sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Guia Rise From Your Grave para a discografia do Sonic Youth Parte 1/2



Eu vejo 3 filhos diretos do punk da década de 80: o post-punk (bandas que de certa forma foram a continuação do negócio, expandindo as idéias mas fiéis às bases - daqui veio muitos netinhos bacanas como o gótico e o shoegaze); a new wave (bandas que levaram a idéia simples e direta do punk para o pop - basicamente tudo dos anos 80 que é pop se não é new wave é influenciado por new wave - daqui vem de Blondie a Talking Heads); e o filho rebelde ovelha negra obscuro, o NO wave, que foi um movimento muito curto e autodestrutivo mas que gerou umas bandas interessantes como o DNA e os Swans.

O no wave era uma espécie de anti-new wave que levava somente as idéias mais radicais do punk em consideração, tipo anti-comercialismo, quebrar barreiras e convenções e agressividade. As bandas de no wave sempre eram absurdamente experimentais, nunca usavam os instrumentos "como eles deveriam ser usados" (tipo, uma guitarra nunca soa como uma guitarra) e eram frequentemente abstratas e absurdas ao mesmo tempo em que eram super auto destrutivas. Resumindo: um monte de louco fazendo anti música. E o público era formado por loucos que gostam de anti música. A maioria durou pouco e nenhuma ficou REALMENTE conhecida, mas foi bastante influente para o rock alternativo. O movimento foi documentado num livro famoso que parece muito bacana e que ainda pretendo ler chamado Kill Your Idols.

Uma das figuras chaves ligadas ao no wave era o Mr. Glenn Branca. Entenda o Glenn Branca como um compositor de música clássica que compõe música estranha e avant-garde para guitarras. Tipo, peças para serem tocadas por 100 guitarras ao mesmo tempo (em 2001 ele conduziu essa peça na base do World Trade Center). Ele é conhecido por (além de ser um doente) ser um dos adeptos da micro tonalidade (explorar os sons que existem ENTRE as notas, tipo entre o Dó e o Dó Sustenido (!!) e um dos maiores adeptos de afinações malucas. A afinação padrão da guitarra é a clássica Mi-La-Ré-Sol-Si-Mi; todo mundo usa algumas variações (tipo jogar todas as cordas meio tom para baixo para ficar mais grave, afinar a primeira corda em Ré para poder fazer uns acordes mais metal ou usar de "afinações abertas" para poder tocar com slide). O Glenn Branca não está nem aí para nenhuma delas e afina as guitarras de maneiras completamente bizarras e não ortodoxas - tipo afinar todas as cordas na mesma nota ou coisa pior.

Lá para 1981, uns moleques punks fãs de Ramones viciados em rock (e com profundo conhecimento e amor pelo passado do estilo) se empolgaram com o No Wave e aprenderam a tocar guitarra com o Glenn Branca, e começaram sua banda que era a soma destas coisas, basicamente uma interpretação do No Wave com foco nas guitarras, uso de sonoridades alternativas (principalmente nas afinações, "se você afina padrão você soa padrão" eles já disseram - isso quando eles não estão tocando guitarra com uma baqueta de bateria ou esfregando ela na câmara de um repórter derrubado por eles no chão como fizeram noshow que eu fui) e espírito punk. Isso é o Sonic Youth.

Sonic Youth para mim são as músicas punk juvenil do Thurston Moore, as músicas psicopatas from hell da Kim Deal e as músicas abstratas viajeira do Lee Ranaldo. Só que às vezes inverte e bagunça tudo esses papéis. Eles nunca fazem o que você está esperando.

Hoje a banda tem mais de 20 anos e caminha para os 30. Sonic Youth é uma das bandas chave da história do rock e essencial para quem quer entender o que é rock alternativo. Para mim é essencial para quem gosta de música. O ex-namorado chato da minha irmã que não gostava de rock gostava de Sonic Youth porque ele considerava eles "música erudita" (só porque ele quer, na verdade é um imbecil, mas citei ele porque lembrei que até quem não gosta de rock acaba se dobrando a eles). Nesses anos todos já passou por diversas fases, já fez muita música abstrata viajeira estranha e colaborou com tudo quanto é compositor avant-garde, já fez pop de cantar junto, já fez música de dar medo, fez coisa muito from hell e ao mesmo tempo fez A música mais bonita que eu já ouvi na minha vida (é sério). Nessa brincadeira a discografia tem 15 discos, 7 eps, 3 coletâneas, 7 vídeos, 21 singles, 7 discos SYR (depois explico o que é isso) e contribuiu para 16 trilhas sonoras. É muita coisa.

No próximo post dou uma guiada pela minha relação com os discos mais importantes e tento ajudar quem está querendo conhecer.

3 comentários:

shibuya disse...

YEAHH!!! Sonic Youth RULEIA!

Anônimo disse...

Eu tenho minhas restrições,só gosto das músicas pops do Sonic Youth, mas ainda vou dedicar algum tempo e paciência para escutar mais da banda, lendo este post me pareceu ser bem mais legal.
Bjokas
Miroca

Ulisses Wermelinger disse...

vc esqueceu do ciccone youth -the whitney album- o album em homenagem a madonna que tem as musicas mais sinistras, tipo macbeth que amoparticipaçao de mike watt