terça-feira, 17 de junho de 2008

Da série random music - Brains For Lunch


Você está mais ou menos em 1979. Você entra na casa de shows, e está todo mundo em pé na frente olhando um palco vazio, exceto por quatro caixões no chão.
Em algum ponto da noite, os caixões se abrem, levantam-se quatro zumbis, pegam seus instrumentos e começam a tocar punk rock sobre a vida de zumbis deles:

brains, brains, brains for lunch
brains for breakfast brains for brunch
brains at every single meal
why cant we have some guts?

Isso é tocado por três zumbis e um vocalista que, pela voz grave e bacana e pela postura só pode ser o Elvis do inferno (só que bombado! hehehe). Como estamos na era do início do hardcore, a audiência se espanca, a audiência espanca a banda, a banda espanca a audiência e nem uma música é interrompida por isso.
Esse vocalista bizarro dizia só ouvir Elvis e Black Sabbath, e era viciado na Marilyn Monroe (em homenagem ao último filme dela batizou a banda, The Misfits). Tinha tocado em um monte de banda proto-gótica e depois começou o Misfits tocando umas coisas meio atmosféricas do mal (escute a primeira música, Cough/Cool) até surgir os Ramones e aí ferrou tudo, jogaram o teclado fora e viraram uma das melhores bandas punks da história.

No fundo o punk dos Misfits é bem bubblegum - guitarras Ramones, refrões para serem gritados juntos por todo mundo e obsessão absoluta e absurda por tudo que é relacionado a filmes de horror B, desde o visual (cabelos pretos compridos esticados na frente da cara até o queixo, que eles chamaram de Devilock e que até hoje você vê os fãs e algumas bandas usando), as letras, as capas e o que mais for possível. Apesar de ser claramente zoeira - as músicas tinham títulos como Mommy Can I Go Out And Kill Tonight, I Turned Into a Martian, Devil's Whorehouse, Astro Zombies - às vezes ficavam bem sérios também - escute She ou We Are 138 - o que te deixava confuso em relação a se eles estavam zoando quando você achava que era sério ou se eles estavam falando sério quando você achava que era zoeira. Muito bom!
Embora muito pouco reconhecidamente hoje em dia, acabaram sendo responsável por muita coisa - existe um estilo inteiro que nasceu do que os Misfits e os Cramps faziam (Psychobilly) e qualquer banda que se baseia em filmes de horror (os White Zombies da vida) devem algo a eles. O Danzig depois foi para um lado mais metal e tem uma carreira solo até bem respeitada até hoje.

De vez em quando você vê uma homenagem perdida aos Misfits - no clipe de Danny California os Red Hot CHili Peppers tocam vestidos como eles, e o Danzig aparece num episódio do Aqua Teen quando começa a sair sangue da parede da casa e eles resolvem "vender ela para o Danzig" uhauahauaha. E o pior é que ele compra.
Nota: eles voltaram em 1995 com outro vocalista. Ignore os discos dessa formação - apesar de eu ter ido no show porque eu não tive coragem de perder, e até me diverti bastante - foi o único show que eu fui na vida que passou um cara antes implorando para a platéia não subir no palco para não ser espancado pela banda, apesar que um cara que passou correndo conseguiu subir e pular rapidinho :-)

Comece por - numa boa, arrume a Misfits Boxset. São só 4 discos e tem tudo que você precisa - inclusive ao vivo - e tenho certeza que se você gostar de uma música dos Misfits vai querer ouvir todas.
Se quiser um cd só vá pelo Collection I (a coletânea amarela, o II também é legal), ou o crássico Walk Among Us.
Não escute nada do American Psycho para frente.

Um comentário:

Luiz Augusto disse...

Não escutar o American Pshyco INCLUSIVE?