sábado, 13 de agosto de 2011

Pombos


Não sei quanto à você, mas em relação à música eu sempre acho mais bacana trajetórias do que pontos.

Eu sempre acho bacana a sensação de acompanhar alguma banda (estilo/movimento/tendência) que você gosta, ver aquilo  mudar com o tempo, crescer (ou não), tomar direções inesperadas, fazer um disco com uma guinada que você não imaginou, ou que era exatamente o que você queria, ou que você detestou de início mas com o passar do tempo passou a fazer sentido - principalmente quando você vê um disco como um ponto de parada em um caminho e não somente como algo isolado em si mesmo - ou mesmo os casos tristes em que você percebe que desceu a ladeira mesmo (estou olhando para o Weezer agora).

E as trajetórias mais bacanas são as que geram algum tipo de salto maluco e difícil de ser antecipado. Radiohead no Ok Computer (e de novo no Kid A), Beach Boys no Pet Sounds, Blur no Modern Life, New Order no Low Life, a lista é infinita e infinitamente satisfatória.

O último caso super interessante foi o do Here We Go Magic, sem dúvida uma das bandas que mais ouvi desde a parada deste blog. Começou como um projeto onde um camarada chamado Luke Temple podia pegar sua guitarra e compor algumas músicas indie-folk bonitas e um bocado psicodélicas, acrescentando algumas camadas de eletrônico por cima. Nada de errado com isso, mas se parece com a descrição de 99% das bandas indie surgidas de 2000 para cá. O disco Here We Go Magic não passou despercebido nem criou nenhum grande furacão.

Até ele começar a tomar algo diferente e trabalhar com a melhor palavra que Deus criou para os músicos: FODA-SE. Estive em Atlanta este ano e pude pegar um show, principalmente focado no Pigeons (o segundo disco, que comprei na mão do baixista deles). Eu sou guitarrista e fiquei olhando para o guitarrista deles pensando "mas que diabos esse cara está fazendo", não porque era impossivelmente técnico (não era) mas porque aqueles arranjos malucos não deveriam fazer sentido, mas faziam, ou seja, não é assim que se toca guitarra, mas é exatamente aquilo que a música pedia.

O conceito é o mesmo (indie-folk hora feliz frenético hora melancólico com umas camadas de eletrônico) só que esticado ao máximo, exagerado, bagunçado. Imagine algumas músicas em que tem milhares de coisas acontecendo ao mesmo tempo que parecem que não vão encaixar mas se encaixam, e não só não ficam confusas como soam bastante acessíveis sim, até mesmo pop. Pop do futuro ou do planeta marte, mas sem dúvida pop.

Aguardando ansiosamente o que esses caras ainda vão fazer. Recomendo muito para quem tem o espírito inquieto.

Comece por - Pigeons, por favor
Continuação da maluquice - The January EP


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