segunda-feira, 28 de abril de 2008

Da Série "Minha Ilha Deserta Privativa" - Mr. Elvis Aaron Presley

Como é alguém que todo mundo conhece pelo menos razoavelmente, eu enxergo três categorias de pessoas atualmente no que se refere à Elvis Presley:

A - "É aquele cara que usava umas roupas brancas ridículas, tocava cheio de pose e tinha um topetão. Uahaauhauahaua já viu aqueles imitadores gordos? E essas histórias de Elvis não morreu? O quê? Ele tocava música??"
B - "É aquele cara que canta Hound Dog, Love Me Tender e mais uns rockzinhos aí que tocam no baile da mamãe."
C - "É um dos maiores cantores da história independente do estilo".

Elvis tristemente virou, com o passar do tempo, uma mistura de ícone Kitsch (e para alguns malucos quase um ícone religioso), com seus bonequinhos, imitadores, sátiras e filmes que o usam como uma figura bizarra, uma espécie de símbolo de rock star vazio e pronto para consumo de massa, até um ponto em que chegamos a esquecer que, antes de ser famoso por seu topete ou suas excentricidades de fim da vida ele ficou famoso assim por causa de música.
Trecho de uma música dos Dead Kennedys: "I wonder if Elvis will take the place of Jesus in a thousand years".Eu passei da categoria "A" acima para a categoria "C" nos anos recentes. Descobri que, indo além dos hits clássicos, Elvis fez muita (digo MUITA) música muito (digo MUITO) boa.

Qual era a do Elvis, então, além do topete?Elvis inventou o rock and roll? De jeito nenhum. Nenhum estilo de música é inventado por ninguém, normalmente surge espontaneamente de mudanças mais ou menos graduais de outros estilos da época. Isso significa dizer que quando ele começou (pense 1954) já tinha muita gente fazendo mais ou menos aquilo, em graus variados de proximidade com o que viemos a entender que é rock. Tem gente que aponta gravação até de 1946 que já era "rock".O que não tem dúvida é que o rock é produto e mérito dos negros, principalmente a partir da adaptação do country no blues (ou o inverso). O que o Elvis fez foi pegar um estilo que era obscuro, marginalizado e mal compreendido e colocou ele dentro da casa de todo mundo, para mim tornou ele o movimento cultural mais relevante do século 20 (no mínimo o que mais teve impacto direto na nossa vida). Ele conseguiu isso tirando muito dos negros sim: ele é sagrado como o único branco que conseguia cantar como um negro (o que naquela época mais racista ainda que hoje contou muito).

Antes do Elvis, havia música de preto e música de branco. Depois do Elvis, toda música era a música de todo mundo.
Antes do Elvis, você escutava a mesma coisa que seus pais, que escutavam a mesma coisa que os pais deles. Depois dele começou o "abaixa esse som menino!". Começou a existir a "música da juventude" e que confrontava de frente com as gerações anteriores.
Antes do Elvis, não existia nada. Palavras do John Lennon.

Para você conseguir ter noção de como era agressivo o que ele fazia para a época, ele foi banido de tocar em muitos lugares pelo simples fato de que não havia bateria neles (sim, o instrumento que a gente espanca com baquetas) porque é um instrumento muito "selvagem". Todo mundo já viu aquelas aparições do Elvis na TV em que eles só filmavam da cintura para cima (maldita dança pornográfica). Eu já vi a filmagem da moçada da época quebrando os discos do demônio ao vivo na tv e dizendo que Elvis estava "transformando os brancos em negros (!!!!)", total cabuloso.No fim da vida ele virou uma figura meio trágica e perdida mesmo. Leia a biografia dele e voce vai entender que qualquer um teria enlouquecido. Imagine que todas as cidades DECLARAM FERIADO só porque você vai tocar lá. Nunca ouvi falar de nada que chegou perto disso depois do Elvis (Michael Jackson? Blá!).

Tá, beleza, teve uma impacto cultural enorme, mas e a música?

Elvis se manteve porque, ao contrário de uma estrelinha que foi simplesmente criada pela TV (que influenciou muito sim), ou que é só bonito ou polêmico, as músicas eram muito boas (se provaram imortais), ele era um puta cantor e fez de tudo musicalmente falando.Elvis ERA música. Ele não estudou música, ele não era compositor (Elvis nunca compôs nenhuma música), não era super técnico. Mas Elvis ERA música. Era um cara que sentia tanto a música, que cantava tanto de DENTRO da música (além da voz foda que é estudada por ter a característica raríssima de ser barítona e tenor ao mesmo tempo) que foi de fato uma coisa inimitável. Já me perguntaram se o Elvis tem muita música ruim: eu diria até que ele tem muita música parecida (um milhão de rockinhos que são meio iguais, um milhão de baladas parecidas, umas fases meio Fábio Júnior que são meio chatinhas) mas a performance do camarada, meu amigo, é de excepcional para cima, quase sempre.Assistam a um DVD bacana do Elvis ao vivo (recomendo That's The Way It Is, pode pegar emprestado comigo) e HORRORIZE com a presença do cara no palco. O Elvis simplesmente andando no palco e fazendo nada é uma presença comandante. Você vê ele dançando e cantando e começa a entender o que é o conceito de entrega no que se refere a tocar música.

Figura estranha essa: caminhoneiro de uma cidade pequena, surgiu do nada, mudou o século 20 (não só musicalmente), chegou num nível de sucesso que eu acho que não se repete mais, morreu cedo e delirante, tinha perdido totalmente o controle de tudo, e me vira um símbolo de breguice. Final triste. Mas será que os Dead Kennedys tinham razão?

Comece, continue e termine por:
Elvis tem coisa demais. É difícil recomendar mas o santo graal para os fãs são as três caixas super remasterizadas que saíram recentemente.
Cada caixa tem 5 cds é dedicada a uma década (50, 60 e 70). Os nomes das caixas são "The King Of Rock And Roll" (50), "Fom Nashville To Memphis" (60) e "Walk a Mile In My Shoes" (70).
Ali tem tudo que importa e com o som excelente. Escute sem pressa e na ordem cronológica.
Eu levei mais ou menos um ano para chegar no último cd. E, sinceramente, foi um ano do caralho.

2 comentários:

fabs disse...

lelê! toca Sweet Caroliiiiiiine!
Mas então, meu conhecimento é bem superficial mesmo. Mas é foda. É muita coisa de muiita gente pra conhecer. Vou tentar, depois de dezembro..

Luiz Augusto disse...

O Elvis dispensa elogios pq já recebeu todos, milhões de vezes!!!

:-)