quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sombra Gêmea


Eu já tive minha fase adolescente rebelde radical cabeça fechada onde qualquer coisa de aproximasse do pop era um crime e só escutada por quem não consegue ter a mínima noção de música. A medida que a idade chega (e os fios de bigode branco, a miopia aumenta e acordar cedo no fim de semana não me dá mais vergonha) não venho me desinteressando por formas de música menos palatáveis e mais experimentais ou agressivas. Agora tenho que admitir que quem consegue (ênfase na palavra CONSEGUE porque é de fato uma missão dificílima - eu não sei se eu mesmo consigo) criar música:
  •  instantaneamente palatável
  • que desce fácil
  • é fácil de gostar
  • se canta junto na terceira vez que você escuta
  • é passível de ser colocada no carro com pessoas mais velhas ou em uma festa de família 


E não é farofeira, derivativa, enjoativa ou desinteressante são os verdadeiros mestres - pense no Michael Jackson.

O último camarada que conseguiu me dobrar neste quesito foi um maluco com cara de indiano-mais-negão-que-o-normal-dos-indianos (na verdade ele nasceu na república dominicana) chamado George Lewis Jr. que grava com o nome de Twin Shadow. Ele lançou o primeiro disco ano passado (chama-se Forget) e junto com Best Coast foi provavelmente a banda nova que mais ouvi em 2010. O que esse maluco tem de especial?

Primeiro: a voz do sujeito lembra muito a do David Bowie. E não é qualquer vocal do Bowie, é daquelas músicas pop mas com um toque dark/melancólico/austero e porque não, sexy (a música!! não a pessoa!!!) que o Bowie não faz mais. Dizer que o disco dele parece um disco novo do David Bowie só que MUITO FODA é ao mesmo tempo uma crítica (não tem como falar que é completamente inovador) e um puta elogio. Tem outra coisa que parece ser um saco no papel mas aqui de alguma maneira deu muito certo: é mais uma banda nova com pé nos anos 80. Apesar de isso já ter me dado no saco (os anos 80 são os novos 60, viraram a música default que todo mundo gosta), neste caso foi feito com tanto bom gosto que não me incomodou. Pelo contrário, me pareceu o que seria do pop dos anos 80 se ele tomasse um rumo mais sério, bonito e menos ridículo como em grande parte das vezes. 

Então, é um som mais feito em sintetizador do que tudo, apesar de soar razoavelmente orgânico; tem tudo no exato lugar e gera um clima muito gostoso de se ouvir em casa tomando um Jack Daniel's conversando com amigos ou dirigindo no carro com a cabeça cansada de fim do dia. Mas o melhor que eu posso dizer do disco é que é aqueles discos raríssimos em que eu gostei MUITO de TODAS as músicas logo na PRIMEIRA vez em que ouvi. E faz parte daqueles mais raros ainda em que voltei a ouvir ele (muitas e muitas vezes) e não perdeu nada da novidade e do clima. Não deixe de dar um play ali embaixo, claro que posso estar muito enganado mas não consigo imaginar ninguém não gostando dessa banda. 

A não ser que você seja um adolescente rebelde radical cabeça fechada que acha que qualquer coisa que se aproxima do pop é um crime e só escutada por quem não consegue ter a mínima noção de música.




Um comentário:

Anônimo disse...

Muito foda. Música pra sexta-feira.