terça-feira, 13 de maio de 2008

Da série "Minha Ilha Deserta Privativa" - The City Sun Sets Over Me


O primeiro show da Polly Jean Harvey foi num hotel chamado Antelope, em uma cidade pequena da Inglaterra perto da cidade pequena onde ela nasceu (Bridport). No meio do show o dono do lugar implorou para ela parar porque ela estava mandando todo mundo embora.Criada numa pequena fazenda por um escultor, ela já estudava escultura na época, tocava saxofone e quase desistiu de mexer com esse negócio de música. Vai entender como depois essa menina ficou tão nervosa assim.


Eu comentei no post sobre o Nick Cave que o som dele tem muito de blues, mas não tem nada de BB King. É legal lembrar que blues é música de escravo, nasceu dos trabalhadores negros que cantavam enquanto trabalhavam na plantação. tem registros de música próxima do blues desde 1901. Blues é uma forma de música bem primitiva, que só depois começou a ganhar acompanhamento de instrumentos de cordas como o banjo (principalmente porque são instrumentos fáceis de fazer). O ponto aqui é que blues já nasceu como música marginalizada, extremamente pessoal e bem primitiva. Muito mais tarde se tornou uma espécie de fórmula a ser repetida para facilitar sua comercialização.O "blues" que a PJ Harvey e o Nick Cave utilizam é essa forma de blues velhão, primitivo, direto e sujo. A diferença é que o Nick Cave prefere formatar como música antiga - piano, violino, harpa - e a PJ Harvey é rockeirona demais para isso e o negócio dela é guitarra mesmo e gritar no microfone.


A mulher é intensa. Os discos dela são sofridaços, mas muito mais para o lado raivosão e influenciado pelo punk - who the fuck you think you are - get out of my head! - do que aquele deprê chorão e quietinho. Mas como é uma artista foda ela tem muito mais lados que esse, e sabe usar todos - PJ Harvey para mim vai da euforia à tristeza profunda, da porrada até a baladona, da música eletrônica ao punk à baladas acústicas no piano com a mesma facilidade e o mesmo espírito - não importa o formato, sempre é intenso.Sempre se interessou por mudança e rejeitou com força todos os rótulos que tentaram colocar nela - ela diz que não é feminista, não é riot girrrl e quando os jornalistas começaram a comparar ela à Patti Smith (o ícone do punk feminino) ela os chamou de "preguiçosos". Além disso é minha cantora preferida - música com muita emoção mas sem firula, soa honesta até doer, sabe quando não tem que se levar totalmente à sério, desce o cacete se for o caso e na próxima música soa delicada e vulnerável, mas nunca fraca. As músicas são de alguma maneira feridas, mas sexy e sujas ao mesmo tempo - será que eu estou fazendo sentido??PJ Harvey é mais uma artista que eu cito aqui que eu sinto que não consigo escrever muito sobre - primeiro porque é difícil fazer justiça à ela com palavras, segundo porque é variada e criativa demais, e terceiro porque não se parece com mais nada. Simplesmente se seu gosto musical encaixa de qualquer maneira com o meu e você ainda não conhece, numa boa, tem que escutar. Para mim é a voz feminina mais relevante do rock e se eu tivesse que escolher só UMA cantora para escutar não teria dúvida nenhuma.


Também não deixe de sacar as colaborações legais dela - já gravou com Tricky, Thom Yorke, Queen Of The Stone Age, Nick Cave, Bjork, Mark Lanegan e mais gente bacanuda.


PS: minha mulher sabe cantar PJ Harvey direitinho :-D



Comece por - Stories From The City Stories From The Sea

Disco mais PJ Harvey - To Bring You My Love

Punk from Hell - Rid Of Me

Eletrônico - Is This Desire

Não comece por - White Chalk

3 comentários:

Luiz Augusto disse...

Li o post e comecei a escutar "Stories From The City Stories From The Sea", diretamente da biblioteca Lelê/Miroca que eu herdei!

Anônimo disse...

Vc esqueceu de falar que ela dá um BANHO nessas cantorinhas wanna be Pj tipo: cat power, feist, e cia ltda.

Pj Harvey chuta bundas.

Anônimo disse...

você esqueceu de colocar o disco mais viceral, para dias de tpm intensa... 4 track demos.

Mirian