segunda-feira, 9 de junho de 2008

Qual é seu lado B?

Apesar de, no post sobre pessoas single X álbum eu haver sem dúvida me declarado uma pessoa álbum, tenho bastante simpatia pelo formato single. Para quem não conhece (no Brasil são os "compactos") são aqueles disquinhos - antigamente em vinil e depois em cd - que trazem, a princípio, somente uma música.No Brasil chegou a ser popular, sim, durante uma época, acredito que no fim dos anos 60 e início dos 70. Quando eu fuçava nos discos velhos da minha mãe eu sempre achava um ou outro espalhado por lá.


Porque diabos eu compraria um disco de só uma música? Se você se fez essa pergunta, é porque ainda não captou o espírito do negócio: comprar um single é igual comprar um chiclete. Você está passando na frente de uma loja de discos, fuça os singles vê uma música que ouviu de passagem e gostou, tira um trocado do bolso e leva para casa.Hoje é um formato praticamente inexistente no Brasil, então isso não foi algo que eu vivi, mas nos países onde o single ainda é forte (na Inglaterra até hoje sempre foi algo muito mais importante que o álbum) imagino que deve ser um ritual gostoso. Imagina aquela tarde de folga que você tira para ficar por aí sem nada para fazer, você liga para sua namorada e sai para fazer um lanche, ver um cinema, sai andando tomando um sorvete e passa na frente de uma loja de discos, entra descompromissadamente, compra o single de uma música que você tem gostado e o single da música que estava tocando na loja na hora porque ela te chamou atenção. E gastando só um trocadinho.


Aliás, essa foi a principal razão pela qual single não pega no Brasil: para ela lógica funcionar ele tinha que custar no máximo 5 reais. E nas ocasiões em que eu já vi single para vender sempre tinha um preço menor mas aproximado do disco, o que é insultar a inteligência dos outros E suicídio comercial ao mesmo tempo.


Agora, o que me faz simpatizar mais com o single são os lados B. Surgiram da época em que o single era em vinil (mas foram mantidos depois por tradição), vinil tem dois lados, e como ele trazia a música que vocês estava comprando no lado A, o que colocar no lado B? Essa necessidade normalmente fazia a banda partir para uma de 3 opções:
a - colocar outra música do álbum, normalmente uma com menos apelo comercial para virar um single sozinha (e historicamente isso gerou casos em que o lado b ficou mais famoso que o lado a);
b - colocar outras versões da música do lado a (extendida, remixada, ao vivo etc), ou mesmo outras versões de outras músicas do álbum (frequentemente ao vivo ou remixes);
c - colocar uma música que foi gravada mas por algum motivo não entrou no álbum, tornando o single atraente mesmo para quem tem o álbum.


As opções b e c me agradam demais. Como a pessoa está comprando a música do lado a e a do lado b é efetivamente um bônus, quase sempre nele entram músicas em que a banda está mais "relaxada" - covers inesperados, coisas mais experimentais, ou de alguma maneira músicas que normalmente não entrariam num disco normal - então os "lados b" de uma banda são uma ótima maneira de conhecer um outro lado deles, quase sempre um lado menos comercial em alguns casos até mais interessane. E para os fãs é um tesouro, depois que a banda já tem certo tempo de estrada você junta os b-sides dela em um disco e tem basicamente um disco novo para ouvir (que é quase sempre um disco ótimo).Os b-sides do Yo La Tengo, por exemplo, foram colecionados no disco Genius + Love e eu escuto ele mais que os discos normais da banda. Os b-sides do Nick Cave saíram numa caixa de 3 cds (são muitos!!!) que virou um disco tão ótimo quanto os discos normais dele. Os b-sides dos Smashing Pumpkins viraram um cd chamado Pisces Iscariot que eu tb recomendo,e por aí vai. Como norma geral, se você gosta muito de uma banda, tente baixar os b-sides deles e se surpreenda com um monte de lados legais que você não sabia que existiam.


Nota: os b-sides do Radiohead (que também são muitos) vão ganhar um post só para eles. Coloco amanhã.

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