terça-feira, 25 de novembro de 2008

Da Série Random Music - Cotonete Rapper

Tudo bem moçada, eu entendo vocês. Eu tento enfiar na cabeça de todo mundo que hip hop é bom e ninguém nunca acredita em mim. Mas não é culpa sua. Como eu já mencionei, hoje é o ritmo dominante da música pop (do ponto de vista comercial/popularidade/toca no multishow toda hora), mas não dominante do ponto de vista artístico ou criativo. Traduzindo, o hip hop que faz sucesso é um lixo, e o hip hop realmente bacana continua submerso. Mas bota fé que ele existe sim. E eu vou continuar tentando.

Recentemente saiu um disco novo de um camarada esquema "Portishead - Guns And Roses - Brian Wilsson", ou seja, sumiu por séculos e voltou com muita expectativa para cumprir. Antigo líder do A Tribe Called Quest - que eu acho fodástico e recomendei bastante aqui - o mr. Q-Tip (hehehehehehe "cotonete", na verdade ele tem esse nome porque tem a capacidade de "entrar dentro do ouvido das pessoas") não havia lançado nada desde 1999. Aparentemente não por culpa dele, porque era jogado de um lado para o outro pelas gravadoras e segundo ele gravou 3 discos inteiros que não saíram (um deles, "Kamaal The Abstract", que recebeu esse nome depois que Q-Tip se converteu ao islamismo e mudou o nome para Kamaal Ibn John Fareed, chegou a ser divulgado). Um rapper islâmico que teve 3 discos rejeitados por ser anticomerciais? Ótima notícia e bom indicativo que é coisa boa.

Estou citando o Q-Tip como bom disco para gostar de hip hop porque, no fundo mesmo não tenho muito como hip hop. A Tribe Called Quest misturava - com muito sucesso - jazz e hip hop de um jeito estiloso e dançante. Esse disco novo do Q-Tip (The Renaissance) é, para mim, um disco de soul. Tudo bem que soul + hip hop é a tendência do hip hop moderno (pelo menos do hip hop bom), como você viu (ou não :-) ) em bons discos do Kanye West, Lupe Fiasco, Wale e etc. Mas aqui é basicamente aquele soul bem na veia e dançante, muitas backing vocals, piano, guitarra funky, umas linhas de baixo bacanaças, tudo bem trabalhado e bem feito, muita coisa não é sampleada e ao vivo é tudo tocado com uma banda mesmo. E, em cima disso, rola uns vocais de hip hop. Ás vezes o Q-Tip deixa o pau quebrando no soul e só entra depois da metade da música. No fundo é um camarada que domina um monte de estilos, tem um ótimo senso de espaço e não se vê como rapper - se vê simplesmente como músico. Está sendo bastante aclamado por merecimento - e para entrar na lista de "participações surreais" na semana passada o Prince entrou no palco (para surpresa da própria banda), tirou a guitarra do guitarrista, tocou a música com eles e saiu também do nada sem dizer uma palavra. O Prince gosta, cara, o negócio é bom.

Dê uma chance ao hip hop com cabeça aberta. Se gostar de Q-Tip você está abrindo a porta tanto para o Marvin Gaye quanto para o Wu-Tang Clan. Mata dois cajados com um coelho só :-)

Nenhum comentário: