do In Rainbows". Dizem que é uma das músicas que mais DESTROEM o lugar quando é tocada ao vivo. E só para dar uma reguingada: Radiohead já está compondo o próximo disco. :-D Depois dessa nem reclama da segunda feira.

Mais uma: saiu o disco novo do TV On The Radio. E TV On The Radio comanda o batatal do além. E eles cantam sobre ser Lobisomens. Depois de escutar faço um post sobre eles.

sábado, 20 de setembro de 2008

Novidade

Adicionei ali do lado direito a parada Billboard dos discos mais vendidos da semana. Assim sempre que você entrar nesse blog pode constatar que, vem semana vai semana, o mundo continua (e continuará) sempre dominado por música ruim.

Melhor ainda se pudesse adicionar a parada brasileira, sente só a dessa semana:
01 James Blunt - Same Mistake 6.87%
02 Wanessa Camargo - Me Abrace 5.84%
03 Bruno & Marrone - Não Faz Mais Isso Comigo 5.5%
04 Daniel - Difícil Não Falar de Amor 5.15%
05 Cláudia Leite - Extravasa 4.81%
06 Leonardo - Coração Bandido 4.47%
07 João Marcio E Fabiano - Pistoleira 4.12%
08 Victor & Léo - Tem Que Ser Você 4.12%
09 Alexandre Pires - Pode Chorar 3.78%
10 Hugo Pena E Gabriel - Fora Do Eixo 3.78%
11 Zezé De Camargo E Luciano - Chega 3.44%
12 Victor & Léo - Fotos 3.44%
13 Bruno & Marrone - Ficar Por Ficar 2.75%
14 D Black - Sem Ar 2.41%
15 Edson & Hudson - Fala 2.41%
16 Latino E Daddy Kall - Amigo Fura Olho 2.41%
17 Aviões Do Forró - Chupa Que É De Uva 2.06%
18 Kely Key - Super Poderosa 2.06%
19 Mc Créu - Dança Do Créu 2.06%
20 Edson & Hudson - Eu Quero Mais 2.06%

Dá MEDO.
Mostra isso sempre que alguém argumentar que popluaridade = qualidade em qualquer contexto.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Planeta Terra

Dia 8/11, sabadão, em SP, vai ter Jesus And Mary Chain. E no mesmo festival (Planeta Terra) Breeders, Bloc Party, Kaiser Chiefs, Mylo, Felxi Da Housecat, e ainda periga confirmar o Spoon.

Já comprei ingresso para mim e a gatinha e um iapa de quebra (SP e os iapas se atraem). Eu estou indo pelo Jesus And Mary Chain, o resto é bônus (apesar de gostar muito de Mylo, Felix, Breeders e Spoon e razoavelmente de Bloc Party e Kaiser Chiefs).

Quem anima???

Da Série Random Music - Só Os Solitários


O Bob Dylan escreveu sobre esse cara:
"Transcendeu todos os gêneros... ele cantava suas composições em 3 ou 4 oitavas que faziam você querer dirigir seu carro para um precipício... cantava como um criminoso profissional... sua voz poderia sacudir um cadáver... suas músicas tinham músicas dentro de músicas... não existia nada no rádio como ele."

O Elton John descreveu assim:
"muito à frente do tempo, quebrava todas as regras de composição, quebrava todas as tradições".

Esse é o mesmo cara de quem o Elvis Presley comprava pilhas do mesmo disco simplesmente para dar uma cópia a cada pessoa que entrava na casa dele. E que ele via todos os shows na primeira fila. E que ele declarou que é o melhor cantor do mundo.

Esse é um cara que já tinha uma banda em 1949 (ele tinha 13 anos) chamada The Wink Westerners e que conseguiu um programa de televisão onde até o Jonny Cash foi tocar. Começou fazendo rockabilly - aliás, um dos melhores cantores de rockabilly fácil, lá no topo junto com Elvis e Jerry Lee Lewis e Chuck Berry e Little Richard - mas não foi longe. Começou a fazer sucesso DE VERDADE quando percebeu que podia transformar as letras que escrevia sozinho dentro do carro debaixo de chuva em música de verdade. Nessa brincadeira, ele quebrou uma antiga barreira - homens podem fazer músicas tão emocionais quanto as mulheres, inclusive no jeito de cantar. Ele inventou a balada rock dramática. E foi reconhecido até o fim da vida como o grande mestre disso. E muito mais, porque como diz Bob Dylan ele transcendeu todos os gêneros.

Não entenda "balada de rock dramática" como algo que o Waldik Soriano faria. O papo aqui é fino. Fazer música emotiva é fácil. Fazer música emotiva só que honesta, romântica sem ser clichê ou derramada, sem ser chorada ou brega - e sim lindona e arrepiante, com uma certa melancolia de solidão e até algum senso de humor - aí sim é sujeira. Esse cara fazia isso sem nem tentar. E melhor que todo mundo.

Esse é um cara pequeno com os óculos maiores que o rosto. Ele sobe no palco com uma guitarra semi acústica que também parece maior que ele. Para cantar, mal se mexe, e, engraçado, mal abre a boca. Parece não fazer esforço nenhum enquanto um vozeirão brutal varre a platéia. Parece não notar que tem uma das vozes mais bonitas da história da música popular. Parece não saber que ao cantar Only The Lonely, ou Blue Angel, ou Crying, ou qualquer outra muito provavelmente está realmente arrancando lágrimas de muita gente.

Esse é um cara que derramou suas lágrimas também. Deu uma moto de presente para primeira esposa - e a mulher me morre andando nessa moto. Sai em turnê e sua mansão pega fogo - morrem dois dos três filhos. E injustamente é esquecido pelo mundo entre a metade da década de 60 e mais ou menos 1986 quando David Lynch usou sua música In Dreams no Blue Velvet (aliás, David Lynch vive usando músicas dele). Mal pôde aproveitar porque morreu em 1988 - e teve inclusive alguns hits póstumos como You Got It e I Drove All Night.

Você conhece só como aquele carinha que canta Pretty Woman? Então pegue para ouvir direito e passe a conhecer como um dos caras mais geniais que já passaram pela música.
Descanse em paz Roy Orbison.

Comece por - a coletânea dupla The Essential

Só para dar uma reguingada: o visual do Dr. Octopus (aquele mesmo, inimigo do Homem Aranha) foi criado por um fã dele e é baseado no Roy Orbison. Existe alguma coisa mais legal que ter inspirado o visual de um inimigo do Homem Aranha?
Reguingada 2 - um dos músicos preferidos (declarado) dos Beatles e dos Stones. Todos os Beatles compraram um óculos igual ao dele. Tirando os já citados aqui - Bob Dylan, Elton John, Elvis etc.
Reguingada 3 - o Jaguar do Roy Orbison é um dos meus poucos sonhos de consumo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Da Série Random Music - Tudo Tem Que Ir

Em 1986 o país de Gales estava sendo sacudido por uma nova banda que funcionava como uma espécie de novo Sex Pistols (mas formado por moleques fãs de Guns And Roses). Apesar do visual e atitude glam (diziam que o Apettite for Destruction é um dos melhores discos da história) a banda chocava todo mundo ("eu ri quando John Lennon tomou um tiro"), tocava shows de 20 minutos onde provocava a platéia e frequentemente saía quebra quebra - lembrando o Jesus And Mary Chain - e planejava lançar o primeiro disco em uma embalagem que estraga vinil com o tempo e corrói os outros discos que forem colocados perto dele. Resultado: manipulavam a mídia, que adora esse tipo de coisa escandalosa; chamavam muita atenção para si; e conseguiram um culto de fãs pequeno mas fanático. Foi nessa época que aconteceu a lendária entrevista em que a NME perguntou para o guitarrista Richey se a banda era picaretice e ele escreveu "4 REAL" bem grande no braço. Com uma faca. Esses são os Manic Street Preachers.

O primeiro disco não vendeu bem (Generation Terrorists), segundo eles porque não era "tão bom quanto Guns And Roses". O segundo disco (Gold Against The Soul) ficou menos glam e mais grunge, menos festa e mais introspectivo, e até que foi bem. Mas até aí a banda não era nada de especial. Porém, no âmbito pessoal, atravessava um período comparável ao que fez o Kurt Cobain gerar o In Utero (para mim o melhor disco do Nirvana), especialmente o guitarrista Richey: drogas, anorexia e auto multilação. Vivia com uma maçã por dia. E escreveu um disco com a visão pessoal e política de mundo dele e dos outros membros da banda que foi tão brutalmente honesto, direto e frio (assim como o In Utero) que foi além de tudo que a banda era. Transcedeu o rock. Aliás, transcedeu a música com o tipo de obra que atinge as pessoas em um nível tão direto e intenso que passa a ser algo mais. E isso tudo numa embalagem pop feliz que ao ser ouvido sem atenção não revela o que está por baixo.

Esse disco é o The Holy Bible e para mim é um dos melhores discos da história do rock. E com certeza um dos mais dark. Nessa época a banda largou o visual rock e começou a tocar vestido de soldado. O som virou outra coisa, a banda se mostrou realmente "4 REAL". E não vendeu quase nada e nem chamou atenção (nem foi lançado nos EUA). E durante essa época o guitarrista Richey desapareceu. Seu carro foi encontrado na beira de um rio. E o corpo não apareceu até hoje.

A moçada poderia ter acabado, ou chutado o balde, ou perdido o que os faz bacanas. Em vez disso, incorporou a experiência, continuou na onda de honestidade brutal, jogou o som mais ainda para o lado do pop - mas pop excelente com pé no punk e letras políticas incendiárias - e fez um dos 5 melhores discos do britpop (e com certeza um dos que estabeleceu esse som), o Everything Must Go. Basicamente quem conhece o Manic Street Preachers normalmente os conhece através deste disco e se assusta com o quanto eles conseguem ser dark e diretos quando escuta o Holy Bible. Ou conhece através do Holy Bible e se assusta com o quanto eles conseguem fazer pop sereno, bonito e perfeito (mas ainda assim incendiário) quando escuta o Everything Mus Go. São como se fossem duas bandas diferentes. E duas bandas maravilhosas. E continuaram sem deixar a peteca cair, até pelo menos o disco Know Your Enemy.

Essa é a chave para entender os Manic Street Preachers. Primeiro, é uma das melhores bandas da década de 90. Segundo, é música que tem duas camadas simultâneas, e isso provoca um efeito muito estranho em quem está escutando: se focar no som superficial, é uma excelente banda pop com um som quente e bem feito bem na linha de frente das melhores bandas indie da década de 90. Se você aprofundar um pouco, vê que as estruturas não são tão sólidas e óbvias, mas aquele som pop esconde muita instabilidade e fogo de uma banda que apóia visões políticas radiciais e levou um estilo de vida extremo e passou por tudo. É como se fosse pessoas muito inquietas se esforçando para se segurar para tocar por alguns minutos naquele palco.

Pena que para mim a banda tem perdido o fogo. Os últimos dois discos (Lifeblood e Send Away The Tigers) tem mantido o talento para o pop, mas tem perdido essa intensidade que existia antes. Mas de qualquer maneira não deixe passar essa banda. É só para quem AGUENTA A TRETA. Embora não pareça.

Comece por - The Holy Bible
Um dos melhores discos do indie dos anos 90 - The Holy Bible
Escute na sequência (depois do Holy Bible) - Everything Must Go e This Is My Truth Tell Me Yours
o disco épico deles - Know Your Enemy
Não comece por - os dois primeiros nem os dois últimos

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Da Série Random Music - o corpo o sangue e a máquina

Já mencionei aqui que tem determinados discos específicos que me ganham com o "garagismo" deles (citei o último dos Smashing Pumpkins, a maioria da obra do Neil Young, Funhouse dos Stooges etc). Não sou daqueles fanáticos por lo-fi (nem por hi-fi), mas tem certos discos em que a produção consegue capturar exatamente como soa uma banda na garagem - sem firula, sem adornação demais, simples e direto como um míssil teleguiado - faz só o que devia fazer e faz rápido e bem. E o que acaba me ganhando é (obviamente quando os discos são bons) a percepção do quanto dá para fazer o infinito com muito pouco. É a mesma viagem que eu tenho com festa em casa: você compra uma garrafa de gim, liga o som alto, chama umas pessoas e pronto, já tem muitas horas de muita diversão garantida. E hoje, 50 anos depois, o conjunto baixo-guitarra-bateria (nas mãos certas) ainda rende e faz muita música boa e original.

Uma das últimas bandas com esse espírito garageiro minimalista que eu ouvi e gostei de verdade foi os Thermals. A banda é só uma mina e dois caras que gravam exatamente como tocam na garagem (aliás, definem o som deles como "produto natural de milhões de horas na garagem"). Só que não são 3 caras quaisquer. São 3 caras que tem a manha total de fazer um som punk simples - mas moderno, milagrosamente não é a milionésima repetição de alguma outra banda punk - e honesto. Esse papo de garagem deve estar fazendo você pensar que é sujo, pesado e caótico. Mas Thermals é melódico (normalmente eles são classificados mais como indie que punk) e limpo, só que elétrico demais. O vocal é desesperado - às vezes beira o histérico - mas consegue ser um cara desesperado que canta limpo e bonito, sobre temas bacanas (o último disco é uma espécie de viagem em uma américa alternativa dominada pelo fascismo cristão - veio na minha mente o grito de "they tell me what to feel!!!!!!! - lindo!).

Tudo com os Thermals é limpo, rápido e direto, e é absurdamente cativante. Acho que é difícil fazer a banda soar interessante no papel porque destrinchando seus elementos parece ser algo muito básico, mas a fagulha de genialidade aparece de cara quando você escuta - é exatamente o tipo de som que quando toca em uma festa você vê uma galera tentando olhar na tela do ipod para saber o que é aquilo. Tente imaginar um Weezer mais punk com um vocalista mais agressivo cantando sobre política em vez de sobre ele mesmo. Ou tente imaginar um Buzzcocks moderno e pendendo mais para o indie. Ou não tente imaginar nada e dê uma chance para uma das pouquíssimas bandas atuais que está salvando o punk.

Comece por - The Body The Blood The Machine

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Guitar Hero!!

Vai ter Tool no Guitar Hero novo!!
Vai ter Modest Mouse no Guitar Hero novo!!
Vai ter At The Drive In e Mars Volta no Guitar Hero novo!!
Vai ter Filter e Interpol no Guitar Hero novo!!

http://wii.ign.com/articles/909/909731p1.html

Guia Rise From Your Grave para a discografia do Sonic Youth Parte 2/2

Essa é a minha relação particular com a discografia do Sonic Youth.
Primeira informação relevante: gosto de tudo. Muito. E os discos da fase que eu estou chamando de Sonic Youth 3.0 estão indubtavelmente entre os melhores discos da década de 90. Independente do estilo.

Sonic Youth 1.0 - No Wave na veia

É um caminho natural para muitas bandas começar com um som básico e ficar progressivamente mais experimental. Como o Sonic Youth começou MEGA experimental, o caminho deles foi meio que o contrário. Eu coloco nessa fase o Confusion Is Sex e o Bad Moon Rising.

Esses dois discos são basicamente os dois melhores lançamentos de música que pode ser considerada no wave. Já aviso que é muito abstrato e muito estranho. E bastante pertubador também. As músicas dão uma sensaão de estarem flutuando - as guitarras parecem muitas vezes mais o barulho de uma tv fora do ar do que guitarras. Você não entende direito o que estão fazendo com o baixo e a bateria. Aí do nada no meio de uma música eles emendam uma versão mega caótica de I Wanna Be Your Dog dos Stooges. A atmosfera é meio de sonho, meio de estar fora da realidade, as letras não fazem muito sentido e são muitas evzes mais faladas que cantadas. Mas não são sonhos bons, o esquema é bem dark. Para você ter idéia, eu comparo o Confusion Is Sex com os discos do Neubauten.

Quando pegar o Bad Moon Rising não deixe de pegar a versão que vem com o EP Death Valley '69. Essa música é pouco conehcida e é a melhor música do Sonic Youth. Só nunca durma ouvindo esse disco, dá pesadelo. Já rolou isso comigo.

Sonic Youth 2.0 - Um pé aqui e um pé lá

A partir do disco EVOL (Love ao contrário) a banda começou a abrandar um poquinho e considerar aceitável começar a fazer algo que se parece um pouco mais com músicas de rock (até com pitadas de pop). Ainda tem muito da estranheza e abstração do início (aliás até hoje ainda tem), mas aos pouquinhos você sente que estão tateando e aprendendo como fazer música "convencional" de maneira muito particular e com muita personalidade. Essa fase de transição gerou discos muito interessantes. É um som muito único que é pop mas não é de jeito nenhum. Acho que a principal mudança foi atmosférica: ficou mais para excêntrico e rebelde e menos para dark. Eles ficam nessa transção até o disco Sister. O Sister e o Evol são indecentes.

Sonic Youth 3.0 - Sonic Youth vira o Sonic Youth

Os discos que vieram logo depois do Sister são aquele momento mágico (e que invariavelmente acaba sempre sendo o ápice de qualquer banda) em que os músicos "acham seu som". Quase toda boa banda (repare) se divide entre tentativas de encontrar o que eles são, o ápice (quando eles exploram esse som encontrado) e depois variações mais ou menos ousadas do que eles descobriram. Tem bandas que se "descobrem" mais de uma vez (caso do U2).

Os discos "Daydream Nation", "Goo", "Dirty","Experimental Jet Set, Trash And No Star" e "Washing Machine" representam essa fase do Sonic Youth para mim. Quando a maioria das pessoas fala e pensa em Sonic Youth quase sempre se refere a esta fase. Eles descobriram quem são, o que querem e exatamente como fazer. Basicamente, o balanço perfeito entre pop e abstração, entre rock e viajeira, entre experimentação e curtição. Repetindo: o balanço perfeito. É literalmente a maturidade da banda, sem a conotação de caretice que essa palavra tem.

O Daydream Nation é o melhor disco do Sonic Youth. O Daydream Nation aparece rotineiramente em listas de melhores discos da história e é garantido em listas de melhores discos dos anos 90, muitas vezes em primeiro lugar. Dizem que a turnê dele foi uma das turnês mais lendárias da história da música - a banda estava pegando fogo, destruindo os palcos, pirando todo mundo. Foi também o disco que "estourou" eles. Hoje eles estão fazendo uma turnê onde tocam esse disco inteiro, e na ordem. E eu acho o Goo tão bom quanto.

O Dirty é o "disco pop do Sonic Youth" (daí o nome). Eu amo ele e por ser um pouquinho mais convencional é ótimo para começar a ouvir a banda. Tem gente que vai me bater mas eu admito que não sou muito fã do Washing Machine, apesar que ele tem Diamond Sea que é a música mais bonita da história da humanidade.

Sonic Youth 4.0 - não temos mais nada a provar

Aqui a banda já durou, já entrou para a história do rock, já conseguiu ganhar respeito e reconhecimento absurdos sem nunca comprometer o que fazem, ou seja, já conquistou o que queria. Eu sinto que a partir do disco A Thousand Leaves até hoje (o que inclui o NYC Ghosts And Flowers, Murray Street, Sonic Nurse e Rather Ripped) o Sonic Youth relaxou. Não relaxou no sentido negativo, mas se tornou um pouco mais sereno, trocou parte do "fogo" por algumas coisas mais meditativas e de forma geral trabalha com mais liberdade (fazendo discos super abstratos quando quer, caso do NYC Ghosts And Flowers e até mais pop que o Dirty, caso do Rather Ripped). A banda continua ótima - tem gente que vai preferir essa fase mais "livre e solta", mas eu acho que você deve passar para esses discos somente depois que ouvir os do Sonic Youth 3.0. De qualquer maneira a banda é prolífica - você nunca fica muito tempo sem coisa nova deles para ouvir - e e nunca decepciona.

E esses SYR?

SYR significa Sonic Youth Recordings e são os discos lançados pela própria banda. Já existem 7 e foram saindo desde 1997 até um recente que saiu agora em 2008. Normalmente eles jogam para esses discos coisas que eles fazem quando querem CHUTAR O BALDE MESMO. São os mais experimentais e malucos e algumas vezes são de fato inaudíveis - o 4, chamado Goodbye 20th Century tem músicas que são simplesmente gente batendo panela ou a uma faixa que é só a Yoko Ono gritando.

Tem mais?

Fuce, porque tem muito mais. Discos de trilha sonora (como o Made In Usa, feito na época do EVOL), coletânea de B-Sides (The Destroyed Room, saiu tem pouco tempo) e vídeos legais, e mais uma porção de coisas. Outra ótima maneira de iniciar na banda é assistir todo o DVD Corporate Ghost: tem todos os clips desde o inicinho e quando acaba você sai com sensação que teve uma ótima visão panorâmica da carreira deles. E provavelmente se pergunta por que você estava perdendo isso.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Guia Rise From Your Grave para a discografia do Sonic Youth Parte 1/2



Eu vejo 3 filhos diretos do punk da década de 80: o post-punk (bandas que de certa forma foram a continuação do negócio, expandindo as idéias mas fiéis às bases - daqui veio muitos netinhos bacanas como o gótico e o shoegaze); a new wave (bandas que levaram a idéia simples e direta do punk para o pop - basicamente tudo dos anos 80 que é pop se não é new wave é influenciado por new wave - daqui vem de Blondie a Talking Heads); e o filho rebelde ovelha negra obscuro, o NO wave, que foi um movimento muito curto e autodestrutivo mas que gerou umas bandas interessantes como o DNA e os Swans.

O no wave era uma espécie de anti-new wave que levava somente as idéias mais radicais do punk em consideração, tipo anti-comercialismo, quebrar barreiras e convenções e agressividade. As bandas de no wave sempre eram absurdamente experimentais, nunca usavam os instrumentos "como eles deveriam ser usados" (tipo, uma guitarra nunca soa como uma guitarra) e eram frequentemente abstratas e absurdas ao mesmo tempo em que eram super auto destrutivas. Resumindo: um monte de louco fazendo anti música. E o público era formado por loucos que gostam de anti música. A maioria durou pouco e nenhuma ficou REALMENTE conhecida, mas foi bastante influente para o rock alternativo. O movimento foi documentado num livro famoso que parece muito bacana e que ainda pretendo ler chamado Kill Your Idols.

Uma das figuras chaves ligadas ao no wave era o Mr. Glenn Branca. Entenda o Glenn Branca como um compositor de música clássica que compõe música estranha e avant-garde para guitarras. Tipo, peças para serem tocadas por 100 guitarras ao mesmo tempo (em 2001 ele conduziu essa peça na base do World Trade Center). Ele é conhecido por (além de ser um doente) ser um dos adeptos da micro tonalidade (explorar os sons que existem ENTRE as notas, tipo entre o Dó e o Dó Sustenido (!!) e um dos maiores adeptos de afinações malucas. A afinação padrão da guitarra é a clássica Mi-La-Ré-Sol-Si-Mi; todo mundo usa algumas variações (tipo jogar todas as cordas meio tom para baixo para ficar mais grave, afinar a primeira corda em Ré para poder fazer uns acordes mais metal ou usar de "afinações abertas" para poder tocar com slide). O Glenn Branca não está nem aí para nenhuma delas e afina as guitarras de maneiras completamente bizarras e não ortodoxas - tipo afinar todas as cordas na mesma nota ou coisa pior.

Lá para 1981, uns moleques punks fãs de Ramones viciados em rock (e com profundo conhecimento e amor pelo passado do estilo) se empolgaram com o No Wave e aprenderam a tocar guitarra com o Glenn Branca, e começaram sua banda que era a soma destas coisas, basicamente uma interpretação do No Wave com foco nas guitarras, uso de sonoridades alternativas (principalmente nas afinações, "se você afina padrão você soa padrão" eles já disseram - isso quando eles não estão tocando guitarra com uma baqueta de bateria ou esfregando ela na câmara de um repórter derrubado por eles no chão como fizeram noshow que eu fui) e espírito punk. Isso é o Sonic Youth.

Sonic Youth para mim são as músicas punk juvenil do Thurston Moore, as músicas psicopatas from hell da Kim Deal e as músicas abstratas viajeira do Lee Ranaldo. Só que às vezes inverte e bagunça tudo esses papéis. Eles nunca fazem o que você está esperando.

Hoje a banda tem mais de 20 anos e caminha para os 30. Sonic Youth é uma das bandas chave da história do rock e essencial para quem quer entender o que é rock alternativo. Para mim é essencial para quem gosta de música. O ex-namorado chato da minha irmã que não gostava de rock gostava de Sonic Youth porque ele considerava eles "música erudita" (só porque ele quer, na verdade é um imbecil, mas citei ele porque lembrei que até quem não gosta de rock acaba se dobrando a eles). Nesses anos todos já passou por diversas fases, já fez muita música abstrata viajeira estranha e colaborou com tudo quanto é compositor avant-garde, já fez pop de cantar junto, já fez música de dar medo, fez coisa muito from hell e ao mesmo tempo fez A música mais bonita que eu já ouvi na minha vida (é sério). Nessa brincadeira a discografia tem 15 discos, 7 eps, 3 coletâneas, 7 vídeos, 21 singles, 7 discos SYR (depois explico o que é isso) e contribuiu para 16 trilhas sonoras. É muita coisa.

No próximo post dou uma guiada pela minha relação com os discos mais importantes e tento ajudar quem está querendo conhecer.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Da Série Random Music - Esperando o Milagre Chegar


Existe música que capta de uma maneira tão brutal e honesta e direta e sem firulas o sentimento de tristeza que acaba saindo de uma maneira mais poética e bonita que a própria tristeza verdadeira; dá vontade de ficar triste. E se você estiver triste quando ouvir, acaba, de certa forma, se sentindo menos sozinho já que alguém passou por aquilo e registrou para você absorver depois. Existem diversos tipos de tristeza, claro - desde a melcancolia que é mais "de saco cheio do mundo" (Walkmen) até a tristeza raivosa (Nine Inch Nails). Para mim o rei de conseguir captar a tristeza de verdade - na verdade, de conseguir captar qualquer sentimento que dê na telha dele, mas muito frequentemente ele opta pela tristeza - é o Mr. Leonard Cohen.

Leonard Cohen faz parte daquela escola de camaradas que é mais escritor que músico (na verdade o Canadense realmente lançou o primeiro livro antes do primeiro disco). Só que muitas vezes ele escreve para cantar junto com violão (com uma puta voz expressiva) e não para ser lido. Se ele fosse só um escritor, já seria um escritor fodaço - que consegue escrever com um sentimento absurdo que eu só posso chamar de esmagador. E quando ele coloca esses sentimentos em música sai algo que só se pode chamar de mágica. O estilo é folk - um folk sinistro com um violão simples e tristonho e uma voz roucona e grave que obviamente processou muitíssimo cigarro e bebida e está ali para cantar sobre isso - mas é completamente atemporal. Dá a impressão que poderia ter sido feito em qualquer época. Mas não por qualquer um.

E o som do Leonard Cohen também não é para qualquer um. Não quero dizer que Leonard Cohen é "só para a elite". Quero dizer que em um tipo específico de personalidade - acho que de maneira geral só quem tem um pouco mais de sensibilidade e já passou por maus bocados vai conseguir entender ele de verdade. Mas que não fique a impressão que ele só faz música triste - ele canta sobre tudo, e consegue ser tão esperançoso quanto devastador. Depois de ouvir "The Future" -

Give me crack and anal sex
take the only tree that's left
stuck it up in a hole in your culture
I've seen the future brother
it is murder

escute "Suzanne" -

And jesus was a sailor
When he walked upon the water
And he spent a long time watching
From his lonely wooden tower
And when he knew for certain
Only drowning men could see him
He said all men will be sailors then
Until the sea shall free them

Caramba. Eu realmente queria escrever assim. :-(

Ainda bem que ele anda sendo reconhecido. A primeira música que toca no Assasinos Por Natureza é dele. Todo mundo - desde Bob Dylan até as bandas do indie de hoje - já prestaram homenagem. U2 gravou Tower Of Song. Nick Cave declarou que descobriu que queria ser músico quando ouviu o Songs Of Love And Hate na casa de uma garota. Há pouco tempo fizeram um filme homenagem para ele chamado I'm Your Man. Confira. E fico feliz inclusive de saber que ele meio que achou um caminho para ele - assim como o David Lynch hoje ele é adepto da meditação e diz que é a única porta para a felicidade.

Uma das músicas mais famosas do Leonard Cohen diz que ele está esperando o milagre chegar. Para nós, desde 1934, ele já chegou.

Comece por - a discografia é grande, então para ter uma visão geral escute a coletânea dupla The Essential. Mas qualquer coisa dele é foda. Inclusive as mais atuais, o que é raro em uma carreira de 40 anos.

Nota: periga vir para o Tim Festival

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Da Série Random Music - Onde Você Vai Eu Também Vou


Música eletrônica pode ser feita de muitas diferentes formas e texturas. Se você pensar bem, música eletrônica é a mais ilimitada de todas, porque não é dependente da possibilidade dos instrumentos - tem barulhos que simplesmente não vão sair do trompete não importa como você sopre - e nem da técnica e do músico que está manipulando o instrumento. Se o camarada dominar legal as ferramentas (softwares no geral) é música limitada somente pela imaginação. Embora sofra muito preconceito porque não é música que está sendo tocada, é música que foi programada para ser tocada daquela maneira - e também por ser "fácil de fazer" (com muitas aspas) acaba sendo chão fértil para muita gente sem criatividade e repetitiva, quando alguém que tem talento mesmo usa de música eletrônica, invariavelmente comanda o batatal.

Para mim é o caso do Mr. Hans-Peter Lindstrøm. Esse camarada é norueguês e tem uma personalidade muito forte musicalmente falando. Resumindo, esse produtor (que toca simplesmente com o nome de Lindstrøm) gosta de sons bonitos. A música dele no geral é dançante, cativante, divertida, e de muitíssimo bom gosto - cada timbre, cada sonoridade, cada barulinho escolhido ou trecho de sampler ou linha de sintetizador - é limpo, harmônico, bonitão, e dá uma sensação de um lance de bom gosto. Não é sinistro, obscuro, sujo - é o contrário total disso, é ensolarado, limpinho e caprichado. E é muito foda.

E, mais legal ainda, não é unidimensional. Eu conhecia o Lindstrøm como um produtor muito bom que fazia música eletrônica bonita mas bem dançante e com uma influência lá no fundo da levada do disco (aquele mesmo da década de 70). Aí o cara me vem esse ano e lança um disco com só 3 músicas (gigantes, só a primeira tem tipo 30 minutos) destruidoras, viajantes e bem feitas, mas ao mesmo tempo mantendo tudo que eu gosto nele. Esse disco é o Where You Go I Go Too e me lembra ouvir um disco de jazz tipo o Bitches Brew do Miles Davis. Na próxima vez em que for fazer uma caminhada maior, vá ouvindo ele no fone - você vai caminhar por outros planetas.

Quero dançar bêbado - It's a Feedelity Affair
Quero viajar para outra dimensão - Where You Go I Go Too
Outro produtor que segue essa onda de sons limpos e bonitos - Herbert, principalmente o ótimo disco Scales

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Da Série Playlist - queimando a bateria do meu ZombiePod

The Walkmen - You And Me
A banda já era foda (já inclusive postei sobre eles), e resolveram só para dar uma reguingada ficar mais foda e fazer um disco que ainda está em absorção mas acho que tem boa chance de ser o melhor deles. Só porque eles podem. Pega tudo que é bom no Walkmen (melancolia, arranjos que parecem de música antiga, uns timbres interessantes meio obscuros, jeito de cantar bebum e muito clima) e eleva à enésima potência. Não é um disco em que eles mostraram um som novo, é um disco em que eles pegaram o som velho e aperfeiçoaram até quase a perfeição. Não preciso de mais nada. Um dos top 2008 fácil.

Slipknot - All Hope Is Gone
Polêmica entre a moçada do metal (típica banda tão amada quanto odiada) eu vejo os furos que existem no Slipknot mas acho que quando eles querem quebrar tudo eles conseguem fazer bem. Ainda mais agora que eles estão tentando ser o Slayer e trabalhando com uns elementos do metal mais tradicional que era ausente deles - tipo, solos de guitarra. Respeito um disco que diz "give me a minute and I'll change your mind/give me a bullet and I'll change your life". Só pelo batera já vale ouvir esses caras. Quando eu canso da sutileza do Walkmen coloco esse disco, quando eu canso da trogloditice do Slipknot coloco o Walkmen.

Wale - The Mixtape About Nothing
Disco de hip hop baseado no Seinfeld (!!?!?!), Wale me lembra Lupe Fiasco (o que é um puta elogio) com aqueles arranjos de hip hop soul que são uma das melhores ondas do hip hop atual e um estilo vocal bem malandro e cadenciado. A música The Kramer (onde ele pega o incidente onde o ator que faz o Kramer na série quebrou o pau com um negro e mandou uns insultos racistas como gancho) é um dos comentários mais inteligentes e fodas sobre racismo que eu já vi e uma das melhores músicas de hip hop que eu já ouvi na vida. De boa.

Jay Reatard - Singles 06-07
Garoto louco que tem duzentas bandas e lança 500 discos por ano, essa coletânea de singles mostra o lado mais interessante dele - manicação com punk véio. Punk véio MESMO, tipo, parece uma versão atualizada de Richard Hell, com gravação tosca, músicas de no máximo 2 minutos e tudo. Gostei MUITO desse carinha. Não dispense se você gosta de punk. E se não gosta pode ser uma boa porta de entrada. Dizem que o show é lendário.

The Incredible Bongo Band - The Incredible Bongo Band
A banda incrível do bongô (YES!) nunca foi uma banda de verdade, na verdade é uma moçada que se juntou para gravar a trilha de um filme trash dos anos 70 (The Thing With Two Heads) e fez um som funkeira instrumental tão inescrupuloso e do caralho que vendeu 1 milhão. Aí resolveram continuar. Se quiser imaginar o som, é exatamente o tipo de música 70 funkeada, excêntrica e cativante que tocaria fácil em uma festa que acontece no apartamento de alguém sujeira de algum filme do Quentin Tarantino. Tirando que você pode falar para os outros que é fã de "The Incredible Bongo Band" huUhuhhuhauhauaha.

(normalmente eu coloco as capinhas dos discos nesses posts mas falta de tempo + link lento me ferraram. qq coisa pode pedir seu dinheiro de volta)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Da Série Random Music - take a walk on the wild side

Mirian como eu te disse todas as pessoas legais tocam com Telecaster

Você já decorou todas as letras do Velvet Underground? A polícia da música parou meu carro ontem e me pediu para cantar The Gift, e eu apanhei porque a letra tem tipo umas 10 páginas. Fica esperto porque tão falando que eles estão pegando todo mundo. Eu só consegui sair porque subornei eles fazendo air guitar para as microfonias que tem no final do White Light White Heat, e ainda assim só em deixaram ir porque eu fiz de um jeito engraçado.

Quando terminar de viciar em Velvet, a sua obrigação moral passa a ser escutar a carreira solo do Lou Reed. O Lou Reed é um cara que eu gostaria de me relacionar somente pelos discos dele. Quem leu o Mate-me Por Favor sabe que ele é um dos caras mais escrotos do mundo da música. Ele realmente talvez tenha sido o primeiro punk: viciado em heroína por séculos (e escrevendo letras sobre como é legal ser viciado em heroína), só namorava travestis (!!!) e basicamente era o cara mais ácido, sarcástico e babaca do planeta. O Lou Reed me lembra o Miles Davis: eu lembro de quando eu vi o documentário sobre o Miles fiquei me perguntando como um cara tão tosco conseguia ter ao mesmo tempo uma sensibilidade absurda para música. Ou ele é um puta de um ator (tão bom que nem importa se é real ou não o que ele está passando nas músicas) ou ele no fundo é uma pessoa muito diferente do que mostra.

De qualquer maneira, a onda do Lou Reed é bacana porque é como as guitarras da Fender: sem firula nenhuma, nem frescura, sem adornação, só tem o que você precisa e nem um centímetro a mais: simples e perfeito. O disco Transformer consegue (além de conseguir ser um dos melhores discos de rock que eu já ouvi) ao mesmo tempo ser algo super minimalista (tem música que tem praticamente só baixo e voz) e tão trabalhado que tem anos que eu escuto ele - e muito - e ATÉ HOJE toda vez que eu escuto e reparo em alguma coisa que sempre esteve lá e eu nunca tinha percebido.

Tirando o fato de que o Lou Reed é um dos melhores letristas do rock e ponto final. Se você não fica melancólico escutando Perfect Day você tem um pedaço de papelão embrulhado no lugar do seu coração (lembra quando ela toca na cena da overdose no Trainspotting?). Tente não sentir calafrios ouvindo The Bed - a música que ele fez sobre a cama onde a mulher dele se matou (é ficção mas ainda assim - tenta). E o Lou Reed ainda tem o mérito de ter colocado no top 10 a música menos candidata a entrar no top 10 da história - Walk On The Wild Side, que é basicamente uma série de histórias (pesadas) sobre o submundo da américa, sobre travestis que oferecem favores sexuais em troca de carona para baixo. E tocava no rádio. O Lou Reed até hoje é uma espécie de poeta gangsta - basicamente um cara que escreve músicas lindas (mesmo) sobre temas muito pesados e com um ponto de vista que só pode realmente possuir quem realmente esteve lá naqueles buracos.

Agora sem brincadeira: independente de gostar de Velvet ou mesmo de gostar de rock, se você gota de música deve a si mesmo escutar pelo menos uma vez na vida pelo menos o Transformer, de preferência prestando atenção nas letras. Até minha irmã viciou nesse disco, e ela é fã de música baiana.

Nota: cuidado ao pegar discos do Lou Reed, ele é tipo o David Bowie, faz coisa perfeita mas faz coisa horrível. Tem discos dele que ele próprio zoa quem conseguiu ouvir todo (por exemplo, o Metal Machine Music é um disco INTEIRO de barulho de microfonia de guitarra)

Comece por - Transformer
Disco mais Lou Reed - Transformer
Depois de enjoar do Transformer (osso porque o Transformer não enjoa) - Berlin
Depois de enjoar do Berlin - New York

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Da Série Random Music - Ela não usa geléia


Era uma vez no início dos anos 80 em Oklahoma alguns irmão que gostavam muito de:
  • Se drogar
  • Jogar futebol americano
  • Se drogar
  • Rock psicodélico
  • Se drogar
  • Histórias absurdas e bizarrices culturais em geral
  • E se drogar
As tardes destes irmão eram passadas jogando com seu time de futebol americano (chamado fearless freaks), fumando maconha (ou coisa pior) e ensaiando música absurda, altamente experimental e sem sentido com um pé no punk com sua banda na garagem. Quando começaram a tocar na cidade o show era basicamente uns garotos com cabelo rosa fazendo muito barulho com seus instrumentos , cantando músicas como "Jesus Shootin' Heroin" e "Charlie Manson Blues" (na verdade os títulos mais agressivos que as músicas em si, que normalmente são fluxos de consciência viagem e muitas vezes sem sentido mesmo). E o Flaming Lips era uma banda interessante porém não necessariamente um grande destaque. Então mais ou menos na altura do disco Transmissions From The Satellite Heart algo aconteceu.

Na minha opinião, esse algo foi o aprofundamento ao mesmo tempo de tudo que eles faziam. Inclusive do uso de drogas (o guitarrista toma um pico de heroína na frente da câmera no documentário sobre a banda que eu vi - enquanto Wayner Coyne, o vocalista, sempre defendeu o direito de quem quiser usar o que quiser ele foi o responsável pelo fim do vício do camarada quando apelou pela única vez na vida e lhe deu um soco na cara). Flaming Lips deixou de ser mais uma banda de punk psicodélico agressivo e divagante e deu uma abrandada violenta, sacando que o universo mais mauco, colorido, psicodélico e viajante é o universo infantil (pelo menos essa é a leitura que eu sempre fiz deles). Então o som deu uma virada forte para o pop - pop bem experimental mas bem feliz e malucão, e sempre com um pé no som antigo deles. As letras adquiriram uma espécie de inocência e deslumbramento com o mundo que deixam elas super bacanas e comoventes - só que não deixaram de ser excêntricas para cacete. E eles passaram a encher o palco de pessoas vestidas de bichinhos dançando (!!!), efeitos especiais estranhos, fantoches de freira fazendo backing vocal e uma bolha gigante (!) onde o vocalista entra e sai rolando por cima da platéia.

É por isso que a Juliete Lewis declarou que ir no show do Flaming Lips é como uma experiência religiosa. É por isso que na tira Questionable Content usaram Flaming Lips para ensinar à garotinha gótica o que é felicidade ("estou me sentindo estranha!") uahauhauahau :-)
Eu fui no show do Flaming Lips e presenciei uma multidão cantando emocionada, isqueiros acessos para cima, uma música sobre uma garotinha que tinha que enfrentar os robôs gigantes. E depois eles tocaram War Pigs do Black Sabbath.

Comece por - Yoshimi Battles The Pink Robots
Um dos discos responsáveis pela ascensão do indie no mundo do rock - The Soft Bulletin
Melhor disco (tem gente que vai discordar) - The Soft Bulletin
Disco quádruplo cujos 4 discos precisam ser tocados ao mesmo tempo em 4 aparelhos de som diferentes - Zaireeka
Imperdível também - Transmission From The Satellite Heart
Toca bastante na trilha do Little Miss Sunshine - At War With The Mystics
Não comece por - os primeiros

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Da Série Random Music - Você vai nos conhecer pela trilha de mortos


Dizem que o nome foi foi tirado de uma mandinga dos maias (uma grande piada na verdade). Mas o fato é que não dá para ignorar que a primeira coisa que chama a atenção na banda é o nome. Apesar de ser totalmente adepto da música digital hoje, não nego que era muito bacana a época em que íamos fuçar cd em lojas e alguns deles chamavam sua atenção pelo nome ou pela arte das capas. E parece um jeito idiota de descobrir música mas uma capa e um nome de disco diz muito sobre o que a banda quer passar sim. Imagine você na loja e de repente vê um disco com esse nome e essa capa.

A segunda coisa que chama atenção é o show. Já foram chamados de "Slipknot do indie" não porque tocam pesado (apesar de frequentemente ser bem barulhento) mas pela caotiqueira do palco. Músicas extendidas com improvisações e barulhos e microfonia vão se transformando uma na outra. Pessoas agitam e gritam e sangram no palco. Instrumentos são destruídos desde a segunda música. No final do show o palco é um monte de escombros e a banda tem que comprar equipamentos novos. Quem sobreviveu na plateía sai, de alguma maneira, transtornado. Deve ser por isso que a banda se chama ...And You Will Know Us By The Trail Of Dead.

Nada disso valeria alguma coisa se o esquema fosse "imagem interessante e som nem tanto". Mas graças a Deus não é o caso aqui. ...And You Will Know Us Bu The Trail Of Dead (ufa) foi uma das melhores bandas do indie dos anos 90. O som é contundente, mas melódico: lembra um pouquinho Sonic Youth, mas é menos experimental e mais diretão. Na verdade, imagine uma performance bem emocional e intensa como a do Arcade Fire (inclusive com boas letras), até meio que desesperada, só que troque todos aqueles milhões de instrumentos por guitarras. Ou imagine um pessoal ao mesmo tempo MUITO barulhento mas MUITO melódico e você vai sacar que é uma banda MUITO bacanuda (o Leandro gosta MUITO deles e quer MUITO que você escute) :-D.

Dê preferência aos primeiros discos, onde eles eram mais afiados e controlavam melhor o caos. Depois eles decidiram se tornar uma espécie de banda progressiva indie e ficou menos interessante (talvez elaborado demais e perdeu muito da onda direta deles). Ah, e se eu fosse da gravadora ia colocar algum esquema mega tecnológico no cd que fizesse sempre o seu som saltar para um volume troglodita-espanca-os-vizinhos quando você colocasse o disco. Se não puder escutar bem alto, não escute.

Comece por - Source Tags And Codes
Disco mais Trail Of Dead - Source Tags And Codes
Um dos melhores discos do indie da década de 90 - Source Tags And Codes
Um dos raríssimos discos a ganhar 10.0 do Pitchfork Media - Source Tags And Codes
Cansei do Source Tags And Codes - Source Tags And Codes
Sério, cansei mesmo - escute o disco Madonna
E depois? - vá para frente na ordem cronológica mas saiba que a banda perdeu um pouco depois disso