segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Da Série Minha Ilha Deserta Privativa - A Cabeça na Porta

Sempre tive algum interesse por The Cure, e mais recentemente venho explorando a discografia inteira deles, me surpreendendo e tendo resultados ainda mais satisfatórios que eu esperava. The Cure é uma banda realmente única que conseguiu ser fodástica desde o primeiríssimo disco, existir desde 1976 e se manter relevante, colocar algumas músicas naquele hall de "música que todas as pessoas do mundo conhecem", influenciar tudo dentro do rock (já vi desde banda popzinha até metal from hell fazer cover de The Cure), nunca se tornar comercial, crescer sem desvirtuar apesar de ser notória como uma das bandas com mais treta e conflito interno do rock e, numa boa, quando você absorve eles mesmo percebe que é uma das melhores bandas da história. Definitivamente entrou na minha lista de bandas preferidas.

The Cure começou na Inglaterra exatamente na época da explosão do punk, mas de alguma maneira já era post punk mesmo antes do punk acabar (segundo o Robert Smith queriam ser os "punk Beatles"). Mesmo bem no início - quando ainda existia uma preocupação com fazer um som acessível que não saísse do reino do pop - já tinha muita personalidade e sempre entendeu o valor do clima (faziam músicas como não se faz mais, músicas que gastam tempo para construir clima e chegar onde querem, em vez de competir por impacto imediato dentro do seu ipod). Apesar de ser o ícone do ícone do gótico, nunca se limitou e, como eu vi um crítico falar uma vez, uma banda para conseguir fazer as pessoas se vestirem como ela não chegou lá oferecendo só uma coisa caricata, mas um mundo inteiro dentro daquela visão singular. O que significa que, sim, como todo mundo associa The Cure com tristeza, trevas e depressão, a banda tem muito disso a oferecer (e de uma forma maravilhosamente bem feita), mas é criativa e interessada em explorar o suficiente para não virar uma espécie de simplificação robótica do que uma banda gótica deprê deve ser. Portanto, algumas das músicas mais românticas e bonitas que eu já ouvi são do The Cure; diversas músicas serenas, leves e mesmo (!!) FELIZES.

Outra coisa é que eles não são bem representados pelos singles. Todas as músicas muito famosas da banda, com poucas exceções, não são bons exemplos do que aquele disco é (começando por Boys Don't Cry, que é centenas de vezes mais pop que qualquer outra coisa deles, inclusive que as músicas do próprio disco dela). The Cure é o perfeito exemplo de "banda álbum": se você conhece muito bem eles através de coletâneas no fundo não conhece nada da banda. Cada disco tem uma viagem muito bem definida e coerente e precisa ser ouvido do início ao fim e na ordem que está lá.

No fundo, evoca muito a adolescência - é a melhor banda do mundo para ser ouvida (obssessivamente de preferência, como quase sempre o é) por adolescentes sozinhos e melancólicos e conflituosos em quartos escuros, viajando na sequência do disco e entrando naquele universo - que como eu disse não é nada simplório nem caricato, mas oferece todas as emoções que passam pela cabeça de todo mundo - filtradas por uma ótica original e sim, mais para o escuro que para o claro, mas essa é toda a graça. Quando escutar aqueles elementos tão particulares que se encaixam tanto - a voz passional e inconfundível (aliás uma puta presença), os baixos melódicos que acham que são guitarras, as baterias bem percussivas e sombrias que muitas vezes incorporam eletrônica, e as guitarras com pé no punk mas com intenção de emocionar e não de agredir, as letras lindas e poéticas mesmo quando são cabulosamente agressivas - lembre que aquilo foi muito mais pensado que parece de primeira, e que aquilo foi feito de forma real e emocional e não para tentar te agradar. Apesar de agradar um bocado.

Aguarde para breve um post com comentários sobre toda a discografia do Cure.

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