terça-feira, 16 de setembro de 2008

Da Série Random Music - o corpo o sangue e a máquina

Já mencionei aqui que tem determinados discos específicos que me ganham com o "garagismo" deles (citei o último dos Smashing Pumpkins, a maioria da obra do Neil Young, Funhouse dos Stooges etc). Não sou daqueles fanáticos por lo-fi (nem por hi-fi), mas tem certos discos em que a produção consegue capturar exatamente como soa uma banda na garagem - sem firula, sem adornação demais, simples e direto como um míssil teleguiado - faz só o que devia fazer e faz rápido e bem. E o que acaba me ganhando é (obviamente quando os discos são bons) a percepção do quanto dá para fazer o infinito com muito pouco. É a mesma viagem que eu tenho com festa em casa: você compra uma garrafa de gim, liga o som alto, chama umas pessoas e pronto, já tem muitas horas de muita diversão garantida. E hoje, 50 anos depois, o conjunto baixo-guitarra-bateria (nas mãos certas) ainda rende e faz muita música boa e original.

Uma das últimas bandas com esse espírito garageiro minimalista que eu ouvi e gostei de verdade foi os Thermals. A banda é só uma mina e dois caras que gravam exatamente como tocam na garagem (aliás, definem o som deles como "produto natural de milhões de horas na garagem"). Só que não são 3 caras quaisquer. São 3 caras que tem a manha total de fazer um som punk simples - mas moderno, milagrosamente não é a milionésima repetição de alguma outra banda punk - e honesto. Esse papo de garagem deve estar fazendo você pensar que é sujo, pesado e caótico. Mas Thermals é melódico (normalmente eles são classificados mais como indie que punk) e limpo, só que elétrico demais. O vocal é desesperado - às vezes beira o histérico - mas consegue ser um cara desesperado que canta limpo e bonito, sobre temas bacanas (o último disco é uma espécie de viagem em uma américa alternativa dominada pelo fascismo cristão - veio na minha mente o grito de "they tell me what to feel!!!!!!! - lindo!).

Tudo com os Thermals é limpo, rápido e direto, e é absurdamente cativante. Acho que é difícil fazer a banda soar interessante no papel porque destrinchando seus elementos parece ser algo muito básico, mas a fagulha de genialidade aparece de cara quando você escuta - é exatamente o tipo de som que quando toca em uma festa você vê uma galera tentando olhar na tela do ipod para saber o que é aquilo. Tente imaginar um Weezer mais punk com um vocalista mais agressivo cantando sobre política em vez de sobre ele mesmo. Ou tente imaginar um Buzzcocks moderno e pendendo mais para o indie. Ou não tente imaginar nada e dê uma chance para uma das pouquíssimas bandas atuais que está salvando o punk.

Comece por - The Body The Blood The Machine