quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Da Série Random Music - Só Os Solitários


O Bob Dylan escreveu sobre esse cara:
"Transcendeu todos os gêneros... ele cantava suas composições em 3 ou 4 oitavas que faziam você querer dirigir seu carro para um precipício... cantava como um criminoso profissional... sua voz poderia sacudir um cadáver... suas músicas tinham músicas dentro de músicas... não existia nada no rádio como ele."

O Elton John descreveu assim:
"muito à frente do tempo, quebrava todas as regras de composição, quebrava todas as tradições".

Esse é o mesmo cara de quem o Elvis Presley comprava pilhas do mesmo disco simplesmente para dar uma cópia a cada pessoa que entrava na casa dele. E que ele via todos os shows na primeira fila. E que ele declarou que é o melhor cantor do mundo.

Esse é um cara que já tinha uma banda em 1949 (ele tinha 13 anos) chamada The Wink Westerners e que conseguiu um programa de televisão onde até o Jonny Cash foi tocar. Começou fazendo rockabilly - aliás, um dos melhores cantores de rockabilly fácil, lá no topo junto com Elvis e Jerry Lee Lewis e Chuck Berry e Little Richard - mas não foi longe. Começou a fazer sucesso DE VERDADE quando percebeu que podia transformar as letras que escrevia sozinho dentro do carro debaixo de chuva em música de verdade. Nessa brincadeira, ele quebrou uma antiga barreira - homens podem fazer músicas tão emocionais quanto as mulheres, inclusive no jeito de cantar. Ele inventou a balada rock dramática. E foi reconhecido até o fim da vida como o grande mestre disso. E muito mais, porque como diz Bob Dylan ele transcendeu todos os gêneros.

Não entenda "balada de rock dramática" como algo que o Waldik Soriano faria. O papo aqui é fino. Fazer música emotiva é fácil. Fazer música emotiva só que honesta, romântica sem ser clichê ou derramada, sem ser chorada ou brega - e sim lindona e arrepiante, com uma certa melancolia de solidão e até algum senso de humor - aí sim é sujeira. Esse cara fazia isso sem nem tentar. E melhor que todo mundo.

Esse é um cara pequeno com os óculos maiores que o rosto. Ele sobe no palco com uma guitarra semi acústica que também parece maior que ele. Para cantar, mal se mexe, e, engraçado, mal abre a boca. Parece não fazer esforço nenhum enquanto um vozeirão brutal varre a platéia. Parece não notar que tem uma das vozes mais bonitas da história da música popular. Parece não saber que ao cantar Only The Lonely, ou Blue Angel, ou Crying, ou qualquer outra muito provavelmente está realmente arrancando lágrimas de muita gente.

Esse é um cara que derramou suas lágrimas também. Deu uma moto de presente para primeira esposa - e a mulher me morre andando nessa moto. Sai em turnê e sua mansão pega fogo - morrem dois dos três filhos. E injustamente é esquecido pelo mundo entre a metade da década de 60 e mais ou menos 1986 quando David Lynch usou sua música In Dreams no Blue Velvet (aliás, David Lynch vive usando músicas dele). Mal pôde aproveitar porque morreu em 1988 - e teve inclusive alguns hits póstumos como You Got It e I Drove All Night.

Você conhece só como aquele carinha que canta Pretty Woman? Então pegue para ouvir direito e passe a conhecer como um dos caras mais geniais que já passaram pela música.
Descanse em paz Roy Orbison.

Comece por - a coletânea dupla The Essential

Só para dar uma reguingada: o visual do Dr. Octopus (aquele mesmo, inimigo do Homem Aranha) foi criado por um fã dele e é baseado no Roy Orbison. Existe alguma coisa mais legal que ter inspirado o visual de um inimigo do Homem Aranha?
Reguingada 2 - um dos músicos preferidos (declarado) dos Beatles e dos Stones. Todos os Beatles compraram um óculos igual ao dele. Tirando os já citados aqui - Bob Dylan, Elton John, Elvis etc.
Reguingada 3 - o Jaguar do Roy Orbison é um dos meus poucos sonhos de consumo.

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