quarta-feira, 24 de junho de 2009

Da Série Random Music - Give Up he Funk

Na década de 60 a Motown foi inegavelmente a força dominadora total atrás da música negra americana. Em todos os sentidos - desde artístico até comercial. Basicamente toda música negra pop que você conhece hoje deve alguma coisa em algum nível para eles, e todo artista negro fazia música popular próximo da época tem algum tipo de ligação com a gravadora, desde Stevie Wonder até Marvin Gaye. Eu particularmente não sou muito fã, exceto de artistas que eram geniais de fato não importa para quem estavam gravando. Mas ninguém imaginava que um doidinho que trabalhava como compositor contratado da Motown na década de 60e que não conseguia decolar com nenhum sucesso iria basicamente revolucionar a música funk e virar um camarada tão completo e fodaço - para não falar maluco.

George Clinton é conhecido por suas duas ótimas bandas clássicas e pela carreira solo dos anos 80. As bandas são Parliament e Funkadelic - que na verdade são basicamente a mesma banda (com um suporte de muitos músicos rotativos) gravando discos com nomes diferentes por questões bizarras comercias de relacionamento com a gravadora. Por causa do Parliament, Clinton declarou que o estilo que elas tocavam se chamava "P-Funk" e acabou pegando porque foram influenciais para cacete, ou seja, todo mundo que tocava algo parecido com esses camaradas toca "P-Funk". E porque isso é tão importante?

Ficou muito claro para mim qual é a onda um dia que tentei compor com a banda uma música estilo Parliament. No fundo funciona em um nível bem viajante mas é mega dançante ao mesmo tempo, e é muito mais difícil de fazer do que parece. Sabe aquela onda da música eletrônica de repetição infinita para gerar uma espécie de transe? Eu imagino um ensaio do Parliament onde o baixista mostrava uma linha de baixo bem bacana e dançante e o George Clinton dizendo "beleza, agora toca isso aí por 10 minutos", o baterista acompanhando, os metais improvisando em cima, as backing vocals jogando aqueles "give up the funk" (aliás os arranjos vocais são super ricos) e por cima Mr. Clinton pirando - tudo que ele canta parece improvisado na hora por alguém que tomou todo tipo de substâncias, o que provavelmente é verdade. Quando gravavam com o nome de Parliament, o foco era no funk, nos metais, no lado dançante; quando gravavam como Funkadelic (a minha preferida) era a mesma onda só que mais rock, muita guitarra, distorção, solos e barulheira.

E quando tocava com qualquer um a temática sempre é meio maluca - as letras variavam de
invasões alienígenas a protesto social a mulheres bonitas a "expandir a mente" a clones e por aí vai. Os músicos tocavam sempre vestidos da maneira mais exdrúxula que conseguiam - imagina um monte de velho barbudo tocando funk vestidos com fraldas geriátricas. No fundo é música única e malucaça construída a partir de um monte de elementos simples e repetitivos que se combinam para formam alguma coisa complexa e incrivelmente bem feita - o wikipedia lista 32 músicos que já foram parte da banda.

Me lembro quando eu comecei a me aprofundar em Funkadelic e ficar numa espécie de êxtase porque a banda te passa uma espécie de energia e vontade pura (ou prazer puro) simplesmente de estarem tocando por tocar que eu não consigo evitar ficar contagiado - simplesmente pelo som. É uma banda que você pode trancar por 5 dias seguidos em um estúdio que imagino que eles não sairiam nem para comer. E 5 dias depois ainda estariam improvisando. E saindo coisa boa.

Funkadelic - comece por: Maggot Brain - o mais viajeira de longe e guitarras absurdas
Parliament - comece por: Mothership Connection - essência deles muito na veia
Coletânea brutal e definitiva do Funkadelic - Motor City Madness
Fun Fun Fun com Parliament (soca nas suas festas) - Chocolate City

ps: a voz que fala "see the turtle go" no início da Yertle The Turtle dos Red Hot Chili Peppers é do trafica que vendia cocaína para o George Clinton (!) e a aparição dele no disco foi o pagamento da dívida que estava sendo enrolada até aquele dia e foi ser cobrada no estúdio.
ps2: George Clinton é (não por coincidência) o artista mais sampleado da história, tanto que ele lançou um cd só com pequenos pedacinhos de músicas justamente para você samplear
ps3: rola pensar em comprar um porque agora tenho uma tv full hd :-)

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