quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Guia Rise From Your Grave para a discografia do The Clash Parte 1/2

Eu cresci ouvindo punk acima de tudo, e naquela época sem internet tudo que é muito óbvio e básico hoje nem sempre era tão óbvio e básico naquela época. É claro que todo mundo já tinha ouvido falar de The Clash, e sabia da importância (para quem não sabe, visualize assim: punk é a santíssima trindade - Ramones, Sex Pistols e The Clash - todo o resto é subproduto desses 3 - entendido?). Só que na prática discos do Clash no Brasil não eram tão fáceis e eu não conhecia muita gente que tinha. Então todo mundo tinha vontade de conhecer mas pouca gente conhecia de fato. E quando finalmente eu sentei e escutei um disco inteiro deles - eu detestei.

O baterista da minha banda na época conseguiu o Sandinista! e queria vender (também detestou). Minha primeira reação foi ficar completamente confuso porque aquilo era chamado de punk - não tinha NADA de punk além do contéudo das letras. O Sandinista tem pop, rockabilly, música com coro de criança, gospel, música com influência árabe, hip hop, alguns rockinhos bem próximos do punk mesmo (que depois eu descobri que é a interpretação do The Clash do que é punk - músicas como Police On My Back, que eram minoria) mas não tem nada que se parece nem um pouco com Ramones.

Só quebrei minha birra com Clash - que durou anos - quando me passaram um piratão ao vivo mal gravado da época do segundo disco e insistiram muito para ouvir. Aí eu descobri porque chamavam eles de um dos pais do estilo. E depois conhecendo bem a banda eu descobri que tudo que o The Clash faz é punk - sendo punk musicalmente ou não. E que, basicamente, eles eram os líderes, não os seguidores. Por isso nunca se amarraram nem tiveram medo nenhum de experimentar e fazer qualquer coisa que achassem relevante. Não acertaram sempre - risco que quem tem coragem de experimentar sempre corre - mas foram honestos e vitais até (quase) o final.

Basicamente, se você gosta de rock, você vai gostar de The Clash. Os 3 primeiros discos deviam ser tocados na escola para ajudar a entender a história cultural do século 20. E se você tem um mínimo interesse em punk e não conhece The Clash - esconde isso dos outros senão a polícia da música te prende.

Grande feito para uns moleques pobres e marginais de Londres, viciados em rock e reggae e que foram varridos pela revolução do rock de 76-77 (mais especificamente impactados pelo primeiro disco dos Ramones e por um show dos Pistols onde, soprando meleca em um lenço, Johnny Rotten iniciou o show dizendo "tudo bem seus bêbados vamos tocar umas músicas e vocês vão gostar delas"). Deixou de ser uma banda de pub que tocava rockabilly (The 101'ers) para ser uma versão inglesa dos Ramones misturada com reggae para ser uma banda essencial que foi chamada por um tempo de "a única banda que importa" (já vi o David Lee Roth falando no palco que "bandas como The Clash não deviam se levar tão a śerio"). E depois disso a importância e relevância do Clash (sem falar na qualidade) estrapolou mesmo a dos Pistols. A partir do The Clash, rock não era mais entretenimento. Era alguma coisa de verdade. Por um tempo, o Clash foi a banda para quem todo mundo estava ouvindo, eram as pessoas que iam mostrar o caminho. E então ficou enorme. E então se autodestruiu quando descobriu que se tornou aquilo que eles surgiram para destruir - uma banda de rock gigante, milionária, viciada em drogas. Clichê. E um tempo depois ficamos sabendo que Joe Strummer chorou quando viu os militares americanos jogando uma bomba no Iraque onde estava escrito "Rock The Casbah". História triste a do Clash.

Anyway - desde o Bono comentando que eles "abriram o mundo para as pessoas" porque eram radicalmente políticos e não tinham medo de escrever sobre nada, qualidade que não se aplica para qualquer banda mesmo dessa época - até gente comentando que tinham medo de ir no show do Clash porque era muito selvagem, a história do Clash é completamente visceral (assistam o Westway To The World ou mais legal ainda o filme The Future Is Unwritten).

Até hoje você vê umas pichações enormes por Londres com o nome deles. E atualmente eu amo até mesmo o Sandinista.

No próximo post comento minha visão particular dos discos do Clash.

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