quarta-feira, 2 de julho de 2008

Biografias Bacanas Sobre Músicos Parte 1/2

Como sou também um leitor obsessivo - emendo um livro no outro, sempre, acabo um e começo outro, nunca estou sem ler nada - ainda quero usar esse blog para comentar sobre literatura.
Mas por hora, para não fugir do assunto música, começo comentando algumas biografias de músicos que eu já li, algumas essenciais e outras nem tanto.

Mate-me Por Favor
De: Larry Legs McNeil e Gilliam McCain
Sobre: a história do surgimento do punk, contada pelas próprias pessoas que estavam lá
E aí: este livro é obrigatório, essencial, divertidíssimo mesmo para quem não curte o estilo - afinal foi um fenômeno artístico e social relevante até hoje - e por mim deveria ser leitura obrigatória na escola. Já li três vezes e estou pretendendo ler a quarta. É bom assim.
Nesse livro você entende de onde veio o punk, quem eram aquelas pessoas, porque fizeram isso, e no que o negócio deu. Focado nos avôs - Velvet Undergorund, MC5, Stooges, NY Dolls - e nos pais da criança - Ramones, Sex Pistols, The Clash, Patti Smith etc - o livro não é escrito como uma reportagem, mas é uma colagem de histórias contadas pelos próprios membros das bandas, jornalistas, fãs, empresários e todo mundo que estava lá e viveu o negócio. Não fica uma colcha de retalhos, fica parecendo que você juntou todos em uma sala e eles estão te contando de uma maneira muito vívida e particular como era estar lá. Mate-me Por Favor era uma camisa que o Richard Hell usava quando tocava em shows (até um dia em que um bando de fãs de verdade vieram perguntar para ele se ele estava falando sério e falar que se ele quisesse eles fariam isso para ele).

Simplesmente obrigatório para todo mundo. Faça o joguinho divertido de abrir em uma página aleatória e descobrir qual merda o Iggy Pop fez naquele dia.
Saiu no Brasil em pocket baratinho. Se estiver sem grana roube. Mas leia.

Reações Psicóticas
De: Lester Bangs
Sobre: coletânea de textos do crítico mais lendário que já existiu
E aí: Lester Bangs não era um crítico comum de rock. Adepto do jornalismo gonzo (em que o autor se mistura profundamente com aquilo que ele está falando - por exemplo, passa uma temporada se drogando para escrever sobre drogas) ele vivia o rock, porém sempre com estritas regras - a mais importante era nunca ficar amigo de nenhuma banda para não comprometer a integridade do seu texto. E o cara escrevia bem mesmo.
Com uma visão bem particular, peculiar e corajosa, o disco do qual ele estava falando sempre era um trampolim para uma viagem enorme dentro da cabeça dele - a crítica dele não tinha regras e ele não escrevia somente sobre uma obra em particular, neste livro tem por exemplo o texto que ele escreveu no dia da morte do Elvis ou zoando o tanto que uma banda ruim como Jethro Tull estava ficando famosa. É o único crítico que eu me lembro de voltar atrás em algo que ele disse (ele frequentemente detestava um disco mas depois de um tempo acabava mudando de idéia, ou vice versa, como acontece com qualquer ser humano) o que para mim é um grande indicador da sua sinceridade.

Mais Pesado que o Céu
De: Charles Cross
Sobre: biografia aprofundada do Kurt Cobain
E aí: gosto de Nirvana e Kurt Cobain era uma figura interessante. Achei a biografia bem pesquisada e sem medo de expor o camarada - enquanto obviamente admira o sujeito o autor expõe também seu lado não bacana (como a onda gananciosa que ele tinha em relação aos rendimentos das músicas e o pânico quando a MTV ameaçou não passar mais clipes do Nirvana). O que mais me ficou a impressão é que ele não era de forma alguma "beavis e butthead rock star woooohooow", mas era um cara sensível e criativo - escrevia e desenhava sem parar, várias idéias interessantes e muitas vezes doentias no seu caderno - e tinha um lado cínico que eu considero muito jóia. Essa biografia foi acusada de ser muito favorável à Courtney Love, mas não sei se pode-se dizer isso de um livro que admite que ela usou heroína grávida.
Mesmo se você não se interessa por Nirvana, vale pelo retrato da época do "lado de dentro" de como se forma e funciona na prática uma banda mais ou menos recente que estoura estrondosamente de um dia para o outro.

Elvis
De: Maurício Camargo Brito
Sobre: biografia do Elvis escrita por um fã maluco brasileiro
E aí: Elvis ocupou uma posição única na história da humanidade. Ninguém foi tão famoso assim, nem antes nem depois dele e talvez nunca venha a ser - pô declaravam feriado quando ele ia tocar em uma cidade, não consigo imaginar isso acontecendo com ninguém mais. Foi o primeiro rock star e uma das primeiras estrelas da televisão; foi um dos maiores responsáveis pela existência do conceito de "música jovem" e "música rebelde".
Para mim ficou claro que ele chegou num ponto que não tinha mais para onde ir, o que fazer, o que conquistar, e grande parte da humanidade babava o ovo dele. Então leia e assista o Elvis ficar gradualmente louco, como aconteceria com qualquer um. Nota: não é o melhor escrito dos livros citados aqui, imagino que existam biografias melhores do Elvis, mas esta foi a que eu li.

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