Escuto frequentemente música derivada do punk mas já tem algum tempo que eu não ando em uma fase punk crássico. Me reconectei com esse som a pouco tempo quando lembrei o quanto o BOM punk no fundo é um gigantesco FODA-SE. E é um foda-se dos bons, um foda-se natural e necessário e dito com vontade. Todo mundo que tem olha para o mundo e sente uma grande falta de paciência com tantas idéias e convenções e regrinhas e conclusões prontas e é porque é e faça porque tem que fazer tem um pouco de punk em si. E todo mundo que colocou esse sentimento em música deve algo aos Sex Pistols. Eu escuto esse foda-se hoje quando escuto Northern Light - que toca electro - e quando escuto os Liars. Eu escuto esse foda-se quando escuto Dizzee Rascal e se bobear até na Amy Winehouse. Eu NÃO escuto esse foda-se quando escuto, tipo, Offspring. O verdadeiro punk não está na superfície.
Foram uma banda montada? Foram sim, mas com genialidade. INCLUSIVE comercial porque fez um bocado de grana picaretando as gravadoras assinando contratos e recebendo multas recisórias porque ninguém aguentava segurar as merdas deles - e ainda por cima documentaram isso na cara na música EMI e no (obrigatório) filme The Great Rock and Roll Swindle. Os Pistols fizeram tudo errado na hora certa e foram relevantes não só para o rock, mas para a cultura e por extensão lógica a sociedade.
Sabe aquela imagem icônica do punk de cabelo colorido espetado e colorido? Esses são os Pistols, não os Ramones. A banda não tocava em casas de show, mas em qualquer outro lugar, incluindo prisões e hospícios. A primeira vez que palavrões foram ditos na história da TV britânica foi em uma entrevista com eles, que pelas notícias de jornal foi o nascimento do punk para o grande público (e a maldiçãd dos Ramones por associação, que estavam meio que estourando com Sheena e foram sabotados nas rádios). Você imagina uma banda hoje chegar ao número 1 da Billboard e a parada ser publicada com o número 1 EM BRANCO? Era nesse naipe, e hoje isso não acontece mais, em parte porque os caras dos Sex Pistols (mais de um vez) já tomaram facada na rua por isso.
Conheço bandas mais pesadas, rebeldes, radicais e polêmicas que os Sex Pistols, mas não com tanta inteligência e ironia e nem de longe conseguiram marcar ou ser tão relevantes. Fenômeno desses é um a cada 20 anos. E olhe lá.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Da Série Random Music - Stand Up Tall

O grime ainda é tido como um estilo underground, mas o cara que chegou mais próximo de popularizá-lo é um camarada sujeira do lado pobre de Londres que literalmente deixou o crime por causa da música chamado Dylan Mills ou, para o público, Dizzee Rascal. Antes membro do Roll Deep (que junto com So Solid Crew teve muito crédito em estabelecer os alicerces do grime) o camarada - que é tanto produtor quanto mc, ou seja, basicamente faz tudo sozinho - já ganhou um bocado enorme de respeito com o primeiro disco e continua lenta e gradualmente subindo até hoje. Quem é mais espertinho já sacou que não tem nada mais legal acontecendo no hip hop em 2008.
Porque o Dizzee comanda? Porque é literalmente um puta de um artista. Independente do estilo de música. Aliás, independente de trabalhar com música. Isso significa que tem visão e personalidade, tem talento e não tem medo de porra nenhuma. As letras são total desesperantes e mapeiam a infância e juventude que ele (e boa parte do público) tem que passar: falta de direção, treta, envolvimento com crime, deprê, pau quebrando. E são cantadas de uma maneira intensa e rápida e com influência de ragga em uma voz totalmente incomum só que super legal (tem que ouvir, é inconfundível, você sempre sabe que é o Dizzee Rascal cantando). As batidas são grime na veia, nem sempre dançantes porque é muito louco e quebrado, mas sempre interessantes e fortaças na veia. E os arranjos tem desde guitarra death metal e barulho de videogame até música japonesa. Escutar o cd do Dizzee Rascal é basicamente entrar em um mundo novo. E tomara que o resto do hip hop preste atenção, ou vai comer muita poeira. Ignore se você gosta de rap, escute esse camarada se você gosta de música.
Mais fun fun fun e portanto mais acessível (comece por) - Maths + English
Melhor define o artista - Showtime
Mais sinistrão - Boy In Da Corner
Gostei e quero ouvir outro rapper legal no estilo - escute o Kano
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Da Série Random Music - Os Potros

Normalmente acaba com o rótulo de math rock a banda que é focada em técnica, em usar tempos ímpares esquisitos, em colocar nas músicas um monte de melodia maluca diferente acontecendo ao mesmo tempo e se entrelaçando de maneiras não óbvias. É um som complicado, sempre bastante experimental e frequentemente difícil de ouvir, mas muitas vezes inovador e interessante também. Isso não é progressivo? Minha interpretação é que o rótulo math rock acaba caindo para bandas que usam sua técnica para fazer música maluca de uma maneira interessante e o progressivo é técnica por técnica de um jeito chato. :-)
Talvez a banda mais conhecida que flerte com math rock seja Tool, e como eles várias bandas levam para o lado pesado - Dillinger Escape Plan ou Krallice, por exemplo. Já outras exploram o experimentalismo ao máximo (Battles, que merece seu próprio post) ou que aplicam esse conceito em outros estilos, por exemplo o eletrônico (Autechre).
E em algum momento, alguém teve a idéia bacaníssima de aplicar as idéias do math rock em um contexto mais acessível, pop, divertido e até dançante. Ou seja, música maluca cheia de linhas diferentes e interessantes tocando ao mesmo tempo endoidando sua cabeça mas dispostas em um tempo mais balançado com vocais pop e um espírito indie. Esse som é feito com guitarras + um bocadinho de techno minimalista por uma banda de Oxford conhecida por dar um show mega selvagem (peguei um pedacinho dele no Planeta Terra e constatei que é verdade) e por ter um vocalista recluso que vive meio quie isolado do mundo, aposto que criando música legal dentro da cabeça doida dele. Essa banda é os Foals, e com um (ótimo) disco só tem feito um bocado de barulho.
De início pensei que era mais um Rapture - banda de disco punk que gerou um milhão de imitadores que fazem esse som indie dançante - mas tinha alguma coisa a mais, e um primeiro indicador foi que as texturas são todas limpíssimas. É cantado com voz limpa, as guitarras são todas limpinhas e definidas, bem como os sintetizadores, o que meio que vai de frente com a maioria desse tipo de banda. Depois reparei no quanto é trabalhadaço e difícil de tocar - o que não é esfregado na sua cara o tempo todo como no progressivo. E ainda assim é divertido e não cerebral. Foals chegou em uma fórmula única, que pode ser uma faca de dois gumes. Daqui para frente eles vão ou crescer e expandir essa fórmula e se tornar uma banda relevante para valer ou vão (também vejo acontecer muito) se tornar escravos desse som novo que descobriram.
E até eles se decidirem, continuo me divertindo muito com o seu antídoto.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
com certeza eu não vou voltar vivo
Acabo de ver o DVD do Radiohead tocando no Belfort Festival na França e mesmo pela tela quando começa os primeiros acordes de Karma Police você já arrepia... ou de Just... ou de Everything In its Right Place... ou de 2+2=5....ou de... ou de......
Da Série Random Music - Nada nunca me aconteceu

Isso é escutar Deerhunter para mim.
Deerhunter é de Atlanta e é uma daquelas bandas que foram complicadas desde o início - muitas mudanças na formação, morte do baixista e eu tenho certeza que esse vocalista (Bradford Cox, que também grava como Atlas Sound) é anoréxico, como você pode ver na foto - e o fato de usar muitos efeitos bizarros no vocal e cantar bem baixinho no mix, o que faz você ficar querendo voltar nas músicas para entender melhor o que ele está dizendo, solidifica a imagem de "cara estranho". Eles auto descrevem seu som como "ambient punk" e quando eu ouvi isso fez sentido, porque é bem leve e espalhado e cantado com vocais sussurrados, mas é intercalado por umas guitarras barulhentas e outros tipos de barulho texturais e abstratos - que vão ficando mais presentes à medida em que você avança no disco, como se você estivesse se perdendo dentro da sua viagem mesmo.
O que me parece que é uma sensação bem conhecida do Mr. Bradford que é nem sempre consegue produzir porque não é lá uma pessoa muito estável. No fundo é um som único mesmo, e é indie do melhorzão - com tudo que isso tem direito, inclusive expressividade e personalidade de sobra. De certa forma essa foi a banda que conseguiu transformar milagrosamente tristeza e ansiedade pesadas em um som leve, bonito e agradável e que não perde o sentido de onde veio. Na verdade é uma banda que você VAI gostar se for fã de Radiohead - e não se parece com Radiohead. Legal, hein?
Deerhunter anda merecidamente ganhando bastante crédito a partir de 2008, e aguarde pelo menos um semi estouro destes caras, no mínimo entre quem gosta de música alternativa. E não esqueça de dar boas vindas a uma das melhores bandas da atualidade.
Cemece por - Microcastle
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Merry Muthafucking Christmas You Biiiiiiiiiitches!!!
Todo ano nessa época eu disparo a ouvir essa música (só aúdio)!!!
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Da Série Random Music - Ânsias Maldosas

Mas também existe dentro do indie rock uma corrente bem oposta disso, que quer fazer música simplesmente ÉPICA, bem gravada, produzidaça, cheia de firulas e tocar isso ao vivo com o palco cheio de gente tocando banjo e maracas, dar shows bombásticos, solos, ser resumidamente uma grande banda de rock como isso era entendido sei lá, na década de 70. A maioria dessas bandas inclusive se aproxima do que hoje os gringos chamam de "classic rock" (eu entendo como "classic rock" tudo que um fã de Led Zeppelin poderia achar legal) mas com - atenção - algo mais que faz a banda ser bacana para mim que não escuto Led. Esse algo mais costuma ser um espírito mais livre e inventivo, menos preocupação em ser "rock" e mais compromisso com simplesmente fazer boa música. No fundo, imagine se o Radiohead deixasse de ser louco e quisesse tocar algo mais próximo do Deep Purple ou do The Who; é meio que essa a idéia. E dá resultados bacanas. Inclusive falei muito aqui de uma banda que se enquadra nisso e que eu ando muito fã - The Hold Steady.
Outra banda que coloco neste balaio - inclusive na minha cabeça eles devem ser amigos de birita do pessoal do Hold Steady - é um pessoal que recebeu seu nome quando o vocalista fuçou no que restava do seu bar favorito que pegou fogo e achou uma jaqueta com as iniciais MMJ - daí começaram a tocar com o nome de My Morning Jacket. Chamaram atenção do pessoal que gosta de música alternativa como uma banda que faz um rock meio sulistão - ou seja, com influência de country - só que de uma maneira mais viajante e emocional socada de reverb e delay e chamou atenção de cara. A banda destesta ser chamada de rock sulista e fez discos cada vez mais ecléticos para fugir do rótulo, e são músicos com M maiúsculo para isso - a banda inclui desde saxofone até guitarra slide tocada deitada no colo (pedal steel), e é daquele tipo que "todo mundo toca pra carai". Em um mundo ideal, ao invés de disco do Queen toda casa teria pelo menos um disco do My Morning jacket: tem coisa para seu pai porque ele vai lembrar de rockão 70, tem coisa para você que vai lembrar de Radiohead, tem coisa para seu irmão metal porque é bem rock, para sua irmã pop porque é bem bonito, para sua mãe que prefere soul tem alguma coisa ali também.
Os show da banda são nada menos que lendários -às vezes chegam a 4 horas - e exemplificam bem do que eu estou falando: no festival Bonnaroo deste ano tocaram cover de Erika Badhu, Sly And The Family Stone, Motley Crue e Velvet Underground (além de James Brow e Funkadelic e ainda outras coisas). Se pudesse bater tudo isso no liquificador e colocar o ingrediente secreto - talento e personalidade - eu ia fabrica uns 10 My Morning Jackets por dia.
Mas o maior elogio que eu tenho para eles tem muito a ver com o que eu sempre falo de Radiohead: é música totalmente centralizada e focada em ter uma alta carga emocional. Esquece tudo que eu falei acima que isso faz a banda funcionar sozinha: todos os instrumentos (elogiando aqui muito a interpretação do vocal, mas não só ele) são tocados com uma puta paixão e intensidade e preocupação com passar sensações reais e relevantes e marcantes. Qualquer banda merecedora desse elogio, de qualquer estilo (e são poucas) é merecedora dos meus ouvidos.
Dever de casa para o fim de ano - fazer uma sessão de birita forte + Hold Steady + My Morning Jacket e mostrar para seu pai que foi feita música depois de 1974 que pode interessar a ele.
Comece por - Okonokos (disco duplo ao vivo destruidor)
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