quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Gang Gang Dance Bitches


Determinadas bandas são verdadeiros universos auto contidos. Elas não se resumem a escutar o(s) disco(s) ou ver alguns vídeos no youtube; algumas bandas são mais como coletivos de arte. São bandas que possuem conceito e identidade muito forte, e que normalmente para realmente absorvê-los existe um quebra cabeça para ser montado: discos, vídeos, filmes, o próprio show ao vivo. Sonic Youth, Boredoms, Flaming Lips: se você só escutou a música só entendeu parte da história.

O Gang Gang Dance é peculiar e interessante do início. Veio do fim de outras bandas mais ou menos bem sucedidas, mas foi montado por um pessoal que sempre seguiu conceitos interessantes:

  • música tem uma função espiritual e portanto eles sempre buscam algumas coisas de culturas que relacionam espiritualidade à música (normalmente orientais)
  • música não precisa ter forma nem estrutura, não precisa se limitar a o que entendemos como "canções"
  • a música mais primitiva e portanto a mais forte é a batida do coração
  • música deve dar prazer e o maior prazer que a música traz é dançá-la
Se você levar esses conceitos ao pé da letra já consegue visualizar um pouco do Gang Gang Dance: é profundo e dançante, música eletrônica com muita percussão e elementos primitivos misturados. Normalmente num disco do Gang Gang Dance é difícil saber quando terminou uma música e terminou outra, não existem refrões nem formatos manjados. 

Eu sei o que você pensou: mais uma banda estilo intelectualóide chato UFMG que faz música experimental esquisitinha que normalmente é tocada por eles para eles mesmos e serve mais para ser admirada do que curtida. ERRADO meu brother. A banda leva a sério a idéia de que música precisa dar prazer: é dançante, tem vocais (não faço questão mas pô o lance é humanizado e não abstrato pra caramba como deve ter parecido), e acima de tudo, tem senso de humor. É profundo, mas não carrancudo; é música boa.

E também é uma experiência interessante. Shows improvisados, discos completamente diferentes um do outro, todo mundo batendo em tambor, a banda entrega os instrumentos para a platéia tocar (e às vezes deixa com eles até o fim do show e vai dançar). O disco Eye Contact de 2011 vai aparecer em tudo quanto é lista de melhores do ano, confia em mim.

Acho que comecei a entender qual é a viagem da banda quando li uma entrevista com eles onde comentaram a morte de um membro da banda que foi atingido por um trovão:

"We recorded our first record after about a year of doing this, then shortly after recording, Nathan was struck by lightning on a rooftop in Chinatown and died. This was obviously a very intense thing for us, but very joyous in many ways as well because he had always wanted to be struck by lightning. When this particular storm rolled into the city, he made a point of going to the roof and offering himself to the sky, as he always did, and this time the sky obliged. After Nate moved from earth to elsewhere is when something began to drive us to really work harder on the band and to buckle down a bit and begin really bashing it out. It seemed very unconscious in a sense, as if Nate was pushing us from the heavens, telling us that it was urgent and important to do this. And really from then on we have been playing quite militantly and have immersed ourselves in Gang Gang."

Não preciso comentar mais nada.





Um comentário:

Anônimo disse...

... e ninguém jamais morreu "atingido por um trovão".