quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Da Série Minha Ilha Deserta Privativa - Veludo Subterrâneo


Com poucas exceções, o rock até a década de 60 era música de festa, dançar, beber, simples, falava bobagem e era meio que vazio e adolescente (e muitas vezes legal por isso mesmo, mas divago). A década de 60 definiu a cultura jovem baseada na paz, amor, o mundo é muito belo, todo mundo é legal, os jovens vão mudar o universo. Um monte de mentira hippie. Os mesmos hippies que ficaram iguais ou piores que os velhos que criticavam.

Aí do nada me aparecem uns marginais from hell de NY que cantavam sobre tomar pico de heroína (heroin/it's my wife/it's my life), sadomasoquismo, ir aos bairros negros para comprar drogas, sobre viagens abstratas, o mundo marginal e que é dark e fedido e não feliz e florido como os hippies diziam. Formado por um dos melhores letristas da história do rock fácil (Lou Reed), que meio que criou todo um estilo minimalista de tocar guitarra e de cantar que não existia na época (tanto que uns bons anos depois eles passaram a ser reconhecidos como os avôs do punk); John Cale que até hoje é reconhecido como um dos maiores gênios da música experimental; Sterling Morrison, que mandou tudo às favas e foi viver em um barco; e Maureen Tucker, a baterista que ninguém sabia se era homem ou mulher, o Velvet Underground chamou a atenção do mr. Andy Warhol, e daí passou a chamar atenção de todo mundo (todo mundo que importa pelo menos). Tudo bem que ele socou à força a Nico na banda (mais porque ela era bonita do que tudo) o que deixou o Lou Reed puto, mas mesmo as contribuições dela (com o vocal feminino mais bizarro da história que você começa detestando e depois ama) comandam.

O Velvet fez só 4 discos que mal venderam. Para mim os caras impactaram tanto a história do rock quanto os Beatles e tinham que doar sangue por dinheiro ou vender fotos para revistas sensacionalistas (que publicavam que eles eram algum psicopata do interior) para viver. Duvida? A partir do Velvet que passou a existir "rock de adulto" (boa definição do Guto), música séria e bem escrita e que trata de temas pesadaços e não tem medo de experimentar. E como é um compositor foda Lou Reed sabe ser romântico para valer, assustador para valer, malandro, fazer músicas agressivaças e músicas lindas, usar humor ou te chocar.

Sabe aquele estilo que entendemos como "indie rock"? Começou aqui. Punk? Nasceu daqui. Qualquer cantor atual tido como "urbano" e que lida com temas marginais - deve algo. Música minimalista, música experimental, rock no geral - todos devem algo. Salvaram os anos 60.
Uma coisa que Velvet não é de jeito nenhum é uma coisa só. E uma coisa que o Velvet é com certeza é uma das minhas 10 bandas preferidas.

Comece por - é obrigação moral de todo cidadão ouvir os 4 discos do Velvet na ordem cronológica. E ouvir muito. Se eu fosse presidente estabeleceria batidas para parar as pessoas e ver se elas sabem de cor todas as letras da banda. E mandaria espancar quem não soubesse alguma.
Mas só para te dar noção:
Maiores clássicos e melhores letras - The Velvet Underground And Nico
O engenheiro de som abandonou o estúdio no meio da gravação se recusando a gravar "essa barulheira" (é sério!) - White Light White Heat
Lentinho e todo fofinho, na verdade clima de lentidão de dia de ressaca deprê - The Velvet Underground
Lou Reed começou a achar que é o Bob Dylan - Loaded
Nota de 1 a 10: 11 para cada um dos discos
Você - já está escutando ou não carai?!?!?!

Um comentário:

Mirian Silveira disse...

Deus! O Lou Reed já foi jovem e teve a rosto esticadinho.