quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Da Série Random Music - Os Potros

Tente imaginar algo mais distante do rock que matemática. Sério. Eu tentei e tudo que eu imaginei aqui era pelo menos um pouquinho rock. Até axé. Até carrosel de parquinho de diversão. Menos matemática. E como a vocação do rock é justamente confrontar e juntar e fazer o que não devia, é lógico que já existe o estilo que é conhecido como Math Rock. E, ainda por cima, anda um bocado popular.

Normalmente acaba com o rótulo de math rock a banda que é focada em técnica, em usar tempos ímpares esquisitos, em colocar nas músicas um monte de melodia maluca diferente acontecendo ao mesmo tempo e se entrelaçando de maneiras não óbvias. É um som complicado, sempre bastante experimental e frequentemente difícil de ouvir, mas muitas vezes inovador e interessante também. Isso não é progressivo? Minha interpretação é que o rótulo math rock acaba caindo para bandas que usam sua técnica para fazer música maluca de uma maneira interessante e o progressivo é técnica por técnica de um jeito chato. :-)
Talvez a banda mais conhecida que flerte com math rock seja Tool, e como eles várias bandas levam para o lado pesado - Dillinger Escape Plan ou Krallice, por exemplo. Já outras exploram o experimentalismo ao máximo (Battles, que merece seu próprio post) ou que aplicam esse conceito em outros estilos, por exemplo o eletrônico (Autechre).

E em algum momento, alguém teve a idéia bacaníssima de aplicar as idéias do math rock em um contexto mais acessível, pop, divertido e até dançante. Ou seja, música maluca cheia de linhas diferentes e interessantes tocando ao mesmo tempo endoidando sua cabeça mas dispostas em um tempo mais balançado com vocais pop e um espírito indie. Esse som é feito com guitarras + um bocadinho de techno minimalista por uma banda de Oxford conhecida por dar um show mega selvagem (peguei um pedacinho dele no Planeta Terra e constatei que é verdade) e por ter um vocalista recluso que vive meio quie isolado do mundo, aposto que criando música legal dentro da cabeça doida dele. Essa banda é os Foals, e com um (ótimo) disco só tem feito um bocado de barulho.

De início pensei que era mais um Rapture - banda de disco punk que gerou um milhão de imitadores que fazem esse som indie dançante - mas tinha alguma coisa a mais, e um primeiro indicador foi que as texturas são todas limpíssimas. É cantado com voz limpa, as guitarras são todas limpinhas e definidas, bem como os sintetizadores, o que meio que vai de frente com a maioria desse tipo de banda. Depois reparei no quanto é trabalhadaço e difícil de tocar - o que não é esfregado na sua cara o tempo todo como no progressivo. E ainda assim é divertido e não cerebral. Foals chegou em uma fórmula única, que pode ser uma faca de dois gumes. Daqui para frente eles vão ou crescer e expandir essa fórmula e se tornar uma banda relevante para valer ou vão (também vejo acontecer muito) se tornar escravos desse som novo que descobriram.

E até eles se decidirem, continuo me divertindo muito com o seu antídoto.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

com certeza eu não vou voltar vivo

Acabo de ver o DVD do Radiohead tocando no Belfort Festival na França e mesmo pela tela quando começa os primeiros acordes de Karma Police você já arrepia... ou de Just... ou de Everything In its Right Place... ou de 2+2=5....ou de... ou de......

Da Série Random Music - Nada nunca me aconteceu

Imagine-se em um estado de espírito triste, beirando o deprê, sozinho em um quarto escuro e fechado sem querer sair, mas de certa forma confortável com isso. Imagine alguém passando por isso, uma espécie de isolamento triste sim mas de certa forma desejável e calmo e quieto e se perdendo dentro da própria cabeça. Imagine o dia passando e esta pessoa se perdendo cada vez mais em pensamentos abstratos e difíceis de explicar de forma coesa. Imagine se essa pessoa consegue colocar todas as sensações e viagens e tristezas e sentido de calma e leveza mas ao mesmo tempo confusão e ansiedade em um disco.
Isso é escutar Deerhunter para mim.
Deerhunter é de Atlanta e é uma daquelas bandas que foram complicadas desde o início - muitas mudanças na formação, morte do baixista e eu tenho certeza que esse vocalista (Bradford Cox, que também grava como Atlas Sound) é anoréxico, como você pode ver na foto - e o fato de usar muitos efeitos bizarros no vocal e cantar bem baixinho no mix, o que faz você ficar querendo voltar nas músicas para entender melhor o que ele está dizendo, solidifica a imagem de "cara estranho". Eles auto descrevem seu som como "ambient punk" e quando eu ouvi isso fez sentido, porque é bem leve e espalhado e cantado com vocais sussurrados, mas é intercalado por umas guitarras barulhentas e outros tipos de barulho texturais e abstratos - que vão ficando mais presentes à medida em que você avança no disco, como se você estivesse se perdendo dentro da sua viagem mesmo.
O que me parece que é uma sensação bem conhecida do Mr. Bradford que é nem sempre consegue produzir porque não é lá uma pessoa muito estável. No fundo é um som único mesmo, e é indie do melhorzão - com tudo que isso tem direito, inclusive expressividade e personalidade de sobra. De certa forma essa foi a banda que conseguiu transformar milagrosamente tristeza e ansiedade pesadas em um som leve, bonito e agradável e que não perde o sentido de onde veio. Na verdade é uma banda que você VAI gostar se for fã de Radiohead - e não se parece com Radiohead. Legal, hein?

Deerhunter anda merecidamente ganhando bastante crédito a partir de 2008, e aguarde pelo menos um semi estouro destes caras, no mínimo entre quem gosta de música alternativa. E não esqueça de dar boas vindas a uma das melhores bandas da atualidade.
Cemece por - Microcastle

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Da Série Random Music - Ânsias Maldosas

Uma das músicas mais famosas e bacanas do Smashing Pumpkins, Cherub Rock, é um comentário pessoal do Billy Corgan em relação a um fator que (ele acredita que) gera muito da esquisitice e gravações low fi e supervalorização do anti comercialismo que existe principalmente no indie rock: medo de fazer alguma coisa boa. Embora eu ache que talvez ele esteja simplificando o lance (em muitos casos eu gosto da estética lo-fi, acho anti-comercialismo uma atitude importante para preservar a obra e muito da graça do indie é justamente a esquisitice) entendo o que ele quer dizer quando vejo esses fatores ganharem mais foco que deveriam e acabarem atrapalhando mais que ajudando a música. E sim, acho que em alguns casos no fundo é um medo ou insegurança de tentar fazer algo bom de verdade e é fácil se esconder atrás do rótulo "eu sou mega experimental" (de novo, amo música experimental, mas quando é de fato um exercício de criatividade e não algo forçado.

Mas também existe dentro do indie rock uma corrente bem oposta disso, que quer fazer música simplesmente ÉPICA, bem gravada, produzidaça, cheia de firulas e tocar isso ao vivo com o palco cheio de gente tocando banjo e maracas, dar shows bombásticos, solos, ser resumidamente uma grande banda de rock como isso era entendido sei lá, na década de 70. A maioria dessas bandas inclusive se aproxima do que hoje os gringos chamam de "classic rock" (eu entendo como "classic rock" tudo que um fã de Led Zeppelin poderia achar legal) mas com - atenção - algo mais que faz a banda ser bacana para mim que não escuto Led. Esse algo mais costuma ser um espírito mais livre e inventivo, menos preocupação em ser "rock" e mais compromisso com simplesmente fazer boa música. No fundo, imagine se o Radiohead deixasse de ser louco e quisesse tocar algo mais próximo do Deep Purple ou do The Who; é meio que essa a idéia. E dá resultados bacanas. Inclusive falei muito aqui de uma banda que se enquadra nisso e que eu ando muito fã - The Hold Steady.

Outra banda que coloco neste balaio - inclusive na minha cabeça eles devem ser amigos de birita do pessoal do Hold Steady - é um pessoal que recebeu seu nome quando o vocalista fuçou no que restava do seu bar favorito que pegou fogo e achou uma jaqueta com as iniciais MMJ - daí começaram a tocar com o nome de My Morning Jacket. Chamaram atenção do pessoal que gosta de música alternativa como uma banda que faz um rock meio sulistão - ou seja, com influência de country - só que de uma maneira mais viajante e emocional socada de reverb e delay e chamou atenção de cara. A banda destesta ser chamada de rock sulista e fez discos cada vez mais ecléticos para fugir do rótulo, e são músicos com M maiúsculo para isso - a banda inclui desde saxofone até guitarra slide tocada deitada no colo (pedal steel), e é daquele tipo que "todo mundo toca pra carai". Em um mundo ideal, ao invés de disco do Queen toda casa teria pelo menos um disco do My Morning jacket: tem coisa para seu pai porque ele vai lembrar de rockão 70, tem coisa para você que vai lembrar de Radiohead, tem coisa para seu irmão metal porque é bem rock, para sua irmã pop porque é bem bonito, para sua mãe que prefere soul tem alguma coisa ali também.

Os show da banda são nada menos que lendários -às vezes chegam a 4 horas - e exemplificam bem do que eu estou falando: no festival Bonnaroo deste ano tocaram cover de Erika Badhu, Sly And The Family Stone, Motley Crue e Velvet Underground (além de James Brow e Funkadelic e ainda outras coisas). Se pudesse bater tudo isso no liquificador e colocar o ingrediente secreto - talento e personalidade - eu ia fabrica uns 10 My Morning Jackets por dia.

Mas o maior elogio que eu tenho para eles tem muito a ver com o que eu sempre falo de Radiohead: é música totalmente centralizada e focada em ter uma alta carga emocional. Esquece tudo que eu falei acima que isso faz a banda funcionar sozinha: todos os instrumentos (elogiando aqui muito a interpretação do vocal, mas não só ele) são tocados com uma puta paixão e intensidade e preocupação com passar sensações reais e relevantes e marcantes. Qualquer banda merecedora desse elogio, de qualquer estilo (e são poucas) é merecedora dos meus ouvidos.

Dever de casa para o fim de ano - fazer uma sessão de birita forte + Hold Steady + My Morning Jacket e mostrar para seu pai que foi feita música depois de 1974 que pode interessar a ele.

Comece por - Okonokos (disco duplo ao vivo destruidor)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Da Série Random Music - Joãozinho Trovão

Já ouviu falar do John Anthony Genzale Jr.? Garoto filho de italianos nascido no Queens, Joãzinho mexeu com música a vida inteira - desde sua primeira banda quando assumiu o título de Johnny Volume e sempre se dedicou com muito afinco à sair de noite, agitar e uma boa quantidade de drogas muito pesadas (heroína principalmente). E esse cara começou a ficar relevante quando se juntou a outros camaradas tão sujeira e sem noção quanto e formaram uma lenda chamada New York Dolls.

NY Dolls apareceu bem na época em que o rock progressivo e os pop setentótites estavam no auge absoluto (1971) e foi algo realmente único. Basicamente um bando de marginais que não eram gays mas só tocavam vestidos de mulher, a proposta musical foi o combustível e a ideologia que gerou o som do punk - aliás, enquanto o Velvet Underground é tipo como o avô tanto do punk quanto do indie, os NY Dolls e os Stooges são considerados os pais - que era: rock sujo, inescrupuloso, rasgado, simples e direto na veia, marginal e antes de tudo divertido. Apesar de desaprovar o termo "punk", estiveram largamente associados ao seu início e aliás foram a banda de onde os Sex Pistols tiraram tudo. Mas se você escutar hoje vai descer como uma espécie de Rolling Stones muito mais sujo e escancarado, com guitarras mais no talo e escandalosas e que não param de improvisar umas linhas muito rockão. Som energético e na veia, para ouvir em festas muito caóticas ou no carro no volume máximo quando você está dirigindo para algum lugar para se embebedar muito. Impossível eu recomendar mais (100% obrigatório para quem gosta de rock, independente do estilo). Pena que durou pouquíssimo - dois discos que viraram lenda mas não venderam droga nenhuma (NY Dolls e Too Much Too Soon) e a banda (como é sempre esperado deste tipo de banda) se auto destruiu. Ainda quero fazer um post só para eles.

Nessa altura Johnny - que se imortalizou com o nome de Johnny Thunders - já era um farrapo de gente. Conforme era descrito por pessoas próximas, era o junky dos junkies, com tudo que isso implica, desde as ligações com gente muito sujeira quanto a capacidade inesgotável de sugar pessoas. Mas o fdp era bom e andava com as pessoas certas - a música "Chinese Rocks" que você conhece dos Ramones foi feita por ele e pelo Dee Dee e chegou a ter uma outra boa banda, os Heartbreakers com outro cara lendário desta época (Richard Hell). E depois disso tudo, no meio à decadência física moral espiritual e mental, dentre seções de gravação que dizem à boca pequena (heheheh) que foram 100% caóticas e movidas por muitas drogas, nãop havia decadência musical - me grava um disco solo que eu tenho como um dos melhores discos da história do rock - cativante e divertido, forte mas leve ao mesmo tempo, músicas que tem duas camadas, uma superficial bem rock solto e despreocupado e energético e uma camada embaixo que não aparece de cara de uma certa tristeza e confusão que estavam presentes ali o tempo todo. Cheio de participações interessantes (Steve Jones e Paul Cook dos Sex Pistols, Chrissie Hynde dos Pretenders etc) So Alone não foi o último disco de Thunders, mas poderia ter sido o único - tem até um certo lado de "punk experimental".

Morreu em 1991 e até hoje a morte é meio inexplicada - ligada a drogas ou assasinato, até hoje se discute. Mas era certo que ia ter um fim podreira, tipo uma Amy Winehouse hoje.
O som do Johnny Thunders, apesar de simples, é difícil de explicar, e mais difícil ainda de captar o quanto é imperdível. Vai por mim. E escuta o "So Alone" hoje. E depois me agradece!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Festival Garimpo 2008

Fui no festival Garimpo no Lapa nesse sábado - iniciativa do caralho demais, só bandas independentes em um espaço legal com som bacana e público que infelizmente poderia ser maior. Os eventos de breganejo e de playba-housão-ruim continuam bombando no Chevet Hall o que leva aos produtores de show quererem fazer cada vez mais breganejo no Chevet Hall e cada vez menos eventos legais como esse. Força para a moçada e continuem todo ano.

Meus brevíssimos comentários sobre as bandas:

Transmissor - bem executado, bem intencionado, bonitinho, bem feitinho, indiezinho, na verdade muito "inho" na mesma frase, para mim um indie/mpb bem tocado mas sem novidade. Não me tiraria de casa para assistir.

Estrume'n'tal - surf rock do mais divertido e diretaço na veia, duas guitarras sem baixo, milésimo show deles que eu vou e por mim vou em mais mil. Perfeito para encher a cara e dançar fingindo que está surfando.

Do Amor - what tha fuck? Até me considero um cara cabeça aberta (sinceramente) mas misturar música baiana com Sonic Youth é tipo, NÃO man. Para ser sincero também é bem tocado mas prefiro ver uma viagem certa tocada toscamente do que uma viagem errada bem executada. Bom, alguém deve gostar disso. Ou não.

Dead Lover's Twisted Hearts - melhor show da noite, segundo que eu vejo. Estavam sem o vocalista e colocaram um anão selvagem para cantar (bem, inclusive) e agitar e pirar e quebrar os equipamentos e tretar com o segurança e ser o cara mais rock do lugar. O ANÃO COMANDOU!! Dead Lover's é bem legal, a onda indie-britpop-country-60 deles é até original (para não falar bem humorada e divertida) e a banda merece crescer. Se tivesse o cd deles na banca eu tinha comprado.

Não vi o resto...


Alguém me explica porque TODAS as bandas que tocaram só usavam guitarras Fender?

domingo, 14 de dezembro de 2008

Da Série Música do Cramunhão - when pink goes black

História clichê de quase todas as bandas de black metal (exceto que agora estamos em Chicago e não na europa) - moleques fãs de metal começam a se interessar por algo MAIS pesado, viciam nos noruegueses (Darkthrone, Burzum, Mayhen etc), pintam a cara, escrevem umas coisas ridículas sobre o cramunhão e vão tocar tocar música muito sinistra e muito pesada. Só mais uma em um milhão e na tradição do metal extremo optaram por ter um nome difícil - Nachtmystium (segundo eles é mistura de alemão e latim (!?!) e significa "trevas envolventes" ou algo assim). Lançam os discos por gravadora de blackão, fazem turnê com as bandas de blackão, chamam os discos de títulos como "Reign of the Malicious". Nada de especial e porque se importar?

Porque a partir de algum ponto eles começaram a se entender não como black metal mas como (nas palavras da banda) "we're a 'do-whatever-the-fuck-we-want' metal band" e a partir daí as coisas começam a ficar interessantes. (Dizem, porque eu não ouvi) o disco Instinct Decay começou a refletir a mudança de atitude e a grande chutação de balde (the great bucket kicking se você preferir) veio no disco Assassins.

Assassins é um disco de metal extremo (existe algo de black ali sim porém...) inspirado em PINK FLOYD. E já inicia no subtítulo (black meddle part 1) e no nome da primeira música - One of These Nights, homenagem (assumida pela banda) à música do Pink Floyd One Of These Days.
O que significa isso na prática?

Significa vocal gritadão, mas muita atmosfera para acompanhar. Significa músicas na velocidade da luz mas músicas (não menos pesadas porém) lentonas e viajantes. Significa bateria cortante e guitarra com muita distorção misturada com saxofone. Significa letras abstratas que não perdem tempo falando do capeta e viajam em uma temática mais misteriosa e ocultista. Basicamente, significa um dos melhores discos de metal recente, não é para uma pessoa que não tem tolerância à música bem pesada, mas é do seu interesse se tem a cabeça aberta para experimentações incomuns e à combinação muito foda de algo muito pesado e muito viajado ao mesmo tempo. Assassins recebeu esse título justamente porque mata a onda passada da banda e é um reinício - se me perguntarem, mil vezes mais promissor.

E é ótima audição para ser feita lendo Conan.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

TOP 2008!

Afinal agora consigo fechar minha lista de discos preferidos de 2008... e o que sair agora em Dezembro entrou atrasado e rodou!

Já tinha feito no meio do ano um resumo do que eu mais tinha gostado até lá. Na verdade fiquei uma semana inteira fazendo. Esses todos permanecem na lista, e são, sem nenhuma ordem em particular:

Portishead - Third (para mim ficou como o disco do ano fácil)

Demorou 11 anos para voltar, cumpriu a expectativa, criou um clima único e conseguiu se manter como uma das bandas mais interessantes (para não dizer emocionantes) do mundo.

Nick Cave - Dig Lazarus Dig

Disco mais solto e rockeiro da carreira do Nick Cave. Aliás, é um disco do Nick Cave. Ponto.

Cavalera Conspiracy - Inflikted

Pau quebrando sem dó e mantém sua atenção sequestrada.

Post em que eu falei deles - aqui

Alec Empire - The Golden Foretaste Of Heaven

Alec Empire fazendo um electro-glam-rock-agressivo-
irônico-vai-saber-mas-é-muito-bom.

British Sea Power - Do You Like Rock Music?

Indie rock com tudo no lugar exato, um bocad de beleza e um bocado de estranheza misturados (e não fica strogonoff com sorvete).

Clark - Turning Dragon

Uma espécie de Nine Inch Nails sem guitarras nem vocais, só que mais interessado em espalhar o caos.

Post em que eu falei deles - aqui

Vampire Weekend - Vampire Weekend

Quem diria que indie + música africana ia gerar um disco tão perfeito e viciante? Já estou ansioso pelo próximo.

Raveonettes - Lust Lust Lust

Sujão e barulhento, fofinho e marcante, indie direto na veia com muita microfonia + vocais bonitinhos. Melhor disco deles inclusive.

The Kills - Midnight Boom

Meio blasé mas de um jeito bem legal. Na verdade para mim meio o que deveria ser o punk rock hoje - sem ser punk (!?!?!)

Post em que eu falei deles - aqui

Hercules And Love Affair - Hercules And Love Affair

Disco, se a música disco tivesse começado em 2008.

Beach House - Devotion

Clima 60 e para baixo, mas bem tranquilo e delicado, faz parecer que você está sonhando acordado.

Crystal Castles - Crystal Castles (para mim a melhor banda nova do ano)

Música que os videogames antigos de 8 bits fariam se usassem drogas. Não tem outra maneira de explicar isso. Foda!

Post em que eu falei deles - aqui

Gnarls Barkley - The Odd Couple

Para mim, (finalmente) uma evolução de verdade no soul.

Nine Inch Nails - Ghosts
Nine Inch Nails - The Slip

Escutei NIN a vida inteira, então sou muito suspeito para falar. Um disco (quádruplo) de viajeira abstrata insturmental e um porrada e direto na veia.

Post em que eu falei deles - aqui

E o que saiu depois destes posts? Teve muita coisa bacana ainda...

Fleet Foxes - Fleet Foxes

Se não fosse o Crystal Castles seria a melhor banda nova do ano. Bem acústico e muitíssimo bem trabalhado (principalmente, bem cantado), com certeza as músicas mais bonitas feitas em 2008. Se eu morasse em uma fazenda só ia escutar isso.

Post em que eu falei deste disco: aqui

Q-Tip - The Renaissance

Hip hop + soul, ou seria soul + hip hop? Ainda existe vida no rap.

Post em que eu falei desse disco: aqui

Ladytron - Velocifero

Electro como eu acho que o electro tem que ser, o resto é resto.

Post em que eu falei desse disco: aqui

Cut Copy - In Ghost Colours

Como eu comentei no post, aula de pop perfeito e obrigação para fãs de New Order.

Post em que falei desse disco: aqui

Fucked Up: The Chemistry Of Common Life

Hardcore from hell também gera disco extremamente interessantes e inteligentes.

Post em que eu falei desse disco: aqui

TV On The Radio - Dear Science

Uma das poucas bandas fazendo um som original hoje, imagine um Prince menos o lado pop e com mais funk só que do futuro. Destruidor.

Post em que eu falei desse disco: aqui

The Walkmen - You And Me

A banda sempre foi foda, mas fez o melhor disco da carreira. Parece música velha cantada por bêbados deprimidos e soa muito melhor do que isso parece.

Post em que eu falei desse disco: aqui




Esse foi o 2008 para mim. No geral, bom ano para música, seria melhor que 2007 se 2007 não tivesse tido um disco do Radiohead.
Vamos ver o que 2009 traz. Me avise se esqueci de algum.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da série Random Music - Música Pequena

Em 1996 eu estava estudando no colégio Pitágoras e passando pelo pior ano da minha vida. Meu avô no UTI enfartado (se recuperou), muitos membros da minha família na minha casa por causa disso (climão), eu dormindo no quarto da empregada e sendo extremamente mal recebido (leia-se gente me esperando na saída todo dia) pelos agroboys do Pitágoras que não gostavam de gente nova. Se eu pudesse apertar delete em um ano da minha vida seria 1996, na verdade fiz quase isso (não mantenho nenhuma das poucas amizades que fiz neste ano e isso foi de certa forma consciente).

Nessa época eu ainda comprava cds. Comprar cd comanda, eu acho até hoje; só que não compro. Uma das mehores sensações do mundo era tirar aquele plático do cd novo, colocar no som alto e ser literalmente espancado por algo que não era para ser tão bom. Um dia fui até o centro de a pé (como eu sempre fazia), e voltei de ônibus (já com uma febre que viria a se tornar muito forte naquele dia) com o cd novo dos Stone Temple Pilots na mão. Esse disco não tinha o direito de ser tão bom e mesmo padecendo de febre na cama e escutando num aparelho de som pequeno (e ruim) percebi que ia entrar direto entre os melhores discos da decada de 90. E quanto mais o tempo passou mais eu confirmo isso.

Stone Temple Pilots foi formado por uns moleques que se conheceram em um show do Black Flag e queriam uma banda que tivesse os mesmos inicias de um adesivo que todo mundo tinha no skate (STP, de uma firma de óleo - Scientifically Treated Petroleum - porque todo mundo amava esse adesivo vai saber). Chegaram a se chamar Shirley Temple's Pussy (uahauhauaha) por isso e por pressão da gravadora mantiveram a sigla com Pilotos do Templo de Pedra. No início era sub produto sim - sub produto do grunge que estava estourando na época, cópia não muito grande coisa principamente de Pearl Jam. Chamava atenção por ser "a banda grunde que não era de Seattle" e emplacou sinistramente o disco Core que vendeu 8X platina e tocava igual louco na MTV e rádio rock. Nunca me interessei por essa época e se tivesse ficado nisso provavelmente nunca teria ido no centro naquele dia, mas os fdp tinham talento e depois de chamar atenção de uma maneira meio que forçada já no segundo disco socaram personalidade no negócio e começaram a se tornar algo interessante.

O Purple se afastou do grunge cópia e moveu um bocado para o lado do rock clássico pura e simplesmente e não teve medo nenhum de injetar (bom) pop no som da banda. O segredo do bom pop é esse - sem vergonha de ser pop e assumir que é pop, mas no caso deles feito por uns caras com a cabeça metade na década de 70 e metade tentando fazer um som que se tornaria o novo rock e como tinham boas ferramentas para isso (um ótimo vocalista tão interessado em rockão burrão quanto em viagens artísticas do David Bowie e um guitarrista excelente e original que para mim nunca foi suficentemente reconhecido) acabou com isso colocando coisa muito boa na FM para todo mundo ouvir - o que acontece muitíssimo raramente. Dessa época vem muita coisa que toca na rádio até hoje - Interstate Love Song, Vasoline, Big Empty - e mesmo sendo um disco bacana pelo Purple não dava para antecipar que eles iam chutar o balde e entrar no estúdio para fazer um disco rockeirão, bem mais simples e direto na veia que os anteriores, dando vazão a toda viagem que passar pela cabeça porém sem super produção nenhuma.

O Tiny Music - o disco que eu comprei no centro - me parece produto de uma banda fechada na garagem sozinha e interessada em ir direto no assunto, sem complicar em excesso mas ao mesmo tempo sem censurar nenhuma idéia. Esse foi O disco em que o Stone Temple Pilots, afinal, não se parecia com nada a não ser eles mesmos, ou seja, acharam o som, o que é sempre um momento mágico. Foi uma fórmula tão foda que eles próprios nunca conseguiram repetir, e até hoje é um dos poucos discos que eu conheço que (como o Transformer do Lou Reed por exemplo) soam atemporais, ou seja, se eu falar que é de 1974 você vai acreditar, se eu falar que saiu ontem você vai acreditar. Além disso, é daqueles discos raros (de novo, como o Transformer do Lou Reed ou o Astral Weeks do Van Morrison) que parece que saíram inteirinhos de improviso, sem esforço nenhum do criador, pela naturalidade e espontaniedade do que você escuta sem saber que é esse o tipo de disco que dá mais trabalho para fazer. É obra de arte que dá muitas leituras: se quiser pode ouvir como um disco de rock da porra sujo e barulhento, dá para ouvir como disco pop, dá para dançar e escutar sozinho no quarto, colocar em uma festa ou tocar no rádio, e ainda assim vai interessar quem detesta música comercial. Tudo ao mesmo tempo e de várias camadas como toda boa obra de arte.

Música simples porém muito variada, 100% direto ao ponto feito por uma banda talentosa passando por sua fase mais criativa. Raríssimo e para mim um dos destaques da década de 90.

A partir daí, só ladeira abaixo: o vocalista Scott Weiland virou a Amy Winehouse (notícia de prisão/overdose/porrada/batida de carro todo dia), banda sem poder fazer turnê por causa dele, gravando o disco IV (também muito bom, sendo que "IV" é tanto "4" quanto "Intra Venoso") na pressa antes do Scott ter que passar uma temporada na cadeia, separam, gravam coisas ignoradas sem o vocalista, voltam, gravam um disco meia boca (Shangri-la Dee Da) e acabam de uma forma triste, inclusive com ele sendo desperdiçado no Velvet-Revolver-Guns-And-Roses-2.0-ninguém-merece. Melancólico, mas não apaga a obra anterior e não morre a esperança de sair algo legal de agora que eles voltaram. O espírito deve estar lá em algum lugar. E de certa forma me ajudou a passar por 1996.

Fácil de gostar e ainda assim profundo, pop mas pesado, pesado mas bonito, bem feito e imperdível - Tiny Music
Pesadão - IV
Grunge pop na veia mas talvez o único exemplo de BOM grunge pop - Purple
Só escute quando você já for bem fã - os outros

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

WOOOOOOOOOOOOHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOW

EU

TENHO
INGRESSO
PARA

O SHOW DO

RADIOHEAD


Se eu fosse morrer sem ter visto um show do Radiohead quando chegasse no meu leito de morte eu ia levantar, arrancar os tubos, dar porrada em todo mundo e continuar vivendo porque PUTA QUE PARIU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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UPDATE

Ouvi falar que São Paulo JÁ esgotou, será????!?!?!?!?!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Programas Surreais

Este fim de semana voltei o relógio do tempo e resolvi fazer um programa 15 anos de idade: juntei pessoas para encher a cara em casa e fomos para uma festa gótica no Matriz. E o pior é que me diverti à beça.

As lições que ficaram do fim de semana:
- foi legal desde que você não se importe de ser o mais velho do lugar e saiba rachar o bico das fuguras bizarras presas em 1984 com sobretudo preto, maquiagem, lente branca, camisa baby look e crucifixo do tamanho do seu braço;
- som de festa gótica tende a ser muito bom: new order, the cure, uns anos 80 inescrupulosos e versão metal do Chris Isaack. Na verdade o som equivaleu a uma festa muito boa da Obra, sinceramente;
- banda de cover de Marilyn Manson (com visual e tudo) vai sempre dar um show divertido mesmo que não toque legal;
- sair de casa para ver um cover de Rammstein com visual dos caras, bem tocado e versões virtualmente idênticas (além de repertório bem escolhido) é um ótimo programa independente da sua idade;
- e quem fala mal do matriz é preconceito/prepotência, porque numa boa, o som do lugar está excepcional - tudo muito alto, bumbo na barriga, guitarra que você sente o peso, baixo gravão e presente, sem nada de distorção nas caixas e clareza total em todos os instrumentos. Profissional mesmo, muito melhor que o som do festival Planeta Terra.

Programa surreal, noite bizarra e na boa que foi um ótimo fim de semana.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

só uma última idéia aleatória do nada

Sair para beber com amigo cirurgião toráxico que já teve que apertar um coração batendo na mão para parar um sangramento enquanto tentava costurar com a outra mão realmente coloca qualquer problema profissional que você esteja passando em perspectiva.

Um monte de idéias aleatórias do nada

Kanye West gravou um disco que não é de hip hop e se aproxima do R&B, que eu detesto. Mas é tão bem produzido e desesperado que está me exigindo formar uma opinião... ainda não consegui... gosto de ser desafiado por música nova

Cat Power realmente é muito bom, está merecendo o tempo que eu estou passando para conhecer ô mulherzinha deprê! Música deprê é sempre bem vinda

Fiquei assistindo Losc tocando no youtube me bateu uma tristeza nostálgica tremenda

Li o volume 2 da coletânea de contos do Conan escutando Nachtmystium... acho que nunca o que eu estava ouvindo se encaixou tanto no que eu estava lendo

Alguém se importa com o fato do Guns And Roses ter finalmente voltado? Eu não...

DEUS TOCA NO BRASIL

PQP RIO E SÃO PAULO EM MARÇO!!!!!!!!!!!!!!!

DSOADMNAS SD DSAJIDNF WIUFRH8Q345R23PÉL.23 ASDLKSA EWR4NPRSDJKLF EWIOR4BN GKÇDFN DUH43T98REFNLKSDF SDÇLKFN DOJGNREUINSDI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

RADIOHEAD

00:00 DO DIA 5/12 NO INGRESSO.COM

EU VOU QUEM VAI COMIGO??????????!?!?!?!?!?!?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Guia Rise From Your Grave para a discografia do The Cure

Three Imaginary Boys/Boys Don't Cry/Seventeen Seconds - os dois primeiros discos são respectivamente a versão inglesa e americana do primeiro disco do The Cure. Defino esses discos como o exemplo mais perfeito possível do que é post-punk - é exatamente o som que se espera do pessoal que estava envolvido com o punk no fim da década de 70/início do 80 e queria expandir as possibilidades do gênero (ou seja, simplicidade, audácia, um som direto e um pouco dark mas com uma onda mais pop substituindo a agressividade do punk - entenda "pop" como um pop não muito convencional nesse caso). Prefira o Boys Don't Cry que o Imaginary Boys - ele inclui os singles da época no lugar de músicas meio medianas que apareceram na versão inglesa.

O Seventeen Seconds é basicamente uma versão bem mais lentona, SUPER climática e instrospectiva do primeiro disco.

Ah, e a música Boys Don't Cry que você provavelmente conhece não é um bom exemplo da banda que o The Cure era - (gosto dela mas) é muito pop e muito feliz para a onda meio dark que eles já tinham no início e que depois ficou bem mais forte.

Não são as melhores obras do Cure, mas tem que se considerar que eu estou falando de uma banda excepcional - estão sem dúvida entre as melhores obras do post punk fácil e são muito bons para se entender essa época do rock.

O que é essa época do The Cure para mim: pop neurótico e excêntrico

Faith/Pornography - todo mundo quando pensa em The Cure sempre pensa em tristeza, gótico, dark, coisa from hell e deprê. Embora o The Cure seja uma das bandas mais criativas e variadas do rock (o que significa que já fizeram de tudo), eles possuem essa fama por causa dessa época. E que, não por acaso, é a época definidora (e a melhor) do The Cure.

Apesar dos discos anteriores serem com certeza cinza, a partir do Faith para mim o The Cure ficou preto. O Faith ainda tem muito de post punk - me parece por vezes uma versão muito mais bem acabada (e muito mais malvada) do primeiro disco. O Faith é estar na beira do abismo o contemplando. E o Pornography é a queda - rápido, raivosaço, para baixo sem dó, louco, agressivão. Para mim, além de ser o melhor disco The Cure, é o melhor para começar - esse disco te dá um soco na cara. Se você não gostar do Pornography desiste dessa banda e passa para a próxima. Mas não escute ele em qualquer hora. Escolha uma hora em que você precisa tomar uma porrada.

O que é essa época do The Cure para mim: único e de dar medo

The Top/The Head On The Door - Como não dava para ficar mais dark que o Pornography, viraram o carro para outro lado e ficaram completamente pop. Essa é a fase popzona do The Cure da década de 80, e não por acaso daqui vem várias das músicas mais conhecidas. O The Top é o Cure aprendendo a fazer pop (inclusive com muito da fase goticona ainda, escute a música "The Top" por exemplo), mas como ainda era muito transição - um pé aqui e outro lá - acaba acompanhando o Wild Mood Swings para mim como um dos discos menos interessantes.


O Head On The Door deve agradar à maioria das pessoas - é conhecido como "o único disco do The Cure que dá para tocar em uma festa" e é ótimo exemplo de bom pop oitentão, vai ser este o disco onde você vai conhecer previamente a maioria das músicas. Se você tem predileção pelo lado pop da banda este é O disco para você. Eu, inclusive, gosto bastante.

O que é essa época do The Cure para mim: familiar e fácil de ouvir e ainda assim muito bom

Kiss Me Kiss Me Kiss Me/Disintegration - após caminhar nos dois extremos, o Cure basicamente fez um "junta tudo", o que nem sempre funciona. A sorte deles foi que fizeram isso em uma época de extrema criatividade - o que resultou no ápice da banda. Aqui eles somaram maturidade + fome de fazer música boa + todas as tendências que eles tocaram na carreira até aqui e conseguiram fazer a soma valer mais que suas partes. O Disintegration é por excelência o documento definitivo do The Cure e vai sempre ser recomendado para você como o "melhor disco" - e merece. É épico e abrangente, mas é ao mesmo tempo focado e bonito. Em resumo: consegue te mostrar um pouco de cada lado da banda e o faz maravilhosamente bem.

Isso eu já meio que esperava desse disco porque ele tem essa fama, mas a grande surpresa mesmo foi o Kiss Me Kiss Me Kiss Me, que eu nunca havia ouvido falar antes de conhecer e me derrubou porque se provou mais ou menos com a mesma onda (e a mesma qualidade) do Disintegration, mas é mais longo e mais variado, o que o faz parecer ainda mais épico. Para mim, empate para os dois. E se o Cure tivesse acabado nessa época já ia ser lendário. Cada música desses dois discos funciona sozinha e te leva para um mundo diferente. Se tiver que escolher só um, por mim, qualquer um desses dois.

O que é essa época do The Cure para mim: provou ser uma das melhores bandas de rock da história

Wish/Wild Mood Swings/Bloodflowers/The Cure - isso aqui é o The Cure "maduro". Depois de destruir o mundo com os últimos dois discos (e ser reconhecido por isso na época do Disintegration), não havia mais nada para provar. Então a partir daqui (com alguns desvios) acontece o que acontece, por exemplo, depois do Technique (New Order) e depois do Goo (Sonic Youth): a banda chegou no seu ápice, sabe disso, e meio que nem tenta forçar a barra mais. Quase toda (boa) banda tem esse destino: o som se estabiliza, no sentido que não é tão eletrizante quanto o que veio antes mas por outro lado é consistente e normalmente não decepciona. Ou seja, são ótimos discos - e vou falar pela milésima vez, um disco mediano de uma banda foda bate o disco foda das bandas medianas - mas não vão mudar a vida de ninguém.

O Wish é bem a definição do que é o "Cure maduro", tendendo um pouco mais para o lado eletrônico (e tem uma das músicas mais famosas e bacanas, Friday I'm In Love, talvez o último hit relevante de verdade deles). O Wild Mood Swings é a tentativa de quebrar essa onda de "som estável" e tentar coisas diferentes - mas esses experimentos (com música latina por exemplo !?!?!) na minha opinião pouco tinham a ver com o The Cure e geraram o disco que eu menos gosto de ouvir, junto com o The Top.

O Bloodflowers foi uma espécie de "Death Magnetic" no sentido de que foi uma tentativa consciente de fazer um disco que soa como The Cure antigo. Isso fez a crítica pegar no pé do disco, na minha opinião injustamente, porque sinceramente foi uma boa opção depois das viagens erradas do Wild Mood Swings e na minha opinião é MUITO bom. E o melhor disco pós-disintegration do The Cure é o que se chama simplesmente "The Cure" - raivoso e intenso, surpreendeu um disco assim nessa altura do campeonato, fez o que para mim deveria ser a banda hoje (ou seja, não tentou repetir o passado nem assumiu nenhum desvio sem sentido, é simplesmente o crescimento natural - e bem porrada - do som deles) e acabou de supetão entrando na minha lista de discos preferidos- inclusive apesar de ser tardio é também um bom disco para começar.

Saiu a bem pouco tempo um disco novo, 4:13 Dream. Já está no meu itunes para ser escutado. Reporto quando puder!

O que é essa época do The Cure para mim: estável, no (bom) sentido de que disco após disco tende a manter a alta qualidade e no (mau) sentido de que tende a não surpreender mais.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Da Série Random Music - Cotonete Rapper

Tudo bem moçada, eu entendo vocês. Eu tento enfiar na cabeça de todo mundo que hip hop é bom e ninguém nunca acredita em mim. Mas não é culpa sua. Como eu já mencionei, hoje é o ritmo dominante da música pop (do ponto de vista comercial/popularidade/toca no multishow toda hora), mas não dominante do ponto de vista artístico ou criativo. Traduzindo, o hip hop que faz sucesso é um lixo, e o hip hop realmente bacana continua submerso. Mas bota fé que ele existe sim. E eu vou continuar tentando.

Recentemente saiu um disco novo de um camarada esquema "Portishead - Guns And Roses - Brian Wilsson", ou seja, sumiu por séculos e voltou com muita expectativa para cumprir. Antigo líder do A Tribe Called Quest - que eu acho fodástico e recomendei bastante aqui - o mr. Q-Tip (hehehehehehe "cotonete", na verdade ele tem esse nome porque tem a capacidade de "entrar dentro do ouvido das pessoas") não havia lançado nada desde 1999. Aparentemente não por culpa dele, porque era jogado de um lado para o outro pelas gravadoras e segundo ele gravou 3 discos inteiros que não saíram (um deles, "Kamaal The Abstract", que recebeu esse nome depois que Q-Tip se converteu ao islamismo e mudou o nome para Kamaal Ibn John Fareed, chegou a ser divulgado). Um rapper islâmico que teve 3 discos rejeitados por ser anticomerciais? Ótima notícia e bom indicativo que é coisa boa.

Estou citando o Q-Tip como bom disco para gostar de hip hop porque, no fundo mesmo não tenho muito como hip hop. A Tribe Called Quest misturava - com muito sucesso - jazz e hip hop de um jeito estiloso e dançante. Esse disco novo do Q-Tip (The Renaissance) é, para mim, um disco de soul. Tudo bem que soul + hip hop é a tendência do hip hop moderno (pelo menos do hip hop bom), como você viu (ou não :-) ) em bons discos do Kanye West, Lupe Fiasco, Wale e etc. Mas aqui é basicamente aquele soul bem na veia e dançante, muitas backing vocals, piano, guitarra funky, umas linhas de baixo bacanaças, tudo bem trabalhado e bem feito, muita coisa não é sampleada e ao vivo é tudo tocado com uma banda mesmo. E, em cima disso, rola uns vocais de hip hop. Ás vezes o Q-Tip deixa o pau quebrando no soul e só entra depois da metade da música. No fundo é um camarada que domina um monte de estilos, tem um ótimo senso de espaço e não se vê como rapper - se vê simplesmente como músico. Está sendo bastante aclamado por merecimento - e para entrar na lista de "participações surreais" na semana passada o Prince entrou no palco (para surpresa da própria banda), tirou a guitarra do guitarrista, tocou a música com eles e saiu também do nada sem dizer uma palavra. O Prince gosta, cara, o negócio é bom.

Dê uma chance ao hip hop com cabeça aberta. Se gostar de Q-Tip você está abrindo a porta tanto para o Marvin Gaye quanto para o Wu-Tang Clan. Mata dois cajados com um coelho só :-)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Da Série Random Music - A Química da Vida Comum

Bandas que são difíceis de entender e que acabam mistrando todos os elementos que normalmente não se misturam ou "não se deve" misturar na minha opinião na maior parte das vezes dão resultados mais legais mesmo que bizarros ou confusos do que aquelas que não arriscam nada. Dentro de gêneros mais limitantes e cheio de regras (aliás, justamente os gêneros que deveriam ser mais contra as regras que existem) como o hardcore isso costuma me empolgar ainda mais, porque demandam mais coragem e é menos comum de ver acontecer. Quantas bandas de harcore você conhece que descrevem seu disco como "um épico expansivo sobre os mistérios do nascimento, morte, e as origens da vida e de reviver"?? Pessoas toscas que fazem música toscona com intenções bonitas e intelectuais por trás comandam o batatal.

Essa banda é canadense e já começou a se avacalhar comercialmente pelo nome - Fucked Up. Na maior parte das vezes descartando o formato álbum (90% dos lançamentos do Fucked Up são através de singles, eles preferem lançar sua música duas de cada vez) torna a banda super difícil de acompanhar. E quando fazem aparições públicas é para causar terrorismo - toparam tocar na MTV, mas o show foi dentro de um banheiro e foi interrompido depois da primeira música quando a banda e os fãs basicamente começaram a destruir o prédio inteiro. Bacana de uns caras que apóiam explicitamente os anarquistas espanhóis (dentro dos singles vem um monte de material de propaganda deles) e a SI. Na verdade a postura da banda nem sempre é clara, e quando utlizaram material nazista em um single (como crítica e não como apoio) só se importaram em se explicar depois de apanhar no palco. UHAUAHAAHUAHHA viva para o movimento punk que apesar de adorar uma garrafada e uma facada continua peitando os nazis (ou mesmo os suspeitos de ser nazi).

Mas o que importa mesmo é o som, e é por isso que você deveria se importar com o Fucked Up. Um dia eu estava tentando recomendar ele para um amigo e para tentar explicar a banda chame eles de "Pixies fazendo cover de Sick Of It Al". Ele sorriu e disse "eu vou ter que ouvir isso". Não se engane: é punk hardcore pesado, guitarra distorcida, vocal gritado, e umas quebradas estilo o clássico de Nova York Sick Of It All (aliás, outra banda que merece um post), porém feito por pessoas de cabeça mais aberta que fazem com que a guitarreira e outros elementos (piano e assovios por ex., backing vocal feminino bonitinho) dêem um clima mais indie experimental e que mesmo encosta no pop às vezes. Música empolgante e energética mas não unidimensional e limitada, e sim criativa e aberta a experimentação, elementos que não costumam se combinar com frequência na mesma banda. Para quem é ferrado já no nome, bom trabalho para os rapazes.

Não deixe de escutar - The Chemistry Of Common Life

sábado, 22 de novembro de 2008

PORCO ROSSO

Um porco que não voa é só um porco normal.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Da Série Random Music - I Could Be Right I Could Be Wrong

Os Sex Pistols não morreram em uma explosão. Morreram em uma agonia triste e lenta, mais desapareceu que queimou. A última frase do último show dita por Johnny Rotten - "já tiveram a sensação de estar sendo enganados?" virou um dos epitáfios mais famosos do rock, dito por uma pessoa ao mesmo tempo intensa, perturbada, controversa e inteligente demais para se limitar a ser um "rock star" convencional e que se sentia um outsider na sua própria banda. E assim depois de dois curtos anos acabou os Pistols e ele ficou livre para fazer o que quiser.

Depois de quase virar o vocalista do Devo (!?), e de passar meses na Jamaica ajudando a gravadora e achar boas bandas de reggae (estilo que sempre amou) o agora John Lydon seguiu em frente com a idéia de ter uma porta para fazer o tipo de música que queria, sem limites, e com gente que se sentia tão outsider quanto ele. Essas pessoas foram Keith Levene (que tocou guitarra com o The Clash) e um baixista (Jah Woble) que não sabia tocar baixo, mais um batera que conseguiram com um anúncio. E se juntaram para fazer uma das bandas mais complicadas e problemáticas da história, que acabou sendo uma das poucas que merecem de fato serem chamadas de única. O som não é rock, e eu simplesmente não sei o que é.

A maioria das coisas do PIL (Public Image Limited) é densa, paranóica, esquisita, claustrofobica, mais improvisada que ensaiada. Uma música típica do início do PIL é uma viagem muito longa e improvisada de letras abstratas feitas em fluxo de consciência e cantadas fora do tom (o que dá um efeito bizarrão e meio desconcertante), baixo completamente de dub/reggae, guitarras também abstratas tocadas de um jeito agudo e climático que quase que criou sem querer a guitarra dos anos 80 - o The Edge do U2, por exemplo, se diz totalmente influenciado pela guitarra do PIL - e bateria de marcha militar. Isso quando tem guitarra na música, ou mesmo quando tem baixo. Dá para esperar tudo. Escutar um disco do PIL é uma experiência estranha: é um som meio sem dó de você, pesadaço sem ser rápido/bater forte/socar distorção ou tudo que se espera de "música pesada" e de certa forma deixa ouvinte exausto. Quando termina o disco parece que você passou por uma viagem ruim e difícil e que sua energia foi sugada.

Isso é bom??????????

Na verdade, é muito bom. São pouquíssimas - basicamente, quase nenhuma - bandas que conseguem fazer música que mexe assim com as pessoas, consegue te sugar tanto para dentro da viagem deles (estranha, mas é uma viagem) e realmente nessa brincadeira gerar música que é de fato nova e que não se enquadra em - pô, em NADA. Não tem muito mais que um artista pode querer.

Fora do palco a banda era mais difícil ainda. Estamos falando de uma banda que já deu show com baterista de jazz recrutado 5 minutos antes que nunca tinha ouvido a banda, que já provocou centenas de quebra quebra em show por insultar o público (teve um em que eles estavam tocando atrás de uma projeção e o púbico derubou eles puxando o tapete do palco, uhauahuahaua), insultava apresentadores de programas de tv em pleno ar, tacaram fogo em um cara do The Fall, gastavam metade do orçamento do disco em drogas e colocaram o segundo disco em 3 mini-discos que vinham dentro de um cilindro de metal de uma forma que era praticamente impossível retirar os discos da embalagem sem danificar eles - e isso foi feito por querer. Vai ser anti comercial assim lá na casa do Throbing Gristtle. Pelo menos no início da carreira, porque até eles ficaram mais pop depois.

Não é para qualquer um, mas se você estivesse gravando no estúdio e o Miles Davis aparecesse de repente e começasse a tocar trompete com você surgido do nada e sem falar uma palavra, você deve estar fazendo alguma coisa certa.

comece por - First Issue
estranho - Second Edition
mais estranho ainda - Flowers Of Romance
pop (??!?!?) - Happy?
meio metal (?!?!?) e com solos do Steve Vai (!!?!?) (que ele disse ser o melhor trabalho dele) - Album

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Da Série Random Music - O Gênio Supremo de King Khan e Seus Sensacionais Shrines

O que seria da música sem os canadenses inescrupulosos?

O que acontece se um canadense completamente louco e megalomaníaco que dá um show absurdamente energético (e muitas vezes simplesmente absurdo) praticamente sem roupas ou com roupas bizarras e sem sentido (um baixote gorducho e moreno com a barriga enfiada em um vestido curto usando uma peruca roxa por exemplo), fã declarado de Mayhen (black metal norueguês), e que nasceu com um problema genético que o torna desprovido da glândula escrupulal resolvesse mudar para Berlin e usar toda a sua energia e megalomania e excentricidade e piração numa banda que pode ser descrita como uma versão de Prince SEM o lado pop e com o lado meio maluco e energético com overdrive?

Acontece The Supreme Genius of King Khan and His Sensational Shrines!!

Estou completamente viciado nessa moçada que lançaram, para mim, o disco perdido do Prince, que se saísse com o nome dele ia direto ser considerado um dos melhores discos do cara. Funk na veia demais (funk bom moçada, Funkadelic, George Clinton, Sly And The Family Stone, não "cada um no seu quadrado") que explora teclado, saxofone, guitarra, baixo, backing vocals negonas e tudo o que tem direito MAS sem perder o espírito de garagem (aliás, esse King Khan é estilo Jay Reatard e tem mais uma pancada de bandas garageiras - King Khan & BBQ Show, King Khan & His Lonesome Guitar, The Spaceshits, uma mais doente que a outra) e com uma pancada absurda de energia, empolgação e paixão com a música que está fazendo e bom humor.

Isso é pegar um gênero legal mas que pode cair na caretice e na repetição de um bom tempo sem uma revolução relevante e injetar direto na veia dele um monte de adrenalina e criatividade, sem perder o bom humor e o espírito de festa dançante. E continua funcionando quando cai o tempo e resolvem fazer uma balada - aliás, funciona até mais do que deveria. Filho da puta. :-)

Eu viciei. Fica rodando no meu iPod no repeat - termina e eu deixo começar de novo. A próxima vez que vierem beber aqui em casa tratem de chegar com roupas estranhas e perucas roxas porque vamos dançar King Khan no repeat até o sol raiar. Ou desmaiar de bêbados, o que vier antes.

Disco que Recomendo - Mr. Supernatural

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Da Série Minha Ilha Deserta Privativa - A Cabeça na Porta

Sempre tive algum interesse por The Cure, e mais recentemente venho explorando a discografia inteira deles, me surpreendendo e tendo resultados ainda mais satisfatórios que eu esperava. The Cure é uma banda realmente única que conseguiu ser fodástica desde o primeiríssimo disco, existir desde 1976 e se manter relevante, colocar algumas músicas naquele hall de "música que todas as pessoas do mundo conhecem", influenciar tudo dentro do rock (já vi desde banda popzinha até metal from hell fazer cover de The Cure), nunca se tornar comercial, crescer sem desvirtuar apesar de ser notória como uma das bandas com mais treta e conflito interno do rock e, numa boa, quando você absorve eles mesmo percebe que é uma das melhores bandas da história. Definitivamente entrou na minha lista de bandas preferidas.

The Cure começou na Inglaterra exatamente na época da explosão do punk, mas de alguma maneira já era post punk mesmo antes do punk acabar (segundo o Robert Smith queriam ser os "punk Beatles"). Mesmo bem no início - quando ainda existia uma preocupação com fazer um som acessível que não saísse do reino do pop - já tinha muita personalidade e sempre entendeu o valor do clima (faziam músicas como não se faz mais, músicas que gastam tempo para construir clima e chegar onde querem, em vez de competir por impacto imediato dentro do seu ipod). Apesar de ser o ícone do ícone do gótico, nunca se limitou e, como eu vi um crítico falar uma vez, uma banda para conseguir fazer as pessoas se vestirem como ela não chegou lá oferecendo só uma coisa caricata, mas um mundo inteiro dentro daquela visão singular. O que significa que, sim, como todo mundo associa The Cure com tristeza, trevas e depressão, a banda tem muito disso a oferecer (e de uma forma maravilhosamente bem feita), mas é criativa e interessada em explorar o suficiente para não virar uma espécie de simplificação robótica do que uma banda gótica deprê deve ser. Portanto, algumas das músicas mais românticas e bonitas que eu já ouvi são do The Cure; diversas músicas serenas, leves e mesmo (!!) FELIZES.

Outra coisa é que eles não são bem representados pelos singles. Todas as músicas muito famosas da banda, com poucas exceções, não são bons exemplos do que aquele disco é (começando por Boys Don't Cry, que é centenas de vezes mais pop que qualquer outra coisa deles, inclusive que as músicas do próprio disco dela). The Cure é o perfeito exemplo de "banda álbum": se você conhece muito bem eles através de coletâneas no fundo não conhece nada da banda. Cada disco tem uma viagem muito bem definida e coerente e precisa ser ouvido do início ao fim e na ordem que está lá.

No fundo, evoca muito a adolescência - é a melhor banda do mundo para ser ouvida (obssessivamente de preferência, como quase sempre o é) por adolescentes sozinhos e melancólicos e conflituosos em quartos escuros, viajando na sequência do disco e entrando naquele universo - que como eu disse não é nada simplório nem caricato, mas oferece todas as emoções que passam pela cabeça de todo mundo - filtradas por uma ótica original e sim, mais para o escuro que para o claro, mas essa é toda a graça. Quando escutar aqueles elementos tão particulares que se encaixam tanto - a voz passional e inconfundível (aliás uma puta presença), os baixos melódicos que acham que são guitarras, as baterias bem percussivas e sombrias que muitas vezes incorporam eletrônica, e as guitarras com pé no punk mas com intenção de emocionar e não de agredir, as letras lindas e poéticas mesmo quando são cabulosamente agressivas - lembre que aquilo foi muito mais pensado que parece de primeira, e que aquilo foi feito de forma real e emocional e não para tentar te agradar. Apesar de agradar um bocado.

Aguarde para breve um post com comentários sobre toda a discografia do Cure.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Poder da nostalgia

Quando se fala da nossa relação com a cultura, NADA, NADA, é mais poderoso que nostalgia.
Repare como a grande maioria das pessoas estaciona (no MAL sentido) na música que ele gostava quando era adolescente. "No meu tempo que era bom". Li num blog um comentário certeiro que quem estava curtindo o Jesus And Mary Chain morto no Planeta Terra era bem mais por nostalgia do que por estar na presença de um show bom. E o pior é que ninguém pode falar nada: qualquer música que toque que fazia sucesso quando você tinha 13 anos (mesmo as que você não gostava) mexe com você de alguma maneira. Ah, mexe sim, seu mentiroso.

Lembram daquela música "Informer" de um tal de Snow que tocava no início da década de 90? Estava tocando quando dei meu primeiro beijo. A música é horrível, mas me dá um senso de nostalgia tremendo. Acho que meu top 10 "músicas que eu meio que não deveria gostar mas não consigo evitar por causa do poder da nostalgia" é esse:

1-Snow - Informer
2-Oingo Boingo - Stay
3-EMF - Unbelievable
4-George Michael - Faith
5-Aerosmith - Crying
6-Culture Club - Karma Chameleon
7-Information Society - Run
8-Inner Circle - Da Bomb
9-The Housemartins - Build
10-Double - Captain Of Her Heart

Hoje eu estava ouvindo o Acid Eaters e senti um nó na garganta (realmente quase chorei) quando tocou Somebody To Love.

Fique Feliz

Radiohead confirmou show no Chile em 27 de Março/2009!
Radiohead CONFIRMA Brasil na mesma época só não tem data ainda!
Se prepare para flutuar por mais de uma hora!!!!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Festival Planeta Terra 2008

É isso aí amigos, mais uma vez bato em SP para pegar shows bacanas que muito raramente vem aqui na África - ops - Brasil.
Estive no Planeta Terra e apesar de ter me decepcionado com minha maior expectativa fui positivamente surpreendido pelos shows que eu tinha uma expectativa (um pouco) menor. O saldo então foi mais que positivo. Vou tentar passar um pouco da experiência.

São Paulo

Não é a primeira vez que eu vou à São Paulo e a cidade é foda. São Paulo é outro país. São Paulo são 5 Belo Horizontes avaliando do ponto de vista cultural. Porém, em SP não cabe mais gente. Acabou. Lotou. Encheu. Acho que se mudar mais uma pessoa para lá a cidade explode. A 30 km da cidade já estava parado em engarrafamento na estrada - e isso era 22:00. Tudo é lotado demais, tudo é complicado demais, tudo tem fila demais. Mas não é suficiente para estragar a experiência - Liberdade (tivemos que amarrar uma corda no Shibuco para ele não sumir lá), galeria do rock, beber Guiness na rua Augusta. Wooohoow.

O Festival

Fica em um lugar nada a ver total (vi todos os paulistas reclamando), literalmente no fim do mundo, saí da Av. Paulista e tive que trocar de metrô 3 vezes e trocar de trem duas vezes - uma hora e meia para conseguir chegar. O palco principal era horrível - alto demais, distante demais do púbico e o som tosco e horroroso e embolado. Nota zero para ele. A favor: bem organizado, TODOS os shows começaram na hora exata. O espaço físico era violento - gigantesco, não vazava som de um palco para outro, o palco indie era fechado e não tinha os problemas do palco principal (dava para ver a banda bem de perto e o som estava ótimo), mesa, praça de alimentação, dava para usar o banheiro. Do festival em si, pouco a reclamar. Diz a Mirian que o público do Tim Festival era mais gente boa... vai saber. É um show de rock.

Jesus And Mary Chain

Sente a distância do palco em relação ao público

Já comecei chateado porque cheguei atrasadaço nessa brincadeira de troca de metrôs e peguei só metade da banda que eu mais queria ver. E só para dar uma reguingada estavam no lixo do palco principal - lotado demais, som bem ruim, banda bem distante tanto fisicamente quanto espiritualmente, a banda simplesmente não estava lá. Show totalmente bate cartão - entraram no palco, tocaram o mais desinteressadamente possível, foram embora. Sem sangue, sem alma, frio e esquisito e profissional e distante. O negócio é que o Jesus And Mary Chain tem músicas maravilhosas que falam por si - então apesar do show deixa-eu-ir-embora-para-o-
hotel-ver-novela que a banda deu mesmo assim rolou uma emocionada em umas músicas épicas tipo Just Like Honey. Mas no geral, decepção. Se for para voltar com a banda sem tesão nenhum melhor que continuasse terminada. Apesar disso gostei da música nova total Echo And The Bunnymen.

Spoon

ISSO foi um show

Cheguei para o show do Spoon e peguei a última música do Foals, o pau estava quebrando no palco, com certeza foi uma opção muit melhor que o JAMC.
Spoon deu um show brutal. Engraçado que nem é uma banda muito pesada ou especialmente energética - Spoon é indie rock puro na veia mas mutíssimo bem feito e musical e trabalhado. Ao vivo é bem rock - agitaram bastante, gritaram no microfone, se jogaram no chão, arrumaram umas barulheiras infernais de guitarras, tocaram muito bem - aliás ao vivo você vê que os arranjos do Spoon são fodas mesmo - e privilegiaram o Ga Ga Ga Ga Ga, que era o que eu queria (e a platéia toda também pela resposta que as músicas do disco recebeu). Aliás, tinha bem mais público do Spoon que eu esperava, muita gente agitando e muita música sendo cantada junto. Foi o oposto do primeiro show - deram sangue e pareciam estar se divertindo horrores no palco. Saí mais fã ainda da banda e acordei no dia seguinte com as músicas do Spoon na cabeça.

Breeders


Breeders ESPANCA o batatal do além. Ponto.

Breeder é destruidor. Quem tinha dúvida matou ela nesse show. Com um público bem cheio - muito fã de Breeders mesmo, cantando todas as músicas - postura simpática - aliás a Kim Deal é uma das figuras mais carismáticas do rock e por isso mesmo tinha muito fã quase desmaiando de felicidade com ela lá - o show das Breeders foi bem em cima do Last Splash (só 3 músicas do último disco) e foi punk. Rolou Kim Deal picaretando a guitarrista da banda fingindo que ia mostrar a bunda - e a garota foi na dela só que realmente mostrou :-) - rolou música dos Beatles, rolou "a musiquinha que a mamãe ensinou a gente a cantar", rolou country com a irmã dela no violino, rolou MOSH (SELVAGEM) em Cannonball. A banda foi recebida literalmente com amor - moçada fanática mesmo - e correspondeu.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Da Série Playlist - O que anda torrando a bateria do meu ipod para o bem e para o mal

Melechesh - Emissaries

Quando eu estive em Amsterdã, pedi para o camarada da loja de discos me mostrar alguma coisa legal que eu só conseguiria comprar lá e em mais nenhum outro lugar. Ele me falou dessa moçada que é de Israel - são árabes na veia mesmo - e que fizeram uma banda de black metal from hell. Obviamente isso não dá muito certo e eles foram meio que banidos de lá, então estavam morando em Amsterdã e lançaram esse cd por lá. Escutei na loja e pirei na hora - metalzão from hell do cramunhão porém misturado com música árabe - as percussões, sons de sítara, estruturas e melodias bem orientais no meio do pau quebrando. É MUITO FODA. Já tinha me ocorrido antes que essas melodias árabes poderiam funcionar num contexto mais sinistrão e achei bacana ver alguém fazendo. Não perca se gosta de metalzão (pare de ouvir Death Magnetic e vai ouvir metal de verdade :-D).

Libertines - Up The Bracket

Conheço desde a época que saiu, porém tinha meio que largado esse disco pelo segundo e mesmo os segundo tinha um bom tempo que eu não ouvia. Agora retomei e me lembrei o tanto que o primeiro disco dos Libertines é fodaço. Claro, é derivativo - lembra The Clash, parece muito com The Jam e é também um pouco "resposta inglesa aos Strokes" - mas é tão largado e zoado e passa tanto a sensação que as pessoas se divertiram muito tocando isso que na terceira música você desencana disso. Retomando o comentário de ontem sobre a imprensa, esse é o tipo de banda que o hype atrapalha - são tanto falados por fazer merda e etc. que todo mundo esquece que antes de tudo havia música ali, e música bacana.

PJ Harvey - Dry

Da discografia da PJ Harvey foi o que eu menos ouvi e é um dos mais fodas. Tudo dela é essencial e o Dry é da época em que a menina era bem selvagem e furiosa (de vez em quando ela retoma esse lado dela), obsessiva, melodramática e na veia demais. Trilha sonora da TPM mais rock do mundo feita com 3 acordes espancados numa Fender Telecaster. Coitado de quem ainda não escuta PJ Harvey - não sabe o tanto que o desespero pode ser divertido.


Throbbing Gristle - DOA Third And Final Report

Escutei porque saiu na minha amostragem aleatória do livro (1001 discos). Throbbing Gristle foi um dos criadores do som industrial - junto com Neubauten e aquela moçada toda - e foi muito importante historicamente, ousado, chocante, marcante, influencial etc. Pena que eu encaixo naquele tipo de música que é 99% conceitual - é tipo "que legal que você está gerando música de um aspirador de pó", "olha eles estão fazendo sexo no palco", "veja só ele fez uma música com as ameaças de morte que deixaram gravadas na secretária eletrônica" mas para ouvir mesmo, não dá.

L7 - Bricks Are Heavy

L7 para mim sempre foi meio que um Motorhead de mulheres. Pesadão, agitado e com espírito muito rock-cerveja-diversão-vão-se-fuder deu um show histórico no Brasil e ainda tinham uma veia melódica (meio melódico lesado mas...) que torna a banda irresistível. Na verdade eu nem precisava elaborar: só o simples conceito de "Motorhead de muié" já é motivo suficiente para escutar. 100% garantido de aumentar a diversão (e de diminuir o nível :-D) de qualquer festa sua.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Don't Believe The Hype Again

Lição do dia: simplesmente ignore tudo que o jornalismo musical diz. Se depender da New Music Express nasce um novo Beatles todo semana, sempre tem algo muitíssimo relevante acontecendo, só nessa década o rock já passou por umas 4 revoluções - e o povo vai lendo e os festivais vão lotando. Dois discos depois a mesma banda é derrubada sem dó quando não tem a sorte de ser ignorada. Tem bandas que viram deuses antes do primeiro single (isso não é jeito de dizer - acontece de fato). Bom exemplo: tem anos que a Inglaterra ENDEUSA Klaxons - é a nova revolução, fundador de um novo estilo (que chamaram de New Rave para parecer algo moderninho), é a melhor banda da atualidade, se você não escuta Klaxons você é que está errado. Você já ouviu? Para mim Klaxons é, no máximo, e com muita boa vontade, legalzinho. "Legalzinho" não é bom o suficiente nem sequer para ocupar espaço no meu ipod. No fundo é um indiezinho um pouco mais eletrônico e dançante (mas nem de perto tão legal quanto as bandas que fazem isso direito, como o Hot Chip e o Cut Copy) com umas letras que tem citações ao Aleister Crowley - nada que faça muito sentido, devem ter comprado um livro e sorteado umas frases de vez em quando. Nunca teve nada de mais nem vai ter - a não ser na Inglaterra, onde acreditam nessa pregação e o show deles lota.

Aí "New Rave" (que nunca foi um "estilo" ou um "movimento" apesar das revistas forçarem a barra para você acreditar nisso) deixou de ser novidade e escolheram um bocado de bandinha meio "indie-pop-tristonha-subproduto de Interpol mas que não passa nem perto" para ser a nova "revolução do rock", são bandas que estão tocando um "novo estilo", "mudando a música", "assustando a Inglaterra com sua onda dark", "impactando o mundo" e etc. Eu digo: bleeeeergh. Que pancada de baboseira. Escolheram como grande representante desse "estilo" (que chamaram forçadamente de "new grave") o Glasvegas. Peguei o disco do Glasvegas para escutar. Não vi:
- nada de originalidade
- nada de personalidade
- nada de dark
- e nada de interessante

Nada mais é que mais uma bandinha indie nova que é igualzinha a um milhão de outras que você já ouviu, não é boa, não é marcante e nem consegui entender porque é considerada tão dark. Resumindo, uma puta perda de tempo. E 10X mais deprimente é ver a imprensa brasileira babando ovo desses caras porque deu na NME e eles simplesmente repetem.

Escutei Glasvegas até a quarta música e troquei para Public Enemy só para escutar o crássico "don't believe the hype". Bem que poderia ter algo tipo Public Enemy hoje.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Guia Básico Para Iniciação em Filmes de Zumbi

Como todas as pessoas de diferentes nacionalidades sabem e reconhecem, o ápice musical da humanidade é Radiohead e o ápice cinematográfico são os filmes de zumbi. Como se trata de um gênero em que frequentemente quanto pior melhor, é quase impossível (quase) fazer um filme de zumbi ruim, porque os bons são bons e os ruins são bons também. Eu particularmente prefiro aqueles em que as pessoas morrem e os zumbis vivem (vivem?).

O Guto me pediu uma lista de filmes básicos de zumbi para ele baixar e se divertir. Como percebi ser tal lista de utilidade pública, resolvi publicar aqui no blog. Meus critérios:
- não vou tentar listar todos os filmes de zumbi que eu já vi, porque não vou conseguir me lembrar e a lista deve bater nos 100 fácil;
-abaixo são so preferidos pessoais, simplesmente são os que me marcaram mais. Dane-se a relevância deles para o gênero;
-não vou adentrar em outras mídias (quadrinhos, jogos, etc) porque senão este post não tem fim;
-não está na minha ordem de preferência, mas não está longe dela;
-todos os filmes abaixo são obrigatórios para qualquer pessoa de respeito e sua família assistir;
-boas sessões zumbi!


Tetralogia do Romero

Romero não fez o primeiro filme com zumbis (esse é o White Zombie, de 1929), mas fez o primeiro filme de zumbi, pelo menos o que entendemos por filme de zumbi, em 1968, Night Of The Living Dead (Noite dos Mortos Vivos, preto e branco e tudo), que basicamente criou o gênero (os filmes mais antigos no geral eram de zumbis haitianos e outras coisas menos legais) e incrivelmente ficou pouco datado, até porque é um filme que depende mais de interação entre personagens do que de visual: com certeza é um dos filmes mais tensos que você já viu e à medida que os zumbis vão se empilhando - beeem gradualmente, quase sem você perceber - lá fora a tensão sobe dentro da casa e você é absorvido pela história. Os filmes do Romero são bons mesmo - independente de gênro - e sempre tem uns comentários sociais e personagens interessantes. O final é simplesmente lendário. Começar a ver filmes de zumbi sem ver antes a tetralogia do Romero é como escutar rock sem nunca ter ouvido Beatles, ou Elvis. Simplesmente errado.

Depois do ótimo Night Of The Living Dead, o Dawn Of The Dead saiu na década de 70 e para mim é o melhor filme de zumbi da história, ponto. Tem muitos clichês - mas note que só viraram clichês depois do filme, ele é o mais imitado de todos. Envolvente e sujeiraço, indispensável.
O Day Of The Dead é o mais gore, se move num ritmo mais lento, introduz novos conceitos e vale muito ver apesar de demandar mais paciência. O Land Of The Dead é mais recente e é o mais social de todos, é um pouco polêmico mas eu gosto bastante - simplista nas idéias mas é um ótimo filme de zumbi. Coma tetralogia do Romero não se discute - nem leia o resto do post se ainda não viu os 4, e na ordem.

Ano passado o Romero filmou o Diary Of The Dead - um lance meio Bruxa de Blair/Cloverfield aplicado aos zumbis. Infelizmente, foi o primeiro filme do Romero que eu não gostei, mas não sei explicar porque. Talvez tenha visto no momento errado.

...e as suas refilmagens

Caso raríssimo de filmes que se prestam a boas refilmagens, tanto o Night Of The Living Dead quanto o Dawn Of The Dead foram refilmados e valem a pena ser vistos (passe longe da "refilmagem" picareta do Day Of The Dead). A refilmagem do Dawn fez até um bom sucesso recentemente e é no fundo mais um filme de ação que um filme de zumbis, e não é nada fiel - na verdade só reaproveita o conceito de shopping + zumbis. De qualquer maneira é um dos melhores filmes de ação que você já viu - já comentei que todos os filmes do mundo tinham que ter em algum momento invasão de zumbis? Comédia romântica - o casal vai dar o primeiro beijo e é interompido pelo alarme que avisa a todos que zumbis estão tomando a cidade (toda cidade tem um, sabia? O de Bh fica na Praça 7).

Zombi, Zombi 2 e City Of The Living Dead

Lucio Fulci é um diretor italiano que fez alguns dos mais clássicos filmes de zumbi. Os filmes de zumbi da Itália são legais porque são muito mais from hell - os zumbis são tipo apodrecidos mesmo, vermes saindo de dentro dos olhos, vomitando os órgãos internos, rock! - e os filmes são sobrenaturais mesmo e não vem com essa de "explicação científica" - os zumbis levantaram do cemitério porque um padre se enforcou nele porra! O Zombi foi vendido como "continuação do Dawn Of The Dead" na Itália - picaretice na veia mas o filme é tão legal que todo mundo perdoou.

Shaun Of The Dead e Fido

Comprovando minha teoria que todo e qualquer filme deveria ter uma invasão de zumbis, Shaun Of The Dead é literalmente uma comédia-romântica-perdi-minha-namorada-e-vou-tentar-reconquistá-la - com zumbis! Apesar de se vender como comédia é um dos melhores filmes de zumbi da atualidade - comentário do próprio Romero! E Fido também comprova minha teoria porque é um "filme de cachorro" - sabe aqueles filmes do garoto que tem um cachorrinho que ele gosta e que normalmente são tristes porque ele se perde ou coisa que o valha mas acaba salvando o menino e a família acaba finalmente o aceitando? É a mesma coisa - só que o menino tem um zumbi de estimação. Conceito foda e execução melhor ainda.

A Volta dos Mortos Vivos

Talvez o mais famoso, feito por um parceiro do Romero que se separou dele e meio que vendeu o filme na picaretice como se fosse continuação do Night Of The Living Dead, todo mundo já viu esse filme quando era pequeno - é aquele que todos os personagens tem um visual de punk mas escutam metal no cemitério (punk-gothic-metal?). Apesar de picareta é tão bacana que a moçada perdoou e hoje é um grande clássico também obrigatório. O 1 é 60% terror e 40% comédia - e tem umas novidades tipo os zumbis falam (daqui que vem o famoso "braaaaaaaaains!!") e não morrem nem com tiro na cabeça. O 2 é 70% comédia e 30% terror e vale ver tb. Por favor IGNORE do 3 para frente - o 4 foi o único filme de zumbi que eu parei de ver no meio, para você ter idéia.

Braindead

Filme do Peter Jackson da época que era desconhecido (ele mesmo, o que dirigiu Senhor dos Anéis), eu lembro que quando a moçada que gosta de filmes de zumbi ficou sabendo que seria ele que iri dirigir o Frodo já tinha certeza que ia ser bom. Esse filme tem: padre ninja (que morre e vira padre zumbi), enfermeira zumbi com a garganta cortada que come pelo buraco da garganta, e dá para o padre zumbi e eles fazem um neném zumbi :-) , vovó zumbi que come o cachorro da casa, o macaco rato do Sumatra e uma cena onde uns 50 zumbis são mortos por um cara segurando no alto um cortador de grama. É o filme que mais usou sangue na história. Precisa de mais?

28 Days Later e 28 Weeks Later

Praticamente redefiniu o gênero zumbi (não são tecnicamente zumbis mas são né moçada) e foi sozinho responsável pelo ressurgimento e a nova popularidade que os zumbis tem hoje (muitos neófitos que tem muito para aprender :-) ), Extermínio é simplesmente excelente como filme de qualquer gênero e um dos top 5 filmes mais tensos que eu já vi - e olha que eu quase só vejo filme tenso. Ótima maneira de introduzir filmes de zumbi para quem não conhece/não gosta/acha que não gosta. Uma das visões mais viscerais e realistas do apocalipse que eu conheço, não tem senso de humor e marcou todo mundo na época. A continuação não é tão legal quanto o primeiro mas também é boa.

Biozombie, Junky e Wild Zero

Biozombie é coreano e é uma espécie de Dawn Of The Dead na Coréia (se passa num Shopping) e é um dos tops filme de zumbi que eu já vi - é o filme que tem um zumbi sushimen que mantém sua paixão pela garotinha até depois que morre e salva eles na garagem.
Junky é japonês e mistura zumbis com yakuza. E Wild Zero é o filme de zumbis do Guitar Wolf, que são basicamente os Ramones do Japão. E eles transformam as guitarras em Katanas. E tem
Alienígenas. É tipo o filme mais legal do mundo.

City of Rott

Animação feiosa que conta uma história surpreendente boa de zumbis, engraçado e pertubador ao mesmo tempo. Você acompanha um velinho tentando achar seus sapatos no meio de um mundo cada vez mais acabado e na sua senilidade meio alheio ao que está acontecendo - e vai entrando na loucura dele. Recomendo muito.

Dead Meat e Undead

Dois filmes de baixo orçamento tentando ser modernosos, e bem legais por isso. O Dead Meat é Irlandês - ous eja, todo mundo doente, sotaque pesado e tem uma vaca zumbi (YES!). O Undead tem uns efeitos especiais e tal e tenta ser um Matrix de zumbi, só que com pouca grana. E é o filme que tem peixe voador zumbi. Veja os dois.

Zombie Strippers

Feito com atrizes pornôs (mas não é pornográfico), fazia bastante tempo que eu não via um filme de zumbi bom assim. As strippers que se tornam zumbis viram o hit da boate fazendo com que as vivas, na inveja, peçam para ser mortas por elas, enquanto o porão vai se enchendo com as vítimas das garotas (que por sua vez também viram zumbis). Muito bom e vou acompanhar os próximos filmes desse diretor.


Moçada tem muito mais na lista mas acho que dá para começar... quando assistirem tudo isso me procurem que eu indico mais!!! E mais... e mais... maiiis... braaaaaaaains!!!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

RESUMINDO

Outubro/08 foi um inferno.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Top 5 Shows Onde Eu Mais Me Machuquei

Já que eu ando falando do relacionamento entre dor física e música...

Já presenciei:
- nego quebrando o nariz na minha frente tomando um socão na cara de soco inglês num mosh no show do Sepultura
- nego pulando do palco e a moçada abrindo e indo diretaço de cabeça no chão, entrando em convulsão na poça de sangue dele
- Nego subindo em cima de torre de amplificador tipo 5 ou 6 metros e se jogando de lá para resultados não muito bonitos
- nego rodando corrente, deitando no chão por querer, ficando em pé de olho fechado e outros comportamentos bizarros no mosh. Nenhum deu certo.

Hoje sou véio e comportado e vou no show do Interpol. No show do Interpol ninguém se machuca.

Meu top 5 pessoal é:

5 - Jon Spencer Blues Xplosion no Eletronika empatado com Guitar Wolf na Obra: nem tanto me machuquei mas foram os shows que mais demandaram fisicamente falando. Multidão insana te jogando de um canto para outro sem respirar pela duração inteira do show. Eu vi o palco desses dois shows de todos os ângulos que existem - acho que até de cima e de baixo. Vale pela energia de ir em uns 5 Sepulturas ou em uns 250 Chico Buarque.
4 - Raimundos na Gameleira - Raimundos na época em que era legal (segundo disco), lugar gigantesco de terra - poeira subindo e público louco quebrando tudo. Meu amigo Carlos Javali que é tipo 10 vezes maior que eu só me puxando para os moshs mais selvagens e o amigo dele Leandro bêbado idiota indo. Saí com um desenho de caveira do anel de alguém imprimido direitinho no meu braço. Meu estado geral impediu de moshar depois da quinta ou sexta música. Lá para sétima eu voltei :-)
3 - Losc em Geral - as histórias do Losc são infinitas então não vou me alongar, mas listando as duas piores, cair de costas retas igual bambu verde batendo a cabeça no chão e arrebentando duas cordas de uma só vez e ser jogado umas 4 vezes em cima do amplificador por um cara (em quem eu dei uma botinada na cara)
2 - Mukeka di Rato no Alcatraz - o vocalista do Mukeka é enorme e pesado. E literalmente caiu em cima de mim. E resolveu cantar o resto da música caído no chão. E eu juro que tentei sair mas não estava conseguindo respirar. Não foi bonito.
1 - Dog Eat Eat/DFL na Trash - Não são duas de minhas bandas preferidas, mas foi um dos melhores shows que eu fui na vida, tirando o fato de algum fdp pular do palco exclusivamente em cima de mim me fazendo arrebentar a língua e voltar para a casa com a camisa branca vermelha de sangue.

Nota: depois de uma semana de sofrimento tô começando a melhorar :-)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Música para ouvir doente

Desde sexta feira 3:00 da manhã - quando fui parar no hospital para só sair no outro dia de tarde - tenho alguma treta que ninguém sabe o que é. Parece muito com pedra no rim - inclusive com a dor de dar vontade de morrer e tudo - mas ao contrário da outra vez a dor é constante e já dura dias. Estou basicamente fazendo tudo à base de analgésico, e mesmo ele não segura o diabo da dor inteira. Amanhã vou no médico olhar isso com profundidade, torce para mim. Aposto que é consequência desse perído sujeira do projeto Conan.

Como estou constantemente medicado e com um incômodo físico fudido meu mundo está leeeento e devagaaaar e bem desanimado e cinzento e um pouco angustiante também. Pensei em registrar aqui como esse estado alterado está se traduzindo nos meus hábitos musicais já que esse afinal é o assunto desse blog.

Primeiro, minha falta de energia não me deixa produzir música. Não consigo pegar na guitarra e não consigo absorver muita coisa nova por agora. Consigo escutar algumas coisas que descem macio e devagar e que no geral me são familiares. Então fica a dica de discos para você escutar quando também estiver ferrado - aceito também suas sugestões:

The Cure - The Head On The Door - ápice da época pop do The Cure, em breve vou escrever sobre toda a discografia deles
Sigur Rós - () - um dos discos abstratos mais lindos que eu conheço, ou dos discos lindos mais abstratos do mundo
Velvet Underground - Loaded - um lado mais quente, leve e bem humorado do Velvet
Breeders - Mountain Battles - excêntrico e meio vira lata, mas também interessante e relaxado tipo o próximo da lista. Parece inofensivo nas primeiras vezes mas vicia muito mais que você esperava: deveria ser vendido como substância controlada
Walkmen - You And Me - excêntrico e relaxado no melhor sentido possível
Panda Bear - Person Pitch - eternamente recomendado em momentos de stress
Elvis Presley - basicamente tudo - Elvis é seu amigo e fala com você e te entende quando você está doente

É isso aí. Vou me retirar para meu sofrimento :-)
Me manda uma energia boa de onde você estiver

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da Série Random Music - Eu Quero Ser Seu Cachorro

Desafio à ciência: por favor me explica como diabos esse cara sobreviveu.

Já saiu errado crescendo num trailer no subúrbio de Michingan. Andava com cabelo comprido até que foi obrigado pelos pais a cortar e mandou o barbeiro cortar o cabelo dele igual ao dos 3 patetas; foi batera de uma banda de blues (The Iguanas) de onde roubou seu nome artístico (Iggy). Foi viciado em heroína e orgulhoso disso basicamente a vida inteirinha. E quando no início da década de 70 formou os Stooges nascia uma espécie de monstro que nunca atingiu muita popularidade mas mudou para sempre a música.

O Iggy Pop disse só ter entendido o rock quando foi ver um show dos Doors numa universidade e o Jim Morrison chegou completamente bêbado/louco/caindo, insultou todo mundo, cantou todas as músicas num falsete irritante (uahauahuaha imagina ele fazendo uma vozinha de mulher no lugar daquele gravão dele) e foi expulso e quase espancado. A reação do garoto foi "YES"!
Quando iniciou os Stooges, a idéia era fazer uma espécie de rock diferente muito simples e primitivo baseado nos mínimos elementou possíveis que deveriam ser repetidos ao máximo para criar uma espécie de transe. Sem contar que isso era algo atingível para uns garotos que não sabiam tocar nem 3 acordes e nunca se importaram com isso. Você vê nos clássicos dos Stooges essa idéia - normalmente tem algo tipo 3 notas que se repetem de novo e de novo e isso é a música. Poderia ter saído horrível, mas por aquelas coisas que ninguém explica conseguiram fazer e realmente ficou um som meio esquisito e hipnótico - e a presença do Iggy fez essa base simples pegar fogo. Até Miles Davis mais tarde reconheceu ser fã de Stooges.

Iggy Pop é um cara que habita um mundo próprio - um mundo paranóico, violento, bizarro, confuso, engraçado, psicopata, tenso e muito rock. A referência para presença de palco imbatível até hoje é desse cara - quer exemplos? Tocava pelada batendo o pinto no microfone (e ainda dizem que é grande), quebrava garrafas no palco e rolava em cima dos cacos de vidro, andava em cima das mãos estendidas das pessoas lambuzado de manteiga de amendoin, arrumava brigas com membros da platéia (no último show dos Stooges desafiou uma gangue de motoqueiros inteira no rádio a ir no show - e foram - e ele tomou porrada demais), beijava as mulheres na boca, isso quando a heroína não fazia ele capotar no palco com 5 minutos de show e ele ter que sair de ambulância (aconteceu várias vezes). Tem um vídeo no youtube de um show que ele abriu para a Madonna e ela aparece pedindo para por favor não encha meu palco de vidro porque eu vou dançar nele. Na vida pessoal chegava ao ponto de amigos andarem com ele em uma coleira - de tão louco e fora do ar que estava.

Stooges era estranho demais para a década de 70 - ainda dominada pela palhaçada hippie - e era no fundo uma banda de outsiders. Frequentemente simplesmente escutar Stooges te deixava isolado na escola. Os caras dos Ramones se tornaram amigos pelo simples fato de serem todos eles fãs de Stooges. Demorou uns bons anos para as pessoas se tocarem que nessa brincadeira a banda basicamente inventou o punk rock. E muito anos antes de Ramones/Sex Pistols/The Clash.

O negócio é que esse tipo de banda sempre é fadada a auto destruição, e rápido. No caso deles durou 3 (maravilhosos) discos, entre eles o Fun House, batizado com o nome da mansão onde eles viviam ("viver" para eles provavelmente tinha um conceito um pouco mais extremo que o seu) e é para mim o caos em si capturado em poucos minutos (e todo gravado de uma vez só, sem overdub). Cansado da piração e sem banda, Iggy Pop se auto internou no hospício.

E lá estaria até hoje se o David Bowie não literalmente entrasse lá e assinasse os papéis tomando Iggy como sua responsabilidade. De quebra botou ele para gravar, tocou no disco e ainda saiu em turnê junto. O som do Iggy Pop continuou com a mesma personalidade mas trocou lado pesado por um pop meio maluco e experimental, mas muito estiloso e divertido - não muito distante do som do próprio David Bowie. De tempos em tempos estoura uma música legal dele, o som foi ficando gradualmente mais pop na veia, muitas viraram clássicões inegáveis dos anos 80 daquelas que todas as pessoas do mundo conhecem - Lust For Life, Candy, The Passenger - e os anos foram passando e o homem continua louco. E por mais pop que seja o som dele sempre tem um vislumbre daquele mundo particular. Fui no show dele e o camarada (com quase 60 anos) foi o único do festival (que tinha Sonic Youth, Flaming Lips, Nine Inch Nails, Fantomas etc) a fazer stage dive na platéia.

Procure os shows dos Stooges da década de 70 no youtube. Dá medo.

Comece por, continue por etc - comece pelos Stoogese vá pela ordem cronológica, são só 3 discos curtos (mais um que saiu por agora porque eles voltaram, mas não compara com os antigos) e depois entre na carreira solo dele, as melhores coisas estão no início. Depois rola um modo "piloto automático"
Bom resumo - Nude And Rude (coletânea foda)