domingo, 8 de março de 2009

Da Série Random Music - As Dores de Ser Puro de Coração

Rock é confrontação, e confrontação é crescimento. Por isso que o rock sempre muda e gera uns estilos malucos à medida em que confronta o que acontece, confronta a si mesmo, confronta a sua própria confrontação. Na época do hardcore, onde o que dominava a música alternativa eram bandas tipo Black Flag e Misfits e Bad Brains, bandas que surgiram para ser 100% contra a corrente principal do rock e se caracterizavam como ultra rápidas, agressivas, porrada e shows em que havia altíssima possibilidade de vocês levar um soco na cara (muitas vezes da própria banda, procure essa moçada no YouTube), nasceu uma corrente alternativa-ao-alternativo onde a idéia era ser o anti-hardcore, ou seja, bandas bonitinhas-assexuadas-fofinhas que cantavam música pop levinha e divertida e intimista e (literalmente) jogavam balas na audiência em vez de dar soco na cara. Essa corrente ganhou o nome de Twee-pop ("twee" seria como um neném pronuncia "sweet") e foi levada para frente por gravadoras hoje muito importantes como Rough Trade e K Records (aliás a tatuagem que o Kurt Cobain tinha no braço com a letra K era o escudo da K Records).

A palavra chave do Twee é "intimista". O disco perfeito de twee seria (ou pelo menos teria que dar a sensação de) ter sido gravado por um(a) adolescente trancado sozinho no quarto cantando e tocando em um gravador para si mesmo - e nessa época essa obsessão com intimismo chegou a gerar fitas cassete circulando e disputadas a tapa que eram quase que literalmente isso. Na verdade para entender o que é que eles queriam basta ouvir uma disco que é uma espécie de "marco zero" do twee - o terceiro disco do Velvet Underground, gravado pelo Lou Reed numa época deprê onde ele dependia pesadamente de heroína e fez uma porção de música calminha, bonitinha, que andam leeentamente e criam um clima de alguém bem triste/exausto dedilhando um violão e cantando sem fazer muito esforço meio que para só ele mesmo ouvir. Aliás como tudo do Velvet é um disco perfeito e obrigatório.

Twee nunca foi um dos meus estilos preferidos - já me interessei um pouco por umas coisas derivados como Teenage Fanclub - mas me apareceram uns nerdzinhos (puts, e QUE BANDA NERD) do Brooklyn que entenderam muito bem qual é a idéia e como fazer isso funcionar muitíssimo bem. E a maneira deles de funcionar é pegar todo o espírito do twee - ser meio que fofnho e inocente e bem adolescente sonhador romântico no quarto - e botar esse espírito para fora sem medo nem vergonha nenhuma. Porém embaixo de uma levada punk bem fácil e cativante (pop até) e umas guitarras barulhentonas mas melódicas, algo como o Jesus and Mary Chains fazia, tirando umas gramas de agressividade. Não sei se essa fórmula foi um acidente, mas se foi, foi feliz - fizeram um disco curto e direto (único da banda e saiu tem pouco tempo) que por pouco mais de 30 minutos te leva sem culpa de volta a seus sentimentos adolescentes e não cai em vícios que podem ser chatinhos do twee já que a moçada não paga pau para distorção nem para microfonia. E só para fechar escolheram um nome muito foda - The Pains Of Being Pure At Heart, título de um livro infantil não publicado escrito por um deles.

Coloque na lista junto com os primeiro disco dos Strokes e do Vampire Weekend - bem aquele estilo que não te derruba de primeira, mas que tem uma certa leveza que torna ele muito viciante. Eu escutei esse disco no repeat por pelo menos umas 3 horas seguidas.

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