terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quer ouvir um disco absurdamente foda?


A década musical que menos me interessa é 70 (tirando 77 para frente por causa do punk), mas ela tem elementos legais que não são mais usados, entre eles fazer música paciente, trabalhada, que não se preocupa em "perder" tempo construindo climas porque a audiência tem a capacidade de concentração de uma formiga. Outras coisas legais incluem dar um nome cósmico para a sua banda e não ter medo de colocar até a pia da cozinha nas suas músicas - não confunda com rock progressivo, por favor. Este morreu de deveria continua bem morto mesmo.

Outro conceito que quando bem feito é sempre interessante é o da falsa infância, a forma misto romanceada/maluca/exagerada/verdadeira com que lembramos da nossa infância mas que no fundo não foi bem assim. O meu caso em particular é bacana não porque eu sou aquele amigo do seu pai que diz que teve a melhor infância do mundo, porém:
1-eu tenho a memória esburacada
2-eu sempre tive a imaginação hiper-ativa

Memória com buracos + muita imaginação = mundo muito louco e cheio de mistérios. Eu realmente achava que dormia um saci dentro da última caixa que ficava na pilha de tranqueiras da casa da minha avó. Eu realmente achava que é possível construir uma nave espacial no quintal se você for muito inteligente e tiver um computador. Tem algumas obras que captam esse sentimento de mistério infantil bem, pense no Steven Spielberg quando acerta. E foi um dos pontos que tornaram o Hurry Up We're Dreaming maravilhoso.

Conhecia o M83 só de nome mas a atenção que o disco deles de 2011 chamou me fez ficar curioso o suficiente para experimentar e agora sou basicamente um fã que só conhece um disco (já já corrijo isso). Basicamente é o projeto de um francês maluco chamado Anthony Gonzalez que começou como uma banda mais shoegaze e foi tomando uma direção mais misturada com, talvez, chillwave (não acho uma música como Midnight City tão distante de algo do Washed Out). Há eras o rock não é feito primariamente de guitarras e o instrumento do M83 é definitivamente o sintetizador, então o som tem bastante de eletrônico mas uma atitude sem medo nenhum de usar o que precisa - desde guitarra distorcida até saxofone e tudo que está entre eles. Porém não é necessariamente dançante - é mais pop e com uma onda agradável (quente talvez seja uma boa palavra) e com esse senso de excitação das crianças.

E é épico para cacete. Para mim o estilo do M83 deveria se chamar "rock épico para cacete". Uma música pode começar com um dedilhado quietinho no violão mas você sabe que sempre vai terminar com uma barulheira gigantesca e estourando sua caixa, duzentos instrumentos sentando a lenha, eu ouvi esse disco dirigindo sozinho na estrada e toda hora eu me via dentro de um universo sonoro intenso que baixava e subia de novo. Ah, e o disco é duplo - então é uma experiência legal tentar atravessar ele todo de uma vez.

Melhor disco de 2011.

Saca só:

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