quarta-feira, 28 de abril de 2010

Grunge is Dead

Estou lendo um bom livro chamado Grunge is Dead, que é basicamente a aplicação do conceito tornado famoso pelo Mate-me Por Favor para a breve explosão do rock de seattle no início da década de 90. Para quem não conhece, o Mate-me Por Favor é um livro escrito 100% a partir de depoimentos dos participantes e pessoas chave que editados de uma maneira que faça sentido contam a história do punk pelo lado de dentro. A leitura muito me interessa porque tenho uma conexão emocional muito real com a música desta época e como eu suspeitava tem muito a cavar ali.
O que dá para compreender é que uma explosão daquela tem muito valor cultural por ter sido de fato orgânica. São de fato bandas de moleques da cidade que começaram a tocar nos clubes sujos para público local. Chamou atenção pela combinação rara de talento real + esgotamento do mercado de rock da época pelo metal farofa (já tinha dado o que tinha para dar e gerou um vácuo de ânsia pelo novo) + atuação da imprensa inglesa que criou o mito e decidiu que um monte de banda da mesma época do mesmo local são a mesma coisa + uma gravadora (sub pop) com uma intensa incompetência administrativa mas grande talento para vender como novo o que na verdade era mais uma manifestação de tendências que já existiam no underground do país. Aliás some Sonic Youtn + Pixies + Replacements + Butthole Surfers e veja se não sai o som grunge. Porém, ainda bem que venderam boas bandas que revitalizaram o rock sim, não eram meras cópias e que levaram as influências para cima junto.

O template de fato é o Soundgarden. Começou cedo, influenciou todo mundo, estourou menos porém mais cedo que o Nirvana e era a banda que as pessoas queriam ser quando queriam fugir do rock tradicional da época. Para ter noção do impacto, quando o baixista saiu Kurt Cobain - que disse para eles se considerarem sua maior influência - pensou em se candidatar, e isso depois do Bleach. Soundgarden foi o responsável pelo Alice in Chains largar a onda farofeira e virar o monstro dark que se tornou.

O Mudhoney (e em grau menor a banda mais antiga do Mark Arm com os caras que viriam a se tornar o Pearl Jam, Green River) injetou um bocado de caos criativo na cena. Para mim ele é uma espécie de Iggy Pop de Seattle - incluindo a heroína - só que com o vocal mais psicopata e um espírito muito mais experimental. Vá atrás das coisas velhas dele - Mr. Epp fazia música com objetos tipo o Neubauten e os Throw Ups tinham como regra somente não ensaiar nunca e inventar as músicas na hora do show. Escute Mudhoney muito alto - dá para ver nitidamente que foi dali que veio o som das bandas grunge mais punks. Note que seus vizinhos vão achar que você está quebrando sua casa.

Melvins é muito interessante porque não se parece com nada. Começou como uma banda de hardcore que queria ser a mais rápida e depois resolveu ser a mais lenta do mundo. As referências estão lá - Black Sabbath do início, doom metal, vocal meio doente estilo Mudhoney - mas são usadas de uma maneira única. Melvins não tem limites - é capaz de fazer uma música cuja guitarra só repete uma nota o tempo inteiro ou de largar o batera tocando 5 minutos a batida da música sozinho. É muito pesado e chega a ser estressante de um jeito legal. O som do Melvins reflete muito no metal moderno - as bandas que tocam ultra lento e sinistro tipo Sunn O))). Melvins é cheio de projetos malucos - o disco Chicken Switch possui uma música para cada disco inteiro do Melvins, mixado em 5 minutos por gente tão louca quanto eles (tipo os caras do Boredoms). Respect!

Tem muito mais coisa para explorar ainda - Malfunkshow, U-Men, Posies - vou postando as que eu gostar. Por hora deixo 4 dicas básicas não tão obscuras mas frequentemente esquecidas (e retomadas por mim com empolgação ultimamente):

Mudhoney - Superfuzz Bigmuff
Green River - Dry as a Bone
Melvins - Bullhead
Screaming Trees - Sweet Oblivion

Um comentário:

Hell'oN disse...

Perfeito! Bela resumida de um pouco do que a Seattle Sound era. Ainda quero adquirir este livro! E as dicas, perfeitas também. Acho que o ''Superfuzz Bigmuff'' é um dos albuns que definem perfeitamente bem o que é Grunge! Além das belas capas, ás vezes muito similares, como Louder Than Love, Bleach, Screaming Life, Superfuzz Bigmuff.