sexta-feira, 13 de junho de 2008

Da série "Random Music" - Two guys for every girl


Na metade da década de 50 um camarada chamado Elvis fez a heresia de misturar coisa de negro e coisa de branco e dançar sugerindo sexo e teve seus discos quebrados em público como resultado.Na década de 60 as pessoas EM MASSA iam em shows do Stones cantando sobre o demônio e sobre drogas e outros temas que eram tão proibidos na época que mortes por overdose, por exemplo, eram divulgadas no jornal como "parada cardíaga" e outros eufemismos.No fim da década de 70 e início de 80, você podia sair e ver o Iggy Pop rolando em cima de garrafas quebradas no palco, ver o Nick Cave tocando com o Birthday Party totalmente alucinado com "HELL" escrito em vermelho na barriga, ver os Siousxie And The Banshees tocando vestidos como nazistas ou ver os Misfits tocando e entrando em brigas com a platéia sem interromper o show.Sem defender nenhum destes comportamentos (ainda vou escrever um post mais aprofundado sobre isso, é legal refletir no impacto que a música costuma ter nos costumes da sociedade) nem entrar em uma onda de nostalgia (já escrevi neste blog sobre como eu acho besta acreditar que "música boa era a do meu tempo"), olhando para a música atual de uma forma geral a noção de "confrontar", "bater de frente" com o que a sociedade tem como aceitável e forçar as pessoas a questionar os valores atuais está meio que morta.Quase todo show de rock que se vai hoje, mesmo de bandas conhecidas por defender posições anti conservadoras é bem "padrão", seguro como ir em uma ópera ou num concerto de jazz.


Claro que sempre vão existir exemplos - o black metal é hoje o que o punk foi na década de 70, música que taca foda-se para tudo, ofende todo mundo e que você provavelmente vai ser mal interpretado se o seu chefe te pegar ouvindo.Porém o punk trazia uma mensagem relevante e o black metal choca por chocar - "vamos adorar o cramunhão", que preguiça né gente - valorizo a coragem e a postura anti-religião organizada mas é mais teatro que realidade. Temos uns exemplos de malucos isolados (o vocalista do Modest Mouse costuma pedir uma faca para a platéia no meio do show, e quando alguém entrega ele se corta com ela), mas quando eu penso em alguém que está confrontando os valores de verdade, chamando atenção e fazendo refletir sobre algo relevante de fato, atualmente só vem na minha cabeça a Peaches.
Peaches é uma garota canadense que já foi professora de primário (!) e é a cantora mais punk da atualidade, apesar de não fazer punk rock. É tida praticamente como a criadora do Electroclash (electro já é o gênero mais punk da música eletrônica, e o "clash" é quando é misturado com rock).Num olhar superficial, a Peaches é uma cantora podrona que faz música eletrônica agressiva (mas bem dançante) e é uma espécie de ninfomaníaca bizarra - TODAS as músicas da Peaches são sobre sexo, 100% - e ela fica nitidamente mais pornográfica a cada disco (hoje já está chegando num nível absurdo). Superficialmente Peaches não é muito diferente da Tati Quebra Barraco.Durante o show você vê um monte de gente entregando a câmera para ela, ela enfia a câmera dentro da calcinha, bate uma foto e devolve.


Mas olhe com mais profundidade e você começa a reparar em coisas mais interessantes - me parece que tem um plano por trás disso. A primeira coisa interessante é como uma figura feminina hiper-sexualizada não tem um público masculino tarado babando por ela.Pelo contrário, normalmente os homens sentem uma certa repulsa por ela. Por que? A Peaches normalmente usa em sua imagem as mesmas sexualizações que os homens projetam nas mulheres, só que invertido. Exemplos: quantas músicas de rap e de metal já foram feitas sobre a vontade de ver duas mulheres transando? A Peaches fez a única música que eu conheço sobre querer ver dois CARAS transando.Ela chamou o disco dela de Fatherfucker (a palavra motherfucker é tão comum que nem pensamos nela, "fatherfucker" é quase a mesma coisa mas soa pesado). Ela diz que em vez de pedir para as mulheres balançar os peitos deviam pedir para os caras balançarem os pintos (!).Ela acabou se tornando uma espécie de ícone de mulher tarada hiper sexualizada que assusta os homens em vez de atraí-los, usando as mesmas ferramentas que eles. E isso nos faz (nós homens) refletir sobre como às vezes as mulheres devem se sentir quando são usadas dessa maneira. ;-) Teve a manha Peaches.Além disso ela costuma projetar uma imagem confusa misturando os sexos (aparece barbada na capa do disco por exemplo) ou imagens bizarras-repulsivas mesmo (tipo alguns clipes em que ela aparece totalmente freak - dê uma passeada nos clipes dela do YouTube). Ela é influente - já remixou Daft Punk, basement Jaxx, Queens of The Stone Age, B-52 e até os brasileiros do Bonde do Rolê), foi ela que ensionou a M.I.A. a trabalhar com o sintetizador e foi colega de quarto da Feist (diz ela que já deu uma catucada na Pink, o que a Pink confirma).


E no fim das contas realmente é bem divertido de dançar.


Comece por - The Teaches of Peaches
Disco mais Peaches - Impeach My Bush, porque é o mais pornô :-0

2 comentários:

Luiz Augusto disse...

QUE METAL!

André Carneiro disse...

Tô baixando o "The Teaches of Peaches" pra sacar... A mulher é tão inescrupulosa que merece meu download.

PS: Se achar a guitarra do 360 ai me avisa please.