segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Da Série Random Music - Ânsias Maldosas

Uma das músicas mais famosas e bacanas do Smashing Pumpkins, Cherub Rock, é um comentário pessoal do Billy Corgan em relação a um fator que (ele acredita que) gera muito da esquisitice e gravações low fi e supervalorização do anti comercialismo que existe principalmente no indie rock: medo de fazer alguma coisa boa. Embora eu ache que talvez ele esteja simplificando o lance (em muitos casos eu gosto da estética lo-fi, acho anti-comercialismo uma atitude importante para preservar a obra e muito da graça do indie é justamente a esquisitice) entendo o que ele quer dizer quando vejo esses fatores ganharem mais foco que deveriam e acabarem atrapalhando mais que ajudando a música. E sim, acho que em alguns casos no fundo é um medo ou insegurança de tentar fazer algo bom de verdade e é fácil se esconder atrás do rótulo "eu sou mega experimental" (de novo, amo música experimental, mas quando é de fato um exercício de criatividade e não algo forçado.

Mas também existe dentro do indie rock uma corrente bem oposta disso, que quer fazer música simplesmente ÉPICA, bem gravada, produzidaça, cheia de firulas e tocar isso ao vivo com o palco cheio de gente tocando banjo e maracas, dar shows bombásticos, solos, ser resumidamente uma grande banda de rock como isso era entendido sei lá, na década de 70. A maioria dessas bandas inclusive se aproxima do que hoje os gringos chamam de "classic rock" (eu entendo como "classic rock" tudo que um fã de Led Zeppelin poderia achar legal) mas com - atenção - algo mais que faz a banda ser bacana para mim que não escuto Led. Esse algo mais costuma ser um espírito mais livre e inventivo, menos preocupação em ser "rock" e mais compromisso com simplesmente fazer boa música. No fundo, imagine se o Radiohead deixasse de ser louco e quisesse tocar algo mais próximo do Deep Purple ou do The Who; é meio que essa a idéia. E dá resultados bacanas. Inclusive falei muito aqui de uma banda que se enquadra nisso e que eu ando muito fã - The Hold Steady.

Outra banda que coloco neste balaio - inclusive na minha cabeça eles devem ser amigos de birita do pessoal do Hold Steady - é um pessoal que recebeu seu nome quando o vocalista fuçou no que restava do seu bar favorito que pegou fogo e achou uma jaqueta com as iniciais MMJ - daí começaram a tocar com o nome de My Morning Jacket. Chamaram atenção do pessoal que gosta de música alternativa como uma banda que faz um rock meio sulistão - ou seja, com influência de country - só que de uma maneira mais viajante e emocional socada de reverb e delay e chamou atenção de cara. A banda destesta ser chamada de rock sulista e fez discos cada vez mais ecléticos para fugir do rótulo, e são músicos com M maiúsculo para isso - a banda inclui desde saxofone até guitarra slide tocada deitada no colo (pedal steel), e é daquele tipo que "todo mundo toca pra carai". Em um mundo ideal, ao invés de disco do Queen toda casa teria pelo menos um disco do My Morning jacket: tem coisa para seu pai porque ele vai lembrar de rockão 70, tem coisa para você que vai lembrar de Radiohead, tem coisa para seu irmão metal porque é bem rock, para sua irmã pop porque é bem bonito, para sua mãe que prefere soul tem alguma coisa ali também.

Os show da banda são nada menos que lendários -às vezes chegam a 4 horas - e exemplificam bem do que eu estou falando: no festival Bonnaroo deste ano tocaram cover de Erika Badhu, Sly And The Family Stone, Motley Crue e Velvet Underground (além de James Brow e Funkadelic e ainda outras coisas). Se pudesse bater tudo isso no liquificador e colocar o ingrediente secreto - talento e personalidade - eu ia fabrica uns 10 My Morning Jackets por dia.

Mas o maior elogio que eu tenho para eles tem muito a ver com o que eu sempre falo de Radiohead: é música totalmente centralizada e focada em ter uma alta carga emocional. Esquece tudo que eu falei acima que isso faz a banda funcionar sozinha: todos os instrumentos (elogiando aqui muito a interpretação do vocal, mas não só ele) são tocados com uma puta paixão e intensidade e preocupação com passar sensações reais e relevantes e marcantes. Qualquer banda merecedora desse elogio, de qualquer estilo (e são poucas) é merecedora dos meus ouvidos.

Dever de casa para o fim de ano - fazer uma sessão de birita forte + Hold Steady + My Morning Jacket e mostrar para seu pai que foi feita música depois de 1974 que pode interessar a ele.

Comece por - Okonokos (disco duplo ao vivo destruidor)

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