quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Guia Rise From Your Grave para a discografia do The Cure

Three Imaginary Boys/Boys Don't Cry/Seventeen Seconds - os dois primeiros discos são respectivamente a versão inglesa e americana do primeiro disco do The Cure. Defino esses discos como o exemplo mais perfeito possível do que é post-punk - é exatamente o som que se espera do pessoal que estava envolvido com o punk no fim da década de 70/início do 80 e queria expandir as possibilidades do gênero (ou seja, simplicidade, audácia, um som direto e um pouco dark mas com uma onda mais pop substituindo a agressividade do punk - entenda "pop" como um pop não muito convencional nesse caso). Prefira o Boys Don't Cry que o Imaginary Boys - ele inclui os singles da época no lugar de músicas meio medianas que apareceram na versão inglesa.

O Seventeen Seconds é basicamente uma versão bem mais lentona, SUPER climática e instrospectiva do primeiro disco.

Ah, e a música Boys Don't Cry que você provavelmente conhece não é um bom exemplo da banda que o The Cure era - (gosto dela mas) é muito pop e muito feliz para a onda meio dark que eles já tinham no início e que depois ficou bem mais forte.

Não são as melhores obras do Cure, mas tem que se considerar que eu estou falando de uma banda excepcional - estão sem dúvida entre as melhores obras do post punk fácil e são muito bons para se entender essa época do rock.

O que é essa época do The Cure para mim: pop neurótico e excêntrico

Faith/Pornography - todo mundo quando pensa em The Cure sempre pensa em tristeza, gótico, dark, coisa from hell e deprê. Embora o The Cure seja uma das bandas mais criativas e variadas do rock (o que significa que já fizeram de tudo), eles possuem essa fama por causa dessa época. E que, não por acaso, é a época definidora (e a melhor) do The Cure.

Apesar dos discos anteriores serem com certeza cinza, a partir do Faith para mim o The Cure ficou preto. O Faith ainda tem muito de post punk - me parece por vezes uma versão muito mais bem acabada (e muito mais malvada) do primeiro disco. O Faith é estar na beira do abismo o contemplando. E o Pornography é a queda - rápido, raivosaço, para baixo sem dó, louco, agressivão. Para mim, além de ser o melhor disco The Cure, é o melhor para começar - esse disco te dá um soco na cara. Se você não gostar do Pornography desiste dessa banda e passa para a próxima. Mas não escute ele em qualquer hora. Escolha uma hora em que você precisa tomar uma porrada.

O que é essa época do The Cure para mim: único e de dar medo

The Top/The Head On The Door - Como não dava para ficar mais dark que o Pornography, viraram o carro para outro lado e ficaram completamente pop. Essa é a fase popzona do The Cure da década de 80, e não por acaso daqui vem várias das músicas mais conhecidas. O The Top é o Cure aprendendo a fazer pop (inclusive com muito da fase goticona ainda, escute a música "The Top" por exemplo), mas como ainda era muito transição - um pé aqui e outro lá - acaba acompanhando o Wild Mood Swings para mim como um dos discos menos interessantes.


O Head On The Door deve agradar à maioria das pessoas - é conhecido como "o único disco do The Cure que dá para tocar em uma festa" e é ótimo exemplo de bom pop oitentão, vai ser este o disco onde você vai conhecer previamente a maioria das músicas. Se você tem predileção pelo lado pop da banda este é O disco para você. Eu, inclusive, gosto bastante.

O que é essa época do The Cure para mim: familiar e fácil de ouvir e ainda assim muito bom

Kiss Me Kiss Me Kiss Me/Disintegration - após caminhar nos dois extremos, o Cure basicamente fez um "junta tudo", o que nem sempre funciona. A sorte deles foi que fizeram isso em uma época de extrema criatividade - o que resultou no ápice da banda. Aqui eles somaram maturidade + fome de fazer música boa + todas as tendências que eles tocaram na carreira até aqui e conseguiram fazer a soma valer mais que suas partes. O Disintegration é por excelência o documento definitivo do The Cure e vai sempre ser recomendado para você como o "melhor disco" - e merece. É épico e abrangente, mas é ao mesmo tempo focado e bonito. Em resumo: consegue te mostrar um pouco de cada lado da banda e o faz maravilhosamente bem.

Isso eu já meio que esperava desse disco porque ele tem essa fama, mas a grande surpresa mesmo foi o Kiss Me Kiss Me Kiss Me, que eu nunca havia ouvido falar antes de conhecer e me derrubou porque se provou mais ou menos com a mesma onda (e a mesma qualidade) do Disintegration, mas é mais longo e mais variado, o que o faz parecer ainda mais épico. Para mim, empate para os dois. E se o Cure tivesse acabado nessa época já ia ser lendário. Cada música desses dois discos funciona sozinha e te leva para um mundo diferente. Se tiver que escolher só um, por mim, qualquer um desses dois.

O que é essa época do The Cure para mim: provou ser uma das melhores bandas de rock da história

Wish/Wild Mood Swings/Bloodflowers/The Cure - isso aqui é o The Cure "maduro". Depois de destruir o mundo com os últimos dois discos (e ser reconhecido por isso na época do Disintegration), não havia mais nada para provar. Então a partir daqui (com alguns desvios) acontece o que acontece, por exemplo, depois do Technique (New Order) e depois do Goo (Sonic Youth): a banda chegou no seu ápice, sabe disso, e meio que nem tenta forçar a barra mais. Quase toda (boa) banda tem esse destino: o som se estabiliza, no sentido que não é tão eletrizante quanto o que veio antes mas por outro lado é consistente e normalmente não decepciona. Ou seja, são ótimos discos - e vou falar pela milésima vez, um disco mediano de uma banda foda bate o disco foda das bandas medianas - mas não vão mudar a vida de ninguém.

O Wish é bem a definição do que é o "Cure maduro", tendendo um pouco mais para o lado eletrônico (e tem uma das músicas mais famosas e bacanas, Friday I'm In Love, talvez o último hit relevante de verdade deles). O Wild Mood Swings é a tentativa de quebrar essa onda de "som estável" e tentar coisas diferentes - mas esses experimentos (com música latina por exemplo !?!?!) na minha opinião pouco tinham a ver com o The Cure e geraram o disco que eu menos gosto de ouvir, junto com o The Top.

O Bloodflowers foi uma espécie de "Death Magnetic" no sentido de que foi uma tentativa consciente de fazer um disco que soa como The Cure antigo. Isso fez a crítica pegar no pé do disco, na minha opinião injustamente, porque sinceramente foi uma boa opção depois das viagens erradas do Wild Mood Swings e na minha opinião é MUITO bom. E o melhor disco pós-disintegration do The Cure é o que se chama simplesmente "The Cure" - raivoso e intenso, surpreendeu um disco assim nessa altura do campeonato, fez o que para mim deveria ser a banda hoje (ou seja, não tentou repetir o passado nem assumiu nenhum desvio sem sentido, é simplesmente o crescimento natural - e bem porrada - do som deles) e acabou de supetão entrando na minha lista de discos preferidos- inclusive apesar de ser tardio é também um bom disco para começar.

Saiu a bem pouco tempo um disco novo, 4:13 Dream. Já está no meu itunes para ser escutado. Reporto quando puder!

O que é essa época do The Cure para mim: estável, no (bom) sentido de que disco após disco tende a manter a alta qualidade e no (mau) sentido de que tende a não surpreender mais.

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