
Nessa época eu ainda comprava cds. Comprar cd comanda, eu acho até hoje; só que não compro. Uma das mehores sensações do mundo era tirar aquele plático do cd novo, colocar no som alto e ser literalmente espancado por algo que não era para ser tão bom. Um dia fui até o centro de a pé (como eu sempre fazia), e voltei de ônibus (já com uma febre que viria a se tornar muito forte naquele dia) com o cd novo dos Stone Temple Pilots na mão. Esse disco não tinha o direito de ser tão bom e mesmo padecendo de febre na cama e escutando num aparelho de som pequeno (e ruim) percebi que ia entrar direto entre os melhores discos da decada de 90. E quanto mais o tempo passou mais eu confirmo isso.
Stone Temple Pilots foi formado por uns moleques que se conheceram em um show do Black Flag e queriam uma banda que tivesse os mesmos inicias de um adesivo que todo mundo tinha no skate (STP, de uma firma de óleo - Scientifically Treated Petroleum - porque todo mundo amava esse adesivo vai saber). Chegaram a se chamar Shirley Temple's Pussy (uahauhauaha) por isso e por pressão da gravadora mantiveram a sigla com Pilotos do Templo de Pedra. No início era sub produto sim - sub produto do grunge que estava estourando na época, cópia não muito grande coisa principamente de Pearl Jam. Chamava atenção por ser "a banda grunde que não era de Seattle" e emplacou sinistramente o disco Core que vendeu 8X platina e tocava igual louco na MTV e rádio rock. Nunca me interessei por essa época e se tivesse ficado nisso provavelmente nunca teria ido no centro naquele dia, mas os fdp tinham talento e depois de chamar atenção de uma maneira meio que forçada já no segundo disco socaram personalidade no negócio e começaram a se tornar algo interessante.
O Purple se afastou do grunge cópia e moveu um bocado para o lado do rock clássico pura e simplesmente e não teve medo nenhum de injetar (bom) pop no som da banda. O segredo do bom pop é esse - sem vergonha de ser pop e assumir que é pop, mas no caso deles feito por uns caras com a cabeça metade na década de 70 e metade tentando fazer um som que se tornaria o novo rock e como tinham boas ferramentas para isso (um ótimo vocalista tão interessado em rockão burrão quanto em viagens artísticas do David Bowie e um guitarrista excelente e original que para mim nunca foi suficentemente reconhecido) acabou com isso colocando coisa muito boa na FM para todo mundo ouvir - o que acontece muitíssimo raramente. Dessa época vem muita coisa que toca na rádio até hoje - Interstate Love Song, Vasoline, Big Empty - e mesmo sendo um disco bacana pelo Purple não dava para antecipar que eles iam chutar o balde e entrar no estúdio para fazer um disco rockeirão, bem mais simples e direto na veia que os anteriores, dando vazão a toda viagem que passar pela cabeça porém sem super produção nenhuma.
O Tiny Music - o disco que eu comprei no centro - me parece produto de uma banda fechada na garagem sozinha e interessada em ir direto no assunto, sem complicar em excesso mas ao mesmo tempo sem censurar nenhuma idéia. Esse foi O disco em que o Stone Temple Pilots, afinal, não se parecia com nada a não ser eles mesmos, ou seja, acharam o som, o que é sempre um momento mágico. Foi uma fórmula tão foda que eles próprios nunca conseguiram repetir, e até hoje é um dos poucos discos que eu conheço que (como o Transformer do Lou Reed por exemplo) soam atemporais, ou seja, se eu falar que é de 1974 você vai acreditar, se eu falar que saiu ontem você vai acreditar. Além disso, é daqueles discos raros (de novo, como o Transformer do Lou Reed ou o Astral Weeks do Van Morrison) que parece que saíram inteirinhos de improviso, sem esforço nenhum do criador, pela naturalidade e espontaniedade do que você escuta sem saber que é esse o tipo de disco que dá mais trabalho para fazer. É obra de arte que dá muitas leituras: se quiser pode ouvir como um disco de rock da porra sujo e barulhento, dá para ouvir como disco pop, dá para dançar e escutar sozinho no quarto, colocar em uma festa ou tocar no rádio, e ainda assim vai interessar quem detesta música comercial. Tudo ao mesmo tempo e de várias camadas como toda boa obra de arte.
Música simples porém muito variada, 100% direto ao ponto feito por uma banda talentosa passando por sua fase mais criativa. Raríssimo e para mim um dos destaques da década de 90.
A partir daí, só ladeira abaixo: o vocalista Scott Weiland virou a Amy Winehouse (notícia de prisão/overdose/porrada/batida de carro todo dia), banda sem poder fazer turnê por causa dele, gravando o disco IV (também muito bom, sendo que "IV" é tanto "4" quanto "Intra Venoso") na pressa antes do Scott ter que passar uma temporada na cadeia, separam, gravam coisas ignoradas sem o vocalista, voltam, gravam um disco meia boca (Shangri-la Dee Da) e acabam de uma forma triste, inclusive com ele sendo desperdiçado no Velvet-Revolver-Guns-And-
Fácil de gostar e ainda assim profundo, pop mas pesado, pesado mas bonito, bem feito e imperdível - Tiny Music
Pesadão - IV
Grunge pop na veia mas talvez o único exemplo de BOM grunge pop - Purple
Só escute quando você já for bem fã - os outros
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