terça-feira, 1 de novembro de 2011

Quer ouvir um disco bom? + a síndrome do artista angustiado


No início da década de 2000 entre diversas direções (ou falta de) que a música tomou - e somando a tendência predominante de só olhar para trás que a década de 2010 ainda não conseguiu dar um jeito - tivemos uma volta forte do folk. Sempre que alguém pôde pegar num violão e cantar uma música simples o folk existiu, mas no formatinho que conhecemos se tornou forte na década de 60 e é o tipo de estilo que por possuir um modelo tão simples sempre terá coisa interessante para oferecer. Excluindo o chamado freak folk (ver os Devandra da vida) que eu detesto porque é tentativa de ressuscitar o que fez muito bem em ter morrido  (HIPPIES) eu no geral gosto do som e de muitos derivados.

O que tem me causado reflexão é o famoso mito do artista sofredor que gera boa arte. Tem toda a cara de lenda urbana mas estou chegando à conclusão que isso é verdade. Conheço uma série de bandas formadas por pessoas complicadas, depressivas, desesperadas, raivosas, angustiadas, que exorcizam tudo isso para fora em ótimos discos. O problema é que por natureza é um jogo auto destrutivo: ou você vai permanecer ferrado na cabeça o resto da vida e continuar produtivo de alguma maneira ou um dia você vai fazer paz consigo mesmo e ter que achar um novo caminho para a sua arte, que vai necessariamente mudar.

Bright Eyes é um projeto de indie-folk que está entre minhas bandas preferidas desde a adolescência e é dos sons mais desesperados que eu conheço, até recentemente - quem ouviu o People's Key deste ano se surpreendeu com um disco otimista, bonitinho, equilibrado, até mesmo pop. E não muito bom, aliás, tem seus momentos, mas muito distantes dos discos realmente memoráveis deles. Desde exemplos recentes (Battle For The Sun do Placebo) até mudanças lá atrás (acho que parcialmente é o que tornou o Lou Reed muito menos interessante com o passar dos anos), "se achar como pessoa" literalmente destruiu o Weezer e acho que foi o que fez o Trent Reznor aposentar o Nine Inch Nails. Ou seja, sofram artistas. Por favor.

(ou será que o problema é comigo e eu é que procuro música desesperada sempre?)

Toda essa introdução é para comentar que é o que vinha acontecendo com o Wilco. Para mim sem dúvida entre as melhores bandas da atualidade, o Wilco sempre teve a base forte no folk mas nunca teve medo de ir além e experimentar para caramba, a ponto de já ter sido chamado de "o Radiohead americano", não porque o som se parece mas porque é uma banda sem medo nenhum de mudar e arriscar, mas não perde a essência, e por isso o público anima a acompanhar. O Yankee Hotel virou um disco lendário. Tem uma história interessante envolvendo rejeição total da gravadora por ser muito anti comercial e levou a banda a ter que lutar por anos para lançá-lo ao mesmo tempo em que é maravilhoso. Tem até um filme sobre isso, chamado I Am Trying To Break Your Heart. A voz de Jeff Tweedy é das minhas vozes preferidas no rock e o típico momento Wilco para mim é uma barulheira caótica from hell rolando e a voz dele plácida e bonita cantando no meio como se nada estivesse acontecendo.

E é a banda que eu mais toco no violão, por um motivo ou outro.

O disco de 2011 (The Whole Love) foi um bom passo na direção de voltar com o Wilco que eu gosto. Muito mais rock que folk, não entrou (ainda) na lista dos meus preferidos do Wilco (o próprio Yankee, A Ghost Is Born, Being There) porém foi satisfatório o suficiente para me fazer voltar em um disco que eu não havia gostado (Sky Blue Sky) e redimi-lo. Passei a semana passada inteira escutando ele no repeat. Cheguei a colocar outra coisa e parar no meio da primeira música.

Escute Art Of Almost (para mim de cara uma das melhores músicas deles) e veja se eu não tenho razão:






Um comentário:

Anônimo disse...

Por exemplo, não existe "Devandra" nenhum...